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No Arquivo Distrital de Braga1, e no Arquivo do Mosteiro de São Bento de Singeverga2 existem dois códices manuscritos – um Missal Pontifical, e um Manual das Cerimónias para a Missa Pontifical, datados e assinados por Frei Bento de São Luís3.

No último destes arquivos existe pelo menos mais um manuscrito que lhe está atribuído numa nota inicial manuscrita a lápis, e que remete para um autor de nome Barbosa4.

Esta referência respeita provavelmente à obra Bibliotheca Lusitana de Diogo Barbosa Machado5, editada em Lisboa em 1741, onde entre as notícias sobre autores e obras portuguesas vem mencionado Frei Bento de São Luís6.

1 Arquivo Distrital de Braga, Manuscrito 285, Missa Pontificalis Abbate Celebrante Prout est in Caeremoniale Casinensi

ad usum Abbatum Monasterii Sancti Joannis ab Heremo per Fr. Benedictum a Divo Aloísio Bracharensem, Anno 1745.

2 Arquivo do Mosteiro de São Bento de Singeverga, caixa 22, livro 10, Manuale Caeremoniarum Missae Pontificalis

Pro Missa in Pontificalibus celebranda primo, et principaliter in gratiam per Antiqui Monastici Ritus et pro mayori, ac faciliori commoditate Magistrum caeremoniarum, quo faciliter, et feliciter uti possunt in functione sacra, eum prae oculis, e praemanibus tenentes, et videntes. Ad usum P.N.Rmi. Domini Fr. Antonii a Sancta Clara Domni Abbatis Generalis utriusque Congregationis Lusitanae, ac Americanae, et successorum ejus. Ac etiam omnium DD. Abbatum Benedictinorum, Anno

1757.

3 O Mosteiro de S. Bento da Vitória – Quatrocentos anos, Porto, Arquivo Distrital do Porto, 1997. A entrada de catálogo

nº 18, p. 128, respeita a uma obra impressa de Frei Bento de São Luís – Vita et Miracula S. P. Benedicti Monachorum

Patriarchas – onde se refere ter sido Sacristão mor do Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa.

4 Arquivo do Mosteiro de São Bento de Singeverga, caixa 22, livro 2, Arvore Benedictina, f. 1, “A letra é de Frei

Bento de S. Luís, natural de Braga (ver Barbosa).

5 Machado, D. B., Bibliotheca Lusitana Historica, Critica, e Cronologica, Lisboa Occidental, of. António Isidoro da

Fonseca, 1741.

6 Machado, D. B., Bibliotheca Lusitana Historica, Critica, e Cronologica, Lisboa Occidental, of. António Isidoro da

data de baptismo, o nome dos pais, o local e a idade de pia com que recebe o hábito Beneditino, e as casas onde faz a sua formação, atribuindo-lhe uma inclinação para a poesia dita vulgar cómica, e indicando alguns títulos7.

Procurou-se confirmar alguns destes dados.

Trata-se de Bento Marques Ferreira, cujo baptismo pelo Padre Leonel da Silva se confirma ter sido na Sé, e a 27 de Fevereiro, mas de 1693 e não de 16978. Os pais eram Amaro Ferreira, sapateiro, e sua mulher Magdalena Antónia, da rua dos Sapateiros em Braga, tendo sido padrinhos o Padre Luís Ferreira, da freguesia de Ferreiros, e Mariana Ferreira, viúva de Manuel Alvares, mercador da rua Nova9.

A confusão com o ano do baptismo poderá talvez justificar-se por ter sido nesse ano baptizado um irmão de Bento, Inácio, a 30 de Julho, tendo como padrinhos o Padre Bento Alvares da Cruz de Pedra e Tomazia Marques, mulher de Joseph Fernandes da ponte da Corcova10.

Em relação a Bento Marques Ferreira existem no Arquivo Distrital de Braga, pelo menos, dois processos distintos relacionados um com a Igreja Arquidiocesana de Braga11, e outro com a Congregação de São Bento de Portugal12.

Bento Marques Ferreira teria assim em 1720, junto do Provisor da Arquidiocese de Braga pedido a sua admissão a ordens, e em 1723, junto do Abade Geral da Congregação de São Bento de Portugal, pedido o hábito Beneditino.

O pedido de admissão a ordens inclui uma justificação de genere de fraternidade datada de 19 de Agosto de 1720, onde ficamos a saber que Bento Marques Ferreira era familiar13 do Bispo Coadjutor do Arcebispo de Braga, e já teria sido admitido a ordens, sendo irmão do Padre Veríssimo Ferreira Marques, Abade de Santo Adrião de Vizela14. No processo, ficamos a saber igualmente o nome dos avós paternos, João Fernandes e Justa Ferreira da rua da Ponte de Guimarães, freguesia de S. Vítor em

7 Machado, D. B., Bibliotheca Lusitana Historica, Critica, e Cronologica, Lisboa Occidental, of. António Isidoro da

Fonseca, 1741, Tomo I, p. 506, teria sido baptizado na Sé em 27 de Fevereiro de 1697, sendo os seus pais Amaro Ferreira e Magdalena Marques. Teria recebido o hábito no Mosteiro de São Bento da Vitória no Porto em 27 de Janeiro de 1723, estudando Filosofia no Mosteiro de São Miguel de Refoios, e Teologia no Mosteiro de São João Baptista de Arnóia. Teria escrito trinta Operas com histórias sagradas e profanas. Indica apenas duas obras :

Romaria ao monte santo, ou nova Jerusalém restaurada pelo Arcebispo Primaz D. Rodrigo de Moura Telles repartida em doze Estaçoens a doze Passos de Christo que naquelle lugar se venerão em doze Capellas, e o Officio de Santa Gertrudes,

Lisboa, 1739.

8 Arquivo Distrital de Braga, registo de baptizados, nº 327, f. 59. 9 Arquivo Distrital de Braga, registo de baptizados, nº 327, f. 59. 10 Arquivo Distrital de Braga, registo de baptizados, nº 327, f. 79v. 11 Arquivo Distrital de Braga, Inquirições, pasta 1379, processo 31177.

12 Arquivo Distrital de Braga, Congregação de São Bento 57, Livro das Inquirições dos Noviços desta Congregação

de S. Bento.

13 Silva, A. M., Diccionario da Lingua Portugueza, Lisboa, Empreza Litteraria Fluminense, 1891, volume II, p. 13, define

familiar como pessoa da família, que é da casa; famulo, servo, criado. Reycend, J. B., O Sacrosanto, e Ecuménico

Concilio de Trento em Latim e Portuguez, Lisboa, oficina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 1781, tomo II, p. 180

e 181, traduz familiarem Episcopus por domestico do Bispo.

freguesia15.

Bento Marques Ferreira era familiar16 do Bispo Coadjutor há quatro anos, e desejava conseguir o estado de Sacerdote, sendo este Bispo coadjutor Dom Luís Alvarez de Figueiredo, Bispo de Uranópolis17.

Em 1723 surge uma inquirição, datada de 6 de Janeiro, por parte da Congregação de São Bento de Portugal a Bento Marques Ferreira como pretendente ao hábito Beneditino, onde se regista que era modesto, asseado, e muito virtuoso, não tendo sido noviço nem professo nem expulso de outra Congregação, e não era taful, nem turbulento, mas antes benigno e afável, pretendendo o hábito para melhor servir a Deus e não por qualquer motivo temporal e humano18. A decisão de admissão está datada de 11 de Janeiro de 172319, e toma o nome religioso de Bento de São Luís.

Barbosa Machado na obra citada, refere que o hábito foi tomado no Mosteiro de São Bento da Vitória do Porto, informação que não foi ainda possível confirmar, tal como com a respeitante aos anos de formação nos Mosteiros de São Miguel de Refóios e de São João Baptista de Arnóia.

No Capítulo Geral de 1743, na sessão de 4 de Julho é eleito para Abade do Mosteiro de São João Baptista de Arnóia, o Padre Pregador Frei Bento de São Luís20. 15 Arquivo Distrital de Braga, Inquirições, pasta 1379, processo 31177, f. 2 e 3.

16 O estatuto dos familiares dos Bispos é um tema que merece lugar no índice do Concílio de Trento, Reycend, J.

B., O Sacrosanto, e Ecuménico Concilio de Trento em Latim e Portuguez, Lisboa, oficina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 1781, tomo II, Familiares Episcopi quales, sessão 24; p. 182, 183, quando ab illis ordinari possunt, sessão 23, capítulo 9 – Não possa o Bispo ordenar algum familiar seu, que não he seu súbdito, sem ter morado com elle tres annos; e lhe dará logo re ipsa algum Beneficio, sem fraude alguma, sem obstar costume algum, ainda que memorial, em contrário; reditibus Ecclesiarum non augendi, sessão 25, Decretum De Reformatione, p. 408 e 409, capítulo I – Os Cardeaes, e todos os Prelados Ecclesiasticos pratiquem modéstia nas alfaias, e na meza; e não enriqueção seus parentes, e familiatres como os bens da Igreja.

17 Arquivo Distrital de Braga, Inquirições, pasta 1379, processo 31177, f. 3 e 6. Na obra Fastos Episcopaes da Igreja

Primacial de Braga, Braga, edição da Mitra Bracarense, 1928, tomos I, II, e III, o Cónego J. A. Ferreira, por diversas

vezes refere este Bispo Coadjutor, tomo I, p. 5; tomo II, p. 381; tomo III, p. 258, 264 e 265. Nascido na freguesia de Matheus, Vila Real, era filho de Manuel Alvares de Carvalho, e de sua mulher Dona Francisca Antunes. O Dr. Luís Alvares de Figueiredo, fora Abade de São Miguel de Entreambos os Rios e Vigário Geral da Arquidiocese de Braga. Apresentado por Dom Rodrigo de Moura Telles a D. João V, entre mais dois outros candidatos, para a posição de Bispo Coadjutor, foi o escolhido pelo monarca, sendo a escolha participada ao Cabido Bracarense em Fevereiro de 1716. Confirmado pelo Papa Clemente XI, foi sagrado no Convento da Graça em Lisboa em Novembro de 1716 pelo Bispo do Porto, D. Tomás de Almeida, sendo assistentes o Bispo de Angola D. Frei José de Oliveira, e o Bispo titular de Tagaste, D. Manuel da Silva Francês. Chegado a Braga teria sido nomeado para Presidente da Relação e Reitor do Seminário. D. Luís Alvares de Figueiredo era correspondente da Academia, e seria responsável pela recolha de informações e documentos enviados para a Academia por parte da Arquidiocese de Braga, correspondendo aos códices 143 e 144 da Biblioteca Nacional. D. Luís Alvares de Figueiredo, em conjunto com o Cónego António Felgueira de Lima, fabriqueiro da Sé Primaz, e o Padre António de Mariz Faria, teria sido igualmente o responsável pela revisão ou reforma do Breviário Bracarense de 1724. Em Fevereiro de 1724 o Papa Bento XIII vai prover D. Luís Alvares de Figueiredo no Arcebispado da Baía. O novo Arcebispo deixa Lisboa em Maio de 1725, chegando á Baía em Novembro. Morre na Baía em Agosto de 1735, estando sepultado na Catedral.

18 Arquivo Distrital de Braga, Congregação de São Bento 57, Livro das Inquirições dos Noviços desta Congregação

de S. Bento, f. 132 a 136v.

19 Arquivo Distrital de Braga, Congregação de São Bento 57, Livro das Inquirições dos Noviços desta Congregação

de S. Bento, f. 137v.

20 Arquivo Distrital de Braga, Congregação de São Bento, Actas Capitulares, pasta 314, Capítulo Geral de 1743,

vai receber uma chamada substatoria, por parte do Núncio Apostólico em Lisboa, que o mantém como Geral mais quatro meses, e em Agosto do mesmo ano segunda substatoria com novo e idêntico adiamento, e em Novembro uma terceira, com adiamento sem limitação de tempo21. A situação vai manter-se cerca de dois anos e meio, e o Capítulo Geral seguinte realiza-se apenas em Outubro de 1748. Estas circunstâncias vão manter Frei Bento de São Luís no abaciado do Mosteiro de São João de Arnóia entre 1743 e 1748, num período de quase dois triénios sucessivos. É durante o primeiro abaciado que Frei Bento de São Luís executa um livro de mão para Pontifical para o Abade de Arnóia.

Datado de 1749 temos o manuscrito Arvore Beneditina22, que a confirmar-se a atribuição a Frei Bento de São Luís, inclui a referência a ter sido o autor Sacristão mor no Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa23. Esta obra testemunha, entre outros aspectos, do envolvimento da Congregação de São Bento de Portugal nos meados do séc. XVIII em questões que se podem ligar com o esplendor do culto, e com as excelências, prerrogativas e singularidades da Ordem.

No âmbito da liturgia podemos encontrar a preocupação de historiar o contributo de filhos do Patriarca São Bento, com referências a cerimónias, ritos e solenidades, ligadas com o Ofício Divino, a Missa, mas também festas e devoções.

Por exemplo em relação ao Ofício Divino, esse contributo vem designado segundo várias fórmulas, como: o adorno, o aumento, a autoria, a composição, a disposição, a escrita, a instituição, a invenção, o mandar dizer, a ordenação.

No caso das devoções surgem fórmulas complementares: o começo, a introdução, a promoção, a restituição.

Quanto às excelências, prerrogativas e singularidades da Ordem surgem referências a contributos de filhos do Patriarca São Bento nas grandezas, isenções, e privilégios. No que respeita aos privilégios por exemplo, as fórmulas usadas incluem: conceder, dar, decretar, enriquecer, libertar, sustentar, ter regalias.

No estado para Capítulo Geral do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro de Abril de 1755, Frei Bento de São Luís surge como Abade deste Mosteiro24.

Datado de 1757 temos o Manual das Cerimónias para a Missa Pontifical, para uso do Abade Geral da Congregação de São Bento de Portugal, em que o autor assina e indica o seu emprego como Procurador Geral na Cúria Primacial de Braga.

No capítulo Geral de 1758, nas advertências surge menção ao Procurador Geral de Braga25. Na memória que o Frei Bento de São Luís apresenta ao Capítulo Geral de 21 Aquino, Fr. T., Elogios dos Reverendissimos Abbades Geraes da Congregação Benedictina do Reino de Portugal e Principado

do Brazil, Porto, Oficina de Francisco Mendes Lima, 1767, p. 350.

22 Arquivo do Mosteiro de São Bento de Singeverga, caixa 22, livro 2, f. 2 – Arvore Benedictina, que não só dá

fructos todos os mezes; mas todos os dias. Transplantada por hum devoto de S. Bento à devoção dos que curiosos, e atrahidos da suavidade dos seus nomes se inflamão nas grandezas de Arvore tão ilustre. Anno de 1749.

23 Arquivo do Mosteiro de São Bento de Singeverga, caixa 22, livro 2, f. 4.

24 Arquivo Distrital de Braga, Congregação de São Bento, Estados dos Mosteiros, Pombeiro, pasta 121, Capítulo Geral

de 1755, f.1.

segundo prescrevem os Cerimoniais, de cortinas de chita adamascada para cobrir o retábulo mor, um pavilhão de seda para o sacrário, uma armação de oleados para a parede, uma banqueta acharoada para o altar, vidros para as cornucópias dos anjos que alumiavam o Santíssimo26.

Entre 1764 e 1773 o nome de Frei Bento de São Luís vai figurar entre os Monges con- ventuais no Mosteiro de Santo André de Rendufe, com a indicação de Sacristão mor.

No estado para Capítulo Geral do Mosteiro de Santo André de Rendufe em 1770, nas obras surge menção se fazer uma urna com escadas douradas e pintadas, mandada fazer por Frei Bento de São Luís do seu pecúlio27.

Frei Bento de São Luís teria morrido no triénio de 1777, conforme à indicação no

Livro de Rezam de Frei José de Santo António Ferrreira Vilaça28, mais precisamente em 177929.