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Em Portugal, nos séculos XVII e XVIII, não é clara a distinção entre artífice e artista. Os diferentes ofícios sujeitavam-se a regimentos numa tentativa de delimitação de funções e hierarquização de cada um. Reconhece-se a situação social subalterna do artista no Portugal barroco. É frequente o anonimato na escultura e na pintura e, na província, enxameiam os pintores, satisfazendo o clero local.

Os artistas sentiam os grilhões da sua posição social. Um exemplo, entre outros: Manuel Velho, imaginário, da Senhora da Ajuda, no período de 1691 a 1736, é men- cionado vinte e três vezes por débitos à Santa Casa da Misericórdia de Penafiel!

Na Procissão do Corpo de Deus, em 1705, somente os carpinteiros são incluídos em acto religioso tão importante: homens para menear, representando a serpe; adereços: corpo de madeira com forma de serpente vestida toda de um pano pintado com escamas e asas. Na cidade do Porto, entre 1620 e 1773, além dos carpinteiros, estavam representados douradores, pintores, entalhadores, ensambladores, torneiros…

Os artistas não se concentram de forma corporativa; no bairro de Fornos (entre a igreja matriz e a rua Santo António Velho) viviam jornaleiros, viúvas, oficiais e mestres. Muitos são identificados pelas contribuições que pagam, facto que ajuda a localizar as suas agências (oficinas, tendas ou lojas).

Outros detectam-se nas receitas e despesas das misericórdias, mencionando-se com as expressões: desta cidade, desta vila, da casa.

As dificuldades dos artistas emergem no tipo de obras encomendadas: tanto fazem obras valiosas como concorrem a outras de montantes ínfimos.

Manuel Ferreira de Figueiredo concretiza duas obras de vulto: como ensamblador, em 1692, o retábulo-mor da igreja do convento de S. Martinho de Caramos, Felgueiras,

[Fig. 1]; na qualidade de imaginário, em 1700, os retábulos mor e colaterais da igreja

do mosteiro de Santa Maria de Vila Boa do Bispo, Marco de Canaveses [Fig. 2]. Os pintores António Vieira Leal, Manuel Ferreira Rangel e José Pacheco não cumprem os contratos de douramento com Santa Maria de Sobretâmega [Fig. 3] e S. Nicolau de Canaveses [Fig. 4], em Marco de Canaveses; o primeiro em 1715 e os segundos em 1717.

Um trabalho sobre demografia (1700-1729) fornece-nos artistas que, na qualidade de padrinhos e testemunhas de baptismo, pais e testemunhas dos nubentes, prenunciam a importância artística da Cidade.

Com o ascendente dos carpinteiros (46), encontramos na cidade de Penafiel, no período considerado: i) 13 pintores; ii) 9 imaginários; iii) 6 escultores; iv) 2 ensambladores; v) 1 marceneiro; vi) 1 escultor-imaginário.

Quadro 1. Penafiel (Arrifana de Sousa). Artistas e Artífices 1700-1729

ARTISTAS BAPTISMOS NUBENTES DEFUNTOS

Actividade Pais Padrinhos Testemunhasbaptismo parcialTotal Contra-entes Pais Testemu-nhas parcial TotalTotal Total

Carpinteiro 24 4 10 38 6 2 0 8 46 12 Ensamblador 1 0 1 2 0 0 0 0 2 1 Escultor 4 0 1 5 1 0 0 1 6 1 Imaginário 2 2 3 7 0 2 0 2 9 0 Pintor 3 0 7 10 0 2 1 3 13 1 Marceneiro 0 0 0 0 1 0 0 1 1 1 Escultor/ Imaginário 0 0 0 0 1 0 0 1 1 1

Noutro estudo, expõem-se valores de um período de cerca de três décadas: i) 1800 – 14 carpinteiros e 3 pintores; ii) 1820 – 11 carpinteiros, 2 pintores e 1 ensamblador; iii) 1831 – 5 carpinteiros, 4 ensambladores e 3 pintores; iv) 1834 – 2 ensambladores e 1 pintor.

Traduzido o somatório, destacam-se os carpinteiros (20) num cenário onde os pintores (9) e os ensambladores (7) ajudam a valorizar a área artística em Penafiel.

As duas investigações contemplam um espaço amplo (1700-1834), mas descontínuo, confirmando Penafiel como um segmento artístico de pintores nos séculos XVIII e XIX, cuja acção prediz igualmente a intervenção na área do douramento, atendendo à especificidade funcional.

1 RODRIGUES, José Carlos Meneses – Retábulos no Baixo Tâmega e no Vale do Sousa (Séculos XVII-XIX). Porto:

um eixo viário, na ligação Porto-Vila Real formado (no sentido poente-nascente) pelas ruas da Calçada, de Santo António Velho, Direita, Nossa Senhora da Ajuda e Cimo de Vila.

Estabelecem-se mais de uma dezena de arruamentos que configuram a concentração de artistas ao longo dos séculos XVII a XIX, feixe indicador de um pólo artístico regional.

Da Calçada a Cimo de Vila, nos séculos XVIII e XIX, listam-se ofícios: ·Rua da Calçada: 3 carpinteiros, 2 ensambladores e 1 pintor

·Rua de Santo António Velho: 3 carpinteiros, 1 imaginário e 1 pintor ·Rua do Carmo: 1 pintor

·Rua Eng. Matos: 1 pintor

·Travessa de Fornos: 2 carpinteiros e 1 pintor ·Bairro do Carvalhal: 2 carpinteiros

·Rua Direita: 19 carpinteiros, 3 pintores, 2 ensambladores, 2 imaginários e 1 torneiro

·Bairro de S. Mamede: 2 pintores e 1 torneiro ·Praça Municipal: 1 ensamblador

·Travessa do Bom Retiro: 1 pintor ·Rua da Piedade de Baixo: 3 carpinteiros ·Rua Nova: 1 carpinteiro e 1 pintor ·Rua do Paço: 1 carpinteiro e 1 imaginário

·Chãs da Quelha da Misericórdia: 2 carpinteiros e 1 pintor

·Rua de Nossa Senhora da Ajuda: 3 ensambladores, 2 pintores e 1 carpinteiro ·Rua de Cimo de Vila: 6 ensambladores, 3 entalhadores, 2 pintores e 1 imaginá-

rio

·Rua de S. Bartolomeu: 1 pintor

O resultado desta enumeração [Quadro 2] coloca em primeiro lugar os carpinteiros (37), manifestando-se, a seguir, os pintores (16), os ensambladores (14), os imaginários (5), os entalhadores (3) e os torneiros (2).

É mais uma prova da proeminência dos pintores, que se estende a algumas freguesias: 6 pintores (Santiago de Subarrifana, Duas Igrejas, Rans, Rio de Moinhos e Eja); 1 entalhador (Canelas); e 1 ensamblador (Abragão).

Quadro 2. Penafiel. Artistas e Artífices na Cidade (Séculos XVIII-XIX)

Ofícios Eixo viário principal Restante malha urbana Centro histórico

Entalhadores 3 0 3 Ensambladores 13 1 14 Carpinteiros 26 11 37 Imaginário 4 1 5 Pintor 9 7 16 Torneiro 1 1 2 Total 56 21 77

Na nossa mancha de investigação, há dinâmicas diferentes ao nível dos artistas listados que trabalharam no Baixo Tâmega e no Vale do Sousa2: Penafiel (246) e Amarante (103) lideram, seguindo-se-lhes Felgueiras (49) e Marco de Canaveses (29), este com informação basicamente do século XIX.

Penafiel sobressai no Gráfico 1:

I. Ensambladores (36): 20 provêm de Penafiel, 7 do Marco, 5 de Amarante, 3 de Felgueiras e 2 do Porto.

II. Escultores (2): inventariam-se 2 com residência em Penafiel.

1 em Guimarães e 1 no Porto.

IV. Pintores e douradores (133): Penafiel (111) forma o núcleo mais forte nesta actividade. Os destaques, por tempo de actividade compulsada, vão para Manuel Vieira (1674-1700); Jerónimo Ribeiro do Vale (1759-1800); José Lopes dos Anjos (1772-1801); Tavares (1780-1828); e José Macário (1851-1862).

V. Torneiros (2): Penafiel.

VI. Artistas (16): extraídos da documentação do século XIX (recenseamentos militares e eleitorais) podem referir-se também à construção civil.

Gráfico 1. Penafiel. Artistas e Artífices (Séculos XVII-XIX)

16 219 1 20 15 2 1 18 98 3 2 395 Artis ta Carpi nteiro Doura dor Ensa mblad or Ental hado r Escu ltor Estof ador Imagin ário Pintor Pintor e Do urado r Torne iro TOTA L