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Figura 34: “Hierarquia funcional de estratégias de Design do Ciclo de Vida”, de Carlo Vezzoli e Ezio

No documento A sustentabilidade no design de vestuário (páginas 189-193)

V – PROPOSTA METODOLÓGICA

Figura 34: “Hierarquia funcional de estratégias de Design do Ciclo de Vida”, de Carlo Vezzoli e Ezio

Manzini (2008)260 e “Hierarquia funcional de estratégias de conceção de ciclo de vida de vestuário” balizada pela seleção de materiais já definidos (com materiais reciclados).

5.2.1 MÉTODOS DE DESIGN SUSTENTÁVEL

Além das metodologias genéricas da cadeia de aprovisionamento do vestuário global torna-se pertinente sistematizar todas as medidas específicas para criar vestuário diferenciado à medida do consumidor, que possibilite a “integração de um sistema produto-serviços” (sob a forma de “up-grades” ou a reparação “pós-venda”) facilitando o reajuste das peças de vestuário ao longo do tempo, podendo estas ser modulares e multifuncionais de forma a maximizar o tempo de vida dos materiais e dos componentes que se transformam, etc.

As medidas sustentáveis tomadas no “Processo de Design” resumir-se-ão no esquema seguinte, a “Colmeia” (Figura 35).

260 Vezzoli, C. and E. Manzini (2008). – cit.153

Materiais recuperados ou reciclados (provenientes do

descarte de vestuário)

Optimização vida útil produto

Estender vida útil do material

Facilitar a desmontagem Optimização vida útil produto

Estender vida útil do material

Facilitar a desmontagem Minimização de Recursos

172 DESIGNER DE MODA E PRODUTO A CRIAR (guarda-roupa) DESIGN PARA O BEM-ESTAR SOCIAL CO-AUTORIA (Colaboração com utilizador) CERTIFICAÇÃO (Selos ecológicos, manuais de instrução) DESIGN PARA O ABRANDAMENTO DO CONSUMO “MODA LENTA” (Durabilidade, Qualidade de Acabamentos, Muti- funcionalidade) REDUÇÃO PRODUÇÃO (Redução de peças desnecessárias, produtos-serviços) DESIGN PARA O SISTEMA INTEGRADO DE PRODUTO- SERVIÇO OTIMIZAÇÃO VESTUÁRIO (Partlha guarda- roupa, aluguer) AUMENTO DURABILIDADE /REPARAÇÃO (Serviço de troca e/reparação) DESIGN PARA A SEPARAÇÃO MODULARIDADE (Moldes simples/ componentes amovíveis) MONO- COMPOSIÇÃO (Materiais para futura reciclagem) DESIGN PARA ESTRATÉGIAS DE FINAL DE VIDA VALORIZAÇÃO (Recursos locais & pessoas em risco) REUTILIZAÇÃO VESTUÁRIO (“Refashion”, “Upcycling” e Reciclagem) DESIGN PARA A GESTÃO DE DESPERDÍCIO PRODUÇÃO E USO SEM DESPERDÍCIO (Modelagem e confeção) REUTILIZAÇÃO/ RECICLAGEM (Tecidos e de peças de vestuário) DESIGN PARA A PARTICIPAÇÃO DO UTILIZADOR COSTUMIZAÇÃO (Modelagem modular e multifuncional, “DIY”) OTIMIZAÇÃO VESTUÁRIO (Forma/ Função/ Silhueta)

Figura 35: “Colmeia” - Esquema de metodologias (com os princípios de Design do Ciclo de Vida ) a ter em consideração no Processo de Design Sustentável dos futuros projetos práticos. (Fonte: Autora, Carla Morais)

No esquema apresentado, o designer continuará a ter um papel fulcral na mediação do ciclo de vida dos produtos projetados ajudando a optimizar todo o sistema e integrando (desde o inicio) a reutilização do desperdício descartado, no qual já se compreendeu que, embora difícil e economicamente ainda pouco eficiente, não deixa de ser exequível.

Além da fusão das metodologias de Lawson, Vezolli e FFF também são visualizadas diretrizes de orientação de trabalho (algumas já descritas no levantamento literário) a que corresponde cada uma. Por exemplo:

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No “Design para a Separação” o designer deve utilizar o mínimo de mistura de fibras na produção de materiais e recorrer a métodos de confeção simples (mesmo que sejam modulares) para que todos os componentes do vestuário possam ser facilmente amovíveis;

No “Design para a Gestão do desperdício” o designer deve incorporar o projeto de Design-Produção “Zero Waste” (tendo em conta as técnicas de modelagem dos “Quebra- cabeças”) e o projeto de produtos fabricados com o aproveitamento de desperdício (incluindo o upcycling de desperdícios e o Refashion);

No “Design para o “Bem-estar social” a possibilidade de incorporar a história dos produtos, introduzir manuais de instruções (em produtos multifuncionais, por exemplo) ou certificá-los com selos ecológicos valorizando-os como bens, promove não só a transparência entre a cadeia de produção oferecendo salários justos aos consumidores como poderá ser o resultado de um Design colaborativo entre todos os intervenientes;

No “Design para o “Abrandamento do Consumo” a qualidade das peças deve ser desenvolvida através de bons acabamentos e bainhas grandes que permitam alterações simples e de acordo com a transformação do corpo dos indivíduos. O aumento da durabilidade das peças pode ser igualmente impulsionado com a modelagem multifuncional levando consequentemente a uma redução do número de peças de roupa necessárias e de consumo também;

No “Design para a “Participação do Utilizador” promove uma relação mais afetiva entre o consumidor/ utilizador de vestuário e pode ser obtido com sistemas de “auto- produção” de vestuário multifuncional que tenham a possibilidade de transformar não só a função como os elementos de design de moda, a silhueta, a linha e a textura das peças de vestuário;

No “Design para o “Sistema integrado de Produto-Serviços” retrata os benefícios ambientais pela intensificação do uso do vestuário podendo ser conseguido através do aluguer de vestuário e da possibilidade de reparação. O aluguer de vestuário implica consequentemente uma redução de recursos de material e de energia para produzir, transportar e descartar peças de roupa; a única desvantagem é o crescente número de lavagens a que as peças de roupa seriam submetidas, já que cada peça deveria ser lavada após um único uso. A possibilidade de reparação de uma guarda-roupa convencional é também outra solução de um sistema de oferta de serviços que uma empresa de vestuário sustentável pode exercer sobre o futuro consumidor/ utilizador. Além de possibilitar os arranjos de vestuário fideliza o cliente ao conceito da marca;

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O “Design para as “Estratégias de Final-de-Vida” visa fortalecer e valorizar os recursos locais através de um sistema que fomente a economia local. Engloba todas as etapas anteriores, embora nem todas elas sejam facilmente executáveis. Quando a reciclagem ou a reutilização de materiais não é possível ser executada em larga escala podem implementar-se outros métodos que ajudem a recolher e escoar o desperdício para futura valorização. Alguns deles poderiam ser a entrega de têxteis descartados para Associações de Arte ou de Artesanato, envolvendo pessoas em situações de risco, idosos ou deficientes261 como forma terapêutica, ou ainda, a promoção do mercado de roupa em segunda-mão.

5.2.2 PROJETO DE DESIGN VESTUÁRIO SUSTENTÁVEL

Partindo da demonstração dos resultados práticos e da análise literária prossegue a “prática” propriamente dita, com a concepção de um projeto que não tenciona ser entendido como uma coleção mas como um “Modelo Base” de criação do design de vestuário (que maximiza os recursos de todos os estágios do ciclo de vida de um produto).

De acordo com a segmentação do mercado com maior incidência nas respostas dos inquéritos (mulheres ativas da faixa etária entre os 25-35) confirmou-se que a aprovação ou a rejeição de uma peça de vestuário “nova” é complexa e que consumidor não compra tudo o que lhe é oferecido, sendo mais exigente (Damhorst, 1999, p. 414)262 e não considerando relevante o factor “Fashion” (Moda) como critério de compra decisivo mas sim o seu “gosto pessoal”. Para além deste também o “preço” e a “qualidade” são preceitos ponderados, apesar de se entusiasmar com a capacidade de se tornar protagonista do próprio processo de construção do vestuário que utiliza. Também foi visível que a racionalização do seu consumo de peças desnecessárias é uma preocupação crescente e também significativa (Morais et al., 2011)263. Um facto que, aliado ao número e ao tipo de peças de vestuário mais utilizado, pode ajudar a racionalizar o planeamento do Design de Moda (Sabrá et al., 2011)264. Pois, nem todos os tipos de peças de roupa são usados do mesmo modo porque umas possuem ciclos de vida mais longos do que outras (as

261 Vezzoli, C. (2010) – cit.149, p.323

262 Damhorst, M. L. (1999). Fashion as Social Process In The Meaning of Dress (pp. 408-420): Fairchild Publications, Inc.

263 Morais, C., Carvalho, C., & Broega, C. (2011). A design tool to identify and measure the profile of

sustainable conscious fashion costumer Paper presented at the Autex2011 - 11th World Textile Conference

at ENSISA. 264

Sabrá, F., Cipiniuk, A., & Machado, M. A. (2011). ANÁLISE QUANTITATIVA DE MODA: O

Desenvolvimento de Produto para o Setor Têxtil e de Confecção. Paper presented at the VI Congresso

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gabardinas e os fatos de treino duram mais tempo do que uma saia ou uma blusa, por exemplo).

Antes de conceber qualquer coleção, o designer deve ter em mente o tipo de peças mais utilizadas num guarda-roupa, as que mais se gastam e as de maior descarte para poder planear corretamente (em harmonia) com o Ciclo de Vida dos Produtos.

5.2.2.1 Guarda-roupa essencial

Um “Guarda-Roupa Essencial” contém muitas peças de vestuário desprovidas de fantasia, sem grandes detalhes e com cariz intemporal. Baldini265 e Dorfles (1984) definem-nas por significantes puros266, típicos e sem derivações267. cuja caracterização depende de pormenores distintos. A título de exemplo temos as calças jeans que não o deixam de ser se tiverem “cintura subida ou descida” mas que perdem o seu significado se forem produzidas em malha. Existem muitos outros itens como os que Pezzolo identifica de essenciais, sendo eles o “vestido preto”, o “polo”, a “t-shirt”, o “twin-set” e o “blazer” aos quais Tim Gun (www.instyle.com) acrescenta o “trench-coat”, as “calças pretas”, a “blusa branca”, a “saia”, o “vestido de dia” e o “fato ou sweat de treino”, ponderando a substituição da “t-shirt” por uma “sweater” ou um “top” e o “blazer” por um “casaco” ou “cardigan” (Anexos 2, do Capitulo V, p.74).

Um guarda-roupa essencial contém todas essas peças fundamentais, também designadas por “básicos” ou itens clássicos, tradicionais na sua tipologia e disponíveis para assumir os mais variados significados. Retomando o exemplo anterior, os jeans podem transformar-se em roupa quotidiana, roupa de noite ou roupa de festa, sendo o Design a ferramenta que transforma o seu conceito, através dos elementos de criação como a “Silhueta”, a “Proporção/Linha”, a “Função”, os “Detalhes”, a “Cor”, os “Materiais”, os “Acabamentos”, as “Referências” e os “Tipos de Mercado” (Seivewright, 2007)268

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No documento A sustentabilidade no design de vestuário (páginas 189-193)