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António Hipólito: de latoeiro a Comendador

CAP I – O HOMEM E A CIRCUNSTÂNCIA

1. António Hipólito: de latoeiro a Comendador

Dois terços da primeira página do jornal torriense Badaladas de 1 de Setembro de 1954 eram ocupados pela notícia “Um grande industrial que nos deixa – o Comendador António Hipólito”. Referia-se ao seu falecimento em 8 de Agosto daquele ano, com 72 anos de idade. Duas fotos ilustravam o texto: uma, de grande pose, com a figura do falecido ostentando as insígnias de Comendador; a outra evocando o momento em que, quatro anos antes, recebera das mãos do Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Rogério de Figueiroa Rego, “a medalha de ouro por bons serviços prestados ao concelho (Junho de 1950) ”. A notícia tinha conclusão na última página com a referência às cerimónias fúnebres que terminaram com a deposição do corpo “em jazigo próprio, no cemitério desta vila”.

Nesta mesma edição, em Cartas ao Director, António dos Santos Torres sugeria à Camara Municipal que atribuísse à rua onde nasceu a empresa (R. Serpa Pinto) o nome do grande industrial, “uma justíssima homenagem a alguém que tanto engrandeceu esta terra, que a fez conhecida comercialmente em muitas partes do mundo…”37.

37 A sugestão terá sido ignorada pela Câmara Municipal, como se depreende da Carta ao Director do

Badaladas de 1 de Agosto de 1955 em que Rogério de Carvalho recorda a sugestão de Afonso S. Torres,

reforçando-a com novo pedido dirigido ao senhor Presidente da Câmara, «prestando-se assim uma pública

e perene homenagem a um Torriense que para além das nossas fronteiras levantou bem alto o nome de Torres Vedras». Por deliberação camarária nesse mesmo ano, o comendador António Hipólito viria a ser

Um mês depois, Justino Moura Guedes, influente advogado local e articulista daquele quinzenário, escrevia num texto elogioso intitulado Um homem notável:

O velho António Hipólito nasceu pobre. De seu apenas tinha miolos e a chama de uma saudável ambição dentro de si. À força de engenho e de labuta, criou uma grande indústria e construiu um nome38.

A recordação da vida concreta deste homem está hoje muito esbatida na memória colectiva torriense – inclusive dos seus descendentes directos, os seis netos com quem falámos: Ana Maria – filha de António Hipólito Júnior; Luísa – filha de João Hipólito; Vasco Alberto – filho de Elvira Hipólito; António Manuel – filho de José Hipólito; Noémia – filha de Alberto Hipólito; e António, filho de Aura Hipólito. Eram muito novos quando o avô morreu. Dos torrienses, só os mais idosos se lembram dele, já na fase final da vida, amparado ao enfermeiro João que também era seu motorista. António Hipólito tivera uma doença incapacitante em 1943 e ficara seriamente diminuído nas faculdades motoras e elocutórias, motivo por que a sua empresa passou a ser gerida pelo filho mais velho, António Hipólito Júnior, pelo genro Vasco Rodrigues Parreira, casado com sua filha Elvira e com a ajuda dos restantes filhos.

Um facto pouco conhecido: António Hipólito não era natural de Torres Vedras39. Nasceu em Alcobaça e veio para esta localidade com 13 anos. A família não sabe pormenores dos seus primeiros anos. Encontrámo-los numa reportagem feita pela

Indústria Portuguesa - revista da Associação Industrial Portuguesa,40 em que o jornalista, em visita às principais empresas torrienses, relata a conversa com o industrial:

O sr. António Hipólito conta-me o princípio da sua vida e eu resumo em duas linhas o que ele me contou. / Nasceu em Alcobaça de família pobre. Aos seis anos morreu-lhe o pai. Foi educado no Asilo da Infância Desvalida, donde saiu aos 12 anos. Aos 13 anos, sustentava com o seu trabalho a mãe e um irmão. Contou-nos isto com satisfação, direi mesmo com orgulho. […] Aos 13 anos veio para Torres Vedras. Na oficina em que trabalhava, o seu sonho era ter uma máquina. Em 1912 realizou o seu sonho. Tinha a primeira máquina.

Os registos paroquiais confirmam estes dados e dão-nos outros complementares:41 António Hipólito foi baptizado aos vinte e nove dias do mês de Junho de 1882 na Igreja

homenageado com o nome do arruamento que liga as Ruas Santos Bernardes e Conde de Tarouca, num bairro novo da vila.

38 Badaladas, 15 de Setembro de 1954.

39 Em Torres Vedras há pelo menos outra família com o apelido Hipólito mas nada tem a ver com esta de que aqui falamos.

40 Indústria Portuguesa, 3º ano – Nº 27, Maio de 1930, pp. 44 e 45. 41 Cf. Livro de registo de baptismo de Alcobaça, Alcobaça, em:

Paroquial do Santíssimo Sacramento da vila de Alcobaça, freguesia onde nascera às duas da tarde do dia 11 de Junho de 1882; filho legítimo, e primeiro do nome, de António Hipólito, natural da Pederneira do concelho de Alcobaça, de profissão trabalhador e de Felicidade da Conceição, natural da freguesia de Alcobaça; neto paterno de Isidoro Hipólito e Ana Crespo da Conceição; e materno de António Estevão Bogalho e Maria da Conceição. Foram padrinhos: António Calçada, solteiro, pedreiro; e Rita Pexim, solteira, doméstica.

Os registos informam-nos também que António Hipólito teve mais dois irmãos: Maria, nascida em 6 de Setembro de 1884 e Alberto, nascido em 22 de Agosto de 188742. Quanto à condição de órfão de pai aos seis anos e consequente internato num Asilo, essa era uma situação relativamente frequente no século XIX e até meados do XX. Não havia Segurança Social e as famílias muito pobres encontravam aqui a solução para as frequentes situações de penúria extrema. Assim, o pequeno António Hipólito viveu no Asilo de Infância Desvalida do distrito de Leiria, 43 em Alcobaça, entre os seis e os doze anos. Do que foi essa instituição restam hoje alguns documentos no Arquivo Distrital de Leiria e as ruínas do edifício do Palácio do Visconde Costa Veiga, em Alcobaça. Para além de garantirem o acolhimento e o sustento, estes Asilos que surgiram em Lisboa e em algumas outras cidades do país a partir de 1834, tinham preocupações educativas e formativas de modo a proporcionarem aos jovens internados a preparação para a vida activa. No dizer de Rogério Fernandes “essas instituições configuravam as escolas de Primeiras Letras, mas incluíam no currículo actividades educativas, manuais ou artísticas, e de educação social, visando à integração de seu público”44.

Não admira, pois, que o jovem António Hipólito, aos 13 anos e depois de sair do Asilo, sustentasse a mãe e um irmão, trabalhando numa oficina, em Torres Vedras – como lemos no escrito acima transcrito do repórter da revista Indústria Portuguesa. Significa que aprendeu o ofício de latoeiro, uma profissão rentável numa época em que não havia plásticos e terá chegado a Torres Vedras em 1895. No entanto desconhece-se a razão de

42 De Maria não encontrámos mais referências. Quanto a Alberto sabemos que se estabeleceu no Estoril com uma oficina de latoaria. Teve quatro filhos de que resultou descendência com quem contactámos. No caso, uma bisneta, que nos informou que seu bisavô Alberto, depois de um AVC que o deixou acamado alguns anos, foi sempre ajudado pelo irmão Comendador, até à morte deste.

43 A partir de 1927 passou a ter a designação de Asilo da Infância Desvalida Álvaro Possolo.

44 Cf: Rogério Fernandes - Orientações pedagógicas das Casas de Asilo da Infância Desvalida (1834-1840) Cadernos de Pesquisa, nº 109, p. 89-114, Março /2000, em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742000000100005 [Cons. 12 Fevereiro 2016 ]

ter escolhido esta terra. A família nada sabe. Apenas uma neta referiu ter ouvido a seu pai que o avô António Hipólito teria fugido do Asilo, vindo para Torres Vedras.

Procurámos pistas para a solução deste enigma mas não encontrámos nada de seguro. Não há documentos e as pessoas a quem o velho industrial terá confidenciado, já morreram há muito.

Resta-nos lidar com indícios45. É uma opção metodológica de recurso e, por isso mesmo, pouco susceptível de conclusões indubitáveis. Ela permite-nos, contudo, encontrar razões plausíveis para avançarmos com esta hipótese: António Hipólito terá vindo para Torres Vedras com o apoio da família Trindade, já estabelecida aqui mas originária de Alcobaça de onde viera uma ou duas décadas antes. Com efeito, o pai de Leonel de Freitas Sampaio Trindade – o conceituado arqueólogo torriense que viveu entre 1903 e 1992 – era Joaquim Marques Trindade que viera da Vestiaria, freguesia de Alcobaça, para trabalhar no balcão da loja de modas do homem que viria a ser seu sogro46. Marques Trindade, ao casar com a filha do patrão, ascendeu socialmente. Não admira que o encontremos, poucos anos depois, na Comissão Municipal Republicana que tomou posse em 8 de Outubro de 1910. Joaquim Marques Trindade acabou por tomar conta do negócio depois da morte do sogro, constituindo a firma Trindade & Cª, sediada na Rua de S. Pedro – actual R. Miguel Bombarda. Será nesta mesma rua que, alguns anos mais tarde, seu filho Leonel Trindade, juntamente com Adão de Carvalho e António Hipólito Júnior, constituirão sociedade para uma renovada loja de modas – que mais tarde seria o

Jardim de Modas47. De referir que Joaquim Marques Trindade tinha um irmão mais velho,

António, que também se estabeleceu em Torres Vedras.

Esta ligação inicial entre Hipólitos e Trindades explica o prolongamento na geração seguinte, com os primogénitos, Leonel Trindade e António Hipólito Júnior – que tinham praticamente a mesma idade, o primeiro nasceu em 1903, o segundo em 1901. Vamos encontrá-los no grupo que, em 1924, fez as primeiras experiências de telefonia sem fios

45 Apoiamo-nos nas pesquisas teóricas de Carlo Ginzburg e no seu “método indiciário”. Cf: Sinais – Raízes de um paradigma indiciário in: Mitos, emblemas, sinais – Morfologia e História. Companhia das Letras, 2ª ed., Editora Schwarcz, S. Paulo, 2012. Citando o autor, “Quando as causas não são reproduzíveis, só resta inferi-las a partir dos efeitos”( Op. cit.,p. 169). E também: “Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la.” (Id., p. 177).

46 Cecília Travanca – Reconhecer Leonel Trindade, Cooperativa de Comunicação e Cultura, Torres Vedras, 1999, p. 15.

47 Badaladas, 1 de Maio de 1959 – Anúncio da escritura de 13 de Março de 1959, na Secretaria Notarial de Torres Vedras, em que é constituída a sociedade Hipólito, Carvalho & Trindade, com sede em Torres Vedras na R. Miguel Bombarda, nºs 7 a 13. Tem como objecto “o comércio de modas, fazendas de lã, algodão e seda.”. Sócios, com 30 000$00 cada um: António Hipólito Júnior, Adão Avelino de Carvalho e Leonel de Freitas Sampaio Trindade.

as quais, pouco depois, deram origem à Rádio Sport Clube. O primeiro posto emissor- receptor funcionou exactamente na casa de habitação de António Hipólito, no Largo do Terreirinho48 e esteve na origem, em 1925, da Associação de Educação Física e

Desportiva de Torres Vedras, de cuja comissão fundadora os dois amigos fizeram parte49. Outro indício que nos parece revelador foi a realização de dois convívios, de grande projecção na época, entre Torres Vedras e Alcobaça. O primeiro, que ocorreu em 1908, é-nos contado por Victor Cesário da Fonseca num opúsculo em que ele, já com 90 anos, relata episódios da sua juventude50. Na sua emotiva evocação recorda que se tratou de uma excursão, a Alcobaça, da Tuna do Grémio Artístico Comercial «realizada em conjunto com os Bombeiros Voluntários e muitos outros torrienses» com a finalidade de apresentar um concerto da Tuna e uma representação do seu Grupo Dramático. Alcobaça organizou uma recepção entusiástica que ficou na memória de todos.

Pois bem: António Hipólito fazia parte da Tuna, como refere V. Cesário da Fonseca, e se comprova numa fotografia do grupo em que ele aparece de guitarra na mão. E dela fazia parte, também, António Marques Trindade, tio de Leonel Trindade.

Figura 3 – António Hipólito (X) na Tuna do G.A.C.

48 Cecília Travanca - Reconhecer…., p.25.

49 Cf: História da Associação de Educação Física e Desportiva de Torres Vedras, coord. de Carlos Guardado e Cecília Travanca, ed. Associação de Educação Física e Desportiva de Torres Vedras, Torres Vedras, 2012, p.22.

50 Victor Cesário da Fonseca - Retalhos para a História de Torres Vedras, ed. Associação para a Defesa e a Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, Torres Vedras, 1979, p.28.

Esta memorável viagem a Alcobaça foi retribuída em 1921 quando uma grande comitiva daquela vila se deslocou a Torres Vedras. Um semanário da época, Ecos de

Torres, nos números de Agosto e Setembro, deu enorme relevo a esta visita e não se

esqueceu de referir que, da Comissão de recepção, faziam parte «pelos alcobacenses moradores nesta vila, António Trindade e António Hipólito».

Outro dado curioso: até meados de 1940, o salão de teatro do Grémio Artístico Comercial situava-se nas traseiras da loja/oficina de António Hipólito, paredes meias com a Igreja de Santiago. Talvez por isso, António Hipólito fazia parte da Tuna daquela associação. Mas, além de músico, participava também no grupo de teatro do Grémio, juntamente com António Trindade, como vemos comprovado no Programa das Festas da Páscoa de 1919, daquela agremiação51.

Em conclusão, parece-nos defensável a ideia de que a vinda de António Hipólito para Torres Vedras se explica por uma ligação à família Trindade, afinidade de contornos iniciais hoje desconhecidos para nós, mas cuja expressão significativa ao longo dos anos nos permite sustentar a validade da hipótese.

Voltemos ao fundador da empresa que viria a ser a Casa Hipólito.

Em 17 de Agosto de1902, no jornal Folha de Torres Vedras, saiu o seguinte anúncio:

Figura 4 – Primeiro anúncio

51 Cf. Benedita Isabel Geraldes Faria de Freitas - O teatro na comunidade de Torres Vedras: as práticas de

criação e de fruição em torno do grupo do Grémio Artístico Torreense, Dissertação de Mestrado em

Educação Artística, Escola Superior de Educação de Lisboa, Lisboa, 1912,em:

http://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/2334/1/O%20teatro%20na%20comunidade%20de%20Torres %20vedras.pdf [Cons. 9 de Julho 2016]

É o primeiro sinal de vida profissional do jovem latoeiro, na altura com 20 anos. Saiu da oficina onde tinha trabalhado e abriu o seu próprio estabelecimento numa rua central da velha urbe. Será ali que trabalhará até ao fim da vida activa. Em 22 de Janeiro desse ano havia-se casado com Maria Inácia, natural de Enxara do Bispo, que residia em Torres Vedras. O nubente, de menor idade, órfão de pai desde os 6 anos, necessitara da autorização da mãe que veio de Alcobaça para participar na cerimónia realizada na Igreja de S. Pedro, em Torres Vedras. Também nesse ano nasce o filho primogénito, António Hipólito Júnior.

António Hipólito era de estatura baixa: 1,65m, indica o Bilhete de Identidade datado de 20/07/1927. Tal como acontece a qualquer mortal, as suas fotos documentam a evolução física: perfil magro junto do primeiro gasómetro que fabricou, por volta de 1904; aspecto anafado da idade madura; corpo emagrecido e devastado pela doença nos últimos anos.

Pela obra feita, podemos caracterizá-lo como um homem trabalhador, persistente, determinado. Engenhoso e dinâmico, de visão prospectiva, percebeu desde o início que as necessidades da lavoura vinhateira lhe abriam um espaço amplo para os equipamentos que passou a fabricar, em substituição dos que eram importados. Os testemunhos escritos que sobre ele se encontram na imprensa local e nacional apontam para as suas enormes qualidades como metalúrgico que aprendeu e progrediu à sua custa, copiando peças e reproduzindo-as com evidente vantagem de qualidade e preço. Procurava os melhores operários e apontava como uma das soluções para as deficiências da indústria nacional a formação técnica em escolas especializadas. Revelava grande capacidade para se impor à concorrência, sobretudo através do uso constante e hábil da publicidade e da presença em Exposições Industriais. Desde o início, vemo-lo a publicitar a sua nova empresa em cada jornal que aparecia, usando um estilo directo e persuasivo, com frequentes descrições pormenorizadas dos seus produtos.

Na vida pessoal era divertido e amigo da boa mesa, como o atesta a sua participação no Carnaval torriense e em alguns convívios documentados fotograficamente e referidos por quem o conheceu. Não sendo torriense de origem, integrou-se plenamente na terra de adopção, “cenário urbano, saudoso do ruralismo primário”,52 impondo-se pelo trabalho e atenção ao que o rodeava, como o atesta a sua participação em momentos importantes da vida do concelho.

Assim, em 18 de Setembro de 1913 o jornal A Vinha de Torres Vedras informa que António Hipólito se encarrega das iluminações no Círio da Prata Grande em S. Pedro da Cadeira, a freguesia mais ao Sul do concelho de Torres Vedras, o que é sinal inequívoco da projecção do seu trabalho53.

Ainda nesse ano o mesmo jornal publica a lista de contribuintes para as festas da vila. Nela figura a meio da tabela António Hipólito com a dádiva de $500.

Em 9 de Maio de 1915, o jornal A Voz de Torres publica uma pequena local sobre os festejos do 1º de Maio referindo as decorações de flores artificiais e centenas de lâmpadas no Largo da República. E mais adiante: “O cortejo alegórico representava interessantes carros dos industriais Srs. António Hipólito, João Henriques, António da Silva e o da comissão promotora”54.

Já não era o simples latoeiro que abrira a sua loja treze anos antes, era um industrial, designação só aplicável a quem tem uma fábrica e operários por sua conta55. De facto, a

sua vida prosperava56. É o que nos sugere uma referência na Acta da sessão ordinária de

2 de Maio de 1917 da Câmara Municipal de Torres Vedras ao requerimento

52 Cf. António Augusto Sales – Os Guardadores do Tempo, Ed. Câmara Municipal de Torres Vedras, Torres Vedras, 2007, que traça um retrato impressivo da vida torriense na época.

53 O Círio da Prata Grande é uma romaria tradicional na zona Oeste portuguesa em honra de Nª Srª da Nazaré na qual estão envolvidas 17 freguesias – 16 do concelho de Mafra e uma de Torres Vedras, S. Pedro da Cadeira - seguindo uma ordem pré-estabelecida. As festas realizam-se anualmente numa das freguesias pelo que cada uma delas só festeja de 17 em 17 anos. Esta característica – que julgamos única no país – confere a cada festa um significado especial com um enorme envolvimento das populações na sua realização. Em 1913 S. Pedro da Cadeira ainda não tinha electricidade – Torres Vedras só a tivera um ano antes e, mesmo assim, apenas com um gerador para a vila. Por isso, a participação nestas festas de António Hipólito, que se notabilizara como fabricante de gasómetros a carbureto, revela bem o prestígio alcançado. 54 Não se trata de Francisco António da Silva, mas sim de um conhecido tanoeiro, com oficina na Rua da Corredoura, com presença habitual nos anúncios dos jornais da época.

55 Sobre o conceito de Industrial, ver por exemplo Maria Filomena Mónica – Capitalistas e industriais (1870-1914), in Análise Social, vol. XXIII (99), 1987 – 5º, pp. 819-863: Para definir o que era um industrial no final do século XIX, na p.821, a autora cita F. Crouzet na obra The First Industrialists: “um industrial é alguém que possui uma fábrica, e não uma oficina (o que o distingue do fabricante, e que a dirige (o que o distingue do capitalista).” Em:

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223028371W4lFY9ix0Ky28XO1.pdf [Cons. 20 Setembro de 2015]

56 Ainda hoje encontramos em Torres Vedras pessoas que atribuem à rápida afirmação empresarial de António Hipólito o facto de ele ter achado na Estação de Caminho-de-ferro da vila, uma carteira cheia de dinheiro. Uma lenda sem qualquer fundamento, semelhante a outras que ouvimos por esse país fora…

De António Hipólito, industrial, residente nesta vila, pedindo licença para demolir e reconstruir