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Não obstante a experiencia exitosa do modelo de Seguridade Social bem como do padrão de regulação social, política e econômica keynesiano-beveridgiano após a Segunda Guerra Mundial, iniciou-se, em meados dos anos 1970, no interior do sistema capitalista e em escala mundial, um movimento de busca e definição de estratégias alternativas à denominada crise do Estado de Bem-estar. Segundo Johnson (1990, p. 16), em sua profícua análise sobre o Estado de Bem-estar em transição e na abordagem crítica que faz à teoria e à prática do pluralismo de bem-estar naquela década (anos 1970) já se divulgava a idéia de que os Estados de Bem-estar estavam experimentando problemas de proporções críticas, fruto da sobrecarga dos governos e das dificuldades fiscais e econômicas Este passou a ser o argumento mais recorrente, contrário ao Estado de Bem- estar, o que significa que nem mesmo o êxito do modelo beveridgiano e keynesiano- fordista e a difusão de um padrão de bem-estar universal e de provisão social para todos, foram capazes de impedir o avanço de uma ideologia antiestatal, desqualificadora da dimensão pública do Estado de Bem-estar que, a partir de então, foi se instalando.

A ideologia neoliberal apresentou, naquela conjuntura, uma nova proposta e um novo desenho institucional de Estado e uma nova configuração de políticas sociais, agora defendidas e reafirmadas em seu caráter plural ou misto, porém não público. Para tanto, tornou-se necessário instituir uma situação de crise, e não de reestruturação do Estado Social ou de Bem-estar. A oposição mais contundente procedeu da chamada esquerda libertária e da nova direita (neoconservadores e neoliberais) que passaram a difundir a idéia de sobrecarga burocrática desse modelo de Estado e, como conseqüência, de suas fracassadas respostas às necessidades sociais da população. Também o prognóstico neoliberal sobre o papel do Estado, era bastante negativo, alegava-se que à medida que os problemas fiscais e econômicos se tornassem mais sérios, o Estado de Bem-estar certamente perderia o apoio público e se produziria uma crise de legitimação social e política.

Em sua análise, Johnson (1990, p. 16) reconhece que, em face das evidências históricas, “parecia haver terminado o cômodo consenso da década dos anos cinqüenta e sessenta na Europa após a Segunda Guerra Mundial”. Contudo, entende prematuro falar em crise, no sentido de uma situação fora de controle, em que os problemas “não têm mais solução e/ou não são mais possíveis de contenção” – pois, a seu ver, “há evidências de um apoio público, forte e continuado, aos princípios norteadores do Estado de Bem-estar” (p.

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16). Para o autor, portanto, não há dúvidas de que a idéia de crise foi promovida pelos governos neoliberais e conservadores, como meio de recriminar o volume de gasto social público do Estado e de rechaçar a proposta de pleno emprego e de bem-estar prevalecente naquela época, bem como negar o caráter redistributivista das políticas sociais. Por isso, Johnson (1990) recusa a idéia de crise, forjada pela nova direita, como também não aceita as explicações desta para a referida crise.

O certo é que a disposição de discutir a viabilidade do Estado de Bem-estar, a partir dos anos 1970, deu lugar a um vivo debate, não sobre as prováveis soluções para os problemas apresentados, mas sobre as possíveis direções futuras e sobre o papel do Estado de Bem-estar nas sociedades capitalistas contemporâneas avançadas (JOHNSON, 1990).

Desse debate, participaram protagonistas destacados. Johnson (1990) menciona a atuação dos advogados do pluralismo de bem-estar, interessados em justificar a crise como sendo do Estado de Bem-estar, e não do capitalismo, de estilo keynesiano, e em difundir, dentre outras estratégias utilizadas no enfrentamento das situações decorrentes da referida crise, a idéia de uma provisão social de caráter plural ou misto, porém não mais público.

Partindo dessa constatação, tornou-se imperioso neste estudo, apreender, com base na análise de Johnson (1990) e de outros estudiosos da relação entre Estado, sociedade e política social, como se deu o processo que desencadeou a referida crise e a transição do Estado de Bem-estar após a Segunda Guerra Mundial para a instituição de um pluralismo de bem-estar em que o Estado perdia o protagonismo. Tornou-se importante saber o que de novo estava ocorrendo e quais os princípios norteadores desse paradigma emergente de política social. Destaca-se, a afirmação de Johnson (1990) de que os Estados de Bem-estar têm sido sempre pluralistas por terem acomodado uma grande variedade de provedores de bem-estar: o Estado, as agências voluntárias, os mercados privados e as redes informais. Sem dúvida, tal afirmação reafirmou a complexidade do objeto desta tese. Desde então, passou-se a trilhar um percurso teórico-analítico que trouxe à tona conceitos, debates e opiniões, em sua maioria contraditórios sobre a temática da assistência social no contexto do pluralismo de bem-estar. Em particular, este estudo busca desvendar os nexos internos, as contradições, bem como as mediações histórias e as determinações sócio- culturais e ideopolíticas que permeiam esse fenômeno contemporâneo. Indiscutivelmente, traa-se de uma proposição analítico-investigativa aparentemente simples em face da racionalidade instrumental e técnico-operativa presente nesse paradígma emergente de política social, porém complexa e desafiadora quando se analisa a forma como tem sido

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apropriado e influenciado a sociedade atual em sua relação com o Estado, no contexto do chamado capitalismo avançado. É também de Johnson (1990, p. 16), a afirmação de que “o debate pluralista nunca se resolverá de modo definitivo nas sociedades capitalistas”, uma vez que, a seu ver, haverá sempre um desacordo sobre a forma de equilíbrio mais adequada entre a provisão estatal (ou oficial), a voluntária, a comercial e a informal, além de que tal equilíbrio muda ao longo do tempo e de país para país.

Tomando como referência essas afirmações de Johnson (1990), fica claro que o que está em questão não é tanto o papel regulador do Estado, que deverá seguir sendo a principal fonte de financiamento, ainda que, na opinião dos pluralistas de bem- estar, o predomínio do Estado na provisão de bem-estar não deva existir. O que de fato está em questâo e os pluralistas defendem e reivindicam é a diminuição de seu papel como esfera oficial e, de forma considerável, na regulação do mercado e na concretização de direitos sociais.

2.4 Sobre desintegração do consenso após a Segunda Guerra Mundial: falência do