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Na Folha de S.Paulo foram 65 textos (de 285 totais) com citações diretas e nominais aos candidatos – relevando que 22,8% dos editoriais no tempo de coleta abordaram os presidenciáveis de alguma maneira. No O Estado de S.Paulo foram 62 textos (de 442 totais) citando nominalmente os candidatos, numa porcentagem 14,02% durante o período compreendido entre a primeira convenção partidária e o dia da eleição no segundo turno.

Portanto, 127 textos citaram diretamente um dos três principais candidatos à presidência da República, revelando que Estadão e Folha, somados, reservaram 17,46% das suas páginas editoriais para a candidatura ao poder Executivo. O gráfico a seguir representa o número total de editoriais somados e o quanto cada jornal destinou para os candidatos à presidência.

46 Figura 1 – Porcentual de citações nominais candidatos à presidência nos jornais Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo

No tocante aos outros assuntos, os jornais impressos abordam temas variados: conforme já vimos, algumas vezes os editoriais comentam reportagens publicadas tanto nas próprias páginas quanto nas de concorrentes. Durante nossa coleta, os citados, além do Estadão citar a Folha e vice-versa, foram Correio Braziliense e Valor Econômico. Na maioria dos casos, os temas mais abordados foram economia, política (externa e interna) e educação, comentando os fatos que ocorreram no dia ou semana. Em grande parcela dos casos os jornais seguiram piamente o fato dos editoriais serem "cães de guarda" dos poderes: por meio de uma linguagem persuasiva e argumentativa, analisavam as medidas (ou a falta delas) nos mais diversos casos – sempre de maneira crítica. A maioria era em relação ao cotidiano do país e dos estados. Em poucos casos, a cidade de São Paulo era tema, principalmente nos casos de urbanização e trânsito. Como não era o intento dessa pesquisa, não nos aprofundamos nestes assuntos.

Ao longo da análise, certa ordem de eventos foi acontecendo e acabou por aparecer nas páginas informativas dos jornais. Alguns destes eventos foram comentados pelos editoriais, sendo possível uma separação temática dos eventos que tinham relação com os presidenciáveis e estabeleciam cenários completos para o leitor. Como esse trabalho não tem foco principal na abordagem quantitativa, a sistematização em categorias serviu para auxiliar na demonstração dos cenários eleitorais em 2010 quando

8,9%

8,5%

82,5%

Editoriais citando os candidatos Folha de S. Paulo

Editoriais citando os candidatos O Estado de S. Paulo

Outros assuntos editoriais somados

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citados os presidenciáveis. A disposição cronológica dos eventos e leituras detalhadas será abordada com profundidade no capítulo relativo às análises textuais.

Para a categorização, a ordem da separação foi a seguinte nos dois jornais:

● Lula

● Caso dossiê Receita Federal ● Plano de governo

● FARC ● Imprensa

● Caso Erenice Guerra ● Aborto/Religião

● Agressão aos candidatos ● Privatização

Neste instante, importa menos saber quantas vezes candidato x ou y apareceu ou foi tema dos editoriais do que saber o que foi dito sobre eles, ou seja, se o tom foi avaliativo, preditivo ou irônico (como é comum no gênero editorial) e demais leituras possíveis. Para tanto, trilharemos um primeiro caminho teórico na Filosofia da Linguagem para comprovar a importância dos dizeres na linguagem. Cada palavra, os signos e os enunciados são pontes entre os homens, em um movimento que existe enquanto há comunicação humana. E cada palavra comporta a natureza dialógica da linguagem: elas refletem, refratam e possuem entonações que carregam consigo sentidos. O jornalismo é, por si só, a prática maior da liberdade de expressão. No entanto, somente isso não basta, seria um decalque da realidade. É necessário mostrar que existe uma liberdade de compreensão também por parte do leitor: saber que existem discursos que são oficiais e discursos periféricos, sendo que ambos estão buscando conseguir a hegemonia e se sobressair, tornando-se corrente. Assim, não basta somente dizer Dilma, Serra e Marina – mas sim se os editoriais foram críticos ou elogiosos a Dilma, Serra e Marina.

Como dissemos, palavras não são meras palavras, conforme vimos, editoriais são entregues para jornalistas e sociólogos com experiência, quando não são escritos pelos representantes das famílias da imprensa. Somente "atacar" a grande mídia (como é comum na Internet, por exemplo) como forma de dizer que esta "manipula" (termo recorrente) é um exemplo da miopia em relação à comunicação e linguagem. O ideal

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seria entender que os signos estão em múltiplas arenas de luta, que sujeitos estão por trás dos textos, existem sentidos almejados em cada frase, um projeto de dizer, bem como existem leitores com outras bagagens a lerem os textos. Linguagem não é uma ciência exata, tais quais as áreas "duras" do conhecimento. Não existe um sentido único. A única exigência é pensar. Geraldi (2007) nos auxilia nesta questão:

Dispúnhamos e dispomos de certas técnicas de escuta, mas não sabemos com precisão que toque, que palavra, que gesto produziu o encontro com outro toque, outra palavra, outro gesto, e na faísca deste encontro escreveu em sulcos no ar uma outra imagem, uma terceira palavra capaz de criar uma compreensão, exigir um investimento intelectual e desencadear este encanto que é o pensamento. Pensar exige liberdade. Pensar exige silêncio e vazios. E terá valido a pena pensar, mesmo que o pensado se esvaia no momento mesmo de sua emergência (GERALDI, 2007, p.138).

49 No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá, Onde a criança diz: eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não Funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é a voz De fazer nascimentos O verbo tem que pegar delírio. Uma didática das invenções - Manoel de Barros

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