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Seis distritos e uma Região Autônoma compõem a República Democrática de São Tomé e Príncipe: distrito de Água Grande, Cantagalo, Cauê, Guadalupe, Lembá, Mé-zóchi e a Região Autônoma de Príncipe. Constituído por duas ilhas e alguns ilhéus adjacentes, ocupa uma superfície total de 1001 km², e está situado no oeste

11 O pesquisador tomou contato com a pesquisa empírica desde a sua graduação tanto, em diversas

da costa africana na região do Golfo da Guiné. Formadas através das atividades vulcânicas “acerca de oitenta milhões de anos atrás, é a porção de terra mais próxima do cruzamento zero grau de latitude e longitude” (RODRIGUES, 2010, p. 2) e são caracterizadas, predominantemente, por relevos acidentados formando picos12

e elevações montanhosas, intercalados por vales, rios, baías e praias (BRITO, 2006).

A ilha de São Tomé e os seus ilhéus perfazem 859 km²de superfície, enquanto a ilha de Príncipe e os seus ilhéus perfazem 142 km². As ilhas distam-se da costa ocidental do Gabão a 300 km e situam-se entre os paralelos 1º 45' Norte e 0º 25' Sul, e os meridianos 6º 26' Este e 7º 30' Oeste (STP NAPA, 2007).

Nas ilhas de São Tomé e Príncipe, por um lado, as características demográficas, geográficas, climáticas e ambientais constituem uma potencialidade na medida em que proporcionou ao país uma vegetação densa, abundante, diversificada e com alta taxa de espécies endêmicas13, tanto da fauna como da flora. Por outro lado, a

condição de insularidade, confere suscetibilidade que podem ser traduzidas em realidades vulneráveis e de risco, especialmente, aos sistemas socioecológicos em face às mudanças climáticas.

Dentre as potencialidades, podemos citar algumas como, por exemplo, a existência de mais de 50 rios que nascem em zonas mais altas e seguem rumo ao litoral, a localização geográfica excepcional, a qualidade dos solos, para agricultura, derivados de rochas basálticas com alta capacidade de fertilidade e de absorção d’ água que, se exploradas de modo sustentável, poderiam reverter em ganhos aos

12 Em São Tomé destacam-se: Pico de São Tomé (2.024 m.); Pico de Ana Chaves (1.636 m.); Pico

Pinheiro (1.613 m.); Pico do Calvário (1.600 m.); Lagoa Amélia (1.488 m.); Pico Cabumbé (1.405 m.). No Príncipe; Pico do Príncipe (948 m.); Pico Mencorne (935 m.); Pico Carriote (839 m.) (BRITO, 2006, p. 23).

13 São Tomé e Príncipe conta com um alto grau de riqueza de espécies e endemismos, fundamentalmente aves, anfíbios, plantas superiores, morcegos, répteis, borboletas e moluscos. A riqueza da biodiversidade das Ilhas é reconhecida pelo mundo cientifico, que considera a floresta tropical de São Tomé e Príncipe como a segunda, em termos de prioridade de conservação da avifauna, entre 75 florestas africanas. A flora de São Tomé e Príncipe também é notável: a ilha de S. Tomé tem um género endémico e 87 espécies endêmicas. Príncipe tem por sua vez um género endémico e 32 espécies endêmicas. Ministério dos Recursos (Naturais e Meio Ambiente, acesso em https://www.cbd.int/doc/world/st/st-nr-01-pt.pdf).

grupos sociais mais vulneráveis, especialmente o contingente populacional residente em áreas rurais (FERNANDES, 2012). Para ilustrar, apresentamos a seguir o mapa do país:

Figura 01 – Mapa de São Tomé e Príncipe

Fonte: Instituto Nacional de Estatística de São Tomé e Príncipe.

Os santomenses são povos originariamente constituídos pela miscigenação de africanos e europeus, provenientes de diversos países (Congo, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Benin, Portugal, Espanha, Inglaterra e Itália) que formam um xadrez cultural que, diferente das outras realidades africanas, não existe tribo como organização política e social. Existem grupos socioculturais falantes da língua oficial portuguesa e outras línguas como o lungwa, o lingwié, a língua do crioulo forro e a

língua dos descendentes de Cabo-Verde. Essa mistura originou uma enorme variedade de manifestações folclóricas e culturais – ússua, socopé, bulauê, puíta,

dêxa (COSTA ALEGRE, 2005), permanecidas por mais de quinhentos anos sob

exploração e dominação do colonialismo português, ou seja, de 1470 a 12 de julho 1975 quando conquistou a independência.

O recém-formado Estado independente levou Manuel Pinto da Costa à Presidência da República, personalidade que compunha o “bureau” Político do Comitê de Libertação de São Tomé e Príncipe14 (CLSTP), formado em Gana, no ano de 1960

que, no ato da independência, institucionalizou-se o sistema de partido único de matriz socialista, mesclado com o modelo de economia de mercado, baseado em diferentes ideais. As contradições existentes se aprofundaram e se desdobraram em desentendimentos e prisões. Desavenças que pressionaram o sistema unipartidário a fazer alterações constitucionais que culminaram na institucionalização de eleições presidenciais e legislativas por sufrágio universal em 1990/1991 (ROMANA, 1997).

Não obstante a abertura política e económica, São Tomé e Príncipe ficou mergulhado em constantes instabilidades governativas 15 que associados a

inexistência de uma base produtiva sustentada, a distância em relação aos principais centros comerciais (BRITO, 2006), a dependência de financiamento externo, limitados recursos, a condição insular entre outros fatores tem impossibilitado o desenvolvimento socioeconômico do país. Vivencia há alguns anos uma forte pressão demográfica sobre a capital, resultante do êxodo rural, que além de não suscitar oportunidades de trabalho e emprego, gerou mais demanda por alimentos, moradias, assim como a desvalorização da importância da família tradicional. A família, antes, hierarquizada e assente no sistema de valores ligados à consanguinidade, a terra e à tradição passaram – a partir da implementação do Programa de Ajustamento Estrutural (PAE) (1985 e 1987)16 – a ser substituídas, pelo

14De acordo com Romana (1997) o Comitê de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP) deliberou

no primeiro congresso realizado em julho de 1972, na capital da Guiné Equatórial a transformação do CLSTP em Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), que é atualmente o maior partido de oposição.

15 Em vinte e três anos o país deveria ter somente 6 Primeiros Ministros, mas foram 15. 16 Fernandes, 2012 (Dissertação de mestrado).

sentimento de individualismo como forma de assegurar a subsistência17. O rápido

crescimento populacional – de 64 mil habitantes em 1975, ano da independência, para 140.000 mil em 2001 e 178.739 em 2012, sendo 93.735 homens e 93.621 mulheres18; desse total, 62,23% residem em área urbana e 37,78% em área rural19

(INE, 2014). Isso suscitou demanda por moradia e, consequentemente, acelerou as práticas de abates de árvores e extração de inertes, o abandono da prática de cultivo em detrimento da venda e constituindo assim, um dos fatores de deterioração da vida social, mormente, no que diz respeito à carência de produtos agrícolas locais e maior dependência dos produtos importados em todo território são-tomense.

De acordo com o FMI, a economia do país tem se mostrado resiliente, embora não tenha se efetivado as perspectivas para a produção e comercialização do petróleo, em função da retirada das companhias petrolíferas. A média do crescimento anual do PIB é de 4,5%, acima de muitos outros pequenos Estados Insulares. A fixação da dobra, moeda local, ao Euro desde 2010, permitiu a estabilização da dobra e uma diminuição significativa da taxa de inflação de 13% em 2010 para 6,4% em 2014 e em torno de 4% em 2016, a mais baixa das últimas duas décadas. O país tem reservas internacionais estáveis e a um nível confortável. Apesar dos fatores que refletem resiliência macroeconômica, o crescimento econômico e social não foi suficientemente robusto e diversificado para produzir impactos significativos na melhora das condições de vida. A pobreza existente tornou-se crônica, 66% (FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL, 2016), atingindo, particularmente, as famílias dirigidas por mulheres que representam 50% da população total do país (INESTP, 2012).

São Tomé e Príncipe tem tido subsídio dos parceiros de desenvolvimento e a partir dessa colaboração realizou diversas ações como, por exemplo, as Estratégias

17 As pessoas viram-se obrigadas a multiplicar os seus esforços para poderem assegurar a

subsistência. Preocupados com a busca de sustento, os pais são obrigados a abandonar o lar durante todo o dia. Como consequência, deixou de haver tanto tempo para a família, o que provocou o surgimento de fenômenos novos, como os meninos de rua, e o agravamento de outros, como o trabalho infantil ou a exclusão social dos idosos [...] (FERNANDES, 2012).

18 Fonte de consulta http://www.ine.st/demografia.html. Acesso em 17/10/2014.

19 Fonte de consulta http://unstats.un.org/unsd/demographic/products/socind/population.htm. Acesso

Nacionais de Redução de Pobreza (ENRP II, 2012 a 1013). Essas estratégias possibilitaram que o país esteja “a partir de 2010 entre os países que gozam de rendimento médio e com uma renda per capita estimada em US$ 1.410 em 2010”, de igual modo, atingirá três dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio como aponta o relatório Plano-Quadro das Nações Unidas para assistência ao desenvolvimento na ótica de um desenvolvimento equitativo, inclusivo e sustentado em São Tomé e Príncipe - UNDAF 2017-2020:

(i) a educação primária universal com 98% de taxa de matrícula líquida em 2015, (ii) a mortalidade para 38 por 1.000 nascidos vivos até 2015, (iii) a mortalidade materna em 76 por 100.000 nascidos vivos até 2015. O país tem envidado enormes esforços na luta contra o VIH/SIDA, cuja prevalência diminuiu para 0,5% até 2015, e, finalmente a drástica diminuição da prevalência do paludismo (STP ONU, 2017, p.5)

De acordo com os observadores do FMI (2016), o país apresenta défices estruturais recorrentes nas suas contas, sobretudo devido à balança de pagamento desequilibrada entre a importação (avultados gastos em importações) e a exportação (cacau, café, óleo de palma). Apesar disso, os observadores apelaram ao prosseguimento de esforços para aumentar a resiliência econômica, através do fortalecimento do setor financeiro, a manutenção da disciplina orçamental, a execução de reformas, a descendência da dívida pública, a ampliação do investimento público, recuperação da produção do cacau e aumento do investimento direto estrangeiro no setor do turismo.

Historicamente, a agricultura tem sido o setor com elevado desempenho no crescimento sustentado e com potencial de reduzir a extrema pobreza existente. Mas, a vulnerabilidade a eventos extremos de clima como, o aumento da temperatura, a irregularidade e a intensidade da precipitação têm impactado a produção do cacau (ver capítulo 3) constituindo obstáculo ao “crescimento do PIB que em 2015 não atingiu os 5% projetados devido à implementação tardia de projetos de investimento público e a falta de chuva, que afetou a produção de cacau” (FMI, 2016, p. 59).