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Representação social face aos eventos climáticos e ao processo de adaptação às mudanças climáticas em São Tomé e Príncipe

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Academic year: 2021

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Ilunilson dos Santos Paquete Fernandes

Representações Sociais face aos eventos climáticos e ao processo de

adaptação às mudanças climáticas em São Tomé e Príncipe

Campinas

2018

(2)

Representações Sociais face aos eventos climáticos e ao processo de

adaptação às mudanças climáticas em São Tomé e Príncipe

Tese apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Doutor em Ambiente e Sociedade, na Área de Aspectos Sociais de Sustentabilidade e conservação.

Orientadora: Profa. Dra. Lúcia da Costa Ferreira

Este exemplar corresponde à versão final da tese defendida pelo aluno Ilunilson dos Santos Paquete Fernandes, orientada pela Profa. Dra. Lúcia da Costa Ferreira.

Campinas 2018

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A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 07 de Junho de 2018, considerou o candidato Ilunilson dos Santos Paquete Fernandes aprovado.

Profa. Dra. Lúcia da Costa Ferreira Prof. Dr. Sidnei Raimundo

Prof. Dr. Eduardo José Marandola Junior Profa. Dra. Gabriela Marques Di Giulio

Prof. Dr. Valeriano Mendes Ferreira da Costa

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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DEDICATÓRIA

À minha mãe, Suzana Afonso Pires dos Santos e ao meu filho João Pedro Benevides Paquete Fernandes

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A escrita de uma tese cumpre prazos pré-estabelecidos que não significam, necessariamente, o fim da tese. Para o cumprimento desse prazo, diversas pessoas e intituições, de uma forma ou de outra, contribuíram e me motivaram. A essas pessoas e instituições como:

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa concedida, a UNICAMP e o NEPAM pelos serviços e as condições oferecidas para o desenvolvimento da pesquisa;

A orientadora, Lúcia da Costa Ferreira, pelo suporte, acompanhamento e a compreensão pelo período de estadia em São Tomé e Príncipe;

Os membros da banca de qualificação e da pré-banca, em especial, os professores Dr. José Eduardo Marandola Júnior e Dr. Sidinei Raimundo pelas suas contribuições;

O engenheiro meteorologista, Adérito Manuel Fernandes Santana, ponto focal da Convenção Quadro das Nações Unida para as mudanças climática, pelo acompanhamento e apoio oferecido desde a minha graduação;

A Janet Sousa do Rosário, pelas palavras de motivação e admiração;

Meus familiares, irmãs, irmãos, tios, sobrinhos, primos amigos, pela admiração e suporte dado as minhas escolhas ao longo da trajetória de estudos;

Os colegas da turma de 2014, em especial, o Izidro Justino Muhale que além de colega de turma, consolidamos uma amizade ao longo da estadia em Barão Geraldo; O Waldinei de Araújo, pelos suporte material e psicológico oferecido. Meu caro amigo, sem você, a estadia em Barão Geraldo seria muito mais sofrida;

O Prof. Dr. João Vilhete, santomense, pesquisador da UNICAMP pelo acolhimento e motivação oferecida nos meses finais após o regresso de São Tomé e Príncipe; Os agricultores, pelas entrevistas concedidas;

A você, que não mencionei, mais que de alguma maneira me motivou com palavras de carinho e admiração;

Quero registrar, nesse trabalho, o meu muitíssimo obrigado, muitíssimo obrigado a todos e todas.

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O Quarto Relatório de Avaliação do IPCC de 2007 pontuou que o contexto social e geográfico africano – sobretudo, a região subsaariana – é o mais vulnerável aos eventos extremos relacionados com as mudanças climáticas em função múltiplos fatores que condicionam os meios de subsistência local a se adaptarem e mitigarem os impactos resultantes das mudanças climáticas. Deste modo, é necessário a compreensão, a descrição e a análise desses eventos na escala espacial e temporal, ao nível das nações e comunidades. A partir do contexto social e geográfico de São Tomé e Príncipe, objetivou-se descrever e analisar as representações sociais, de comunidades agrícolas, sobre as implicações dos eventos extremos do clima que têm afetado as suas práticas cotidianas e sobre a implementação de projetos de adaptação às mudanças climáticas. Para responder objeto da investigação baseado na relação dos fatores de vulnerabilidade e suscetibilidade face aos eventos extremos, nas ações de adaptação climática e nas representações das populações afetadas, desencadeou-se uma abordagem interdisciplinar a partir de uma análise interseccionada entre os aspectos físico e social que envolvem a problemática ambiental relacionada com as mudanças climáticas. Nesta medida e na condição de entender os desdobramentos dos eventos extremos do clima no contexto social agrícola de um Pequeno Estado Insular, desenvolveu-se, sobretudo, a pesquisa baseada no conceito de representações sociais, as múltiplas dimensões de análise do conceito de vulnerabilidade. A pesquisa resultou da imbricação da abordagem qualitativa (entrevistas semiestruturadas), assim como quantitativa (baseada em questionários). Palavras-Chave

Mudanças Climáticas. Vulnerabilidade. Adaptação. Representações Sociais. Comunidade Agrícola. São Tomé e Príncipe.

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The 2007 IPCC Fourth Assessment Report pointed out that the African social and geographical context - particularly the sub-Saharan region - is most vulnerable to extreme events related to climate change due to multiple factors that condition local livelihoods to adapt and mitigate the impacts of climate change. In this way, it is necessary to understand, describe and analyse these events in particular spatial and temporal scales, at the level of nations and communities. From the social and geographic context of São Tomé and Príncipe, the aim of this thesis is to describe and analyse the social representations of agricultural communities on the implications of extreme climate events that have affected their daily practices and on the implementation of adaptation projects for climate change. In order to reach the aim of the research, based on the relation of the factors of vulnerability and susceptibility to extreme events in the actions of climatic adaptation and in the representations of the affected populations, an interdisciplinary approach was developed through an intersectional analysis that take into account the physical and social aspects regarding environmental issues and climate change. To this extent, and in the condition of understanding the unfolding of the extreme events of the climate in the agricultural social context of a Small Island State, this research draws on the concept of social representations and on the multiple dimensions of analysis of the concept of vulnerability. The research resulted from the imbrication of the qualitative approach (semi-structured interviews), as well as quantitative (based on questionnaires).

Key words

Climate changes. Vulnerability. Adaptation. Social Representations. Agricultural Community. Sao Tome and Principe.

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CATAP Centro de Aperfeiçoamento Tecnológico e Agrícola CLSTP Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe DGA Direção Geral do Ambiente

FAO Food and Agriculture Organization FMI Fundo Monetário Internacional GEF Global Environment Facility INSTP Instituto Nacional de Estatística INM Instituto Nacional de Meteorologia

ICSU-LAC International Council For Science Lantin American end The Caribbean IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PIB Produto Interno Bruto

PAE Programa de Ajustamento Estrutural

PAZC Projeto de Adaptação nas Zonas Costeiras PMAs Países Menos Avançados

PCN PRIMEIRA COMUNICAÇÃO NACIONAL

PAZC Plano de Adaptação em Zonas Costeiras STP São Tomé e Príncipe

SCNCQNUMC Segunda Comunicação Nacional da Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas

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Figuras

Título Pág.

Figura 01 Mapa de São Tomé e Príncipe 32

Figura 2 Infraestruturas coloniais 69

Figura 3 Infraestruturas públicas e privadas da roça Ubua Budo 70

Figura 4 Saneamento do meio em Ubua Budo 71

Figura 5 Estufa e pocilga da comunidade de Ubua Budo 77 Figura 6 Consequências do prolongamento da seca em 2016 89 Figura 7 Cultivos infectados pelas pragas de rubocinctus e a lagarta

noturna

92 Figura 8 Localização das comunidades de Santa Catarina, Ribeira Afonso

e Malanza

115 Figura 9 Valas de drenagem na comunidade de Santa Catarina 119 Figura 10 Retrato de vulnerabilidade socioespacial Malanza 121 Figura 11 Alagamento em Malanza em dias de pouca chuva 123 Figura 12 Área reservada à deslocamento em Malanza 124 Figura 13 Elementos da espacialidade da Comunidade de Ribeira 125

Gráficos

Título Pág.

Gráfico 1 Tendência da precipitação entre 1951 – 2010 102 Gráfico 2 Resumo das emissões de GEE por setor -2005 106 Gráfico 3 Níveis de satisfação por entrevistados em Santa Catarina

climática

118 Gráfico 4 Escalas de satisfação dos entrevistados em Santa Catarina 119 Gráfico 5 Níveis de satisfação por entrevistados em Malanza 120 Gráfico 6 Escalas de satisfação dos entrevistados em Malanza 121 Gráfico 7 Níveis de satisfação por entrevistados em Ribeira Afonso 125 Gráfico 8 Escalas de satisfação dos entrevistados em Ribeira Afonso 126

Quadros

Título Pág.

Tabela 1 Matriz de sensibilidades para o setor da População, Saúde e educação com mudanças climáticas acentuadas

109 Tabela 2 Projetos de adaptação às Mudanças Climáticas em

implementado e em curso em São Tomé e Príncipe

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Gravana Os meses que não chove

Matabala Tubérculo conhecido no Brasil como Inhame

Selelé Cupim

Manxim Material de corte conhecido no Brasil como Facão Rubrocinctus Praga que ataca diversas culturas

Buê Muito

Ocê Você

Gêm Pessoa

Qua Coisa

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CAPÍTULO 1_ INTRODUÇÃO ... 14

1.1 A problemática ambiental relacionada com as mudanças climáticas ... 16

1.2 Objetivos específicos ... 23

1.3 Metodologia e os procedimentos à obtenção dos dados ... 24

1.4 Pesquisa empírica: descrição, circunstâncias e dificuldades ... 28

1.5 As ilhas de São Tomé e Príncipe: caracterização e ilustração ... 30

1.6 Descrição dos capítulos ... 36

CAPÍTULO 2_ INTERSEÇÃO CONCEITUAL: adaptação no domínio de gestão de risco e desastres, construção social dos riscos, vulnerabilidade e adaptação de base comunitária ... 38

2.1 Analogias entre as abordagens de adaptação às mudanças climáticas e a de gestão do risco de desastres ... 41

2.2 Vulnerabilidade como ponto final ... 47

2.3 Vulnerabilidade como ponto de partida ... 48

2.4 Vulnerabilidade: abordagens convergentes ... 52

2.4.1 Compreensão dos eventos de riscos a partir das abordagens construção social e cultural do risco representações sociais e adaptação de base comunitária ... 56

CAPÍTULO 3_ REPRESENTAÇÕES DE LIMITAÇÕES FACE AOS EVENTOS CLIMÁTICOS NAS COMUNIDADES DE UBUA BUDO E PINHEIRA ROÇA ROÇA ... 64

3.1 Quadro político-social das roças ... 64

3.2 Considerações acerca das roças Ubua Budo e Pinheira roça e os processos de vulnerabilização envolvidos ... 69

3.2.1 Representações de limitações ao modo de vida agrícola em Ubua Budo, não relacionadas com eventos extremos do clima ... 74

3.2.2 Representações de limitações ao modo de vida agrícola em Ubua Budo e Pinheira roça relacionadas com os eventos extremos do clima ... 81

CAPÍTULO 4_ SUSCETIBILIDADE E VULNERABIBIDADE DA REGIÃO SUBSAARIANA E DOS PEQUENOS ESTADOS INSULARES FACE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: caracterização e análise do caso de São Tomé e Príncipe ... 97

4.1 Cenários climáticos de São Tomé e Príncipe: temperatura e precipitação ... 102

4.2 Suscetibilidade e vulnerabilidade dos setores face às implicações dos eventos extremos do clima e o processo de adaptação envolvido ... 105

4.3 Considerações acerca dos atores e instituições envolvidas no processo de adaptação às mudanças climáticas ... 112

4.4 Análise do nível de satisfação das comunidades pesqueiras beneficiadas com projetos de adaptação às mudanças climáticas ... 115

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REFERÊNCIAS ... 133 APÊNDICE ... 143 ANEXO ... 145

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CAPÍTULO 1_ INTRODUÇÃO

A tese dá continuidade a uma trajetória de estudos e pesquisa apresentada, detalhadamente, na dissertação de Mestrado, defendida no Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em agosto de 2012. Nesse estudo identifiquei que o processo de vulnerabilização das comunidades tradicionais pesqueiras da ilha de São Tomé estão relacionadas com (i) a ausência e a solidez no quadro político/institucional interno como, por exemplo, as relações que suscitaram o sucateamento de todas as infraestruturas de pesca antes existentes; (ii) as relações de subalternidade resultantes dos acordos de pesca insensível e censuráveis assinados com a União Europeia; (iii) os fatores de ameaças relacionados com às alterações climáticas marcados pela intensidade e recorrência de eventos como trovões, neblinas súbita, ventos fortes em alto mar, distanciamento do pescado, perda da base física da praia decorrente do aumento do nível da água do mar entre outros fenômenos críticos de ameaças as práticas de pesca artesanal (FERNANDES, 2012).

Após a conclusão do Mestrado, como é comum, surgem inquietações, questionamentos de possíveis recortes de objetos que podem desdobrar em temas de pesquisa. Contudo, não foi possível fazer a ligação entre o Mestrado para o Doutorado na medida em que, outras vicissitudes da vida me impossibilitaram. Entretanto, as inquietações relacionadas com os temas de pesquisa suscitados não se esfacelaram, pelo contrário, amadureceram de modo que o desejo de retornar à academia falasse mais alto. Finalmente, aproximadamente, dois anos após a defesa, retornei e retomei a temática de pesquisa relacionada com a problemática ambiental referente às mudanças climáticas no setor agrícola. A descrição e caracterização do quadro teórico, empírico e institucional desencadeada anteriormente sobre a referida problemática, permitiu ponderar que os grupos sociais beneficiados com projetos de adaptação às mudanças climáticas experimentam um recrudescer de vulnerabilidade que suscita incerteza em relação às melhorias trazidas por esses projetos, não obstante a relevância dos referidos setores.

(15)

De acordo com a FAO (1995), o setor pesqueiro e agrícola são fundamentais para o continente africano. A pesca marinha contribui com 64%, as pescas continentais 35% e aquicultura 1%. A agricultura emprega dois terços da população ativa e contribui com 20 a 60% do produto interno bruto (PIB) de cada país. Morton (2007, p. 19680) pontua que a “smallholders are responsible in many countries for very high

proportions of food and cash crop production, for example, 90% of rice, wheat, other food crops, cocoa, and cotton in Nigeria”. No caso de São Tomé e Príncipe, embora

o país não explore devidamente o potencial que os setores oferecem, ainda assim, a contribuição para o produto interno bruto (PIB) gira em torno de 22% para o setor agrícola e 7,2% para o pesqueiro (FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL, 2016).

Entretanto, de acordo com os documentos consultados1, esses setores têm sido os

mais afetados por eventos extremos relacionados com as mudanças climáticas, particularmente em São Tomé e Príncipe, a ponto de tornarem-se mais intenso as vulnerabilidades existentes, apesar da execução dos diversos projetos no âmbito da adaptação às mudanças climáticas. Essa constatação instigou à continuidade da pesquisa no setor agrícola. Desse modo, questionamos: quais as representações

dos grupos sociais afeto ao setor agrícola, acerca dos eventos extremos do clima e sobre as ações de adaptação às mudanças climáticas? A hipótese

indagada foi que em termos práticos a execução desses projetos, em sua maioria, não produz melhorias nem em médio como em longo prazo aos grupos

sociais mais vulneráveis.

Segundo a Resolução 43/53 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidades (ONU), de seis de dezembro de 1988, cabe ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas fazer a avaliação de forma abrangente, objetiva, aberta e transparente de informações, técnicas científicas e socioeconômicas que permitem entender cientificamente às mudanças climáticas, seus possíveis impactos e as opções de adaptação e mitigação. Assim, a partir do ano de 1990, com base nas evidências científicas do primeiro Relatório de Avaliação do IPCC, foi possível sublinhar que as mudanças climáticas constituem um desafio que requer esforços de

1 Como o NAPA (2007), a Segunda Comunicação Nacional (2011), o IPCC (2007, 2012,

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todas as nações para enfrentar as suas consequências. De aquela data até os dias atuais, a participação de comunidade científica nos trabalhos do IPCC cresceu, em termos do número de autores e colaboradores envolvidos na redação e revisão dos relatórios, assim como, na distribuição geográfica dos autores e dos tópicos abordados pelos relatórios. Sendo assim, o IPCC tem produzido diversos Relatórios de Avaliações (segundo RA em 1995, terceiro RA em 2001, quarto RA em 2007, quinto em 2013 e 2014) cada vez mais abrangentes e mais contundentes cientificamente. O segundo RA, subsidiou as negociações que antecederam a adoção do Protocolo de Quioto em 1997. O quarto deu maior atenção à integração das mudanças climáticas com políticas de desenvolvimento sustentável e as relações entre mitigação e adaptação. O quinto, constituído em três relatórios de cada grupo de trabalho, e um Relatório de síntese, fornece uma visão clara e atualizada do estado atual do conhecimento científico sobre à mudança do clima e para os formuladores de políticas (IPCC; 2018). Certamente, pode-se argumentar que, uma das maiores contribuições dos relatórios do IPCC, é o fato de proporcionarem maior entendimento sobre como a mudança climática afeta a dimensão humana e social.

Esses esclarecimentos iniciais tem como finalidade contextualizar o surgimento da temática, a pergunta e a hipótese. Feito isso, apresento a seguir a problemática em que pesquisa está inserida.

1.1 A problemática ambiental relacionada com as mudanças climáticas

A problemática ambiental relacionada com as mudanças climáticas constitui um conjunto de desafios de natureza física (tempo/clima2), político institucional, social e

cultural que comporta um conjunto de stakeholders, no processo de troca, integração, partilha de conhecimentos e de informações. Deste modo, quanto menor o hiato entre as áreas e arenas de conhecimento à compreensão da problemática,

2 “Time Est l'état de l'atmosphère au jour le jour, et sa variation à court terme en quelques minutes à

quelques semaines. Climate: ensemble des phénomènes météorologiques qui caractérisent l atmosphère et son évolution en un lieu donné” (DÉFINITION, 2007, p.1)

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maior serão os esforços para diminuir as incertezas inerentes a mesma (WEBER; STERN

,

2011).

As relações entre os eventos extremos climáticos e seus múltiplos efeitos ficaram evidenciadas a partir da criação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Compreendem uma faceta da variabilidade climática sob condições climáticas estáveis ou em mudança. São definidos como a ocorrência de um valor de uma variável climática ou clima acima (ou abaixo) de um valor limiar próximo às extremidades superiores (ou inferiores) da faixa de valores observados da variável (IPCC; 2012, p. 30).

Os resultados do relatório de avalição de 2007 ponderou que as ações antrópicas relativas ao uso de combustíveis fósseis e às formas de uso da terra, têm provocando mudanças nos padrões de variabilidade do clima como: mudanças nas concentrações atmosférica global do dióxido de carbono, metano e óxido nitroso que contribuem para o aquecimento da atmosfera. Entre 1970 a 2004, houve aumento de 70% de emissões desses gases. Apontaram, de acordo com as observações em todos os continentes, que muitos sistemas naturais e humanos estão sendo afetados pela mudança do clima (IPCC, 2007), sobretudo, nos países que possuem menor capacidade de adaptação e com cultivos mais dependentes do clima:

Climate change is projected to compromise agricultural pro- duction, especially in smallholder systems with little adaptive capacity, as currently prevalent in many parts of Africa (MULLERA, C. et. al, 2011, p. 4313). “Sub-Saharan Africa is predicted to be particularly hard hit by global warming because it already experiences high temperatures and low (and highly variable) precipitation, the economies are highly dependent on agriculture, and adoption of modern technology is low3”(KURUKULASURIYA, P. et. al.,

2006, p. 368).

3 Espera-se que a África Subsaariana seja particularmente atingida pelo aquecimento global porque já

experimenta temperaturas altas e baixa precipitação (e altamente variável), as economias são altamente dependentes da agricultura, e adoção de tecnologia moderna é baixa. (Tradução livre).

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À luz do exposto, fica claro que a resiliência aos riscos associados à variabilidade climática e eventos extremos depende das capacidade de adaptação:

Adaptive capacity varies considerably among regions, countries and socioeconomic groups because the ability to adapt and cope with climate change is a function of governance and national security strategies, wealth and economic development, technology, information, skills, infrastructure, institutions, and equity (CHALLINOR, et al.,2007, p. 391).

De igual modo, ficou evidenciado, nos estudos científicos do IPCC de 2007, que o continente africano é um dos continentes que mais sofre com os efeitos dos eventos extremos do clima, por serem “mais vulneráveis à variabilidade e à mudança do clima”. Tais vulnerabilidades sucedem em função das múltiplas tensões e da baixa capacidade de adaptação. Descreveram que a região subsaariana padece com impactos prejudiciais ao cultivo e à segurança alimentar por motivos de secas e perdas das várzeas e manguezais costeiros. Na parte sul, o prolongamento de secas e irregularidades no ciclo de precipitação será constante. Consideraram que até 2020, o continente terá entre 75 e 250 milhões de pessoas expostas à escassez dos recursos hídricos nos sistemas de assentamento humano e em áreas costeiras de baixas altitudes; redução de até 50% da irrigação pela água da chuva; o aumento de temperatura da água dos maiores lagos; à degradação dos manguezais e recifes de corais como citado abaixo:

Na região Saheliana da África, as condições mais quentes e secas provocaram uma redução da duração da época de cultivo, com efeitos prejudiciais às culturas. No sul da África, as estações secas mais longas e a precipitação mais incerta estão gerando medidas de adaptação. A elevação do nível do mar e o desenvolvimento humano estão contribuindo juntos para as perdas das várzeas e manguezais costeiros e aumentando os danos causados pelas inundações do litoral em muitas áreas (IPCC, 2007b, p. 5).

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Challinor, et al., (2007, p. 381) argumentam que “agricultural systems are vulnerable to variability in climate, whether naturally-forced, or due to human activities”4 No

entanto, os eventos extremos relacionados com as mudanças climáticas proporcionam incertezas e estresses à produção agrícola, particularmente, em regiões mais suscetíveis nas quais as populações são mais vulneráveis. Nessas regiões, a produção de culturas alimentares tem sido cada vez mais ariscada:

The productivity of food crops, from year to year for example is inherently sensitive to variability in climate. Producers in many parts of the world have thev physical, agricultural, economic and social resources to moderate, or adapt to, the impacts of climate variability on food production systems. However, in many parts of Africa this is not the case, making agricultural systems particularly vulnerable. This is in part because a large fraction of Africa’s crop production depends directly on rainfall. For example, 89% of cereals in sub-Saharan Africa are rainfed. In many parts of Africa, climate is already a key driver of food security (CHALLINOR, et al., 2007, p. 382).

“Small-scale farming provides most of the food production in Africa, as well as

employment for 70% of working people”5 (CHALLINOR, et al., 2007, p. 382). O

prolongamento da seca e a diminuição da precipitação têm impactos negativos ao sistema socioambientais como a desertificação. O solo desertificado e seco, torna-se inóspito, incapaz de produzir. Em regiões ou países, como São Tomé e Príncipe, em que a agricultura de subsistência é a principal fonte de renda, o prolongamento da seca e a diminuição da precipitação pode suscitar a insegurança alimentar e o agravamento da situação de pobreza existente. Por dentro do continente, pode exacerbar as tensões étnicas e políticas e contribuir para o acirramento de conflito:

The high sensitivity of food crop systems in Africa to climate is exacerbated by additional constraints such as heavy disease burden, conflicts and political instability, debt burden and unfair international trade system. Good governance, political will and positive economic development are central to systems for the coping with climate stresses (CHALLINOR, et al., 2007, p. 394).

4Os sistemas agrícolas são vulneráveis à variabilidade do clima, seja naturalmente forçado ou devido a atividades humanas. (Tradução livre).

5A agricultura de pequena escala fornece a maior parte da produção alimentar em África, bem como

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A intensidade, a magnitude e a imprevisibilidade dos eventos – como inundações, ciclones tropicais, tornados, tempestades, deslizamentos, estresse hídrico e de seca, epidemias, elevação do nível do mar, dentre outros – e/ou fenômenos extremos do clima6 e do tempo fazem com que, esses eventos, sejam um dos

maiores desafios socioambientais do século XXI. Sendo assim, temas como, adaptação às mudanças climáticas, vulnerabilidade e exposição, riscos, desastres, adaptação ao domínio de gestão de risco e desastres, capacidade adaptativa, entre outros, têm estado no centro das discussões e preocupações teóricas e empíricas em diversas áreas/arena do conhecimento científico, político institucional, governamental e não-governamental. Na arena científica, essas discussões vêm se dando através de várias correntes que às vezes convergem, divergem e interseccionam. Arena aqui é definida como “ações de indivíduos ou grupos sociais que se destinam a influenciar as decisões ou políticas coletivas” (RENN, 1992). De antemão frisamos que, as abordagens interseccionadas7 são as que mais nos

interessa. De igual modo, as abordagens que, além de estimular uma perspectiva interseccionada, também, dão a devida importância aos estudos mais localizados. Isto é, aquelas que trazem para as arenas de debate situações específicas de povos que vivenciam, no dia a dia, situações de vulnerabilidade e exposição, mais especificamente, os relacionados a eventos extremos decorrentes de mudanças climáticas. Objetivamente, estamos a falar de povos do continente africano, especificamente, das regiões subsaarianas.

Ao fazermos isso, esperamos trazer para o debate científico contextos nacionais, locais e comunitários, uma vez que se trata, sob nosso ponto de vista, de desafios socio institucionais em torno da realidade social vivenciada e, não somente, de limitações tecnológicas. Deste modo, podemos identificar e descrever os obstáculos

6The occurrence of a value of a weather or climate variable above (or below) a threshold value near the upper (or lower) ends of the range of observed values of the variable. For simplicity, both extreme weather events and extreme climate events are referred to collectively as ‘climate extremes. (IPCC, 2012, p. 5).

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sociais, os políticos, os econômicos, as representações sociais (MOSCOVOCI, 2010), as interações sociais no espaço-tempo. Estaríamos, na verdade, retratando as dinâmicas e os contextos sociais, os quais, de acordo com (MINAYO, 1999, p.139) “têm um significado específico e uma estrutura de relevância para os seres humanos” visto que é nela que se constroem as representações sobre os fenômenos de ameaças e as ações de enfrentamento.

Vimos, acima, que a complexidade da problemática socioambiental relacionada com as mudanças climáticas “confluem processos naturais e sociais de diferentes ordens de materialidade” (LEFF, 2007, p. 62). Requer que as ciências transponham os limites disciplinares em direção à interdisciplinaridade. Portanto, “não pode ser compreendida em sua complexidade nem resolvida com eficácia sem a integração de campos muito diversos do saber”, através de uma “visão sistêmica e um pensamento holístico” (LEFF, 2007, p. p. 62). Posto isso, deve ser orientada por ferramentas, linguagens, abordagens colaborativas e dialógicas tanto das ciências sociais quanto das ciências naturais de acordo com a citação:

For research and extension services, the complex social, economic and political implications of climate change are also of great importance, and multi-disciplinary thinking is key. One proposed development research framework for rural water management in the context of climate variability and change included: understanding vulnerability-livelihood interactions; establishing the legal, policy and institutional framework; and developing and testing a climate change adaptation strategy from a general framework from which specific goals and activities can be developed. For the African research community, it is incumbent that a critical mass of disciplinary expertise in agroclimatology, hydrology, water management, climate, environmental physiology, agroecology, analytical agronomy, and systems development (including sociologists and anthropologists) is maintained to address livelihood related issues of crop, animal and system adaptability to climatic variability and climate change. (CHALLINOR, et al.,2007, p. 392, 393)

É com a pretensão de contribuir em uma perspectiva interdisciplinar interseccional que nos instigou descrever e analisar as representações sociais, de comunidades agrícolas, sobre as implicações dos eventos extremos do clima que têm afetado as suas práticas cotidianas e sobre a implementação de projetos de adaptação às

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mudanças climáticas. Queremos com isso dizer que, em termos teóricos, a pesquisa está ancorada em um conjunto de literatura que faz parte do esforço para melhorar a compreensão e enfrentar as múltiplas implicações/impactos dos eventos relacionados às mudanças climáticas8.

É importante frisar que não pretendo realizar uma genealogia ou ir ao limite nas literaturas acima referidas. O levantamento teórico nos permitirá contextualizar, de acordo com as limitações e as possibilidades, o debate em torno dessas literaturas que nos ajudará a interseccionar os principais conceitos com as representações dos sujeitos da pesquisa (cap. 3).

De acordo com Moscovici (2010), representação une ideias e comportamento de um coletivo. É através das Representações Sociais (R. S) que combinamos nossas “capacidades de perceber, inferir, compreender” e explicar uma situação. Isso se deve, continua o autor, ao fato de elas corresponderem “sistemas de crenças ancoradas em valores, tradições e imagens do mundo e da existência”. Sendo assim, sou, portanto, levado a reconhecer que a teoria das R. S. expressam um conjunto de preposições que permitem que os eventos relacionados com as mudanças climáticas, sejam classificados, seus efeitos descritos e os sentimentos conexos, com os mesmo, vocalizado e explicado “no e através do discursos” MOSCOVICI (2010, p. 216) “produzidos na, e pela, vida cotidiana” (JOVCHELOVICH, 2008, p.87).

Enquanto sistema de crenças, valores, tradições e imagens do mundo e da existência, o conceito de Representações Sociais nos possibilita compreender como as pessoas comuns, comunidades e instituições produzem saberes sobre si e os outros, assim como, sobre a multidão de objetos sociais que lhes são relevantes. O conceito conjugado às outras disciplinas busca “trazer à luz a estrutura das visões de mundo, das crenças e formas de vida que produzem teoria” sobre os saberes plurais relacionado com o “mundo da vida e à experiência vivida de uma

8 Conceitos relacionados à adaptação e às mudanças climáticas; gestão do risco de desastre,

subdividida em: redução de risco de desastre e gestão de desastre; adaptação de base comunitária; vulnerabilidade social em sua correspondente perspectiva: vulnerabilidade como processo e como ponto de partida; representação social, construção social de eventos de riscos entre outras.

(23)

comunidade”, considerando as suas ações, pensamento e relacionamento (JOVCHELOVICH, 2008, p.87).

Moscovici (2010, p. 217, 218) argumenta, ainda, que o conceito de representação está voltado para “compreensão das formas práticas de conhecimento e de conhecimento prático que cimentam as nossas vidas sociais como existência comuns”. Esse conhecimento “está inscrito nas experiências ou acontecimentos sustentados por indivíduos e partilhado na sociedade”. Assim, para cada fenômeno novo, como, por exemplo, as limitações ao modo de vida relacionadas ou não, com as mudanças climáticas, podem fazer parte do sistema representações sociais de uma determinada comunidade, na medida em que expressam a maneira como o grupo pensa de si mesmo, em suas relações com os fatores que os afetam.

Para identificação dos fatores que afetam o modo de vida agrícola construímos um objeto da investigação baseado na relação entre os fatores de vulnerabilidade e suscetibilidade face aos eventos extremos, as ações de adaptação climática e as representações das populações afetadas nas ilhas de São Tomé. Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa é:

Descrever e analisar as representações sociais, de comunidades agrícolas, sobre as implicações dos eventos extremos do clima que têm afetado as suas práticas cotidianas e sobre a implementação de projetos de adaptação às mudanças climáticas.

1.2 Objetivos específicos

1- Caracterizar projetos, atores e instituições que atuam e alocam recursos em prol da adaptação às mudanças climáticas;

2- Avaliar a satisfação de comunidades pesqueiras beneficiárias de projetos de adaptação às mudanças climáticas;

3- Identificar e descrever as representações de limitações, ao modo de vida agrícola relacionadas com eventos extremos do clima;

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4- Identificar e descrever as representações de limitações, ao modo de

vida agrícola não relacionadas com eventos extremos do clima; 5- Identificar e descrever alternativas de enfrentamento aos eventos

extremos do clima baseadas na experiência local.

Para atingirmos os objetivos específicos propostos, sob a perspectiva de um estudo de caso, aplicamos questionários nas comunidades pesqueiras e entrevistas nas comunidades agrícolas, estas guiadas por questões como:

1- Qual a maior dificuldade que o senhor(a) enfrenta para exercer a agricultura? Quais dificuldades os camponeses dessa comunidade ou zona enfrentam para exercer a agricultura?

2- Quais fenômenos, ligados ao clima, que podem estar a afetar a agricultura?

3- Quais as alternativas encontradas para superar esses problemas? 4- Que melhorias trouxe à comunidade os projetos de adaptação às

mudanças climáticas?

5- Considerando a realização de projeto de adaptação executado na comunidade, de 0 a 10, que nota você daria para as melhorias proporcionadas a sua comunidade e a sua vida? (Somente nas comunidades pesqueiras).

1.3 Metodologia e os procedimentos à obtenção dos dados

Nesse trabalho discorri sobre a dimensão social da problemática ambiental relacionada com as mudanças climáticas. Através do conceito de representação social, colhi, descrevi e analisei as representações, referentes as limitações que os agricultores vivenciam, tanto as relativas aos eventos extremos do clima quanto as relacionadas com as vulnerabilidades sociais experimentadas nas comunidades de Ubua Budo e Pinheira roça roça, ambas localizadas na ilha de São Tomé. Sendo assim, toda importância foi atribuída às representações que expressaram a dimensão das vulnerabilidades desse grupo social, das suas perdas e incertezas, da ausência de políticas sociais (ver capítulo 3). Deste modo, as técnicas de pesquisa qualitativa se destacaram frente as quantitativas empreendida, por um lado, pelo fato de não cumprir as formalidades do rigor metodológico quantitativo referentes ao

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universo total do habitantes a partir de uma amostra estatística. Por outro lado, pela falta e o acesso aos dados demográficos das referidas comunidades. Por outro ainda, relacionado com o contexto a qual os dados foram obtidos. Não obstante, os números e dados citados no item 4.4 do capítulo 4, podem servir como indicadores e estimativas, dando alguma ideia sobre a satisfação dos entrevistados acerca dos projetos de adaptação às mudanças climáticas executado nas comunidades. Vale dizer que os componentes físicos que, por ventura, aparecerão, são, simplesmente, as medidas de tempo. Isto é, variáveis climáticas descritas para justificar as implicações nos sistemas sociais sendo que não interessa aqui, ponderar sobre os eventos extremos a partir de cenários de projeções climáticos. Por isso, evitamos discorrer, excessivamente, sobre as abordagens e definições que têm como pressuposto único estimar a probabilidade de ocorrência dos eventos extremos. O que fizemos foi interseccionar os aspetos físicos e sociais que, de uma forma ou de outra, estão correlacionados com as mudanças climáticas. Uma abordagem que cinge os aspetos físicos e sociais tende a ser mais abrangente porque, primeiro, congrega aspetos da dinâmica geofísica, bem como contextos sociais de ocorrência (CARDONA; 2001; ICSU-LAC, 2009). Segundo, porque favorece uma compreensão mais aprofundada das causas e dos efeitos desses eventos, assim como dos diferentes atores e processos envolvidos (SCHNEIDER et al., 2007).

No que se refere ao conceito de representações sociais, importa ressaltar que tem oriegem nas Ciências Sociais a partir do autor Durkheim. Para Durkheim (1960), as representações coletivas seriam as “categorias de pensamento através das quais determinadas sociedades elaboram e expressam suas realidades. Entretanto, o conceito ganhou notoriedade na obra de Serge Moscovici. Tendo como fonte de inspiração o conceito de representações coletivas de Durkheim, o autor substituiu o “coletivo” por “social” e afirma que a psicologia social “estaria pré-ocupada com a estrutura e a dinâmica das representações operando em conjunto de relações e de comportamento que surgem e desaparecem” (MOSCOVICI, 2010, p. 47). Para o autor, as representações têm o propósito de:

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[...] tornar algo não familiar, ou a própria não familiaridade, familiar [por isso, define as representações como] um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade (MOSCOVICI, 2010, p. 20, 21).

Podemos encontrar o mesmo delineamento nos dizeres de Minayo (1999, p. 173), quando afirma que as representações sociais são frutos da “vivência das contradições que permeiam o dia-a-dia das classes sociais e sua expressão marca o entendimento delas com seus pares, seus contrários e com as instituições”. Significa dizer que as representações sociais expressam categoriais de pensamento, concepções e visão de mundo que os atores sociais possuem sobre a realidade. Elas constituem acúmulo de valores, ideias, crenças e práticas que são compartilhadas entre grupos e comunidades.

Importa salientar que as técnicas da pesquisa qualitativa possibilitam a “fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir, as representações de grupos determinados, em condições históricas e culturais específicas” (MINAYO, 1999, p. 109, 110, 124). Sendo assim, as considero um instrumento privilegiado à coleta das representações, das comunidades agrícolas. Entretanto, de acordo com Burgess (1997), há certa flexibilidade na aplicação da referida técnica. Por exemplo, em pesquisa que se faz o uso da técnica de entrevista semiestruturada – no conjunto das questões predefinidas9 – o pesquisador pode expor outras questões que surjam

mesmo quando fogem, um pouco, das questões formuladas anteriormente.

De acordo com (VALENCIO, 2007, p.11) a técnica de entrevista semiestruturada é instrumento de coleta de informações que possibilita “identificar o padrão de sentir, pensar e expressar do grupo, o sistema de representações que esse grupo faz de si, sobre suas carências, sobre os conflitos”. Deste modo, a entrevista semiestruturada nos possibilitou compreender as representações sociais sobre as implicações

9 As questões pré-definidas são diretrizes, mas não ditam a forma como a entrevista irá decorrer, na

medida em que as questões não têm de ser colocadas numa determinada ordem nem exatamente da mesma forma com que foram inicialmente definidas (BURGESS, 1997).

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materiais, ou seja, representações acerca dos eventos climáticos extremos que têm afetado as culturas agrícolas; representações de alternativas locais de enfrentamento; representações sobre a ausência de políticas públicas, sobre as relações estabelecidas entre os sujeitos da pesquisa com os atores sociais e institucionais que atuam em prol da adaptação às mudanças climáticas no país.

Além da técnica entrevista semiestruradas, fiz o uso da técnica denominada por Martins (2011) de imagem fotográfica. Segundo Martins, o registro fotográfico não serve apenas para documentar, mas, igualmente como instrumento de pesquisa. Nesse sentido, formula que o registro fotográfico é constitutivo da realidade contemporânea e, de certo modo, objeto e sujeito. Em outras palavras, é uma técnica que permite o o sujeito captura a “ficção social e cotidiana” do mundo sensível materialmente dado. O sujeito ao capturar, constrói significados em torno desse mundo sensível. Ou seja, é o olhar “auto identificado e de conhecimento” do sujeito sobre a sociedade em que vive, ou de uma realidade social. A técnica foi incorporada por sociólogos e antropólogos como metodologia adicional ao conjunto de técnicas de investigação. Para o autor, “todos esses recursos técnicos pressupõem que a sociedade equivale ao verbalizável, ao memorável, ao escrevível e ao visível”. É um recurso que, em diferentes campos, amplia e enriquece a variedade de informações de que o pesquisador pode dispor para “reconstruir e interpretar determinada realidade social” (MARTINS, 2011, p. 26).

A realidade social a ser estudada foram as das comunidades de Ubua Budo e Pinheira roça, ambas localizadas no distrito de Cantagalo. A primeira foi escolhida porque compunha uma das trinta comunidades rurais contempladas com projetos/ações de redução de riscos à fenômenos relacionados com as mudanças climáticas e vulnerabilidade, financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-Global Environment Facility (PNUD-GEF). Enquanto que a comunidade de Pinheira roça, foi escolhida por ser dependência (filiar) de Ubua Budo em que o pesquisador intencionalmente optou à realização da pesquisa.

Asseguerei-me nos dizeres de (BURGESS, 1997, p. 58) tanto para definir as estratégias para entrar em campo como para obter as informações. Segundo

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Burgess “não é possível para o investigador estudar todas as pessoas e todos os acontecimentos numa situação social”. Com base nesse princípio, a escolha e composição dos entrevistados, foi guiada, inicialmente, pela técnica de amostragem em bola de neve. Abordagem que envolve:

[...] o uso de um pequeno grupo de informantes a quem é pedido que ponha o investigador em contacto com os seus amigos, os quais são subsequentemente entrevistados, pedindo-se-lhes igualmente que indiquem outros amigos a entrevistar, e assim por diante, até que uma cadeia de informantes tenha sido selecionada (BURGESS, 1997, p. 59).

A despeito dos dizeres de Burguess acima, sabemos que as situações reais de pesquisa são mais complexas do que as apresentadas na literatura, assim como em relação aos delineamentos construídos a priori. Significa dizer que no decorrer da pesquisa, não se configurou a construção de cadeia de informantes como acima descrito. Configurou, uma dinâmica em que os entrevistados chegavam até o pesquisador, e vice-versa, sem a indicação prévia. Para melhor compreensão, o pesquisador era sujeito estranho à comunidade, por isso os entrevistados se aproximavam e perguntavam o motivo da sua presença. De igual modo, o pesquisador solicitava-lhes a possibilidade de conceder a entrevista tendo como requisito, ser morador e agricultor. Apesar de não haver uma cadeia de informantes, a composição do universo dos entrevistados foi estabelecida mediante a repetição das informações. As entrevistas terminaram quando as informações colhidas foram constantemente repetidas como é na amostragem não probabilística, ou seja, bola de neve (BURGESS, 1997). A seguir apresento as circunstâncias em que a pesquisa empírica foi realizada.

1.4 Pesquisa empírica: descrição, circunstâncias e dificuldades

Para Burgess (1997), é tarefa dos cientistas sociais interpretar os significados, os hábitos, os valores, as representações sociais, através relatos de fatos, estes coletados no decorrer da pesquisa empírica. Através dos relatos, as observações e as ferramentas teóricas apropriadas, o cientista social pode tornar compreensível um

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comportamento, pode defender ou refutar ideias entre atores sociais. Mas, há, continua o autor, uma diversidade de fatores sociais que podem influenciar as relações estabelecidas em campo. Ganhar confiança e estabelecer relações entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa é um desses fatores, que por sinal, fundamental para a qualidade dos dados a serem coletados.

Para Minayo, (1999) a qualidade dos dados recolhidos têm relação com o impacto do primeiro contato com o pesquisador com os sujeitos da pesquisa. Deste modo, para facilitar a entrada e ter boas relações com os sujeitos da pesquisa, antes de ir à comunidade, estabeleci, contato com um professor, colega de infância, morador da comunidade de Ubua Budo. No encontro, expliquei os objetivos da pesquisa e, em seguida, combinamos para que a minha inserção em campo fosse às 9h, num fim de semana. No dia e na data combinada, estava presente na comunidade e perguntei onde era a casa do referido colega. Assim que cheguei, fui informado que o mesmo não se encontrava. Nessas circunstâncias, expus para os dois jovens que me conduziram até a casa do colega ausente, o objetivo da minha presença na comunidade. Após isso, um dos jovens solicitou-me se eu teria interesse em conhecer a pocilga e a estufa recém-construída no âmbito das ações de adaptação local às mudanças climáticas. No percurso às referidas infraestruturas, os jovens formulavam suas representações sobre as mesmas. Essas representações foram anotadas, ao mesmo tempo em que estabelecia contato com os outros membros da comunidade e observava a precariedade das moradias existentes e as péssimas condições de saneamento local. As relações de confiança foram estabelecidas e as entrevistas decorreram no centro da comunidade, embaixo da sombra das árvores. Ao longo das entrevistas, estabeleci boas relações com outro jovem, simpático e bem relacionado como utros membros da comunidade que foi guia em todos os dias de pesquisa.

Dissemelhante10 da comunidade de Ubua Budo em que as entrevistas decorreram

no quintal e nas casas, em Pinheira roça roça, as entrevistas fluiram com facilidade nos talhões dos entrevistados porque o pesquisador conhecia o local e era

10 Apresento no capítulo 4 uma diferenciação mais objetivas entre as comunidades de Ubua Budo e

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conhecido, por boa parte dos agricultores. Esse procedimento permitiu, além de coletar as representações sociais através de um gravador, observar e fazer registro fotográfico dos fatores relacionado a eventos extremos de clima que limitam a prática agrícola.

Segundo Burgess (1997), as relações a serem estabelecidas em campo também dependem da experiência do pesquisador11. No geral, não me deparei com

dificuldades no decorrer das entrevistas. Entretanto, no que se refere à pesquisa documental, as dificuldades foram diversas. Primeiro porque, em meu entender, ainda existe uma cultura local, colonizada, de que pesquisadores só são aqueles que vêm de fora, sobretudo, os de cor de pele branca. Segundo, os documentos produzidos nas instituições públicas são personalizados. Pertencem aos representantes das instituições ou da pessoa que elaborou. Esse fato, condicionou a obtenção de dados atualizados sobre o setor agrícola.

As dificuldades de ordem pessoal também constituíram, de algum modo, constrangimentos à presente pesquisa. Um deles cabe à pretensão inicial de articular a literatura de conflitos em arenas ambientais com as de vulnerabilidade e adaptação às mudanças climáticas no contexto de São Tomé e Príncipe e outras apresentadas no apêndice.

Descrito os procedimentos para a obtenção dos dados, em meu entender, há necessidade de apresentar, desde já, uma breve caracterização do país, de modo a situar o contexto onde a pesquisa se realiza.

1.5 As ilhas de São Tomé e Príncipe: caracterização e ilustração

Seis distritos e uma Região Autônoma compõem a República Democrática de São Tomé e Príncipe: distrito de Água Grande, Cantagalo, Cauê, Guadalupe, Lembá, Mé-zóchi e a Região Autônoma de Príncipe. Constituído por duas ilhas e alguns ilhéus adjacentes, ocupa uma superfície total de 1001 km², e está situado no oeste

11 O pesquisador tomou contato com a pesquisa empírica desde a sua graduação tanto, em diversas

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da costa africana na região do Golfo da Guiné. Formadas através das atividades vulcânicas “acerca de oitenta milhões de anos atrás, é a porção de terra mais próxima do cruzamento zero grau de latitude e longitude” (RODRIGUES, 2010, p. 2) e são caracterizadas, predominantemente, por relevos acidentados formando picos12

e elevações montanhosas, intercalados por vales, rios, baías e praias (BRITO, 2006).

A ilha de São Tomé e os seus ilhéus perfazem 859 km²de superfície, enquanto a ilha de Príncipe e os seus ilhéus perfazem 142 km². As ilhas distam-se da costa ocidental do Gabão a 300 km e situam-se entre os paralelos 1º 45' Norte e 0º 25' Sul, e os meridianos 6º 26' Este e 7º 30' Oeste (STP NAPA, 2007).

Nas ilhas de São Tomé e Príncipe, por um lado, as características demográficas, geográficas, climáticas e ambientais constituem uma potencialidade na medida em que proporcionou ao país uma vegetação densa, abundante, diversificada e com alta taxa de espécies endêmicas13, tanto da fauna como da flora. Por outro lado, a

condição de insularidade, confere suscetibilidade que podem ser traduzidas em realidades vulneráveis e de risco, especialmente, aos sistemas socioecológicos em face às mudanças climáticas.

Dentre as potencialidades, podemos citar algumas como, por exemplo, a existência de mais de 50 rios que nascem em zonas mais altas e seguem rumo ao litoral, a localização geográfica excepcional, a qualidade dos solos, para agricultura, derivados de rochas basálticas com alta capacidade de fertilidade e de absorção d’ água que, se exploradas de modo sustentável, poderiam reverter em ganhos aos

12 Em São Tomé destacam-se: Pico de São Tomé (2.024 m.); Pico de Ana Chaves (1.636 m.); Pico

Pinheiro (1.613 m.); Pico do Calvário (1.600 m.); Lagoa Amélia (1.488 m.); Pico Cabumbé (1.405 m.). No Príncipe; Pico do Príncipe (948 m.); Pico Mencorne (935 m.); Pico Carriote (839 m.) (BRITO, 2006, p. 23).

13 São Tomé e Príncipe conta com um alto grau de riqueza de espécies e endemismos, fundamentalmente aves, anfíbios, plantas superiores, morcegos, répteis, borboletas e moluscos. A riqueza da biodiversidade das Ilhas é reconhecida pelo mundo cientifico, que considera a floresta tropical de São Tomé e Príncipe como a segunda, em termos de prioridade de conservação da avifauna, entre 75 florestas africanas. A flora de São Tomé e Príncipe também é notável: a ilha de S. Tomé tem um género endémico e 87 espécies endêmicas. Príncipe tem por sua vez um género endémico e 32 espécies endêmicas. Ministério dos Recursos (Naturais e Meio Ambiente, acesso em https://www.cbd.int/doc/world/st/st-nr-01-pt.pdf).

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grupos sociais mais vulneráveis, especialmente o contingente populacional residente em áreas rurais (FERNANDES, 2012). Para ilustrar, apresentamos a seguir o mapa do país:

Figura 01 – Mapa de São Tomé e Príncipe

Fonte: Instituto Nacional de Estatística de São Tomé e Príncipe.

Os santomenses são povos originariamente constituídos pela miscigenação de africanos e europeus, provenientes de diversos países (Congo, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Benin, Portugal, Espanha, Inglaterra e Itália) que formam um xadrez cultural que, diferente das outras realidades africanas, não existe tribo como organização política e social. Existem grupos socioculturais falantes da língua oficial portuguesa e outras línguas como o lungwa, o lingwié, a língua do crioulo forro e a

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língua dos descendentes de Cabo-Verde. Essa mistura originou uma enorme variedade de manifestações folclóricas e culturais – ússua, socopé, bulauê, puíta,

dêxa (COSTA ALEGRE, 2005), permanecidas por mais de quinhentos anos sob

exploração e dominação do colonialismo português, ou seja, de 1470 a 12 de julho 1975 quando conquistou a independência.

O recém-formado Estado independente levou Manuel Pinto da Costa à Presidência da República, personalidade que compunha o “bureau” Político do Comitê de Libertação de São Tomé e Príncipe14 (CLSTP), formado em Gana, no ano de 1960

que, no ato da independência, institucionalizou-se o sistema de partido único de matriz socialista, mesclado com o modelo de economia de mercado, baseado em diferentes ideais. As contradições existentes se aprofundaram e se desdobraram em desentendimentos e prisões. Desavenças que pressionaram o sistema unipartidário a fazer alterações constitucionais que culminaram na institucionalização de eleições presidenciais e legislativas por sufrágio universal em 1990/1991 (ROMANA, 1997).

Não obstante a abertura política e económica, São Tomé e Príncipe ficou mergulhado em constantes instabilidades governativas 15 que associados a

inexistência de uma base produtiva sustentada, a distância em relação aos principais centros comerciais (BRITO, 2006), a dependência de financiamento externo, limitados recursos, a condição insular entre outros fatores tem impossibilitado o desenvolvimento socioeconômico do país. Vivencia há alguns anos uma forte pressão demográfica sobre a capital, resultante do êxodo rural, que além de não suscitar oportunidades de trabalho e emprego, gerou mais demanda por alimentos, moradias, assim como a desvalorização da importância da família tradicional. A família, antes, hierarquizada e assente no sistema de valores ligados à consanguinidade, a terra e à tradição passaram – a partir da implementação do Programa de Ajustamento Estrutural (PAE) (1985 e 1987)16 – a ser substituídas, pelo

14De acordo com Romana (1997) o Comitê de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP) deliberou

no primeiro congresso realizado em julho de 1972, na capital da Guiné Equatórial a transformação do CLSTP em Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), que é atualmente o maior partido de oposição.

15 Em vinte e três anos o país deveria ter somente 6 Primeiros Ministros, mas foram 15. 16 Fernandes, 2012 (Dissertação de mestrado).

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sentimento de individualismo como forma de assegurar a subsistência17. O rápido

crescimento populacional – de 64 mil habitantes em 1975, ano da independência, para 140.000 mil em 2001 e 178.739 em 2012, sendo 93.735 homens e 93.621 mulheres18; desse total, 62,23% residem em área urbana e 37,78% em área rural19

(INE, 2014). Isso suscitou demanda por moradia e, consequentemente, acelerou as práticas de abates de árvores e extração de inertes, o abandono da prática de cultivo em detrimento da venda e constituindo assim, um dos fatores de deterioração da vida social, mormente, no que diz respeito à carência de produtos agrícolas locais e maior dependência dos produtos importados em todo território são-tomense.

De acordo com o FMI, a economia do país tem se mostrado resiliente, embora não tenha se efetivado as perspectivas para a produção e comercialização do petróleo, em função da retirada das companhias petrolíferas. A média do crescimento anual do PIB é de 4,5%, acima de muitos outros pequenos Estados Insulares. A fixação da dobra, moeda local, ao Euro desde 2010, permitiu a estabilização da dobra e uma diminuição significativa da taxa de inflação de 13% em 2010 para 6,4% em 2014 e em torno de 4% em 2016, a mais baixa das últimas duas décadas. O país tem reservas internacionais estáveis e a um nível confortável. Apesar dos fatores que refletem resiliência macroeconômica, o crescimento econômico e social não foi suficientemente robusto e diversificado para produzir impactos significativos na melhora das condições de vida. A pobreza existente tornou-se crônica, 66% (FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL, 2016), atingindo, particularmente, as famílias dirigidas por mulheres que representam 50% da população total do país (INESTP, 2012).

São Tomé e Príncipe tem tido subsídio dos parceiros de desenvolvimento e a partir dessa colaboração realizou diversas ações como, por exemplo, as Estratégias

17 As pessoas viram-se obrigadas a multiplicar os seus esforços para poderem assegurar a

subsistência. Preocupados com a busca de sustento, os pais são obrigados a abandonar o lar durante todo o dia. Como consequência, deixou de haver tanto tempo para a família, o que provocou o surgimento de fenômenos novos, como os meninos de rua, e o agravamento de outros, como o trabalho infantil ou a exclusão social dos idosos [...] (FERNANDES, 2012).

18 Fonte de consulta http://www.ine.st/demografia.html. Acesso em 17/10/2014.

19 Fonte de consulta http://unstats.un.org/unsd/demographic/products/socind/population.htm. Acesso

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Nacionais de Redução de Pobreza (ENRP II, 2012 a 1013). Essas estratégias possibilitaram que o país esteja “a partir de 2010 entre os países que gozam de rendimento médio e com uma renda per capita estimada em US$ 1.410 em 2010”, de igual modo, atingirá três dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio como aponta o relatório Plano-Quadro das Nações Unidas para assistência ao desenvolvimento na ótica de um desenvolvimento equitativo, inclusivo e sustentado em São Tomé e Príncipe - UNDAF 2017-2020:

(i) a educação primária universal com 98% de taxa de matrícula líquida em 2015, (ii) a mortalidade para 38 por 1.000 nascidos vivos até 2015, (iii) a mortalidade materna em 76 por 100.000 nascidos vivos até 2015. O país tem envidado enormes esforços na luta contra o VIH/SIDA, cuja prevalência diminuiu para 0,5% até 2015, e, finalmente a drástica diminuição da prevalência do paludismo (STP ONU, 2017, p.5)

De acordo com os observadores do FMI (2016), o país apresenta défices estruturais recorrentes nas suas contas, sobretudo devido à balança de pagamento desequilibrada entre a importação (avultados gastos em importações) e a exportação (cacau, café, óleo de palma). Apesar disso, os observadores apelaram ao prosseguimento de esforços para aumentar a resiliência econômica, através do fortalecimento do setor financeiro, a manutenção da disciplina orçamental, a execução de reformas, a descendência da dívida pública, a ampliação do investimento público, recuperação da produção do cacau e aumento do investimento direto estrangeiro no setor do turismo.

Historicamente, a agricultura tem sido o setor com elevado desempenho no crescimento sustentado e com potencial de reduzir a extrema pobreza existente. Mas, a vulnerabilidade a eventos extremos de clima como, o aumento da temperatura, a irregularidade e a intensidade da precipitação têm impactado a produção do cacau (ver capítulo 3) constituindo obstáculo ao “crescimento do PIB que em 2015 não atingiu os 5% projetados devido à implementação tardia de projetos de investimento público e a falta de chuva, que afetou a produção de cacau” (FMI, 2016, p. 59).

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1.6 Descrição dos capítulos

O presente texto está composto por 4 capítulos. No primeiro capítulo, o introdutório, apresento o contexto e a problemática em que a pesquisa está inserida, a hipótese, os objetivos gerais e específicos, a metodologia e os procedimentos à obtenção dos dados, as circunstâncias e dificuldades encontradas, as bases teóricas do conceito de representação social e, por fim, uma breve caraterização das ilhas de São Tomé e Príncipe.

No segundo capítulo, discorro sobre o levantamento teórico conceitual relacionado com as literaturas de adaptação às mudanças climáticas; gestão do risco de desastre, esta subdividida em: redução de risco de desastre e gestão de desastre; adaptação de base comunitária; vulnerabilidade social em sua correspondente perspectiva: vulnerabilidade como processo e como ponto de partida; representação social, construção social de eventos de riscos, dentre outros conceitos correlacionados que aparecem no decorrer do texto.

No terceiro capítulo, apresentei o quadro político e social das roças e o processo de vulnerabilidade e abandono em que as mesma se encontram. No entanto, procurei, acima de tudo, interseccionar a teoria com empiria à luz do conceito de representação social. Em outras palavras, as representações dos sujeitos da pesquisa foram gravadas, sistematizadas, transcritas, em seguida analisadas a partir dos conceitos e formulações dos diversos atores que corroboram com os resultados obtidos em campo. Assim, o capítulo busca responder aos objetivos específicos formulados e aos resultados alcançados a partir das representações, das observações do pesquisador, dos registos fotográfico.

Nesse sentido, descrevi e caracterizei o quadro político e social das roças como uma estrutura social colapsada a partir de fatores exógenos e endógenos como má gestão, irregularidades financeiras, carência de quadros formados, falta de experiência dos responsáveis das empresas agrícola fazendo com que o espaço das

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roças fosse historicamente marcado por uma acentuada vulnerabilidade social que hoje em dia estão justapostas as vulnerabilidades face aos impactos decorrentes da intensidade, magnitude e imprevisibilidade dos eventos extremos relacionados com às mudanças climáticas.

Essa justaposição, isto é, vulnerabilidade social histórica e as relacionadas com os eventos extremos do clima, foi verificada a partir da análise documental e da pesquisa empírica. Nesse sentido, foi possível formular que os sujeitos da pesquisa, têm lidado com eventos climáticos antes desconhecidos como, o prolongamento e a incerteza do período da seca, a combinação entre diminuição/intensidade da precipitação, a intensidade do sol, a intensidade/frequência da humidade, surgimentos e maior resistência das pragas dentre outros eventos representados pelos sujeitos da pesquisa, no capítulo 3, como fatores de limitação a prática agrícola.

No quarto capítulo, apresento as características sociais e climáticas do continente africano, os cenários e as implicações socioambientais, as suscetibilidades, assim como as vulnerabilidades das populações aos eventos extremos relacionados com as mudanças climáticas, principalmente, a região subsaariana, tomando como estudo de caso de São Tomé e Príncipe, fazendo mensão aos cenários de temperatura e precipitação, as suscetibilidades e vulnerabilidades dos diversos setores face às implicações dos eventos extremos do clima e o processo de adaptação envolvido. Ainda no capítulo quatro, apresentei considerações sobre os atores e as instituições submergidas no processo de adaptação às mudanças climáticas, assim como, os resultados dos questionários de satisfação, das comunidades pesqueiras, frente aos projetos executados no âmbito de adaptação às mudanças climáticas.

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