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CAPÍTULO III – A campanha eleitoral de 2010

1. Dinâmica da campanha

Se formos olhar do fim para o início, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, um eleitorado de 106.606.214 (78,50% de um total de 135.804.433 milhões de pessoas em condição de votar) elegeu, no 2º turno, para o cargo de Presidente da República candidata Dilma Rousseff, da coligação PT / PRB / PDT / PMDB / PTN / PSC / PR / PTC / PSB / PC do B, com 55.752.529 milhões de votos (56,05%). Ela venceu José Serra, da coligação PSDB / PTB / PPS / DEM / PMN / PT do B – o qual obteve 43.711.388 milhões de votos (43,95%). A petista venceu a disputa em 18 Estados, enquanto o tucano sobressaiu em oito.

Ao todo, nove candidatos se inscreveram para disputar o maior cargo eleitoral do país, possuindo destaque os já citados José Serra, Dilma Rousseff e também Marina Silva, a qual foi candidata única do Partido Verde (PV). Marina chegou a crescer na reta final do 1º turno, atingindo a expressiva votação de 19.636.359 milhões de votos (19,33%) o que ajudou a levar o litígio para a segunda etapa45. Um quarto pleiteante, Plínio de Arruda Sampaio, representante do Partido Socialismo e Liberdade46 (PSOL), também teve certa relevância na interface midiática e nos debates televisionados. No entanto, sua visibilidade foi menos pelo colocação nas pesquisas (sempre na média de 1% das intenções de voto) e mais por sua extensa carreira política como fundador do PT e, deputado constituinte, que lhe conferiu uma aura de respeitabilidade. Despediu-se

45 As votações e os candidatos foram, em números totais: Dilma Rousseff (PT - PRB / PDT / PT / PMDB / PTN / PSC / PR / PTC / PSB / PC do B) com 47.651.434 (46,91%); José Serra (PSDB - PTB / PPS / DEM / PMN / PT do B) com 33.132.283 (32,61%); Marina Silva (PV) com 19.636.359 (19,33%); Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) com 886.816 (0,87%); Eymael (PSDC) com 89.350 (0,09%); Zé Maria (PSTU) com 84.609 (0,08%); Levy Fidelix (PRTB) com 57.960 (0,06%); Ivan Pinheiro (PCB) com 39.136 (0,04%) e Rui Costa Pimenta (PCO) com 12.206 (0,01%) em um total de 101.590.153 votos válidos com (91,36%), sendo Brancos: 3.479.340 (3,13%), Nulos: 6.124.254 (5,51%) e Abstenção: 24.610.296 (18,12%). Os dados acima são do TSE. Disponíveis em http://www.tse.gov.br/internet/eleicoes/estatistica2010/Est_resultados/resultado_eleicao.html e http://divulgacao.tse.gov.br/ (acesso em 3 nov. 2010). Vide Referências Eleições, 2010.

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com 0,87%, ou seja, 886.816 mil votos. Os demais candidatos, por sua vez, pouco ganharam em votos ou atenção (principalmente da mídia) e foram irrelevantes.

A lógica eleitoral do 2º turno em 2010 seguiu às demais disputas presidenciais pós-redemocratização – tendo a dinâmica dos embates polarizada entre candidatos47 do Partido dos Trabalhadores48 (PT) e do Partido da Social Democracia Brasileira49 (PSDB), conforme apontou Azevedo (2006) como tendência para nossos pleitos no período citado. Segundo Limongi e Cortez (2010, p.36) os dois candidatos acabam transformando a eleição presidencial em bipartidária e dotam o processo eleitoral de grande força inercial. Como entrar na corrida presidencial acarreta altos custos, sustentam os autores, o máximo que os demais partidos conseguem é negociar posições de apoio. Ainda segundo os autores, está ocorrendo um fenômeno de surgimentos de terceiras forças nas eleições, caracterizadas por não apresentarem condições para ficarem próximas ao segundo colocado e terem fôlego curto, ou seja, não conseguirem ser viáveis quatro anos depois. O peso da clivagem PT/PSDB também está sendo repassado às disputas dos governos estaduais: em 2010, quando os partidos não concorreram nos estados, estiveram representados por aliados históricos, como PSB e DEM ou circunstancial, como PMDB.

No entanto, o resultado final não estava nem perto do que a primeira enquete do Instituto Datafolha50 (2009) mostrava: em março do referido ano José Serra reinava nas intenções de votos, flutuando entre 35% e 47% da preferência do eleitorado. Dilma Rousseff era ainda uma pálida lembrança, ficando atrás de virtuais nomes como Ciro Gomes e Heloísa Helena. Até março de 2010 o cenário permaneceria o mesmo: Dilma ainda estava a 10 pontos de Serra (DATAFOLHA, 2010³). Este quadro só mudou na pesquisa feita no dia 24 de maio em que, pela primeira vez, a candidata petista pareou com o tucano (37% cada), enquanto Marina Silva, considerada “nanica” pelo Instituto, apareceu com 12%.

E os candidatos utilizaram as armas que dispunham. Dilma, no caso, utilizou uma reconstrução de imagem, em que saiu a sisuda ministra e entrou uma palatável candidata e uma superexposição com Lula. Este último quesito originou uma série de

47 A saber: forças de esquerda (1989, 1994 e 1998) ou centro-esquerda (2002) versus centro-direita (de 1989 até 2002) (cf. AZEVEDO, 2006). Podemos adicionar nas contagens também a disputa de 2006 entre Luiz Inácio Lula da Silva (centro-esquerda) e Geraldo Alckmin (centro-direita).

48 Doravante PT. 49 Doravante PSDB.

50 Neste momento apresentaremos algumas pesquisas baseadas no Instituto Datafolha porque foram as mais se aproximaram do que realmente aconteceu nas urnas.

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protestos por parte dos opositores, gerando multas à candidata e ao ex-presidente. A relação levou até o deputado oposicionista Raul Jungmann (PPS-PE) a fazer um levantamento mostrando que entre 1º de setembro de 2009 e 19 de fevereiro de 2010, quase seis meses, Lula teria gasto quase 3 milhões dos cofres públicos para levar junto Dilma em comícios e inaugurações (SOUZA, 2010)51. Por fim, no dia 16 de agosto Dilma (41%) ultrapassou Serra (33%) pela primeira vez. Ela não mais sairia da posição. Já José Serra apresentou uma campanha calcada na comparação entre a experiência dele na administração pública, sem enfrentar diretamente o governo lulista ou estabelecer vínculos com Fernando Henrique Cardoso e a gestão tucana de 1994 e 1998. Já Marina Silva ingressou na campanha com uma proposta diferente dos demais, viabilizada pelo desenvolvimento sustentável. Diferente de Serra, ela assumiu o lugar de prestígio que obteve com Lula durante o governo dele, mas também buscou traçar diferenças entre propostas. Como visto, Marina tinha mais a ganha do que perder.

A campanha presidencial teve início oficial (definido por lei) em 06 de julho e término em 31 de outubro. No entanto, as campanhas, em geral, ganham fôlego e tamanho a partir do início do Horário Eleitoral Gratuito. Em 2010, a propaganda eleitoral começou no dia 17 de agosto e foi até 30 de setembro. A veiculação dos blocos aconteceu nas terças, quintas e sábados (os demais dias eram para os outros cargos eletivos). Na Rádio a apresentação era às sete da manhã e ao meio-dia. Na televisão a exibição foi à uma da tarde e às oito e meia da noite. Por conta dos apoios, Dilma teve cerca de 10 minutos e meio por dia, enquanto José Serra ficou atrás com cerca de 7 minutos de exibição. Marina aparecia em parcos 1 minuto e 23 segundos, enquanto Plínio de Arruda Sampaio tinha direito a 1 minuto. Os demais candidatos, cada um, dispunham de 55 segundos para convencer o eleitor.

Alguns outros elementos externos também foram componentes do cenário das eleições em 2010. Um deles foi o caso da Ficha Limpa, uma tentativa de moralização no campo político que gerou um conturbado movimento até a aprovação da lei. O quarto projeto de mobilização popular desde a escritura da nova Constituição em 1988 foi julgado em diversas instâncias até que o Supremo Tribunal Federal, em março de 2011, apontou que a Ficha Limpa não valeria para 2010. O problema, de nível federal, foi pauta na imprensa e opinião pública, mas não chegou a interferir no desempenho dos candidatos. O que interferiu foi a denúncia de que arapongas teriam produzido

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documentos contra partidários e familiares de José Serra. Era o início do caso do dossiê relacionado à Receita Federal. Depois disso, como veremos, pequenas polêmicas ganharam o noticiário, como a questão do programa de governo petista, cujo conteúdo podia ser lido sob um prima estatista e a dificuldade de José Serra estabelecer um vice – sendo até lançado o nome de um senador erradamente e provocando rusgas com aliados tucanos. Por fim, uma nova denúncia da Revista Veja sobre a então ministra Erenice Guerra acabou sendo a gota d’água para a indefinição. Na última pesquisa antes do 1º turno, Dilma Rousseff ficava com 50% das intenções, enquanto José Serra estava com 31% e Marina Silva subia para 14% dos votos válidos. Mais para o fim da campanha, os candidatos já sinalizavam que as campanhas assumiriam o tom religioso – além de ressuscitarem a discussão da privatização contra estatização.

Como os petistas não conseguiram se impor, a disputa acabou indo para a segunda etapa. O Horário Eleitoral retornou dia 8 de outubro, com blocos de 20 minutos divididos igualmente entre os candidatos, sendo que a propaganda havia iniciado três dias antes. Segundo o Instituto Datafolha, foram 4 pesquisas em que Dilma e Serra mantiveram-se estáveis nas intenções de votos, ficando em 56% contra 44%. Na véspera da eleição o cenário era este:

Um dia antes da eleição, Dilma Rousseff (PT) tem 55% dos votos válidos contra 45% de José Serra (PT). Com o resultado, a petista deve ser eleita presidente da República no próximo domingo. Pesquisa Datafolha ouviu 6554 eleitores nos dias 29 e 30 de outubro em todas as unidades da Federação (DATAFOLHA5, 2010).

De acordo com Kerbauy (2011, p. 487), a eleição 2010 foi marcada por uma votação diferenciada em relação a região, classe de renda e escolaridade. Para a autora, isso é reflexo do mapa brasileiro da desigualdade. No 2º turno, conta a autora, as diferenças puderam ser lidas mais claramente, com Dilma sendo soberana no Norte, Nordeste e Sudeste, enquanto Serra venceu no Sul e Centro-oeste. Mesmo sem Lula, a figura deste foi importante por conta do vínculo dele com programas sociais. Mesmo que programas como o Bolsa Família tenham um peso explicativo na hora do eleitor decidir em quem votar, não é possível colocar a responsabilidade integral deste sobre a opção nas urnas. Para a pesquisadora, há de se levar em conta também: “ganhos de bem estar social e o papel da descentralização das políticas sociais na determinação de novos contornos de diferenciação regional” (KERBAUY, 2011, p. 491).

Por fim, com a vitória da inexperiente Dilma podemos inferir que acabou por prevalecer a tese formulada por Lewis-Beck (1988) e apresentada no clássico

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Economics and Elections. Para o autor, o momento econômico favorável influencia no voto a favor do candidato da situação – sendo a candidata petista eleita em grande parte pela força da nova classe média brasileira.