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A Mitra50

“A mitra tem muitos nomes; porque Enodio lhe chama Coroa sagrada, Amiano Marcellino Coroa de gloria, e outros muitos nomes tem, como se podem ver no Vocabulario Ecclesiastico, pag. 264; e em Tamborino, de jure Abbate, tomo I, disp. 20 quaest. I, numero 3. A forma da Mitra se tomou da Mitra de São Silvestre, que está em Roma em a Igreja de São Martinho dos Montes, a qual he aguda, e tem hum palmo de alto, e he lavrada de ouro; uzam della os Prelados, para que mais os honrem; porque julga a ignorância do mundo por mais digno de veneração ao que ve com maior ornato, conforme aquillo: Hunc decorant homines, quem vestimenta

decorant, Gloss. In cap. Ut Apostolicae de privil. Lib 6.

Dizem muitos, que a Mitra significa a coroa de espinhos, e por isso o Diácono a põem ao Pontífice, dizendo Missa, porque o Pontífice celebrando significa a Christo Senhor nosso em a paixão, e dizem mais, que as duas pontas da Mitra significão os dous preceitos da charidade para com Deos, e para com o próximo; e as duas partes, em que he aberta por sima significão os dous Testamentos Velho, e Novo, de que se compõe a Sagrada Escriptura, e os dous pendentes, que se setendem sobre os hombros são símbolo das letras, e do espírito, que estão em a mesma Escriptura Sagrada, do que se segue que os Prelados, que tem o uso da Mitra, devem ter sciencia dos dous Testamentos, que significão as duas partes, em que a Mitra se divide, e devem, pondo a na cabeça, apartar os sinco sentidos das cousas do mundo, e observar os preceitos dos dous Testamentos, e guardar os dous preceitos da charidade para Deos, e para o próximo, porque em observância destas disse Christo Senhor nosso que consistia a observância de toda a sua Lei: In his duobus tota lex pendet.”

O Anel51

“O anel, de que uzão os Prelados, tem este nome tomado da redondeza, que tem; em latim he Annulus, diminutivo da palavra Annus, que se compõem de Am, 48 Arquivo Distrital de Braga, Congregação de São Bento, Estados dos Mosteiros, Pombeiro, pasta 121, Capítulo Geral

de 1755, f.19.

49 Arquivo Distrital de Braga, Congregação de São Bento, Estados dos Mosteiros, Pombeiro, pasta 121, Capítulo Geral

de 1755, f.12.

50 Santo António, Fr. M., Pontifical Monástico da Congregação do Príncipe dos Patriarchas São Bento deste Reino de Portugal,

Coimbra, Real Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1730, p. 2 e 3.

51 Santo António, Fr. M., Pontifical Monástico da Congregação do Príncipe dos Patriarchas São Bento deste Reino de Portugal,

Circumfluo. Para os antigos o Anel era o mesmo, que sinete, porque em o Anel tinhão

o sinete para quando escrevião, e trazião o Anel no dedo por sinal de honra; e os Romanos, que erão nobres, uzavão de Anel de ouro, e os plebeos de Anel de prata, e os escravos de Anel de ferro. Hoje não he licito aos Ecclesiasticos trazerem Anel de ouro, não sendo Bispos, ou Prelados, como são os Abbades, os que tem dignidade Ecclesiastica, ou Doutores; porem com esta differença, que os Bispos, e os Prelados, que tem o uso das insígnias Pontificaes, podem usar de Anel dizendo Missa: porem os que são constituídos em alguma dignidade Ecclesiastica, como são os que tem dignidades em as Cathedraes, os Conegos em as mesmas Cathedraes, Protonotarios, e Doutores, em quanto disserem Missa, não podem usar de Anel, o que muitas vezes prohibio a Sagrada Congregação, como tem Gavanto, parte 2, titulo 1, numero 6, Biss.

Verbo Annulus numero 373 citados por Cleric. De sacrifcio Missae decif. 49, numero

47, em o qual se podem ver muitas mais couzas, que dis do Anel; e Panormitano in cap. Clerici de vita, et honestate Cleric. Numero 6 dis que do mesmo modo, que o Anel se da a espoza em sinal do matrimónio, assim também se da aos Prelados em sinal do matrimónio espiritual. Moscon. Capitulo 8 vers. Item Annulus pag. 233 dis que o Anel se da aos Prelados para honra da dignidade Pontifícia. Tamborino de

jure Abbat. Tomo 1, disp. 20, quaest. 1, numero 5, dis que o Anel em os Abbades

significa a integridade da fé, que devem guardar a Igreja sua Espoza, amando-a, e guardando-a; e por isso o Anel se põe em o quarto dedo da mão esquerda, porque do coração vem a este dedo huma vea.”

A Cruz Peitoral52

“A cruz pectoral, de que uzão os Prelados pendente em o peito, he para significar, o que dis o Apostolo São Paulo: Glorificate, et portate Deum in corpore vestro. Quando o Prelado põem, e tira a Cruz, a beija para significar, que cre, e confessa a paixão de Christo Senhor nosso, pois para reprezentar esta em o officio da Missa se aparelha.”

Para além destas insígnias que vem referidas na intervenção do abaciado de Frei Bento de São Luís ao longo de cinco anos no Mosteiro de São João de Arnóia, e de três anos no Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, podemos referir o báculo.

Os Abades Beneditinos, para além destas insígnias tem privilégio para usar de Docel53.

52 Santo António, Fr. M., Pontifical Monástico da Congregação do Príncipe dos Patriarchas São Bento deste Reino de Portugal,

Coimbra, Real Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1730, p. 8.

53 Santo António, Fr. M., Pontifical Monástico da Congregação do Príncipe dos Patriarchas São Bento deste Reino de Portugal,

“Como pode haver duvida especial sobre se podem os Abbades Benedictinos fazendo Pontifical usar de docel […] A duvida, que se pode por ao uzarem os Abbades de docel […] se funda em hum decreto que a Sagrada congregação passou a 28 de Janeiro de 1606, a instancia do Arcebispo de Tirmano, em que deo certas regras, para que conforme estas fizessem os Pontificaes os Abbades, e os mais Prelados, que para o fazerem tinhão privilegio: e mandou a Sagrada Congregação, que fazendo Pontifical tivessem o seu assento, e cadeira em o Presbiterio da parte do Evangelho sobre dous degraus baixos, e sem docel, e só terião por de trás da cadeira hum pano da cor do ornamento, que pedisse a solemnidade, sem ouro, nem prata; […] este decreto especialmente foi contra o Prior do Mosteiro de Santa Catharina dos Conegos Regulares Lateranenses; poucos annos depois se tornou a levantar huma contenda sobre a mesma materia entre o Arcebispo de Nápoles, e o Abbade de São Severino; e a mesma Sagrada Congregação em 27 de Março de 1617 confirmou o decreto, que havia passado contra o Prior do Mosteiro de Santa Catharina, e o extendeo para todos os Abbades; e para todos os que tivessem o privilegio para uso dos Pontificaes, o que visto paresse que comprehende aos Benedictinos, e que estes não podem usar de docel […] Porem não obstante o dito decreto, digo que os Abbades Benedictinos podem usar de docel fazendo Pontifical […] porque depois que a Sagrada Congregação o confirmou comprehendendo nelle todos os Abbades, recorrerão os Cassinenses à Sagrada Congregação representando, que a confirmação de decreto era prejuízo dos privilégios da Religião Cassinense, e descutido o ponto com mais consideração, a mesma Sagrada Congregação em 12 de Março de 1618 resolveo que o decreto de 1617 se não entendia com os Cassinenses, e que estes podião licitamente usar de docel, e fazer os Pontificaes com aparato na forma do seu antiquíssimo costume; e supposto, que depois de passado hum anno o Arcebispo de Florença supplicasse à Sagrada Congregação, que prohibisse, que os Abbades Cassinenses, Caladulenses, e Olivetanos uzassem de docel […] por ser em prejuízo da sua dignidade Archiepiscopal, a Sagrada Congregação aprovou o decreto de 1618, e respondeo que os Abbades destas congregaçoens podião usar de docel”.