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APLICAÇÃO DOS RESULTADOS EXPERIMENTAIS

No documento A sustentabilidade no design de vestuário (páginas 181-185)

V – PROPOSTA METODOLÓGICA

5.1 APLICAÇÃO DOS RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Este capítulo prossegue na aplicação dos resultados do trabalho prático referentes à transformação do desperdício de vestuário descartado e dos questionários efetuados ao consumidor. Pretende apresentar a elaboração de uma proposta metodológica sustentável que poderá ser útil em futuros projetos de design de moda tendo como base a comprovação da sua exequibilidade na indústria nacional.

Para além dos resultados experimentais serão considerados os três domínios da sustentabilidade (Tao, Fig.1 do capítulo 1), o domínio humano, o domínio natural, e o domínio ético (do querer fazer bem), não esquecendo de verificar todas as possibilidades preventivas dos impactos ambientais no planeamento metodológico da proposta. Neste último campo, a criatividade será o item que permitirá encontrar as melhores soluções para a complexidade de todo o sistema (Kazazian, 2005, p.8)245, ajudando a projetar o que os consumidores desejam com o mínimo impacto ambiental e a máxima qualidade possível (dentro dos recursos existentes).

5.1.1 A TRANSFORMAÇÃO DO DESPERDÍCIO EM CONFRONTO COM OS RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS AO CONSUMIDOR

O trabalho prático relativo à transformação do desperdício vem apenas confirmar a possibilidade de integração de matérias-primas recicladas, em algodão e lã, na confeção de peças de vestuário, tornando pertinentes, nesta fase, as considerações relacionados com o consumidor.

Após a revisão dos inquéritos considera-se relevante:

- Pensar no futuro projeto para uma faixa etária 25-35 anos, apesar do público-alvo inicial abranger os 25-65 anos de idade;

- Não limitar o projeto pela atividade profissional, visto que na maioria dos respondentes (especialmente os empregados na função pública) o tipo de profissão não se mostrou relevante em relação ao tipo de vestuário utilizado;

- Criar vestuário “básico” e “urbano”, uma vez que foi o estilo mais escolhido pela maioria dos respondentes;

245 Kazazien, T. (2005). Haverá a Idade das Coisas Leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: SENAC.

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- Conceber peças elegantes e atrativas porque, embora os indivíduos não se sintam inovadores na forma de vestir, têm hábito em comprar pelo menos 1 ou 2 peças de roupa da última tendência de moda. O ideal seria mesmo considerar os tipos de corpos dos indivíduos e associar as peças criadas (cor, linha e silhueta) ao físico de cada grupo de clientes (Pezzolo,2007, p.20) 246 (ver Fig. 31);

Figura 31: Ilustrações de Anita Ljung para o livro “Moda Fácil” de Dinah Pezzolo, 2007 (Fonte: Pezzolo,2007, p.21 – cit 243). Considerações relevantes da autora encontram-se em Anexos 1 do capítulo V, a partir da página 70;

- Criar peças de vestuário mais personalizáveis, indo de encontro ao gosto pessoal de cada um. Pois este fator (“gosto pessoal”) sobrelevou o requisito “Moda” nos fatores de compra posicionando-se ainda abaixo de “Preço/ Qualidade”, “Conforto” e “Design”.

- Criar vestuário versátil e que seja futuramente reutilizado ou reciclado, uma vez que a causa de descarte de peças de roupa está relacionada com “material desgastado” (englobando a “perda de cor” e “manchas”) “já não servir” e “saturação”.

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Com esta análise pode até considerar-se uma nova segmentação de vestuário, sob o ponto de vista do consumidor (Gosto pessoal, Preço/Qualidade, Conforto e Design) e sob o ponto de vista do produto (Material – cor e texturas; Fit; Conservação).

Relativamente ao consumidor, o factor determinante mais difícil de satisfazer é mesmo o “Gosto pessoal” porque a “Qualidade” é um aspecto indissociável de qualquer produto atual (Faggiani, 2006)247 e o “Preço”, tendo em conta o ritmo de crescimento do mercado ecológico (determinado pela rapidez com que os produtores ajustam a sua produção ao modelo ético de forma a serem competitivos com o vestuário convencional) é já uma prática corrente. A “H&M” é um exemplo, comercializando produtos em algodão orgânico com preços moderados “ tendo sido a procura e o acolhimento dessas coleções bastante significativa por parte dos consumidores” (Schullström, 2010)248

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5.1.2 A TRANSFORMAÇÃO DO DESPERDÍCIO EM CONFRONTO COM A ANÁLISE LITERÁRIA

No capítulo da revisão literária haviam sido expostas algumas metodologias sustentáveis consideradas pelo Forum For Future (2007)249, Vezzoli (2010)250 e Lawson (2011)251 mas nem todas elas incorporam estratégias completas de “LCA” (Avaliação do Ciclo de Vida) e/ou de Ecoeficiência.

A metodologia proposta para o Design de Vestuário Sustentável não será completamente nova por ser fundamentada em princípios estudados mas pretende ser inovadora por englobar as estratégias “verdes” possíveis de implementar em escala semi- industrial, para a segmentação de mercado analisada e, por apresentar um Processo de Criação de Vestuário diferenciado.

5.1.2.1 Estratégias de “LCA”

O Design do Ciclo de Vida objetiva a melhoria do desempenho ambiental de cada produto exigindo estratégias específicas de “LCA” (Avaliação do Ciclo de Vida). O vestuário, de um modo geral, possui grande impacto ambiental na fase da “Extração de Matérias-primas” e na fase de “Produção”252 mas nem sempre é tão linear porque nalguns

247

Faggiani, K. (2006). O poder do Design: Da ostentação à emoção. Brasília: Thesaurs.

248 Ingrid Schullström é a diretora do Meio Ambiente da H&M. Em [CENIT], (2010). Da produção ao retalho - cit.34

249 [FFF], (2007). – cit. 33 250

Vezzoli, C. (2010) – cit.149

251 Gwilt, A. and T. Rissanen (2011) – cit.169

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casos (visíveis em determinadas peças) os impactos centram-se mais em determinadas fases em detrimento de outras (Fig.11 do capítulo II). No estudo de Farrant253 (Anexos1 do Capitulo V, p.71), por exemplo, é possível verificar que as T-shirts de algodão, embora sejam de fibras naturais, têm um impacto ambiental mais forte na fase de “Utilização” provocado pela emissão de CO2 (Dióxido de Carbono) com o uso de energia gasto nos

cuidados de limpeza e manutenção, do que as calças de poliéster/ algodão. Nestas, por sua vez, o impacto causado concentra-se mais na fase das “Matérias-primas”, resultante da emissão de SO2 (Dióxido de Enxofre) durante o processo de produção das fibras de

poliéster (Farrant, 2008, p.64).

Embora existam diversas ferramentas e métodos de avaliação do Ciclo de Vida dos produtos (ponto 2.6.1.1 do capítulo II), considera-se os métodos de Vezolli (2008, 64)254 os mais fiáveis para a prevenção de impactos ambientais porque eles podem ser ponderados em qualquer fase vital do produto, independentemente da tipologia e unidade funcional de cada um. Eles são:

1) Redução de inputs, isto é, de recursos, e quando selecionados que sejam de baixo impacto;

2) Aumento da durabilidade/ Otimização da vida do produto; 3) Extensão e Reciclagem dos materiais; e

4) Facilitar a separação após o descarte.

O modelo piloto de Eco-Design, descrito no levantamento literário (Tabela 2 do Capítulo II) é de fácil interpretação e expõe, de forma simples, alguns dos problemas que podem ser avaliados de acordo com tais métodos.

5.1.2.2 Ecoeficiência com o Eco-Design Pilot

Tendo em consideração os impactos ambientais e sociais ao longo do circuito do vestuário (figura 11 do capítulo II) e recorrendo ao Eco-Design Pilot (Wimmer, 2001)255 para melhor compreender as técnicas de prevenção ambiental na cadeia de vestuário e ser mais eficaz num planeamento estratégico, selecionaram-se três tipologias (entre as cinco existentes) que melhor se enquadram neste sector:

1) as estratégias de Tipo A –“Produto de Matérias-Primas Intensivas” (de que são exemplo as calças de algodão e poliéster do trabalho de Farrant);

253

Farrant, L. (Julho 2008) – cit.162

254 Vezzoli, C. and E. Manzini (2008). – cit.153

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2) as estratégias de Tipo B – “Produto de Fabrico Intensivo” (de que são exemplo todas as peças de vestuário produzidas ao nível industrial); e

3) a estratégia de Tipo D –“Produto de Uso Intensivo”.

As estratégias de Tipo C e do Tipo E não são tão importantes porque tanto o transporte como o descarte (embora devam ser repensados) não são intensamente acionados neste tipo de produtos (vestuário).

A tabela seguinte sintetiza os tópicos de cada uma, confirmando a existência de características comuns entre as três estratégias.

PILOTO DE ECO-DESIGN (ESTRATÉGIAS A, B e D) OBJECTIVOS DE MELHORIA E

ESTRATÉGIAS PARA PRODUTOS

No documento A sustentabilidade no design de vestuário (páginas 181-185)