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Análise do nível de satisfação das comunidades pesqueiras beneficiadas com projetos

As comunidades de Ribeira Afonso no distrito de Cantagalo, Malanza no distrito de Caué, estão localizadas ao Sul da ilha de São Tomé e a comunidade de Santa Catarina72 no distrito de Lembá ao Norte (figura nº 2). Essas comunidades foram

beneficiadas com Projeto no âmbito da Adaptação às Mudanças Climáticas para as Zonas costeiras orçado em 4.1 milhões de dólares e, tinha como objetivo a construção de infraestruturas de proteção costeiras. Isto é, tornar essas comunidades mais resilientes ao fenômeno atinente a subida das águas do mar. Por

71 Ano de 2012, data da realização da pesquisa de para o Mestrado, 2016 e 2017 pesquisa para o

Doutorado.

72 A descrição e caracterização mais minuciosa dessas comunidade encontra-se em FERNANDES,

serem comunidades que estabelecem com o ambiente físico da praia relações sociais territorializadas, marcada, p. ex., por construções de moradias, conservação dos materiais de trabalho, por comercio e de lazer. Entretanto, com o avanço das águas do mar, esse ambiente passou a ser de risco com impactos visíveis e imediatos configurados em perda de moradias, canoas, estradas, perda do espaço de brincadeiras, do lugar de partilha de conversas entre géneros, até mesmo risco de perda de vida.

Figura 8– Localização das comunidades de Santa Catarina, Ribeira Afonso e Malanza

Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia de São Tomé e Príncipe adaptado pelo autor

Sendo que constituímos a hipótese a indagar que em termos práticos a execução

dos projetos/ações voltadas à adaptação às mudanças climáticas, na sua

maioria, não produz melhorias tanto, em médio como em longo prazo, aos

grupos sociais mais vulneráveis hove necessidade de aplicar questionários às

comunidades beneficiárias com projetos de adaptação às mudanças climáticas já executados, a algum tempo. Antes de apresentar os resultados obtidos através da aplicação dos referidos questionários, devo tecer considerações sobre o contexto a qual os mesmos foram aplicados.

O Instituto de Meteorologia levava a cabo, no mês de setembro do ano de 2016, uma consultoria cujo o objetivo era de realizar um inventário de todas as ações em curso e planeadas em matéria de informação, formação e sensibilização, assim como, identificar as lacunas, necessidades e prioridades relativas à educação, formação e sensibilização do público no contexto das mudanças Climáticas. Assim que tomei conhecimento, fui à procura dos proponentes da consultoria e disponibilizei para colaborar, mas em contra partida, acrescentaria uma pergunta de avaliação dos projetos no questionário a ser aplicado. Nesse sentindo, foi incluída a pergunta nº 8 no questionário em anexo.

No que se refere as ações em curso e planeadas em matéria de informação, formação e sensibilização do público em relação às mudanças climáticas os resultados da consultoria revelou que dos 100% dos inquiridos, 97,5 % afirmaram que já ouviram falar em mudanças climáticas, restando apenas 2,5% que alegaram não ter ouvido falar. Na pergunta em que se procurou saber se os entrevistados têm conhecimento de algum projeto sobre às mudanças climáticas, implementado ou em curso, nas suas comunidades ou no país, 79,5% dos entrevistados responderam que têm conhecimento da existência desses projetos e 20,5% afirmaram não ter conhecimento.

Os resultados acima nos evidencia que, no geral, a população santomense já estão familiarizados com a terminologia mudanças climáticas, do mesmo modo que têm conhecimento dos projetos realizados nas suas respectivas comunidades. Sendo

assim, para o nosso propósito formulamos a seguinte questão. “Considerando a realização de projeto de adaptação às mudanças climáticas na sua comunidade, de zero (0) a dez (10) que nota dá para melhorias que o projeto trouxe à comunidade e a sua vida? Para isso, aplicamos os questionários

tomando como critério (i) residir na comunidade anterior, no decorrer e após a execução do projeto, (ii) estar ciente da execução do projeto. A nota atribuída foi denominada de satisfação dos entrevistados de acordo com as seguintes gradações: zero (0) a dois (2) como sendo um nível de satisfação péssimo, dois (2) a quatro (4) muito baixo, quatro (4) a seis (6) baixo, seis (6) a oito (8), alto e, oito (8) a dez (10) muito alto.

A comunidade de Santa Catarina

Em Santa Catarina dos quarenta e um (41) questionários aplicados – isto é, 100% dos entrevistados – 5% atribuíram a nota nove (9), 10% a nota oito (8), outros 10% a nota seis (6), 12% deram a nota sete (7), de igual modo outros 12% a nota dez (10), 15% a nota quatro 4 e 36% restante a nota 5. Verifica-se de acordo com os gráficos a seguir, que 17% dos entrevistados têm um nível de satisfação muito alto e 22%

alta, 46% baixo e somente 15% consideraram a execução como muito baixa em Santa Catarina.

Gráfico n º 3 – Níveis de satisfação por entrevistados em Santa Catarina

Gráfico n º 4 – Escalas de satisfação dos entrevistados em Santa Catarina

Nota: (0|---2) =péssimo, (2|---4) =muito péssimo, (4|---6) = baixo, (6|---8) = alto, (8|---10) muito alto.

Se adicionarmos as escalas de satisfação (gráfico nº2) muito alto (17%), alto (22%) e baixo (46%) teremos um total de 85% de moradores satisfeitos com a execução dos projetos de adaptação às mudanças climáticas na comunidade de Santa Catarina. Significa dizer que a população local considera satisfatório a construção de valas de drenagem (figura nº 5) sendo que proporcionou a vazão das águas das chuvas, nos quintais, de modo a estabelecerem as suas a rotinas em algumas horas, não mais por vários dias como era antes.

Figura 9 – Valas de drenagem na comunidade de Santa Catarina

Autoria: FERNANDES, 2016

A comunidade de Malanza

Na comunidade de Malanza aplicamos trinta e três 33 questionários que correspondem a 100% dos respondentes. Desse total 3% atribuíram a nota zero (0) à execução dos projetos, isto é, nível de implementação péssimo, 3% imputaram a nota dois (2), nível de satisfação muito baixo, 9% a nota quatro (4), 61% atribuíram a nota cinco (5), 3% computaram a nota seis (6), 3% a nota oito (8), 9% a nota sete (7), 9% a nota dez (10).

Os resultados de Malanza nos chama atenção pelo fato de mais da metade dos entrevistados atribuírem a nota 5 (nível de satisfação baixo), isto é, 61% respondentes da pesquisa. Apesar de 9% atribuírem a nota 7, assim como os 9% que deram a nota 10, teremos em média 67% dos entrevistado insatisfeito com a execução dos projetos na comunidade de Malanza. Pois, no gráfico nº 6 de escala de satisfação o percentual de insatisfeitos fica mais evidente.

Gráfico n º 6 – Escalas de satisfação dos entrevistados em Malanza

Nota: (0|---2) =péssimo, (2|---4) =muito péssimo, (4|---6) = baixo, (6|---8) = alto, (8|---10) muito alto.

Em 2012, aquando da pesquisa de mestrado, pontuei que a comunidade de Malanza era a mais vulnerável no conjunto das comunidades mais vulneráveis identificadas pelo NAPA, em função de fatores ligado a extrema suscetibilidade da espacialidade/território73 que combina floresta densa acima com acentuado declive,

logo a seguir uma área pantanosa, na lateral o rio Gombé e o mar adiante. A fragilidade da espacialidade conjuga-se com a de moradias precárias, distância com o centro político e comercial do país, ausência de eletricidade, água potável entre outros serviços sociais públicos inexistente que contribuem no processo de vulnerabilização local (figura nº 4).

Figura 10 – Retrato de vulnerabilidade socioespacial em Malanza

Autoria: FERNANDES, 2012

Diante os diversos fatores de vulnerabilização da comunidade de Malanza, como é o caso dos dias de maré alta, em que as aguas do mar e do rio causam danos nas moradias e materiais de pesca. A intervenção no âmbito de Adaptação às mudanças climáticas nas Zonas Costeiras (PAZC) foi necessária com objetivo de superar a condição de vulnerabilidade desse grupo social. Mas, segundo os moradores, mesmo com a intervenção, ainda convivem com alagamento, mesmo em dias de pouca chuva. Argumentaram que, as obras foram mal executadas, que as valas de drenagens não proporcionam a vazão das águas, que os lugares que anteriormente não acumulavam água, nos dias atuais, acumulam (figura nº5), as moradias permanecem em áreas suscetíveis ao avanço das água do mar embora haja maior ocorrência de ondas gigantes. Manifestam um sentimento de uma aparente piora da

situação, associado, igualmente, a ausência de interação com os proponentes dos projetos com os moradores que melhor conhece da dinâmica da espacial local. Tudo isso nos leva a corroborar com os resultados acima representados nos gráficos.

Figura nº 11 – Alagamento em Malanza em dias de pouca chuva.

Autoria: FERNANDES, 2016

Ausência de interação pode, segundo os argumentos de Slovic (2006), culminar na dissuasão da aceitação coletiva ou individual face aos eventos de riscos e gerar reações emocionais de indiferença quanto às informações e as práticas em prol da adaptação às mudanças climáticas (WEBER, 2006). A dissuasão de aceitação e reações de indiferença pode vir acontecer no caso da comunidade de Malanza que ciente da sua condição de vulnerabilidade, aceitaram deslocar-se do espaço de referência para estabelecerem, seus fixos e fluxos, em outro espacialidade considerada mais segura. Espaço cedido pela comunidade e demarcado pelos proponentes do projeto, no entanto ficou abandonada até a data presente de acordo com a figura nº6.

Figura 12 – Área reservada à deslocamento em Malanza

Autoria: FERNANDES, 2016. a) área mais segura identificada e demarcada para construção de infraestruturas para deslocamento da população da zona de risco, no âmbito dos Projeto de adaptação às mudanças climáticas.

A comunidade de Ribeira Afonso

A comunidade de Ribeira Afonso foi fixada em uma espacialidade que no seu entorno há paredões rochosos de difícil acesso à construção de moradias e é atravessada por dois rios que se juntam a entrada da água do mar. As águas, que descem dos rios, atravessam a comunidade e esbarram nas águas do mar que tende entrar. Nesse sentido, a comunidade foi a primeira a ser beneficiada com intervenção no âmbito de adaptação às mudanças climáticas para construção de barreiras de contenção da água do mar figura nº 7.

Em Ribeira Afonso aplicamos 28 questionários que correspondem a 100% dos respondentes. Desse total 34% atribuíram a nota zero (0), ou seja, nível de satisfação péssimo, 3,5% deram a nota um (1), nível de satisfação igualmente péssimo, 7% dos entrevistados concederam a nota três (3), nível de satisfação muito baixo, 52% conferiram a nota cinco (5), nível de satisfação baixo. Somente 3,5% concederam a nota oito (8) que expressa um nível de satisfação alto como podemos verificar no gráfico nº7.

Figura 13 – Elementos da espacialidade da Comunidade de Ribeira

Autoria: FERNANDES e pescadores da comunidade de Ribeira Afonso, 2012.

Gráfico n º 7 – Níveis de satisfação por entrevistados em Ribeira Afonso

De acordo com os moradores de Ribeira Afonso as barreiras de contenção não desempenha a função a qual foi construída, porque a água do mar, em dia de maré,

alta continua ocasionar perdas dos matérias de pesca e a provocar inundações. Podemos argumentar que, de acordo com o alto nível de insatisfação dos inquiridos associado às representações anotadas em campo, o projeto não proporcionou melhorias robustas à comunidade a ponto de estarem mais resilientes aos eventos extremos relacionados às mudanças climáticas razões podem justificar o alto de nível de insatisfação de acordo com o gráfico 8.

Gráfico n º 8– Escalas de satisfação dos entrevistados em Ribeira Afonso

Nota: (0|---2) =péssimo, (2|---4) =muito péssimo, (4|---6) = baixo, (6|---8) = alto, (8|---10) muito alto.

Para testar a hipótese acima apresentada, fez-se esforço de agregar, pela primeira vez, ensaio quantitativo a abordagem qualitativa que costumeiramente o autor trabalha. O conceito de adaptação entendido como uma desígnio a ser alcançado e a gestão do risco de desastres referentes aos eventos extremos como métodos, vias ou estratégias de enfrentamento para atingir a adaptação (IPCC, 2012) orientou a descrição e análise documental associadas as entrevistas com os atores locais envolvidos com as ações de adaptação às mudanças climáticas permitiu responder a indagação que em termos práticos a execução dos projetos de adaptação, em sua maioria, não produz melhorias nem em médio como em longo prazo aos

grupos sociais mais vulneráveis. Os resultados obtidos através questionários,

visitas as comunidades já beneficiadas com as ações voltadas à adaptação e outras ações em curso nos permite ponderar que, não obstante uma significativa quantidade de recursos já apreendidos no âmbito da adaptação, as melhorias

proporcionadas são pontuais, ínfimas a ponto de não gerar comunidades ou grupos sociais resilientes em longo prazos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações finais é sustentada a partir do entendimento das mudanças climáticas como “qualquer mudança no clima ocorrido ao longo do tempo, devido à

variação natural ou decorrente da atividade humana” (IPCC, 2007a). No presente

século, os eventos e os impactos decorrentes desta variação, constituem desafios de natureza física, político-institucional, social e ambiental da “alta modernidade” (GIDDENS, 1991) ou “sociedade de risco” (BECK, 1997) autoprodutora de riscos “invisível e disperso” como os eventos extremos do clima (MEASHAM; PRESTON, 2012) que ao dispersarem, se tornam visíveis através das diversas dimensões das vulnerabilidades históricas de acordo com os contexto social e geográfico (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2006).

O Quarto Relatório de Avaliação do IPCC de 2007, através dos seus considerados avanços científicos, pontuou que o contexto social e geográfico africano – sobretudo, a região subsaariana – como o contexto mais vulnerável aos eventos em função dos múltiplos fatores que condicionam os meios de subsistência local a se adaptarem e mitigarem os impactos resultantes desses eventos. Para minorar os diversos fatores condicionantes, certamente, a compreensão, a descrição e a análise desses eventos na escala espacial e temporal, isto é, no âmbito das comunidades e nações (IPCC, 2012) se faz necessário. Pois, portanto, a partir do contexto social e geográfico de São Tomé e Príncipe, objetivou-se descrever e analisar as representações sociais, de comunidades agrícolas, sobre as implicações dos eventos extremos do clima que têm afetado as suas práticas cotidianas e sobre a implementação de projetos de adaptação às mudanças climáticas. Para responder o objetivo geral e os específicos apresentado, desencadeou-se uma abordagem interdisciplinar a partir de uma análise interseccionada entre os aspectos físico e social que envolvem a problemática ambiental relacionada com as mudanças climáticas. Nesta medida e na condição de entender os desdobramentos dos eventos extremos do clima no contexto social agrícola de um Pequeno Estado Insular, desenvolveu-se, sobretudo, a pesquisa baseada no conceito de representações sociais, as múltiplas dimensões e análise do conceito de vulnerabilidade, através da abordagem qualitativa (entrevistas semiestruturadas) e quantitativo com base em questionário.

O contexto social tem relevância porque é nele que se constrói as representações sobre os fenômenos de ameaças e as ações de enfrentamento (MINAYO, 1999) As representações sociais enquanto “sistema de valores, ideias e práticas corporificam ideias em experiências coletivas e interações em comportamento enquanto lócus de práticas sociais, imagens e simbologia” reveladas “especialmente em tempos de crise, quando um grupo, ou suas imagens, está passando por mudanças” (MOSCOVICI, 2010). De modo que pôs-se em evidência o referido conceito para identificar as ideias transformadas em experiências coletivas acerca da vulnerabilidade social histórica (os mecanismos de amparo) e sobre os eventos extremos relacionados com as mudanças climática que tem proporcionado mudanças as práticas e valores ligados ao modo de vida agrícola.

A partir da análise da “vulnerabilidade como um processo” (ACERALD, 2006) e como “ponto de partida” (O’BRIEN E LEICHENKO, 2000) O'BRIEN, ET AL., P. 2004, KELLY E ADGER, 2000) foi possível identificar o contexto social, político, e económico das ilhas de São Tomé e Príncipe, após independência, como uma conjuntura dominada por constantes instabilidades governativas, pela inexistência de uma base produtiva autossustentada, pela distância em relação aos principais centros comerciais, pela dependência em vários domínios dos parceiros bilaterais e multilaterais, carência no controle na fiscalização e extração de recursos florestais, marinhos e outros. Esses constragimento reportam as distintas dimensões de vulnerabilidade pré-existentes com seus diversos desdobramentos. Entretanto, as mudanças climáticas tem potencializado alterações na frequência e no carácter dos eventos extremos (IPCC,2012) identificados no país como, o aumento da temperatura, a diminuição e a má distribuição da precipitação, o prolongamento do período de seca (STP-SCN, 2011). Desse modo, caracterizou-se as

transformações resultantes dos processos termodinâmicos do tempo e do clima, ou seja, os eventos extremos (EASTERLING et al., 2000; JENTSCH et al.,

2007), como elemento físico que têm impactos e nexos causais prejudiciais

sobre os cultivos e as práticas associadas com o cultivo como, por exemplo,

prever o período em que poderá chover. Doutro modo, quando há chuva, a intensidade é tanta que passa a ser prejudicial ao cultivo. São esses e outros elementos que caracterizam o cenário climático atual das mudanças climáticas, ou seja, a imprevisibilidade e intensidade. Elementos que desdobram em uma maior concentração de humidade e pragas, que danificam a floração do cacauzal. Estamos diante de eventos de risco (LAVELL, 2003; MASKREY, 1989, 2011) que dão de encontro as vulnerabilidade historicamente existentes. Sendo assim, a que se analisar a vulnerabilidade como ponto de partida. Mas, não se esquecendo que os princípios guiam determinado comportamento social no julgamento dos eventos de riscos podem ajudar a definir as alternativas de enfrentamento e de prioridades (DOUGLAS E WILDASKY, 1982). Para isso, a adaptação às mudanças climáticas deve ser realizada com as comunidades e ultrapassar os discursos e idealizações no âmbito da escrita de relatórios e projetos.

O quadro político social histórico das roças nos permitiu refletir acerca do modelo de construção social enquanto escolha dos atores endógenos conjugados as múltiplas influências ideológicas, económicas e sociais exógenas. Quero com isso frisar que a vulnerabilidade social histórica vivenciadas em São Tomé e Príncipe está intrinsecamente relacionadas as escolhas das elites política que conduziram e conduzem os destino do país, sobretudo, nos anos que seguiram a independência.

Sendo assim, em linhas gerais, vale construir um argumento – sustentado nas abordagens do IPCC e dos autores similares discorrido ao longo da tese, na análise documental e nas representações sociais apreendidas – que os eventos extremos

relacionados com as mudanças climáticas justapostos com as

vulnerabilidades social histórica existentes têm recrudescido as condições de vida dos agricultores das comunidades de Ubua Budo e Pinheira roça roça.

Desse modo, o enfrentamento aos eventos extremos perpassa pela estruturação das políticas e ações voltadas à adaptação comunitária/individual, sustentada na capacidade organizativa e em conhecimentos, recursos, infraestrutura com a comunidade74 e “apoiadas por políticas governamentais responsáveis que operam a

favor de questões relacionadas com o desenvolvimento” e planeamento (GREEN,

2009, p. 282). Requer, de igual modo, planear com a comunidade as oportunidades viáveis para diversificação dos meios à susbsistência, o acesso as informações confiáveis sobre o clima, o acesso a previsão climática por região, empoderá-las a se organizarem enquanto comunidade, de modo a tomar medidas coletivas de enfrentamento aos eventos extremos relacionados com o clima.

Não obstante os fatores de dependência histórica associados com os impactos dos eventos extremos ligados às mudanças climáticas, ainda ssim, considero que é possível desenvolver uma agricultura de subsistência em São Tomé e Príncipe. Para isso, há que haver uma política estruturante que considere a relevância do setor além dos discursos oficiais e consolidar ações concretas que visam valorizar os profissionais do setor, efetivar quadros especializados e comprometidos com o desenvolvimento do setor agrícola. Oferecer assistência técnica recorrente e identificar as reais necessidades dos agricultores anterior a elaboração dos projetos. Apostar em técnicas adequadas a realidade local de conservação e transformação dos produtos agrícolas, a exemplo do pequeno investimento privado de fabrico de chocolate existente no país. Suscitar articulação entre os setores como, p. ex. o de meteorologia, floresta. Apropriar técnicas de cultivo, de irrigação, conservação de sementes. Desenvolver técnicas de captação de água da chuva, desenvolver esforço para coordenar pesquisas cietíficas, conhecimentos técnico conjuntamente os agricultores.

REFERÊNCIAS

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BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: aventura da modernidade. Tradução Carlos Felipe Moiséis e Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das