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Conhecendo o espaço de circulação dos imaginários nas eleições investigadas, passa-se agora à etapa de investigação do objeto. A ATD será o ponto de partida para conhecer as expressões do imaginário pela mídia.

O material já apresentado foi desconstruído a partir do processo de unitarização, reordenado com a fase da categorização, fazendo a partir disto surgir as categorias que articulam os principais argumentos existentes na mídia em análise. Elas foram divididas nos apêndices em três emissores discurso

diferentes (jornal impresso, entrevista e propagandas partidárias) e que, em interlocução constante, dimensionam a guerra entre as categorias do imaginário em torno do comunismo, a reprodução de significados já vistos anteriormente e conhecidos no capítulo em que foram revisitados os principais imaginários que se repetiram ao longo do século XX em torno desta ideologia no Brasil.

É assim que, a partir das fases acima descritas, foi possível fazer emergir 49 subcategorias compreensivas dos textos do jornal O Estado do Maranhão, das entrevistas concedidas pelos dois candidatos à TV Mirante e dos programas publicitários dos candidatos do PMDB e PCdoB que foram ao ar entre 1º de junho de 2014 e 2 de outubro subsequente, organizadas na tabela a seguir:

Tabela 1 - Subcategorias que emergem do conteúdo de O Estado do Maranhão, programas eleitorais do PMDB e entrevistas à TV Mirante

N° Subcategorias que emergem dos textos do corpus

1. Flávio Dino foi um administrador corrupto, despreparado e incompetente 2. Administrações da mudança são lesivas ao erário público

3. Flávio Dino tem aliados corruptos e incompetentes

4. O comunismo do passado é atroz como Stálin, Mao Tsé Tung e Hitler 5. O comunismo atual é atroz, com a Venezuela de Chávez

6. Comunistas são capazes de tudo pelo poder

7. Flávio Dino está sempre na mira da Justiça e tem muito a explicar 8. Os financiadores de Flávio Dino estão ligados ao trabalho escravo

9. O projeto de mudança é falso e corresponde a um fracasso administrativo 10. Os comunistas são ateus

11. Comunistas trabalham contra a religião e tentam esconder

12. Flávio Dino é burguês disfarçado de comunista e age para privilegiados 13. Comunistas aparelham o Estado para atingir seus objetivos

14. Comunistas são falsos moralistas 15. Comunistas são incoerentes

N° Subcategorias que emergem dos textos do corpus

17. Comunistas usam instituições idôneas para atingir seus próprios interesses 18. Os comunistas têm marqueteiros que camuflam seu verdadeiro projeto de

poder

19. Comunistas assediam e tentam cooptar pessoas incautas para seu projeto de poder

20. Os comunistas não cumprem acordos e compromissos

21. Os comunistas sempre têm um discurso demagógico para tirar da manga 22. Comunistas adotam estratégias para se dar bem (esconder-se de

questionamentos e sabotar ações dos adversários) 23. O comunista esconde sua família desestruturada 24. Os comunistas atacam a família de seus adversários

25. O comunista expõe sua família para se beneficiar no jogo político 26. As ações dos comunistas não têm ética

27. Comunistas agem com oportunismo

28. Flávio Dino não respeita o próprio partido e tem postura furta-cor ideológica 29. Comunistas censuram, atacam liberdade de expressão e o bom jornalismo 30. Coincidência entre pesquisas eleitorais e atos de violência

31. Comunistas trazem estrangeiros/forasteiros para atuar no seu projeto de poder

32. Comunistas representam o passado e um fóssil

33. Maranhão é atacado para beneficiar seu projeto de poder 34. Os oposicionistas só sabem falar mal do Maranhão 35. Os comunistas não representam a verdadeira esquerda

36. Não reconhecem a boa realidade do Maranhão e mentem para iludir 37. Os comunistas adulteram informações e pesquisas eleitorais

38. Os comunistas atacam seus adversários

39. Os comunistas possuem aliados ocultos, dos quais se envergonham 40. Os comunistas possuem interesses superiores ocultos

N° Subcategorias que emergem dos textos do corpus 41. Comunistas respondem a chefes ocultos e um projeto maior 42. Comunistas são aproveitadores e não merecem confiança

43. Comunistas traem e submetem seus aliados, pois só pensam em seu projeto de poder

44. Os chefões do comunismo estão por trás de graves atos de violência 45. Comunistas infiltram aliados em movimentos idôneos e na sociedade civil 46. Comunistas estão infiltrados no sistema de Segurança do Estado

47. Comunistas são semeadores do caos 48. Comunistas são dissimulados

49. Flávio Dino perde o controle quando vê se projeto ameaçado Fonte: A autora (2018)

As subcategorias configuram-se como chaves de compreensão fornecidas pelos textos pinçados ao longo dos meses de junho, julho, agosto, setembro e início do outubro. Elas são ideias que aparecem, reaparecem e repetem-se ao longo dos meses de observação dos textos políticos contidos no matinal maranhense.

Elas se caracterizam por expressarem ideias emergentes da leitura dos textos e, em seguida, devem ser reagrupadas em conjuntos maiores que congreguem algumas dentre elas. Na ATD, contudo, deve-se caminhar no sentido de uma integração ainda maior das ideias centrais que emergem dos textos. Estabelecem-se, desta forma, as categorias gerais que se constroem a partir da aglutinação das subcategorias, que podem ser estabelecidas a priori ou emergirem da análise textual, reunindo o que há em comum entre as compreensões emanadas dos textos.

[A categorização] Corresponde a simplificações, reduções e sínteses de informações de pesquisa, concretizadas por comparação e diferenciação de elementos unitários, resultando em formação de conjuntos de elementos que possuem algo em comum (...) possibilitando o início de um processo de teorização em relação aos elementos investigados (MORAES; GALIAZZI, 2007, p. 75).

Para tanto, os passos teóricos realizados até aqui possibilitaram o estabelecimento de algumas categorias a priori, visto que pertencem aos estudos do imaginário sobre o comunismo no Brasil. A partir das leituras realizadas nos capítulos anteriores, estabelecem-se sete categorias do imaginário sobre o comunismo observadas historicamente no país.

No entanto, os processos de unitarização e reordenação fazem emergir duas novas categorias cruciais para compor o fenômeno analisado: o comunista corrupto e o fracasso administrativo. Em consonância com as subcategorias e com o percurso teórico-metodológico descrito até aqui, encontram-se organizadas em nove temas gerais:

Tabela 2 - Categorias aglutinadoras do imaginário sobre o comunismo Categorias a priori e emergentes

I O discurso demagógico ou o herói que decepciona II O ateísmo fantasiado ou o falso religioso

III Uma patologia social

IV A violência como modus operandi verbal e de ação V O anti-maranhense, os infiltrados e a ameaça ao estado VI A realidade escondida

VII Contra a moral e os bons costumes VIII A corrupção que ameaça

IX Não funciona no capitalismo: a farsa da mudança comunista Fonte: A autora (2018).

São estas categorias aglutinadoras que nortearão o produto final da ATD, ou seja, a produção de metatextos responsáveis por reunir os principais argumentos que compõem o conjunto sob análise. Os metatextos originados pela pesquisa dialogam diretamente com o arcabouço teórico visitado nas páginas anteriores em torno do imaginário político sobre o comunismo no Brasil. Por diferença e repetição, faz também emergir a novidade dentro de cada novo texto.

Um ponto em relação ao qual toda repetição faz diferença: todo imaginário é diferença na repetição e repetição na diferença. (...) é uma narrativa que se repete como diferença. Jamais é o mesmo. Reinventa-se ao repetir-se. Repete-se ao renovar-se. Não se pode atualizar o imaginário sem gerar, ao mesmo tempo, essa sensação de eco e de novidade. Aquilo que ecoa soa como uma nova mensagem (SILVA, 2017a, p. 86-87).

Não apenas surgem duas novas categorias, como também integram-se novas formas de comunicar antigas expressões desse imaginário. Adiante, vê- se de que modo o comunista buscou atribuir novos significados (e reativar afetos pouco explorados no Brasil), com viés positivo, à filiação, ao partido e à ideologia da sigla.

6.3 RESSIGNIFICANDO A IDEOLOGIA: PRESENÇAS E AUSÊNCIAS NO