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5.1 Aprendizagem dos gestores

5.1.2 Experiências no ambiente de trabalho

O objetivo desta discussão é analisar como os gestores aprendem por meio das experiências no ambiente de trabalho. A análise inicial demonstra que os gestores entrevistados aprendem por meio de experiências profissionais adquiridas na empresa, exercendo desde cargos operacionais a funções de confiança e compartilhando suas experiências com os colegas de trabalho.

As descobertas do estudo demonstram que a maioria das experiências profissionais apresentadas pelos gestores foi adquirida no desempenho de diversas atividades na empresa. Para eles, as experiências marcantes advindas dos cargos e funções que ocuparam tiveram

grande relevância nas suas formações como profissionais. Um exemplo é o caso do Nilson, gerente de operações, que ingressou na empresa aos 19 anos, como fiscal de pátio (seu primeiro emprego), e desempenhou várias atividades que contribuíram com a sua formação como profissional e gestor.

Ademais, nota-se que essas experiências ocorreram dentro de um mundo social e cultural (JARVIS, 1987) e as mais significativas formaram os estoques de conhecimento desses gestores, corroborando as idéias de Dewey (1976) e (JARVIS, 1987) de que nem toda experiência é significativa, mas apenas aquelas que são capazes de fazer os indivíduos refletir sobre elas. As experiências que foram citadas eram as mais significativas, porquanto formaram a base dos conhecimentos técnicos desses gestores, no entanto, foi constatado nos relatos que outras experiências não foram significativas e, portanto, não geraram aprendizagem relevante. Como o exemplo narrado pela Rosângela, gerente de administração, que afirma que sua experiência na área de pessoal (como auxiliar administrativo) não foi tão significativa na sua formação profissional, como sua atuação como superintendente de um aeroporto.

Outra descoberta do estudo foi a de que os gestores que atuam na empresa há mais tempo adquiriram sua experiência profissional praticamente toda na área de serviços aeroportuários. Para a maioria, a INFRAERO foi um dos seus primeiros empregos, portanto, formaram seu curriculum na empresa, na qual eles estão há cerca de vinte anos. Sendo assim, as experiências no ambiente de trabalho, no caso estudado, parecem ser fundamentais para a formação de estoque de conhecimento dos gerentes.

Dewey (1976) chama isso de princípio da continuidade da experiência, que consiste na observação de que toda e qualquer experiência serve-se das anteriores e modifica, de algum modo, as futuras. Isso pode ser exemplificado com as mudanças no cenário da área de infra- estrutura aeroportuária e nas normas regulamentadoras da aviação civil nacional e internacional nos últimos anos. Com isso, os gestores estão constantemente transformando seus conhecimentos, a fim de que possam adaptar-se aos novos contextos. Como no caso da Ana, gerente de controle empresarial, que relatou que os eventos envolvendo os acidentes aéreos, as denúncias de corrupção na empresa e a instauração da CPI do apagão aéreo, tiveram repercussão no seu estilo gerencial, pois, ela adotou uma postura mais cautelosa. Ademais, ela teve que buscar novos conhecimentos para lidar com o novo contexto, pois, a empresa passou a ser auditada pelos órgãos de controle interno e externo (Tribunal de Contas da União).

Conforme defendido por Kolb (1984) e Jarvis (1987) as experiências ocorrem dentro de um contexto social e cultural no qual as pessoas existem. No presente estudo, um exemplo que corrobora as idéias dos referidos autores é que alguns gestores declararam que, apesar de a empresa ser extremamente normatizada, eles precisam, em função do contexto, adotar novas soluções para problemas.

A experiência do passado ela é sempre muito válida, porque ela está te trazendo o resultado de algo que aconteceu. Então, você não deve nunca ignorá-la, mas a partir do momento que você fica só no passado, você não evolui e não deixa as outras pessoas evoluírem. Então, eu, no meu caso, eu utilizo as experiências do passado, mas sempre com um olho no que está no mundo, no que está acontecendo no mercado. (ANA)

Foi observado no estudo que alguns gestores confessam que assumiram algumas funções de chefia sem ter experiências anteriores na área que iriam atuar. Casos desse tipo são esclarecidos pelo modelo de Jarvis (1987), no qual se afirma que a aprendizagem ocorre quando os conhecimentos e as habilidades são adquiridos na interação entre a experimentação e a reflexão até que o saber seja internalizado. Além disso, este achado corrobora a premissa de Jarvis (1987) que afirma que “quando uma experiência é significativa , ela torna-se uma base para o aprendizado quando há algum desencontro entre os arredores sócio-cultural- temporais e o estoque de conhecimento do ser”. Ou seja, quando existe uma discrepância/desnível entre o estoque de conhecimento (disjuction) e uma dada situação. Como ocorreu no caso do Renato que assumiu a coordenação de manutenção da regional, sem ter embasamento teórico da área. Pois, ele é engenheiro civil e sua vivência profissional anterior a INFRAERO, foi na área de construção civil.

A análise dos dados sugere que o desempenho dos gestores em diversas funções de chefia contribuiu para que eles desenvolvessem uma visão mais sistêmica da empresa. Essas experiências provocaram modificações nos gestores, que foram amadurecendo profissionalmente e, como conseqüência, foram assumindo novas responsabilidades. No relato de Rosângela, gerente de administração, ficou claro que suas experiências adquiridas como superintendente de aeroporto influenciam na sua visão mais holística da empresa. Assim, hoje, ao emitir um parecer para qualquer área da empresa, ela utiliza os conhecimentos adquiridos naquela época, além de entender os impactos das decisões nas demais áreas da empresa.

Uma descoberta interessante do estudo foi um dos gestores afirmar que busca compartilhar suas experiências com seus colegas de trabalho. Ele reconhece que cada pessoa

deve ter o discernimento necessário para aplicar a aprendizagem adquirida, de acordo com cada situação. Isso demonstra o caráter prático-social da aprendizagem, visto que as pessoas podem compartilhá-la (GHERARDI; NICOLINI; ODELLA, 1998). Porém, cada experiência que um indivíduo vive é única, independentemente do ambiente. Cada um interpreta as situações de acordo com seu estoque de conhecimentos (JARVIS, 1987).

Por fim, observa-se que os gestores aprendem por meio de suas experiências principalmente de três maneiras. A primeira delas é a aprendizagem é caracterizada por experiências profissionais adquiridas anteriormente no desempenho de vários cargos e funções de chefia, que geraram conhecimentos e habilidades. A empresa possibilitou, nesse caso, oportunidades de aprendizagem. A segunda maneira que os gerentes aprendem é utilizando as experiências que já possuíam para o bom desempenho de suas atuais funções gerenciais. A terceira, é compartilhando suas experiências com outros colegas de trabalho.