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Antropologia, sociologia, trocas simbólicas, informação e moeda

2 OBJETIVOS E PRESSUPOSIÇÕES TEÓRICAS

2.5 Antropologia, sociologia, trocas simbólicas, informação e moeda

Em um artigo seminal da antropologia social, intitulado “Relações reais e práticas entre a 121Meaning as paraphrase thus shows us another way of identifying units of meaning. In this perspective, a unit of meaning is whatever we find paraphrases for in the discourse.

122Usage profiles can be handled efficiently by computers. Paraphrases, on the other hand, have to be interpreted. They have to be understood. This is something computers cannot do.

Psicologia e a Sociologia”123, Marcel Mauss (1924) concebe a sociedade como um sistema de trocas simbólicas, reciprocidades, valores e traduções:

São signos e símbolos as exclamações e as palavras, os gestos e os ritos, por exemplo, da etiqueta e da moral. No fundo, etiqueta e moral são traduções. Com efeito, elas traduzem primeiramente a presença do grupo […] As palavras, as saudações, os presentes solenemente trocados e recebidos, e retribuídos obrigatoriamente sob pena de guerra, que outra coisa são senão símbolos? (MAUSS, 1966[1924], p. 332-333)

“Sem reduzir a sociedade ou a cultura à língua”, tal abordagem prepara, escreve o antropólogo Claude Lévi-Strauss em sua “Antropologia estrutural”, uma “ 'revolução copernicana' […] que consistirá em interpretar a sociedade, em seu conjunto, em função de uma teoria da comunicação.” (LÉVI-STRAUSS, 2008[1958], p. 95).

Toda a questão é saber se as estruturas simbólicas são estruturas cognitivas objetivas, i.e. correspondem literal e exatamente à estrutura da realidade, ou se são segundo a expressão usada por Bourdieu “estruturas estruturantes”, i.e. que agem inevitavelmente sobre a realidade a medida que os atores a conhecem e a comunicam, modelando-a e construindo-a ativamente (embora não necessariamente voluntária ou conscientemente), em um desajuste constante com momentos mais ou menos ilusórios de acordo perfeito ou consenso.

Embora Lévi-Strauss afirme claramente que “o princípio de uma categorização nunca se postula: só a pesquisa etnográfica, isto é, a experiência, pode evidenciá-lo a posteriori” (1962, p. 79), ele pressupõe, na prática da pesquisa, segundo a crítica de Bourdieu em “Esboço de uma teoria da prática” (1983[1972]), que nos resultados finais o modelo de dados se

encontrará em ajuste perfeito com a realidade. Bourdieu constatou, em suas pesquisas antropológicas na Kabília argelina, que esse ajuste 'perfeito' nunca ocorre efetivamente. Observa-se sempre irregularidades irredutíveis ao modelo, que a análise dita estruturalista não explica e acaba excluindo dos dados e dos resultados (um pouco como se tudo que não cabe no modelo ou não é exatamente previsto por ele fosse anomalia, imperfeição, erro...).

Em suma, as trocas simbólicas não operariam ideal e automaticamente, segundo um modelo de regras predeterminadas (inconscientes ou não). Sempre há símbolos cuja irregularidade e imprevisibilidade obrigaria a admitir valores a posteriori, porque não preexistentes, não previstos pelo modelo. Tornam constante na troca comunicacional a dimensão prática da negociação, a qual por sua vez implica uma relação de forças, portanto 123Rapports réels et pratiques de la psychologie et de la sociologie.

um papel ativo e não neutro do ator na construção das estruturas sóciossimbólicas. O que está em jogo, ao fim e ao cabo, nessa discussão, é se toda troca econômica, inclusive simbólica, é econométrica, i.e. opera com sistemas de valores autônomos,

independentes do tempo e do espaço, que permitem sempre prever um valor determinado para qualquer objeto em qualquer transação, como as trocas estritamente fiduciárias.

No caso da concepção econômetra, nota-se, não se considera que são negociados símbolos, mas apenas objetos completamente dissociados desses a não ser pela relação exclusiva da determinação quantitativa.

Se a economia de trocas simbólicas não se reduz ao modelo fiduciário como as demais trocas econômicas, então a característica invariante das trocas em geral é o uso de sistemas de símbolos indeterminados, que assumem um valor relativamente às transações particulares. Nesse caso, o valor do próprio sistema simbólico também é um bem de troca, embora não explicitamente quantificado e nem mesmo sempre necessariamente quantificável, relativo à relação de força dos atores, que Bourdieu mede pela detenção de diversos capitais.

O que nos interessa especificamente, aqui, é saber se a troca de informação é uma econometria, i.e. uma troca cujos valores são sempre em sua totalidade determináveis, redutíveis a uma codificação métrica e sempre verificáveis por esta.

Equiparar informação e moeda fiduciária pressupõe que a informação, como a moeda na sua forma atual, seja expressa por um sistema de signos que atenda a duas exigências

interdependentes mínimas: pareamento (correspondência entre unidade de forma e unidade de sentido) absolutamente regular e previsível, além de atender a um número finito de regras e operações previamente estabelecidas; composicionalidade (o sentido da proposição é determinado pela soma das palavras individuais que a compõem124 – requer a primeira exigência).

As moedas e notações lógico-matemáticas são sistemas que supostamente atendem a essas exigências, ao contrário da linguagem “comum”, dita “ambígua” e cujo pareamento nunca é previsível a priori e por isso nunca composicional a priori. Logo, equiparar

estritamente a informação a uma moeda fiduciária exclui que se use a linguagem comum se para comunicar informações que tenham qualquer valor (ou pelo menos valor verificável em termos quantitativos, o qual, por ser a expressão da economia oficial, também é o valor 124“Russell held that the meaning of a complex expression was uniquely determined by the meaning of its component expressions (Frege's compositionality thesis)”. (ENGLEBRETSEN, 1996, p. 71)

socialmente legítimo, a verdade econômica mais valorizada socialmente).

Mas, se consideramos a comunicação como uma troca simbólica, fiduciária ou não, e a informação como uma troca simbólica com algum valor de verdade, expresso em linguagem exata ou comum, então não se pode reduzir a informação em geral a uma economia de tipo estritamente fiduciário (BOURDIEU, 2000[1972], p. 381).

O sistema de signos usado pela economia fiduciária permite especificamente, pelo menos em teoria e pela sistematização da semântica unívoca de seus signos, sempre dizer de uma operação de medida quantitativa que é verdeira ou falsa. Mas a expressão da informação em geral é indeterminada, i.e. possivelmente comunicada de uma infinidade de formas,

consideradas mais ou menos equivalentes segundo os interlocutores, não necessariamente fixas, e sujeitas à renegociação a cada transação. O fato de os valores não serem

necessariamente comunicados através de um sistema de signos determinista (que pressupõe que todo resultado de toda transação é verificável), não implica, por sua vez, que não haja, na prática, desempate racional possível entre as partes no que diz respeito à validade da transação e ao valor das trocas simbólicas “comuns”.

A redução de todas as trocas à única forma verdadeira e legítima da economia “monetária-materialista”125 serve de partida para a ampla reflexão crítica e teórica do

sociólogo Pierre Bourdieu, em seu livro “Esboço de uma teoria da prática” (1983[1972]). Ele tenta desenvolver uma “Ciência geral da economia das práticas” (2000[1972], p. 375), que considere não apenas uma única forma legítima de capital – aquela diretamente medível pela moeda fiduciária –, mas uma diversidade delas, notadamente os capitais social e simbólico. Este último, em particular, oferece as bases teóricas e empíricas para conceber as trocas simbólicas, e a informação em particular, sem reduzi-las à única forma digital, que é determinista.

Segundo Bourdieu, confundiu-se a economia com uma “econometria” (2000[1972], p. 297)126, em que se postula que as únicas trocas válidas (ou legítimas) são aquelas redutíveis a transações cujos ganhos e perdas –e também, vale grifar, temporalidade da transação – sempre podem ser quantificados e verificados por cálculos “puramente” racionais de sentido ou valor fiduciário (nesse tipo de operação o sentido se confunde com o valor).

125 Em “Trabalhos e projetos” (Travaux et projets), Bourdieu fala da “redução brutalmente materialista que todo economismo (marxista ou neoclássico) opera” (1983[1980]:43).

Mas, como nenhuma comunicação humana (e tampouco física, por causa da constância do ruído) é totalmente redutível a uma comunicação de puro sentido (a qual pressuporia aliás uma omnisciência da totalidade das condições de comunicação), então, a troca tem sempre um valor sóciossimbólico, ao passo que não é obrigatório que toda troca de valores ocorra no sentido estritamente monetário ou que troca de sentido seja puramente formal.

A economia de trocas simbólicas tal como Bourdieu a entende não se reduz às trocas com quantificação discreta, pelo contrário, abrange-as. Reiteremos que isso não impede a

existência de trocas de valores relativos, através de uma comparação não quantificada, embora formalizável por uma representação binária, de tipo "maior ou menor". Na economia não fiduciária, os valores ou objetos não são reduzidos a uma operação de troca cujo resultado tem expressão necessariamente bivalente e métrica. Isso não implica que tais valores ou objetos não se prestem a priori em si a tal redução. Eles são considerados incomensuráveis no sentido estrito de não serem comparados por um único e mesmo sistema de verificação, mas eles não são totalmente incomparáveis: podem ser partilhados, negociados ou trocados como qualquer bem, ou nada impede a priori que o sejam.

Conforme o detalhamos na seção seguinte, inclusive sob o aspecto histórico, a introdução das notações binária ou indo-arábica teria causado uma mudança importante na comunicação da quantidade. O sistema numeral romano (que levou nada menos que meio milênio para ser desbancado pelo indo-árabe, generalizando-se apenas por volta de 1500), possui o pareamento regular e a composicionalidade. Porém, sempre introduz signos novos para expressar novos valores, em suma: não é previsível porque, além do pareamento, não são dados de antemão todos os signos usados na expressão de todos os valores numéricos possíveis. Trata-se ao meu ver de um salto crucial: do ponto de vista estritamente cognitivo e introspectivo o sistema romano seria equivalente para fazer a verificação dos valores computados, mas difere do indo-arábico do ponto de vista da partilha dessa verificação, em sociedade, usando signos.

A diferença reside, pelo que nos parece, na suposta previsibilidade absoluta da expressão do sentido que garante (no sentido de dar certeza, crédito, garantia) a intercompreensão do símbolo comunicado, e daí a maior certeza que a transação simbólica entre dois atores possa ser efetivada, e que o valor transmitido possa ser acumulado, sem perda devida à transação. É a busca de uma troca simbólica sem perda que cria na prática a necessidade de um sistema posicional que usa uma classe finita de signos; signos que são combinados infinitamente para

dar (teoricamente) a qualquer valor uma expressão absolutamente previsível e sempre decifrável pelo interlocutor.

Desde que se admitiu isso, há que se aceitar que o conhecimento introspectivo dos números passa a ser mediado, estruturado, regrado e regularizado (absolutamente, nos casos do maia, indo-arábico e binário e de todos os sistemas numerais que combinam

indefinidamente uma classe finita de signos) por sistemas de signos obtidos via trocas simbólicas com a sociedade e suas regras. Há o que chamamos de ideal ou teoria da reprodução sem perda, de orientação religiosa, que estrutura a comunicação da verdade, e tende a instaurar entre esta e a sociedade uma separação absoluta.

É nesse ponto que poderia ser situada a ruptura entre o estruturalismo à la Lévi-Strauss e a teoria da prática de Bourdieu, que funda a noção de capital simbólico, entre outros, distinto do capital estritamente econômico, ou, melhor dizendo, econômetro. É a construção paulatina de sistemas de signos cada vez mais previsíveis que permitiria regularizar a prática, quando não regrá-la, e in fine representá-la por uma teoria formal, e até mesmo apresentá-la como uma condição natural.

Assim, aplicada à comunicação, que envolve interlocutores/atores distintos, a noção de estrutura pressupõe a previsibilidade total – mecânica – de todos os signos. Pressupõe que os interlocutores sempre saberão decifrar qualquer signo que surgir para expressar qualquer sentido/valor da estrutura. Implica que tudo numa estrutura já possui a priori um signo que o representa, e que o valor desse signo será automaticamente compreendido e interpretado corretamente pelo interlocutor (Bourdieu fala de “comunicação instantânea” (1983[1972]). É evidentemente falsa essa suposição se consideramos qualquer sistema semântico e os signos usados na comunicação. Só valeria para os sistemas de numeração absolutamente previsíveis como o indo-árabe, cujo uso se generalizou à expressão e manipulação dos valores fiduciários há apenas meio milênio, criando as condições sócio-históricas para o próprio surgimento da concepção econômetra da economia, e, acrescentaríamos, da estrutura dos estruturalistas.

Nota-se que tais sistemas absolutamente previsíveis não excluem sentidos novos, mas estes só podem ser introduzidos usando signos comunicados previa e explicitamente, predefinidos e que atendem a regras também prévia e explicitamente estabelecidas. A noção de estrutura pressupõe que todos seus sentidos/valores e regras preexistam sem ambiguidade no entendimento de cada interlocutor. Trata-se, de fato, de uma concepção mecânica da

comunicação.

A pressuposição de uma intercompreensão automática tem, além disso, uma função social: permite absolutizar o conceito de estrutura (bem como absolutizar o conceito de sistema), e por aí situá-lo fora do tempo. Volta-se à noção platonista de verdade externa ao sujeito cognoscente e que, por se revelar eternamente, constitui uma comunicação atemporal, fora do social e fora da ação, e sobretudo fora da troca simbólica como economia profana sempre um mínimo irregular (e apenas eventualmente regular, no caso da economia monetária), e por aí fora da história, e por fim subtraí-la ao escopo da acumulação e do interesse, vil, venal, corporal.

A economia monetária e fiduciária não é cumulativa em si, por "natureza", mas, associada a meios materiais de reprodução como os suportes escritos, permite uma acumulação cujas perdas e ganhos são, na teoria embora não na prática, sempre verificáveis quantitativamente e independentemente dos atores em relação de comunicação, e por isso (teoricamente)

reprodutíveis “fora” da sociedade e sem perda.

No verbete “informação” da Enciclopédia Enaudi, Anthony Wilden127 escreve:

Em suma, assim como é possível afirmar que as significações digitais emergem através da distinção entre fundo diferencial e analógico do significado, assim também se pode sustentar que os valores de troca (que são necessariamente digitais) emergem do continuum dos valores de uso mediante a digitalização da diferença. (WILDEN, 2001, p. 37)

É esse caráter digital do valor de troca da informação que Bourdieu (1983[1972], p. 50) contesta quando, ao refletir sobre o dom, tenta remontar à gênese da economia fiduciária, mostrando como a simetria que ela supõe não possui nenhum caráter universal ou natural, e se inscreve numa concepção de economia reducionista, etnocêntrica e positivista. Se devemos entender “digital” por ser/não ser, binário, então o termo não se aplica universalmente à troca de informação, na medida em que a economia, de forma geral, se comporta segundo a

previsibilidade, i.e. uma expressão modal: que "pode ser e pode não ser". A previsibilidade diz respeito ao tempo de conclusão ou efetivação da transação.

Ora, excluir da definição da economia a noção mais ampla da temporalidade em benefício de uma noção de tempo discreta, verificável e absolutamente previsível em sua expressão, permite excluir da economia estrita as trocas assimétricas, aquelas que se pode concluir usando um valor ou objeto diferente daquele com que se recebe, bem como excluir 127Agradecemos ao Professor Muniz Sodré a indicação dessa referência bibliográfica.

da categoria do sentido estrito as expressões ambíguas, heterogêneas, metafóricas. Expressões as quais perdem sua ambiguidade e sua imprevisibilidade de sentido quando são

contextualizadas, i.e. reintroduzidas na situação em que são trocadas, com base em valores locais, limitados à espaciotemporalidade e interpessoalidade da transação.

A ambiguidade não serve para produzir o sentido verdadeiro ou digital, mas para servir a expressão da modalidade, i.e. a expressão de uma maior ou menor certeza de que uma troca será efetivada, e será retribuída/compensada com alguma forma de bem predeterminada, preestabelecida, e não em outra.

A ambiguidade indetermina a troca sem prejuízo de seu caráter econômico, ela possibilita que os interlocutores escolham entre diferentes sistemas simbólicos de retribuição, não necessariamente quantitativos ou quantificáveis. É voltada para as trocas assimétricas, e permite retribuir não em moeda estrita, em unidade quantitativa predefinida, mas, de forma geral, em outro bem de troca, e até em outro tempo indefinido. O dom seria a forma, tempo e espaço menos determinados de troca. A relação de poder, que tende a impor uma metria a essas três dimensões da troca (forma, tempo e espaço), seja ela simbólica ou monetária, transforma a assimetria em: desigualdade, atraso (ignorância ou dívida, “déficit público” na DC) e exclusão.

A língua “comum” não se diferencia dos sistemas métricos pela ausência de categorias discretas e pela incapacidade intrínseca de produzir verdades bivalentes. Sua semântica, mais ambígua, é adaptada à expressão de trocas menos determinadas, das quais não se pode (ou não se quer!), na prática, quantificar ou explicitar previamente (a priori) todos os valores. Os sistemas de signos unívocos não possuem uma semântica autônoma, mas relativa. Não são mais reais e corretos em si que os outros, apenas representam outro tipo de troca, que não é (ou não está) organizada em torno da acumulação sistemática (qualquer que seja o motivo). A língua comum serve para operar trocas das quais não se espera (ou se exige) que sejam necessariamente medidas através de um mesmo sistema de valores homogêneo e concluídas dentro de um prazo quantificado com precisão.

Assim, para se produzir conhecimento científico, são necessariamente usados sistemas semióticos de trocas primordialmente voltados para a produção de valores indeterminados ou inverificáveis, e cujo uso as próprias ciências denegam. A invariante econômica de qualquer atividade é a prática da troca não exclusivamente econômetra. Como as relações sociais não

são cognoscíveis e previsíveis em sua totalidade, a língua “comum” é o elo constante entre o cientista e o leigo, que a ciência “já pronta” oculta, como se ela devesse sempre, para ser aceita socialmente, se apresentar como uma verdade pura, atemporal e anistórica, associal, reproduzindo o corte absoluto que separa o conhecimento sagrado do profano. Corte que não deveria ser aceitável no estudo científico da comunicação da ciência mas ter, antes, sua construção e instituição estudadas.

“… a teoria da informação parece ter emergido da Segunda Guerra Mundial como Dionísio saiu da coxa de Júpiter. Para muitas pessoas, e frequentemente para aqueles que dela se servem nas suas formas mais rigorosas, a teoria da informação aparece como um desenvolvimento intelectual e tecnológico praticamente destituído de bases históricas” (WILDEN, 2001, p. 13) Para empreender plenamente essa historização da informação, é indispensável que se examine a troca simbólica não em sua forma binária como algo dado e acabado, mas como algo que existe e é verificável, até certo ponto, fora de um sistema de signos cujas

características são as dos sistemas de notação numérica, fora de um sistema cujas características são as dos sistemas monetários.

É preciso entender a informação como um sistema de trocas não redutível, de partida ou constantemente, a uma forma métrica "pura", sistemática e perfeitamente explicitada e regrada, da qual se pode ter um conhecimento prévio e antecipação totais, à maneira da mecânica celeste absolutamente determinista de Laplace, que inspira a computação binária.

...dado o estado inicial da máquina e os sinais de entrada é sempre possível predizer todos os estados futuros. Isso evoca a visão de Laplace segundo a qual, a partir do estado do universo em um momento do tempo, tal como é descrito pelas posições e velocidades de todas as partículas, deve ser possível predizer todos os estados futuros.128 (TURING, 1950, sem paginação)

O sistema só vale se os símbolos e regras usados para representar os estados da máquina são tão previsíveis e finitos quanto os estados. Turing pergunta se esse tipo de sistema deixa o espaço para o surgimento de novos conhecimentos e seu aprendizado:

A ideia de uma máquina que aprende poderá parecer paradoxal para alguns leitores. Como as regras de funcionamento da máquina podem mudar? Elas devem descrever completamente como a máquina irá reagir qualquer que seja sua história , quaisquer que sejam as mudanças que atravessar. As regras são portanto invariantes no tempo. É verdade. A explicação do paradoxo é que as regras que mudam no processo de aprendizado são de um tipo menos

pretensioso, pretendendo apenas uma validade efêmera. O leitor poderá fazer um

128It will seem that given the initial state of the machine and the input signals it is always possible to predict all future states, This is reminiscent of Laplace's view that from the complete state of the universe at one moment of time, as described by the positions and velocities of all particles, it should be possible to predict all future states.

paralelo com a constituição dos Estados Unidos.129 (TURING, 1950, sem paginação) (itálicos nossos)

Conceber uma produção da verdade que exclua a criação e aprendizado de novas regras