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Uma das principais características do objeto em estudo está na concentração da propriedade dos meios de comunicação nas mãos de um mesmo grupo político-partidário. Este elemento é responsável por acentuar o poder de agendamento de temas eleitorais do interesse dos proprietários da mídia, como fica claro no cruzamento das estratégias dos programas partidários ao noticiário político.

Sabendo que a análise deve caminhar sempre com a integração com o contexto em que os textos foram produzidos e circularam, precisa-se esclarecer quais as circunstâncias de produção midiática em que o objeto está inserido. Para melhor compreensão da ambiência é necessário, portanto, que se entenda a ecologia dos meios de comunicação no Maranhão em 2014 e o modelo em que essas tecnologias do imaginário estão organizadas e disponíveis ao consumo na sociedade.

O cenário, no Maranhão, permanece de forte concentração da propriedade de mídia pelas famílias que ascenderam a posições político- partidários. Nas eleições em estudo, dois dos principais canais de TV, as emissoras de rádio de maior audiência e o jornal impresso com maior circulação na capital e no interior têm em seus quadros proprietários personagens diretamente interessados nas disputas eleitorais.

A TV Mirante, afiliada da Rede Globo, tem em seu quadro acionário Roseana Sarney, então governadora, filiada ao PMDB e ao final de seu 4º mandato no comando do Executivo, em sociedade com seus outros dois irmãos – José Sarney Filho e Fernando Sarney. A família também é dona da emissora de rádio de maior audiência, a Rádio Mirante, e do periódico matinal O Estado do Maranhão, que atualmente possui tiragem que oscila entre 10 mil e 16 mil exemplares (SOUSA, 2018, p. 3). Demonstrando a amplitude de tal sistema de

comunicação, Couto (2007, p. 137) relaciona ao menos 13 concessões de rádio e TV no Maranhão registradas em nome de familiares do ex-presidente Sarney. A TV Difusora, retransmissora da programação do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) em programação aberta, bem como as rádios AM e FM homônimas, pertencem a Edison Lobão, então ministro das Minas e Energia filiado ao PMDB. A empresa, no ano em questão, era administrada pelo próprio Lobão Filho, candidato à sucessão de Roseana, com quem divide a sigla de filiação partidária.

Todos os meios de comunicação citados possuem programação regional própria e também retransmissoras em cidades menores. Assim, no entendimento de Couto (2007, p. 161), os veículos organizam sua programação de modo a consolidar as estratégias eleitorais de seus proprietários. Eles funcionam como suportes de propagação de discursos que embasam a ação política de seus acionistas e diretores, que exercem cargos políticos desde meados da década de 1950, quando José Sarney assumiu pela primeira vez o posto de deputado federal em 1955 e fundou, em 1959, o Jornal do Dia posteriormente sendo rebatizado de O Estado do Maranhão.

A estrutura descrita para a ligação entre meios de comunicação e poder político reforça-se, como salienta Couto (2007, p. 167), pelas verbas publicitárias concedidas pelos poderes, seja estadual ou municipal. Propriedade privada e financiamento estatal combinam-se para reforçar as ações políticas de importantes personagens das disputas pelo poder (COUTO, 2007, p. 165) e servir como plataforma de um fazer híbrido de jornalismo-publicidade (SOUSA, 2018), com algumas diferenciações importantes:

O jornalismo da televisão tem menos espaço para ser político (embora o noticiário televisivo também seja político, com nuances mais leves). Já o jornal é completamente livre de amarras externas. A narrativa política elaborada pelo jornal é apropriada pelo noticiário da televisão (em menor intensidade) e pela cadeia de rádios (com maior intensidade e maior alcance, por ser a mídia que mais se aproxima de seu público – que não precisa saber ler para ter acesso a ele) (SOUSA, 2018, p. 3).

Mas eles não povoam sozinhos a ambiência das tecnologias do imaginário no Maranhão. Embora o modelo de circulação de conteúdo na mídia tradicional em outros meios de comunicação replique o quadro acima, há que se

notar a existência de alguns meios que não seguem a estrutura de reforço do discurso do grupo político representado pela candidatura de Lobão Filho e de resistência ao crescimento eleitoral do candidato comunista.

Três deles eram o impresso Jornal Pequeno, cuja editorialização é tradicionalmente contrária ao grupo liderado por José Sarney, o sistema TV Cidade, reprodutora do conteúdo da Rede Record nacional e a TV Guará. A Cidade também possui abrangência estadual, chegando ao interior do Estado, e de cuja sociedade participa o senador Roberto Rocha (PSB) que, naquela eleição, concorria ao cargo na chapa encabeçada pelo PCdoB. Já a TV Guará é a mais nova dentre as emissoras e retransmite conteúdo da Rede Record News. A TV vem de concessão pública recente e é de propriedade do empresário Roberto Albuquerque, cuja família não possui filiação partidária.

Junto a esta ecologia das mídias tradicionais une-se como importante lugar de busca por informação a ascensão dos blogs e redes sociais. No capítulo dedicado à descrição das novas configurações das disputas políticas no mundo contemporâneo, já salientamos um aspecto importante da nova esfera de discussão política com o advento das redes sociais e blogs.

Embora não façam parte do objeto empírico a ser investigado, faz-se necessário registrar que neste ambiente também houve a reprodução ou a releitura das estratégias do discurso político presentes no noticiário tradicional e nos programas eleitorais. Com a reprodução do conteúdo tradicional ou com a produção de seu próprio conteúdo, blogs e redes sociais também compuseram essa ambiência de circulação de narrativas, mitos e imagens relacionadas ao comunismo no século XXI no Maranhão.