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4.3 Como os gestores têm aprendido?

4.3.1 Demandas de trabalho

4.3.1.1 Aprendem por meio dos desafios

Nas entrevistas realizadas, percebeu-se que alguns gestores são impulsionados pelos desafios profissionais que representam uma fonte de aprendizagem contínua. Esses gestores demonstram que os desafios profissionais com os quais se depararam em suas trajetórias tornaram-se experiências enriquecedoras. Eles tiveram de lidar com situações desafiantes que implicaram na assunção de responsabilidades para as quais não se sentiam adequadamente preparados. É importante destacar que esses profissionais apresentam uma característica peculiar: a capacidade de aprender dentro de contextos heterogêneos, lidando com informações, normas, rotinas, situações e pessoas das mais diversas áreas. No entanto, nota-se que aspectos como perseverança, dedicação, atitudes positivas e proativas e determinação nortearam o desempenho deles. Esses aspectos foram amplamente abordados pelo gerente de marketing e comunicação social, o Tavares narra a sua experiência de implantar a área de comunicação social em Recife:

[...] Não havia absolutamente nada. Isso foi em 1995. Foi feito o convite, eu primeiro quis, para não aceitar o convite de imediato, aceitei um convite para conhecer o mercado de Recife, para conhecer as instalações, saber o que era oferecido, e vim aqui antes [...] Então eu aceitei. Tudo que eu queria era espaço, e o Nordeste era uma pedra a lapidar. Gosto de desafios e aceitei na condição. Na época, eu fiquei ganhando menos do que ganhava no Rio, mas tive o apoio incondicional desse superintendente o tempo todo. (TAVARES)

Para Tavares, essa foi uma experiência enriquecedora e um dos seus maiores desafios profissionais, pois foi incumbido de criar, não apenas uma área comunicação social em Recife, mas também nas cidades de Salvador e Fortaleza. Mesmo sem a perspectiva de uma função de confiança, esse gestor vislumbrou uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional que resultou em sua designação como coordenador de Comunicação Social e, posteriormente, como gerente, devido a uma reestruturação organizacional.

Os desafios nortearam a formação profissional dos gestores da INFRAERO, uma vez que, apesar de se terem deparado, em alguns casos, com situações para as quais não se sentiam devidamente qualificados, declararam em suas falas que aceitaram as oportunidades apresentadas por considerá-las instigantes, desafiantes e por representarem ascensão hierárquica na empresa. Considerando que, para ascender profissional e financeiramente na empresa, os empregados necessitam ocupar funções de confiança, é comum que a maioria dos profissionais que são convidados para exercer determinadas funções, demonstre interesse em aceitar tais oportunidades.

A transferência foi um grande desafio, eu como gosto de desafios, aceitei. No começo, eu fiquei preocupada, porque era uma atividade que nunca tinha sido desenvolvida por mim [Gerência de Auditoria Interna]. Mas a minha bagagem na área de operações, área administrativa - financeira e área comercial fez com que eu criasse coragem nessa nova função (ANA) Outro gerente que citou um grande desafio profissional foi Rosângela, gerente de administração. Ela foi designada para sua primeira função de confiança como coordenadora de administração geral, apesar de sua experiência profissional anterior na INFRAERO ter sido na área de recursos humanos. Após essa experiência, considerada por ela muito gratificante, foi convidada para assumir a Superintendência do Aeroporto de Paulo Afonso. Ao falar do assunto, Rosângela deixa claro que se sentiu extremamente recompensada pelo reconhecimento da qualidade do seu trabalho e do seu potencial:

A minha primeira função de confiança foi o desafio de aprender a gerir um processo, antes eu não tinha essa responsabilidade, foi aqui na Coordenação de Administração Geral. Assim, dentro da minha carreira profissional, foi o momento mais marcante, além do de Paulo Afonso, porque lá foi um desafio total. (ROSÂNGELA)

Outra situação de desafio profissional que acarretou aprendizagem foi narrada pelo gerente de operações, Nilson, na ocasião em que foi indicado pela sua gerente para substituir o superintendente do Aeroporto de Juazeiro do Norte, que tiraria férias de 20 dias. Nilson demonstrou grande surpresa, pois se deparara com a oportunidade de exercer um dos principais cargos executivos da INFRAERO. Nota-se em sua fala que, apesar de sentir-se lisonjeado com sua indicação para substituir o superintendente, ele não se considerava adequadamente qualificado para exercer essa função; no entanto, relata que, mesmo com as dificuldades enfrentadas, considera ter atendido às expectativas da empresa: “Foi interessante. Só faltou uma coisa: a empresa não me tinha preparado. Eu não tinha, assim, aquela preparação para ser um superintendente [...] Eu cheguei lá e dei conta do recado, mas foi muito difícil pra mim”.

Noel, gerente de segurança, também passou por uma experiência desafiante no início de sua carreira na INFRAERO, no exercício da função de encarregado de manutenção. Suas experiências anteriores foram como fiscal de pátio e inspetor do aeroporto, atividades específicas da área de operações. Ele faz a seguinte declaração: “Eu saí do terminal de cargas e fui ser exatamente encarregado de manutenção do aeroporto. Foi onde eu comecei a ter a oportunidade de realmente fazer alguma coisa dentro da minha formação de segundo grau”.

Para Renato, gerente de manutenção, seu ingresso na INFRAERO em 2001 e sua trajetória até o cargo de gerente regional ocorreu em pouco tempo, no período de um ano. Ele

deparou-se com três desafios distintos: o primeiro foi atuar como engenheiro de manutenção em um dos maiores aeroportos, o de Fortaleza, que estava com uma demanda reprimida por falta de engenheiro; o segundo, assumir a Coordenação de Manutenção da Regional Nordeste, em Recife. Ele narra essa experiência da seguinte forma:

[...] Eu cheguei no momento da construção do aeroporto. Estavam com o aeroporto antigo ainda. Então, uma das missões era justamente receber o aeroporto novo, a nova infra-estrutura. Quando eu cheguei aqui, minha experiência anterior era toda de obra. Eu tive de me dedicar um bocado para aprender o que era manutenção.

O terceiro e maior desafio enfrentado por Renato foi assumir a Gerência de Manutenção, que havia sido criada para a Regional Nordeste. Sua experiência anterior era com obras de engenharia, tanto na construtora como no Aeroporto de Fortaleza. Para ele foi um desafio aprender e dominar a área de manutenção, conforme pode ser evidenciado na seguinte fala:

[...] Primeiro você se dedica até mesmo pelo desafio que recebe. Então, como eu não tinha essa base toda, tinha que correr atrás para consegui-la. Tanto é verdade que os cursos que eu tive na INFRAERO depois serviram mais para consolidar essa informação que eu adquiri antes e o conhecimento do que, necessariamente, me abria a mente, ou para conhecer aquela matéria de manutenção de primeira.

Situação similar ocorreu com gerente e logística de cargas, o Clóvis, que estagiou durante dez meses no TECA - Terminal de Cargas - do Aeroporto de Recife. Na época, o ingresso não era por meio de concurso público, ele foi consultado pelo administrador do Aeroporto de Recife sobre se tinha interesse em ser admitido para trabalhar em Campinas ou Congonhas, no Estado de São Paulo, pois a INFRAERO estava assumindo os Terminais de Cargas desses aeroportos. Ele seria admitido para trabalhar como encarregado da equipe operacional, uma função de confiança de um dos maiores terminais de cargas. Ele narra essa experiência da seguinte forma:

[...] Fiquei 2 meses em Congonhas, até dezembro e depois optei por ficar em Campinas [...] por exigência da lei de criação da INFRAERO, só quem poderia administrar aeroportos com terminais de carga internacionais seria a INFRAERO, ela foi criada para esse fim. [...] Eu tive 10 meses aqui e foram extremamente importantes. (CLÓVIS)

Ao contrário dos seus colegas, cujos desafios foram oportunidades que lhes foram ofertadas, Paulo, gerente de tecnologia da informação, relata que, em 1987, o Aeroporto de Guarulhos havia implantado o seu Centro de Processamento de Dados. Isso foi vislumbrado como uma oportunidade de trabalhar na área de sua formação acadêmica, pois ele ainda estava cursando a graduação de Processamento de Dados. Desta forma, ele solicitou ao seu

chefe laborar nessa nova área, que representava um desafio pessoal e profissional para ele, que não detinha nenhum conhecimento prático e estava no início da faculdade. Segue-se agora o relato dessa experiência:

Em Guarulhos estavam montando um CPD [Centro de Processamento de Dados]. Aí eu entrei na faculdade e fui conversar com o pessoal que estava montando o CPD que, na época, era Marcos Rangel. Eu lhe pedi uma oportunidade na TI. Ele perguntou o que eu sabia de TI. Na época não era TI, era processamento de dados. Eu disse que não sabia nada. Que eu sabia... Que eu entrei na faculdade e depois de um tempo eu ia saber (PAULO)

As situações elencadas demonstram que os indivíduos que aceitam os desafios profissionais, têm grande potencial para aprender dentro de contextos heterogêneos. A possibilidade de estes gerentes aprenderem novas atividades e a lidar com as novas situações é estimulada pelo desnível do estoque de conhecimento que detém e os desafios do contexto. Os desafios, portanto, representaram uma excelente oportunidade de aprender. Essa idéia foi constatada nas entrevistas realizadas com a maioria dos gestores que, em suas carreiras, foram desafiados a assumir funções para as quais não detinham conhecimento técnico necessário. Contudo, essas pessoas apresentavam capacidade de transformar desafios em oportunidades de aprendizagem.