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Artistas e artífices em Pernambuco nos séculos XVII e XVIII e a possível mobilidade para a Paraíba

A partir deste período de reconstrução, após a expulsão holandesa, passam a ser escassas as informações sobre os artistas e artífices atuantes na Paraíba, o que leva a buscar parâmetros para compreensão desta produção na mão-de-obra disponível em Pernambuco, na mesma época. Um dos aspectos que indica ter havido esta correlação na produção arquitetônica/artística nas duas capitanias é a ação dos engenheiros militares nestas duas capitanias.

Cristóvão Álvares, nascido na Vila de Redondo, no Alentejo, provavelmente já se encontrava em Pernambuco, trabalhando na construção do Forte do Mar do Recife, entre 1608 e 1612. Há notícias, também, da sua atuação na fortificação das capitanias da Paraíba e Rio Grande do Norte, nos fortes do Cabedelo e dos Reis

11 RICARD, Robert – Algunas Ensenanzas de los documentos inquisitoriales del Brasil 1591-1595. In Anuário de

Estudios Americanos. Tomo V. p. 705-715. Apud. MELLO, José Antônio Gonçalves de – Antônio Fernandes de Matos 1671-1701. Recife: Edição dos Amigos da DPHAN, 1957, p.12.

militares, sendo conhecidos outros que lotados em Pernambuco, prestavam serviços nas capitanias vizinhas.

Nome Data de

referência

Obras de referência

BARRETO, Diogo Pais 1629 Forte do Brum – Recife COUTINHO, João 1649 – 1676 Fortificações de Pernambuco ESTEVENS, José Pais 1686

1696 Nomeado capitão engenheiro de PernambucoAula de Fortificação na Bahia OLINDA, Manoel

Gonçalves 1606 Convento franciscano de Ipojuca e do Recife PINTO, Antônio Correa 1668 – 1690 Forte do Brum – Recife

REBELO, Pedro Correa 1694 Nomeado sargento-mor engenheiro de Pernambuco

Uma vez que somente em 1716 foi criado o posto de capitão engenheiro da Paraíba, até então, era de Pernambuco que estes vinham para assistir, em particular, as obras de fortificação da capitania.

Em 1681, o Conselho Ultramarino ordenou ao engenheiro João Alves Coutinho que fosse à Paraíba, reparar a fortaleza do Cabedelo.14 A partir de 1689, surge o nome do engenheiro José Pais Esteves intervindo na reedificação da mesma fortaleza, sendo considerável a sua atuação na Paraíba, até o ano de 1692, quando foi remanejado para a Bahia. Nos últimos anos do século XVII, o sargento-mor engenheiro, Pedro Correa, passou a assistir as obras da fortaleza do Cabedelo.15

A mesma mobilidade é apontada para os religiosos das ordens monásticas. Já no século XVI, constata-se que estes religiosos atuavam em casas situadas em diversas capitanias, fato que continua a ocorrer na centúria seguinte, como demonstra o quadro abaixo.16

Nome Ofício Data de

referência Natural Lugar onde trabalharam 16 ÁLVARES

Pedro S.J. mestre de obras 1586-1636 Minho Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco BOAVENTURA

Pedro de São O.F.M.

carpinteiro 1589-1634 Vila Real Olinda / PE CAMPO MAIOR

Antônio de O.F.M. mestre de obras 1588-1601 Elvas Olinda, Igaraçu / PEParaíba

13 MARTINS, Judith – Op. Cit. p. 5-16. Em Pernambuco, Cristóvão Álvares trabalhou na construção do Forte do

mar, em Recife, e na Sé de Olinda, entre outras obras.

14 A.H.U. – ACL_CU_014, Cx. 2, Doc. 114. 15 MOURA FILHA, Maria Berthilde – Op. Cit. p. 290.

16 Para conhecimento sobre estes religiosos são fonte de pesquisa: LEITE, Serafim – Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil.

referência trabalharam 16 COSTA

Luís da S.J. escultor 1688-1739 Lisboa Recife, Olinda / PEBahia DIAS

Francisco S.J. arquiteto 1562-1633 Alenquer Rio de Janeiro, Bahia,Santos / SP, Olinda / PE LUÍS

Afonso S.J.

carpinteiro 1603-1656 Penafiel Olinda, Goiana, Itambé / PE TRIGUEIRO

Domingos S.J. entalhador 1671-1732 Ponte de Lima Bahia, Espírito Santo XAVIER

Domingos S.J. entalhador 1681-1732 Tomar Bahia, Espírito Santo, Pernambuco

Além destes engenheiros e religiosos, a Sra. Judith Martins arrolou em seu dicio- nário diversos artífices e artistas que trabalharam em Pernambuco, entre a segunda metade do século XVII e o século XVIII.

Este levantamento nos indica, também, quais eram as obras em que atuavam estes homens. Trata-se de um dado de grande valia para subsidiar a hipótese aqui levantada quanto à existência de um “percurso de produção artística” possível de haver existido entre as capitanias de Pernambuco e Paraíba. Considerando apenas a participação em obras ligadas à ordem franciscana, estavam estes artífices envolvidos na construção dos conventos existentes em Recife, Igaraçu, Olinda e Ipojuca, e também na capela dourada da Ordem 3ª de São Francisco do Recife. Diante disso, abre-se espaço para pensar na possível circulação destes homens através das obras em andamento naquele momento, tanto em Pernambuco quanto na Paraíba.

O percurso histórico que estas duas capitanias vivenciavam aquela época reforça esta possibilidade, observando-se que um grande número de edificações se encontrava em obras de recuperação, ou em construção, após a retomada do poder português na região, bem como no século XVIII, o qual foi um período prolífero em obras, segundo pode-se depreender da relação apresentada a seguir.

RECIFE 1679 1728 início do séc. XVIII 1696 1700 início do séc. XVIII 1696 1686 1753-1790 1662 1725-1757

Ig. Da Madre de Deus Ig. São Pedro dos Clérigos Ig. De N. Sra. do Terço

Ig. E convento de N. Sra. do Carmo Ig. De Santa Tereza da Ordem 3ª do Carmo Convento franciscano de Santo Antônio Capela dourada da ordem 3ª de S. Francisco Ig. Do Divino Espírito Santo

Ig. Do S. Sacramento de Santo Antônio Ig. Do Rosário dos Homens Pretos Ig. De N. Sra. da Conceição dos Militares OLINDA 1662

1661-1662 1688-92 1665 c. 1704

Convento franciscano de N. Sra. das Neves Ig. De N. Sra. da Graça (jesuíta)

Ig. E mosteiro de São Bento Ig. Da Misericórdia

Ig. Do convento de S. Antônio do Carmo IGARAÇU séc. XVII

1661 até séc. XVIII 1742 – 1768 c. 1774 séc. XVII

Ig. De São Cosme e Damião

Convento Franciscano de Santo Antônio Ig. E convento do Sagrado Coração de Jesus Capela de N. Sra. do Livramento

Ig. De São Sebastião GOIANA 2ª metade do séc. XVIII

séc. XVIII 2ª metade do séc. XVIII c. 1733 e final do séc. XVIII 2ª metade do séc. XVIII séc. XVIII 1679

Ig. De N. Sra. do Rosário dos Homens Brancos Ig. De N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos Ig. De N. Sra. da Conceição

Ig. Da Santa Casa da Misericórdia Ig. De N. Sra. do Amparo Ig. E convento da Soledade

Convento de Santo Alberto e Ordem 3ª do Carmo PARAÍBA c.1657 1778 1722 1718 1682 1697 1729-1741 1767

Ig. E mosteiro de São Bento Ig. E mosteiro dos carmelitas

Ig. De S. Tereza da Ordem 3ª do Carmo Ig. E convento dos franciscanos Ig. E colégio dos jesuítas

Ig. De N. Sra. do Rosário dos Pretos Ig. De N. Sra. das Mercês

Ig. De N. Sra. Mãe dos Homens

Verificando esta extensa produção arquitetônica na região, ocorrida entre a segunda metade do século XVII e o século XVIII, logo se apercebe a grande necessidade de mão-de-obra qualificada para a execução das mesmas, requerendo toda sorte de artífices e artistas, muitos já identificados no dicionário organizado pela Sra. Judith Martins. Analisando os resultados por ela obtidos, constata-se a predominância de pedreiros e carpinteiros, em número de 34 e 30, respectivamente. Mas também constam 18 entalhadores, 14 pintores, 12 ourives, 7 marceneiros, 2 fundidores, entre outros artífices. Estes números, possivelmente, devem representar o maior refinamento estético que as obras deste período estavam ganhando.

informações. Entre os poucos que têm suas origens identificadas constam os ourives, Matias Cohen e Moisés Neto, portugueses, que no ano de 1635, pediram licença para passar ao Brasil como burgueses, para ali viverem de seu ofício. Quantos mais chegaram a Pernambuco seguindo este percurso? Trata-se de um dado a ser investigado.

É este o quadro até o momento identificado sobre estes homens que, em Pernam- buco, deixaram lavrados, sob diversas formas de expressão, os seus fazeres. Enquanto na Paraíba predomina o desconhecimento.

Diante do exposto, acredita-se estar perante uma investigação que virá a frutificar, com possibilidade de tirar do anonimato muita da produção artística de Pernambuco, e particularmente da Paraíba, revelando não só os nomes dos seus autores, mas na expectativa de conhecer um pouco mais da história destes homens. Buscam-se agora os caminhos a trilhar para o resgate desta história, procurando diretrizes norteadoras para a investigação, localizando os possíveis fundos de pesquisa documental e de bibliografia subsidiária.