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Apresentaremos agora um rápido panorama dos trabalhos que abordam direta ou indiretamente a análise do discurso no período eleitoral e que constituem a área de Comunicação Política brasileira. A intenção é traçar os marcos de pesquisa para, logo após, apresentar a linha de trabalho e metodologia presentes neste estudo.

Iniciamos dizendo que, por causa da trajetória histórica do Brasil na política, houve um vácuo da representatividade partidária, proporcionando espaço para a mídia dentro da política e vice-versa. Isso gerou uma reconfiguração e resignificação dentro do que entendemos por mídia e política, inserindo novos elementos no campo denominado Comunicação Política. Conforme Rubim (2003) apontou, a contemporaneidade fez surgir a comunicação midiática, requerendo um estreitamento – algumas vezes fusão – na relação entre as áreas da Comunicação e Política, com seus temas e discussão da agenda. O autor denominou o processo como Idade Mídia.

Tradicionalmente, o binômio eleições e comunicação é clássico nos estudos em Sociologia da Comunicação e Ciência Política, por a política ser representante da opinião pública institucionalizada (cf. SOARES, 1995). Paolo Mancini e David Swanson (1996) denominaram "campanha eleitoral modernizada" a estrutura cujas mudanças se deram no nível social, político e também tecnológico, ou seja, em amplo escopo – implicando considerar as demais esferas, como a societal, a econômica e a cultural. Bernard Manin (1995) classificou esse processo como democracia de público.

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Assim, o governo representativo, em termos práticos ou teóricos, não pode ser entendido sem que coloquemos como variável do jogo político a mídia11 e sua influência12. A disputa eleitoral é cada vez menos alheia ao fator midiático e, nesse sentido, no caso do Brasil, a mídia é relevante na discussão da agenda política, tendo como papel tradicional mediar a relação entre político e cidadão. Vale reforçar que dentro do conceito de mídia, trabalhado pelos teóricos, estamos focalizando, nesta pesquisa, a imprensa. A centralidade da disputa política na mídia mostrou que, cada vez mais, os candidatos se voltam para o palco midiático como possibilidade de alastrar a campanha eleitoral, conforme vários pesquisadores brasileiros vêm apontando ao longo do tempo (nos mais diferentes pleitos), como vimos em Azevedo e Chaia (2008). Nessa linha de pensamento, uma série de possibilidades de estudos, mapeamentos e metodologias é cada vez mais profícua, com as mais distingas abordagens.

A seguir apresentaremos uma breve revisão bibliográfica sobre estudos que relacionam mídia e política. Por exemplo, Heloiza Matos (1994, 1989) investigou a relação entre discurso autoritário e televisão, enquanto Murilo César Soares (1995) pesquisou como se constrói o significado do voto por meio da retórica da propaganda política televisiva. Luciana Veiga (2001) buscou razões do voto no discurso do Horário Eleitoral e Luiz Felipe Miguel (1997, 1999) analisou diversos pleitos sob a ótica entre mídia e processos eleitorais. Antônio Albino Canelas Rubim (2003, 2000) tem vasta produção e organização de textos relacionados ao conceito criado por ele: a Idade Mídia. Wilson Gomes (2008, 1994) tem vistas para a esfera pública e suas atuais modificações. Mauro Porto (2002, 200113, 1998) apresenta uma série de estudos, tanto teóricos quanto comparativos, relacionando mídia e política, com ênfase na teoria e história da teoria do enquadramento (também chamado de framing). Marcus Figueiredo (200014, 1994, 1991) é altamente produtivo ao analisar e estudar a relação entre mídia, voto, marketing político e persuasão eleitoral, ao passo que Alessandra Aldé (2001) utilizou a psicologia para buscar entender como o cidadão comum percebe a política. Por fim, Fernando Azevedo (2007, 2006, 2000, 2000, 2004)15 abrange um conjunto de

11 Alguns pesquisadores, como Ribeiro (2004), grafam mídia como media. Ficaremos com a primeira. 12 Existem controvérsias entre investigadores. Salgado (2010, p.15) aponta a mídia como elemento influente nas eleições e campanhas eleitorais. Alguns estudiosos não conferem à mídia tamanha influência.

13 Vários textos, vide Referências. 14 Vários textos, vide Referências.

15 Não tentei ser exaustivo em todo o mapeamento dos estudos em comunicação, mas procurei apresentar os que utilizo no texto e que são relevantes na área de Ciência Política, Comunicação e Linguística discursiva. Mais detalhes bibliográficos podem ser encontrados em: AZEVEDO, Fernando; RUBIM,

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estudos sobre teoria do agendamento em várias eleições municipais e trabalhos relacionados ao tópico. Além disso, fez parte, com Chaia, Meneguello e Schmitt (2002), de ampla investigação sobre comportamento eleitoral entre 2000 e 2004.

Em estudos pontuais e de áreas irmãs, como dissertações e artigos derivados destas, podemos citar Pedro Floriano Ribeiro (2004), que apresenta um ótimo trabalho de revisão de conceitos de Comunicação Política. Gustavo Fabrício (1997), por sua vez, dissertou sobre o cenário de representação política no Jornal Nacional e Daiane Menezes (2008) fez um estudo que ponderou sobre o discurso da oposição no primeiro governo Lula. Leila Herédia (2008) trabalhou com elementos clássicos retóricos sobre política nos jornais, Elissandro Inácio (2008) averiguou as capas da Revista Veja e Mônica Machado (2009) mapeou a retórica da reeleição no Horário Eleitoral.

Todos os pesquisadores citados anteriormente passam pelo tema da Comunicação Política, cujo material é essencialmente o uso de ferramentas discursivas, sendo que a maioria utiliza-se da Análise de Conteúdo (logo, quantitativa) em seus trabalhos. Diverso deles, a nossa linha de trabalho nesta tese não utilizou a ferramenta da Análise de Conteúdo. O trabalho é notadamente qualitativo no tocante à análise e teve a teoria da Filosofia da Linguagem e o método dialógico como base, conforme veremos. Um mapeamento dos temas que mais apareceram nos editoriais de Estadão e Folha foi feito a fim de traçar quais as linhas temáticas que mais apareceram no trabalho conforme a leitura ia sendo feita. Veremos detalhadamente como isso foi feito ao apresentar a metodologia deste estudo.