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As questões do ofício

Atribuições de um artista de pedraria

Um mesmo mestre pedreiro pode: – Ser autor de projecto

– Trabalhar um projecto de outrem

– Arrematar obras de pedraria, carpintaria e escultura – Trabalhar com modelos

– Fornecer apontamentos Forma de pagamento – Por empreitada – À jorna – À braça – À peça Procurações

São documentos notariais que permitem a representação dos artistas em actos públicos. São frequentes as escrituras deste tipo, regra geral, os procuradores são elementos da família: filhos, tios e outros parentes.

A procuração podia servir apenas para a assinatura de um contrato. No universo estudado os artistas que mais actos desta natureza fizeram são: Pascoal Fernandes e Manuel Fernandes da Silva.

Esta actividade é um sintoma revelador da dinâmica profissional e social destes artistas

4.2. As relações inter-pessoais e as sociedades

a) As sociedades de artistas

1728 – Domingos Gomes & João da Silva (Pedreiros)

1759 – Vicente Carvalho & Sebastião Vilaverde & Pedro António Lourenço

(Pedreiros)

1780 – João de Castro & António Carvalho & Manuel Ferreira (Carpinteiros/ Pedreiros)

1784 – Pedro José da Costa & António José Garcia (Carpinteiro/Pedreiro) b) As relações de amizade e familiares

1702 – Pascoal Fernandes assume publicamente uma obra que Domingos Moreira

arremata juntamente com Domingos Moreira, a torre do mosteiro de São Gonçalo de Amarante. Funcionavam em equipa.

1707 – Domingos Moreira estava construir uma casa em Braga, segundo projecto

ideado por seu cunhado Manuel Nogueira. Relações familiares e inter-pessoais: – Pascoal Fernandes,

– Domingos Moreira, – Manuel Nogueira.

4.3. As questões técnicas

O que significa, para a prática da arquitectura em Portugal no Século XVIII e as exigências contratuais de uso de matérias-primas específicas, nomeadamente: pedra de granito dura e de grão fino da pedreira X, cal fina do Mondego e cal galega, madeira lisa, limpa e sem nós e seca.

A adjectivação do nível de exigência do produto final que devia responder a padrões de perfeição.

Deliberada procura de qualidade técnica.

4.4 As questões em aberto

Testemunhas

Qual o papel das testemunhas que aparecem no contrato de obra e que são espe- cializadas no oficio, nomeadamente: riscadores – o ofício mais nobre de arquitectura, vistoriadores, mestres empreiteiros e mestres pedreiros?

Nomenclatura do ofício

Quais as atribuições específicas para as diferentes classificações profissionais? Concretamente arquitecto, mestre arquitecto, mestre pedreiro de arquitectura e mestre pedreiro.

Conclusão

Para que serve este método de abordagem quantitativa?

De forma sistematizada e racionalizada definir indicadores seguros da cultura artística portuguesa:

A constatação da existência de planta prévia para orientar a empreitada esclarece que a obra de arquitectura seguia critérios de organização que padronizavam a prática arquitectónica dos grandes estaleiros.

mas também a exigências artísticas e estéticas – como tal procura-se o especialista que elabore o estudo preliminar do objecto a construir.

Existência de uma clientela que sabia recorrer aos especialistas e que, sabia entender a projecção arquitectónica ao nível da ideação.

A definição de objectos moda – os modelos.

Esclarecimento do universo do artista enquanto agente de uma arte e veículo transmissor de uma cultura artística.

A aplicação deste método à análise formal do património artístico – na sua grande maioria anónimo e sem qualquer referencial cronológico – pode ser um aporte signi- ficativo para definir a massificação e assimilação das grandes vanguardas estéticas.

Manuel de Sampayo Pimentel Azevedo GRAÇA

A vida

Júlio José de Brito nasceu em Paris, França, a 2 de Março de 1896; viria a morrer no Porto, a 2 de Fevereiro de 1965. Era filho de José de Brito e de sua mulher Isabelle Ruffier Poupelloz. Em 1910, matriculou-se simultaneamente nos cursos Complementar dos Liceus e de Arquitectura na Escola de Belas-Artes do Porto. Em 1922, sendo ainda estudante, começou a leccionar no 9.º Grupo no Liceu Rodrigues de Freitas. Completou o Curso de Arquitectura Civil pela Escola de Belas-Artes do Porto a 12 de Agosto de 1925, recebendo o Diploma de Arquitectura a 15 de Março de 1926. Contudo, registara-se já na Câmara Municipal do Porto, a 14 de Agosto de 19251, renovando a inscrição a 30 de Agosto de 19402. Ainda a 22 de Julho de 1930, procedera de igual forma na Câmara Municipal de Braga.

Em 1926, ingressou como Professor Interino na Escola de Belas-Artes do Porto. Dois anos depois, passou a Professor Efectivo. Entre outras disciplinas, leccionou a cadeira de Construção, na qual foi substituído, em 1940, pelo arquitecto Rogério dos Santos Azevedo. Em 1947, tornou-se Professor Interino da 4.ª cadeira – Arquitectura. Jubilou-se em 1964.

Querendo complementar a sua formação, matriculou-se no curso de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, que concluiu em 1946, com 14 valores. Recebeu a sua Carta de Capacidade de Engenharia Civil a 5 de Abril desse ano.

1 Cf.: AGMP-CMP – Registo Geral de Técnicos habilitados para a Construção Civil, L.º 1, fl. 67 – Registo n.º 66. 2 Cf.: AGMP-CMP – Registo de Inscrição de Técnicos (assinar projectos e dirigir obras) – Licença n.º 23.

O pai José de Brito nasceu na freguesia de Santa Marta de Portuzelo, Viana do Castelo, a 18 de Fevereiro de 1855, vindo a morrer no Porto, com 90 anos de idade, em 1946. Pintor de algum renome, entrou em 1873 na Academia Portuense de Belas Artes, onde foi aluno de Thadeu de Almeida Furtado (1813-1901) e de Soares dos Reis (1847-1889) e companheiro de Henrique Pousão (1859-1884). Em 1885, Dom Fernando II concedeu-lhe uma bolsa de estudos em Pintura, a que lhe acrescentaram uma subscrição privada para o estudo da Escultura3. Rumou, pois, a Paris, ingressando na Academia Julian4, tendo por mestres Gustave Clarence Rodolphe Boulanger (1824-1886), Jules-Joseph Lefébre (1836-1911), Jean-Paul Laurens (1838-1921) e Jean-Joseph Benjamin Constant (1845-1902), praticantes de uma então vigente escola academista e historicista.

Por essa altura, já em Paris se encontravam futuros nomes grandes da Pintura Nacional, como Marques de Oliveira (1853-1927) e Silva Porto (1853-1893). Nessa mesma cidade, Brito expôs pela primeira vez, no Salon de 1888, começando um percurso ininterrupto até 1896. Em 1895, granjeou a fama, com o quadro O Mártir do

Fanatismo, reproduzido na Illustration Française e com referências críticas no Quotidien Ilustré, na Gazette de France e em L’Art Française e, mais tarde, n’O Ocidente5. No ano seguinte, voltou a expor no Salon, agora com Retrato de uma Senhora.

Regressou a Portugal em 1896, para ocupar um lugar de docência na Escola de Belas-Artes do Porto, em substituição de Marques de Oliveira. A concurso apresen- tou O Bom Samaritano, conseguindo o lugar de Professor de Desenho Histórico, de que se jubilaria em 1922, sem contudo deixar de exercer a sua influência nos anos seguintes6.

Retratista e pintor de costumes de mérito, destacou-se com obras como: Páscoa

na Aldeia, Procissão dos Entrevados e Procissão no Minho; O Baptismo de Cristo, exe-

cutado para a Igreja da Trindade (Porto); Retrato de Júlio António de Amorim, para o Hospital de São Marcos (Braga); e a pintura do tecto do Teatro Nacional São João, em colaboração com Acácio Lino (1878-1956). Em 1928, expôs 42 obras no Salão

Silva Porto, entre óleo, pastel, aguarela e carvão.

3 Cf.: http://cron.fba.up.pt/cron/personalidades_resultado.asp?personalidade=13. 2007.

4 A Académie Julian foi fundada por Rodolphe Julian (1839-1907), em Paris (França), em 1867, mantendo-se em

funcionamento até à II Grande Guerra Mundial. Dedicada ao ensino da Pintura e da Escultura, acolheu artistas de toda a Europa e América, profissionais e amadores talentosos, que não conseguiam passar pelos difíceis exames da École des Beaux-Arts de Paris. Devido à proibição das senhoras em frequentar o ensino superior público, passou a receber alunas desde 1880. Entre os seus mais notáveis elementos contaram-se Henri Matisse (1869-1954) e Marcel Duchamp (1887-1968).

5 Esta tela representa uma cena de tortura do Tribunal do Santo Oficio, tendo provocado franca emoção entre o

público e os críticos. Foi parte da 9.ª Exposição do Ateneu Comercial do Porto, da Exposição do Grémio Artístico (1898) e da Exposition Universelle de 1900 (Paris, França), tendo sido comprada pelo Estado Português em 1911. Actualmente, pertence ao Museu do Chiado.

6 Em 1940, propôs o nome do arquitecto Carlos Ramos para o provimento da quarta cadeira do curso de Arquitectura,

em substituição de Manuel Marques [cf.: http://cron.fba.up.pt/cron/personalidades_resultado.asp?personalidade= 107&Submit=OK. 2007].

ingressando na Escola de Belas-Artes do Porto em 19217. Diplomou-se em Arquitectura a 15 de Março de 1926-03-15 (de acordo com o Dec. 11089, de 17 de Setembro de 1925). Registou-se na Câmara Municipal do Porto como arquitecto8 a 7 de Julho de 1928, renovando a 4 de Abril de 19349 e a 8 de Setembro de 194110.

Como o pai e o irmão Júlio José, foi também docente da Escola de Belas-Artes do Porto. Em 1957, era já o professor mais antigo da Secção Artística e, em 1958- 1959, Secretário da Direcção da Escola. Seria, ainda, Director da Escola Superior de Belas-Artes do Porto.

Não deixou obra extensa, nem com a mesma qualidade da que o irmão produziu, apesar da proximidade do desenho, quer no traço, quer nos valores estéticos e da boa concretização de alguns projectos. Os seus trabalhos compõem-se, sobretudo, por edifícios de habitação unifamiliar, de risco modernista, ainda que contendo alguma informação da arquitectura neovernacular do movimento da Casa Portuguesa. Aliás, é curioso observarmos que o seu percurso artístico – e estético – se desenrolou com um enorme paralelismo àquele que seu irmão percorria.