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Júlio José de Brito pertence à chamada Escola do Porto, formada sobre a batuta do mestre José Marques da Silva, cuja obra é sobejamente conhecida11. Deste grupo destacar-se-ão nomes grandes da arquitectura nacional, ora pela qualidade, ora pela quantidade da obra produzida12, organizando-se em gerações sucessivas: Manuel Marques (1890-1956), Baltazar da Silva Castro (1891-1967), José Ferreira Peneda (1893-1940), Rogério dos Santos Azevedo (1898-1983), António Júlio Teixeira Lopes (1903-1971), Arménio Taveira Losa (1908-1988), David Moreira da Silva (1909-?), Ernesto Camilo Korrodi (1905-1985), Fernando Manuel Correia da Silva da Cunha Leão (1909-1990), Homero Ferreira Dias (1904-1960), Manuel da Silva Passos Júnior (1908-?), Mário Cândido Morais Soares (1908-1975), Januário Godinho de Almeida (1910-1990), Agostinho Ricca Gonçalves (1915), Alfredo Evangelista Viana de Lima (1913-1991), Cassiano Barbosa de Abreu e Lima Lopes Rodrigues (1911-1998), Fernando de Sousa Oliveira Mendes de Nápoles Tudela (1917-2006), Francisco Oldemiro Novais dos Santos de Freitas Carneiro (1914-1965), Luís Valgode Amoroso Lopes (1913-?), Maria José Marques da Silva (1914-1994), Mário Ferreira Bonito (1912-1976), etc., etc..

7 Cf.: http://arquivo.fba.up.pt/alumni.html. 2007.

8 Cf.: AGMP – Registo Geral de Técnicos Habilitados para a Construção Civil, L.º 1, fl. 110, Registo n.º 109. 9 Cf.: AGMP-CMP – Registo Inscrição Técnicos, Registo n.º 26.

10 Cf.: AGMP-CMP – Registo Inscrição Técnicos (assinar projectos e dirigir obras), Licença n.º 32.

11 Cf.: CARDOSO, António – O Arquitecto José Marques da Silva e a arquitectura no Norte do País na primeira metade

do século XX. Porto: FAUP publicações, 1997.

intercâmbio de informações: gostos, estéticas e formulários técnicos e tecnológicos. Há, na realidade, uma linha de intervenção que se estende desde os tempos do mestre Marques da Silva até aos dos seus já mencionados discípulos. Falando de um deles – Januário Godinho – Fátima Sales filia estes saberes em autores e em experiências europeias da primeira metade do século XX: nos suecos Sven Markelius (1889-1972) e Erik Gunnar Asplund (1885-1940) e no neerlandês Willem Marinus Dudok (1884-1974) – pais dos movimentos modernistas neoclássicos da arquitectura da década de 1920 nos respectivos países – e no francês Auguste Perret (1874-1954) – grande impulsionador da arquitectura em betão armado13. Este é um período em que as obras arquitectónicas conjugam a estética com as técnicas tradicionais e inovadoras, sem esquecer a aplicação de materiais – também entre os tradicionais e os inovadores. Para além de um desenho erudito e académico, surgem os apontamentos da arquitectura popular, postos na ordem do dia pelo movimento neovernacular da

Casa Portuguesa, começado por Ricardo Severo (1858-1940) e acentuado por Raul

Lino da Silva (1879-1974)14.

Os programas construtivos deste período apresentam uma grande coerência, aliada a um saber-fazer e a um sábio aproveitamento dos espaços. Há um domínio dos materiais e do local de implantação do edifício construído. Os espaços articulam-se de forma hierárquica, sem nunca se descurar o aspecto funcional. Sem receios nem comprometimentos, não é rara a introdução de artes decorativas – esculturas, estuques, mosaicos e azulejos –, para o que se chamam grandes mestres – Almada Negreiros (1893-1970), Dordio Gomes (1890-1976), Guilherme Camarinha (1912-1994), Júlio Resende (1917), etc..

Os encomendadores

Entre os encomendadores de Júlio José de Brito, contaram-se nomes sonantes da época, oriundos dos mais variados ramos de actividade:

·das finanças: Caixa Geral dos Depósitos15, Banco Borges & Irmão16 e Companhia União de Crédito Popular17;

13 Cf.: SALES, Fátima – «Januário Godinho: um Património de Arquitectura», Dunas – temas & perspectivas. Porto.

Ano 3, n.º 3 (Novembro 2003), p. 5.

14 Cf.: GRAÇA, Manuel de Sampayo Pimentel Azevedo – Construções de Elite no Porto. Porto: [Edição do Autor], 2004

(Dissertação de Mestrado de História da Arte em Portugal apresentado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Vol. I, p. 161-163.

15 Edifício da Rua de 31 de Janeiro, n.os 75-83 (Santo Ildefonso, Porto), em colaboração com José Simões [cf.: ORDEM

DOS ARQUITECTOS – «IAPXX – Inquérito à Arquitectura Portuguesa do Século XX», in http://iapxx.arquitectos. pt/. 2007 – ficha N100991.

16 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 442/ 1939, com requerimento de 12 de Julho de 1939 – legali-

zação de obras em edifício da Rua de Nove de Julho. Licença n.º 359/ 1941, 31 de Julho de 1941 – reconstrução de edifício na Rua do Bonjardim, n.os 175-179. Licença n.º 479/ 1941, com requerimento de 9 de Novembro de

1941 – alteração de fachada do edifício da Rua de Sá da Bandeira, n.o 20.

17 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 169/ 1942, com requerimento de 5 de Maio de 1942 – ampliação

·da indústria: José Brandão Veludo e Casa Veludo (fábrica de papéis pintados)18, Fábrica de Tecidos do Bompastor, L.da19, Cooperativa de Produção dos Operários Pedreiros Portuenses20, Diogo H. Barbot & Filhos, L.da21, Francisco José de Sá Morais/ Café Império22;

·das educação: Colégio Almeida Garrett23;

·das assistência: Venerável Ordem da Santíssima Trindade24;

·da cultura: Empresa Artística, S.A.R.L. (Coliseu do Porto)25 e Empresa de Teatro Rivoli26;

·do mundo social: António Bessa Ribas27, Primo Monteiro Madeira28, Barão de Fermil29 30, Edith Cassels31, etc..

É difícil saber que papel teve cada um deles em cada uma das obras, embora se suspeite que tenha sido dada alguma liberdade artística ao arquitecto – ainda que sujeito aos programas fornecidos –, sobretudo durante as primeiras décadas de actividade. Comprova-o a qualidade técnica apresentada nos trabalhos e o carácter arrojado 18 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 503/ 1939, com requerimento de 10 de Agosto de 1939 – construção

de pavilhão fabril na Avenida da Boavista, n.o 2325. Licença n.º 329/ 1941, com requerimento de 14 de Julho de

1941 – construção de cabine eléctrica na Avenida da Boavista. Licença n.º 213/ 1942, com requerimento de 20 de Maio de 1942 – construção de muro de suporte na Avenida da Boavista.

19 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 119/ 1942, com requerimento de 10 de Abril de 1942 – construção

armazém para fábrica de tecidos, no gaveto da Rua de Nove de Abril, n.o 763, com a Travessa de Monsanto. Licença

n.º 70/ 1943, com requerimento de 22 de Fevereiro de 1943 – alteração de fachada de fábrica, na Rua de Nove de Abril, n.o 731.

20 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 95/ 1942, com requerimento de 21 de Março de 1942 – alteração

de prédio na Rua da Constituição, n.o 964.

21 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 25/ 1942, com requerimento de 21 de Janeiro de 1942 – ampliação

da fábrica de fiação de tecidos, na Rua das Carvalheiras, n.o 108.

22 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 403/ 1941, com requerimento de 26 de Agosto de 1941 – modi-

ficação de fachada de pastelaria e confeitaria na Rua de Santa Catarina, n.os 147-155.

23 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 530/ 1939, com requerimento de 21 de Agosto de 1939 – ampliação

de colégio na Praça do Coronel Pacheco, n.o 1.

24 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 39/ 1941, com requerimento de 8 de Fevereiro de 1941 – construção

de escada no Hospital da Venerável Ordem da Santíssima Trindade, na Rua da Trindade.

25 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 615/ 1940, com requerimento de 21 de Outubro de 1940 –

construção de casa de espectáculos na Rua de Passos Manuel, n.os 135-163.

26 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 729/ 1940, com requerimento de 17 de Dezembro de 1940.

Licença n.º 531/ 1942, com requerimento de 21 de Novembro de 1942 – ambas as licenças para modificação de fachada do teatro, no gaveto da Praça de Dom João I com a Rua do Bonjardim.

27 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 641/ 1940, com requerimento de 7 de Novembro de 1940 –

ampliação de garagem na Avenida da Boavista, n.o 1551. Licença n.º 127/ 1941, com requerimento de 25 de Março

de 1941 – reconstrução de muro de vedação.

28 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 540/ 1941, com requerimento de 21 de Novembro de 1941 –

legalização de obras no prédio do Campo dos Mártires da Pátria, n.o 27.

29 Manuel Guilherme Alves Machado, 1.º Barão de Fermil (nasceu a 25 de Outubro de 1873; morreu a 5 de Junho

de 1943).

30 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 147/ 1941, com requerimento de 4 de Abril de 1941 – construção

de escada no edifício da Rua do Alto de Vila, n.o 333.

31 Cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 338/ 1940, com requerimento de 11 de Junho de 1940 – alteração

de projecto de edifício de habitação na Rua de António Cardoso, n.o 260; Licença n.º 118/ 1941, com requerimento

assumem um carácter quase estrutural, dentro do minimalismo que caracterizará a chamada Escola do Porto, sem contudo se esquecerem os ensinamentos neovernaculares do movimento da Casa Portuguesa. Com o avançar dos anos, o comprometimento será outro, levando-o a aligeirar a linguagem, cada vez mais reduzida ao essencial, sem conseguir manter sempre a qualidade técnica antes apresentada. Contudo, sendo sobretudo projectos colectivos, fica-se por perceber qual a efectiva responsabilidade de Brito em todo o processo32.

As colaborações

·Ao longo da sua carreira, Júlio José de Brito desenvolveu diversas obras colecti- vas, por vezes em experiências únicas, outras repetidas em trabalhos sucessivos. Com todos aprendeu, notando-se uma evolução nos estilos apresentados e diferenças claras de boa adaptação ao trabalho de equipa. Entre os colaboradores destacaram-se:

·os engenheiros civis: Jorge Vieira Bastian33, nomeadamente nos Edifícios de Augusto Pinto de Magalhães, na Rua de Aníbal Patrício, n.os 241-25534; com o engenheiro civil Fernando Cardoso Lima; Manuel Barbedo de Magalhães, (1908/1909-?), Licenciado em Engenharia pela Escola Militar (conclusão a 1933-08-12, com 13,7 valores; Adolf Spitz, diplomado pelo Instituto Superior Técnico de Viena (1924-1929) e registado na Ordem dos Engenheiros (11 de Fevereiro de 1939); Joaquim de Oliveira Ribeiro Alegre, diplomado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto35; Alcino José Salvador Paixão, diplomado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; Manuel Ramos Aires Pereira, diplomado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (1947); Francisco de Brito Limpo de Faria, diplomado pela Faculdade Técnica da Universidade do Porto (1923);

·os arquitectos: Manoel da Silva Passos Júnior, diplomado pela Escola de Belas Artes do Porto (1940); António Júlio Teixeira Lopes, diplomado pela Escola de Belas Artes do Porto; Manuel Paulo Ferreira de Lima Teixeira Pinto de Magalhães, diplomado pela Escola de Belas Artes do Porto (1946, com 18 valores); José Dias 32 Vejam-se os exemplos dos edifícios da Rua de Feliciano de Castilho, n.os 66-92 (Massarelos, Porto), executado em

colaboração com o arquitecto Manuel Paulo Teixeira de Magalhães [cf.: AGMP-CMP – Licenças de Obras, Licença n.º 565/ 1950, de 10 de Agosto].

33 Jorge Vieira Bastian, por seu turno, também desenvolveu algumas colaborações importantes, como são exemplos

o arquitecto Manuel Amoroso de Matos Lopes, na ampliação do Edifício da Calandra do Bonfim, na Avenida Camilo, n.os 162-169 (freguesia do Bonfim, Porto – 1939); e com o arquitecto Manuel Marques, na construção de

3 Edifícios no gaveto da Avenida Marechal Gomes da Costa, 627-649, com a Rua de Afonso de Albuquerque, n.os

15-24 (Lic.ª 766/ 1936).

34 Cf.: AHMP-CMP – Livros de Licenças de Obras, 1932/33, L.º 535, Vol. 655, fl. 93-105D, Lic.ª 516/ 1932, de 6 de

Dezembro.

35 Que também colaborou com António de Brito, nomeadamente na construção do edifício da Travessa de Fernão de

Magalhães, n.os 91-95 [AHMP-CMP – Livros de Licenças de Obras, Lic.ª 231/ 1934, de 22 de Agosto] e do Cinema

Maria de Carvalhais e Menezes da Costa e Almeida, diplomado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto;

·o mestre-de-obras: Domingos de Barros, diplomado pela Escola Industrial Passos Manuel de Vila Nova de Gaia (1937).