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O presente texto está composto por 4 capítulos. No primeiro capítulo, o introdutório, apresento o contexto e a problemática em que a pesquisa está inserida, a hipótese, os objetivos gerais e específicos, a metodologia e os procedimentos à obtenção dos dados, as circunstâncias e dificuldades encontradas, as bases teóricas do conceito de representação social e, por fim, uma breve caraterização das ilhas de São Tomé e Príncipe.

No segundo capítulo, discorro sobre o levantamento teórico conceitual relacionado com as literaturas de adaptação às mudanças climáticas; gestão do risco de desastre, esta subdividida em: redução de risco de desastre e gestão de desastre; adaptação de base comunitária; vulnerabilidade social em sua correspondente perspectiva: vulnerabilidade como processo e como ponto de partida; representação social, construção social de eventos de riscos, dentre outros conceitos correlacionados que aparecem no decorrer do texto.

No terceiro capítulo, apresentei o quadro político e social das roças e o processo de vulnerabilidade e abandono em que as mesma se encontram. No entanto, procurei, acima de tudo, interseccionar a teoria com empiria à luz do conceito de representação social. Em outras palavras, as representações dos sujeitos da pesquisa foram gravadas, sistematizadas, transcritas, em seguida analisadas a partir dos conceitos e formulações dos diversos atores que corroboram com os resultados obtidos em campo. Assim, o capítulo busca responder aos objetivos específicos formulados e aos resultados alcançados a partir das representações, das observações do pesquisador, dos registos fotográfico.

Nesse sentido, descrevi e caracterizei o quadro político e social das roças como uma estrutura social colapsada a partir de fatores exógenos e endógenos como má gestão, irregularidades financeiras, carência de quadros formados, falta de experiência dos responsáveis das empresas agrícola fazendo com que o espaço das

roças fosse historicamente marcado por uma acentuada vulnerabilidade social que hoje em dia estão justapostas as vulnerabilidades face aos impactos decorrentes da intensidade, magnitude e imprevisibilidade dos eventos extremos relacionados com às mudanças climáticas.

Essa justaposição, isto é, vulnerabilidade social histórica e as relacionadas com os eventos extremos do clima, foi verificada a partir da análise documental e da pesquisa empírica. Nesse sentido, foi possível formular que os sujeitos da pesquisa, têm lidado com eventos climáticos antes desconhecidos como, o prolongamento e a incerteza do período da seca, a combinação entre diminuição/intensidade da precipitação, a intensidade do sol, a intensidade/frequência da humidade, surgimentos e maior resistência das pragas dentre outros eventos representados pelos sujeitos da pesquisa, no capítulo 3, como fatores de limitação a prática agrícola.

No quarto capítulo, apresento as características sociais e climáticas do continente africano, os cenários e as implicações socioambientais, as suscetibilidades, assim como as vulnerabilidades das populações aos eventos extremos relacionados com as mudanças climáticas, principalmente, a região subsaariana, tomando como estudo de caso de São Tomé e Príncipe, fazendo mensão aos cenários de temperatura e precipitação, as suscetibilidades e vulnerabilidades dos diversos setores face às implicações dos eventos extremos do clima e o processo de adaptação envolvido. Ainda no capítulo quatro, apresentei considerações sobre os atores e as instituições submergidas no processo de adaptação às mudanças climáticas, assim como, os resultados dos questionários de satisfação, das comunidades pesqueiras, frente aos projetos executados no âmbito de adaptação às mudanças climáticas.

CAPÍTULO 2_ INTERSEÇÃO CONCEITUAL: adaptação no domínio de gestão de risco e desastres, construção social dos riscos, vulnerabilidade e adaptação de base comunitária

Segundo Minayo (1999, 107) “o trabalho de campo tem que ser pensado a partir de referencial teórico e também de aspetos operacionais que envolvem questões conceituais”. Para a compreensão e a análise do objeto da pesquisa desencadeou-se uma abordagem conceitual interseccionada. De acordo com o relatório do IPCC de 2012, existem diferentes perspectivas de abordagens que podem divergirem no uso das terminologias – p. ex. as direcionadas para adaptação às mudanças climáticas, gestão interativa de risco, adaptação de base comunitária, regras e decisão baseadas no conceito de políticas de adaptação robustas, vulnerabilidade enquanto conceito problematizado em contextos de desastres, vulnerabilidade como conceito multidisciplinar, e analisada de acordo as múltiplas variáveis quantitativa e qualitativa – entretanto compartilham e exploram sinergias existente entre elas. Entendemos que, para o presente trabalho, essas diferentes perspectivas não constituiriam obstáculo, sendo que, a problemática em estudo, conflui processos de diferentes ordens de materialidade. Sendo assim, buscamos similaridades existentes entre as diferentes abordagens apresentadas no decorrer da tese.

Para melhorar a compreensão dos riscos de desastres resultantes dos eventos extremos do clima, as políticas e as ações de adaptação às mudanças climáticas são de extrema importância. Assim, os aportes teóricos e empíricos da abordagem de gestão do risco de desastres é um dos instrumentos à referida compreensão. Essa abordagem focaliza, acima de tudo, os fatores ou fenômenos que contribuem à modificação dos sistemas socioambientais que, consequentemente, materializam-se em eventos de riscos e desastres. Nesse sentido, ambas as literaturas, isto é, adaptação às mudanças climáticas e gestão do risco de desastre abordam as ações e as práticas que visam à redução da vulnerabilidade e exposição dos sistemas socioambientais (IPCC, 2012).

Em meu entender é desafiador compor o marco conceitual a partir da literatura de adaptação às mudanças climáticas pelo fato de existir múltiplas perspectivas de abordagens dentro da mesma. A título de exemplo apresentado no IPCC (2012, p. 47), no rol das perspectivas existentes, algumas interpretam as previsões climáticas como trivial ao processo de adaptação, mas são criticadas em razão das incertezas inerentes às previsões. Por isso, são consideradas insuficientes à motivação de ações, ainda que existam abordagens que analisam o conjunto de variáveis qualitativas que ajudam a caracterizar as incertezas. No geral, as incertezas em cenário climático podem suscitar uma compreensão distorcida dos eventos climáticos em si, do mesmo modo, as implicações, os padrões de vulnerabilidade humana e a capacidade de reagir a tais eventos (LEMPERT; COLLINS, 2007). Desafio que complexifica-se, ainda mais, quando preconiza-se interseccionar os conceitos e as práticas da literatura de adaptação às mudanças climáticas com a de gestão de risco de desastres. Segundo o relatório do IPCC (2012), esse desafio configura-se, muitas vezes, pelo fato de ambas as literaturas diferirem no uso das terminologias, dos significados e das conotações. Mas, no geral, continua o IPCC, compartilham e exploram sinergias que surgem das suas diferenças20. De modo

geral, tais literaturas têm uma visão voltada para autor ou agentes. Estes confrontam com decisões, com as quais têm que fazer escolhas com base em seus interesses, poder, capacidades institucionais, informações disponíveis dentre outras. Ambas se preocupam com os fatores/eventos de riscos na constituição da suscetibilidade e vulnerabilidade, em escala espaço-tempo, bem como a natureza corretiva e prospetiva em face de redução do risco de desastres (IPCC, 2012).

Para que haja fundamentos teórico metodológicos que versam sobre a gestão de riscos e desastres, impreterivelmente, há uma “sociedade de risco” (BECK, 1997) entendida para (GIDDENS, 1991) como “alta modernidade” que autoproduz riscos que configuram em desastres. Desastres, pode ser interpretado como resultados dos processos “interescalares e comandados por interesses diversos” conjecturados

20 Diferenças como, por exemplo, entre os processos históricos e evolutivos; bases conceituais e de

definição; processos de construção do conhecimento social e científico que se seguiu à compartimentação das áreas temáticas; financiamento institucional, organizacional e instrumental; origens científicas e linha de base literatura; concepções das relações causais relevantes; e a importância relativa dos diferentes fatores de risco (IPCC, 2012).

na organização do “substrato físico” desde dentro das “escolhas para se alcançar o desenvolvimento desprezando fatores relevantes, como culturais e paisagísticos” (NUNES, 2009, p.63).

A produção dos eventos de riscos na alta modernidade não estão ligados, tão- somente, ao local de origem. Nela, os riscos propagam-se a ponto de atingir, afetar e modificar a dinâmica territorial dos grupos que já experimentam vulnerabilidade social histórica, p. ex., como São Tomé e Príncipe. Sociedades que permaneceram fora dos “processos de modernização autônomo, cegos e surdos aos seus próprios efeitos e ameaças” (BECK, 1997, p. 16) mas, como os efeitos das “mudanças climáticas variarão regionalmente entre os grupos demográficos” (NUNES, 2009, p.63), os países e grupos sociais a semelhança de São Tomé e Príncipe, são os mais afetados.

Processos surgidos na continuidade da modernização respaldado pelo conhecimento técnico científico que esperava ter o controle sobre o mesmo, transformaram-se em fantasias, vazias e fúteis, no melhor cenário, no pior, máquinas que autoproduzem desastres (BERMAN, 2007). Os riscos enquanto efeitos colaterais da modernidade seriam então os fatores estruturantes que mobilizam e condicionam as ações humanas. Os eventos extremos do clima pode ser tomado como exemplo:

In essence, invisible and dispersed risk such as climate change represent the side effects of modernity. Carbon dioxide, which is difficult to see and track, is released as a by-product of production and consumption. The impacts of these by-products are distant through time and space, and understanding the risk associated with them depend on specialist scientific knowledge. Science becomes drawn into the political process as we seen through the Intergovernmental Panel on Climate Change assessment reports IPCC, (2007) (MEASHAM; PRESTON, 2012, p. 147).

A alta modernidade é de acordo com Giddens (1991) caracterizado pelo dinamismo e pela descontinuidades entre o tempo-espaço por meio do “esvaziamento do local” e a transformação do “lugar em fantasmagórico” através da apropriação dos

sistemas peritos que posteriormente reflete sobre a mesma a partir do conhecimento científico. “O dinamismo da modernidade deriva da separação do tempo e do espaço, do desencaixe dos sistemas sociais e da ordenação e reordenação reflexiva das relações sociais. Lugar, cenário físico da atividade social, são moldados de influências sociais bem distantes deles” (GIDDENS 1997, p. 25). A auto-reflexão e auto-confrontação são cruciais neste processo reflexivo (MEASHAM; LOCKIE, 2012).

O argumento a sustentar é que na sociedade de risco, os riscos se afastam dos lugares de origem para ganhar distintas configurações e acomodações de acordo com a vulnerabilidade, a capacidade institucional, as suscetibilidades de cada espaço-tempo. Entretanto, a racionalidade industrial que contribuíu e contribui para o aumento dos gases de efeito estufa, estes responsáveis pelo aquecimento do planeta são produzidos desde de fora dos países que atualmente mais sofrem com as implicações decorrentes desses eventos. A adaptação às mudanças climáticas e a gestão do risco e desastres surgem enquanto respostas teórico e metodológico aos riscos auto produzidos pela alta modernidade. O conhecimento científico mediante a reflexividades procura reinventar diante os diversos eventos de riscos.

2.1 Analogias entre as abordagens de adaptação às mudanças climáticas e a