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4.4 Quais são as competências existentes e desejáveis dos gestores examinados?

4.4.1 Competências existentes ou percebidas como importantes pelos gestores

4.4.1.4 Competências sociais (saber ser)

Os gerentes entrevistados relatam que utilizam suas competências interpessoais para desenvolver uma rede de relacionamento com as pessoas que o cargo o torna dependente. Essa rede é empregada para ajudá-las a criar e atualizar uma agenda organizacional, mobilizar recursos, pessoas e saberes dentro de um contexto profissional. Assim, fica claro que eles possuem competência social e empregam-nas no seu contexto prático-social, ao interagirem com seus pares, subordinados e demais stakeholders.

A competência social, inicialmente, envolve ter autonomia e assumir responsabilidades (ZARIFIAN, 2001, p.147). Verificou-se que Tavares, gerente de marketing e comunicação social, empreende esforços para desenvolver esses dois aspectos em sua equipe (trabalho em equipe), pois ele acredita que a responsabilidade dos resultados obtidos

pela área deve ser atribuída a todos os indivíduos que a compõe. Ademais, nota-se que, como gestor, busca envolver e orientar as pessoas para a consecução dos resultados a serem alcançados pela sua gerência, conforme pode ser evidenciado na seguinte fala:

[...] eu peço que assumam mais a responsabilidade de trazer o resultado, e não trazer o problema, de preferência duas ou três opções de resultado. Se trouxerem o problema, continuo sendo uma pessoa amarrada e digo-lhes que lugar bom é quando o chefe não está e ela [a empresa] funciona [...] Ganhamos mais autonomia [...] os outros superintendentes reconhecem o status da superintendência regional, reconhecem e acatam as nossas orientações. (TAVARES)

Essa percepção de que os gestores apresentam alguns dos elementos que compõem a competência social é confirmada por meio das entrevistas realizadas com os coordenadores. A maioria dos entrevistados concorda que seus gestores utilizam a competência social no desempenho de suas atividades.

O gerente [Nilson] tem suas principais competências para resolver quando é requerido: firmeza em suas decisões, conhecimento técnico daquilo que gerencia, dedicação àquilo que executa ou se compromete a executar, responsabilidade com a garantia da operação e segurança das atividades desempenhadas e, dentre outras, a capacidade de delegar atividades para a sua equipe. (CLÁUDIO)

Observa-se nos relatos que os gestores acreditam que o sucesso de um profissional está alicerçado mais na sua habilidade de estabelecer relacionamentos com as pessoas do que no seu conhecimento técnico. Ou seja, o desempenho não está atrelado necessariamente ao domínio da área de atuação, mas na sua capacidade de utilizar suas habilidades interpessoais para gerar resultados por meio da mobilização de pessoas e recursos.

[...] o relacionamento, no meu entendimento, é fundamental. Hoje, eu diria para você que o sucesso de alguém está na inteligência mediana, muita capacidade de comunicação e um pouco de sorte, mas muita comunicação. (TAVARES)

Essa idéia é confirmada por Rosângela, gerente de administração, que afirma categoricamente que o fator preponderante no seu desempenho como superintendente do Aeroporto de Paulo Afonso foram os relacionamentos que havia estabelecido com os gestores da Regional, da sede e com alguns empregados do aeroporto que a estavam recebendo. Ela reconhece que apesar de não dispor de todos os conhecimentos necessários para o desenvolvimento da função, utilizou-se da sua rede de relacionamento para desempenhar suas

atividades. Ela ainda destaca que suas habilidades de comunicação e de relacionamento com as pessoas são uma de suas principais características, ou seja, competência, conforme narra: “se não fosse o meu relacionamento com todas essas áreas, acredito que o meu desempenho lá não teria sido tão bom”.

Paulo, gerente de tecnologia da informação, por sua vez, reconhece que a maior dificuldade na função de gestor é gerenciar os conflitos interpessoais. Para ele, o gestor precisa utilizar sua habilidade interpessoal para envolver os indivíduos, de forma que eles se comprometam com os objetivos da empresa e prestem o melhor serviço para os clientes internos e externos. Nesse ponto, ele considera que consegue estabelecer um bom relacionamento com sua equipe: “Em termos de relacionamento e em termos de desempenho de atividades, estou muito satisfeito, nunca preciso me desgastar com ninguém, de ter de dar bronca, de chamar atenção”.

Noel (gerente de segurança) e Nilson (gerente de operações) enfatizam em seus relatos a importância do estabelecimento de um bom relacionamento com as demais áreas da empresa e com seus gestores, pois suas áreas estão necessitando constantemente de recursos ou serviços. Ademais, como lidam com situações de conflitos, problemas operacionais e situações de crise, eles destacam que a competência social — autonomia, assumir responsabilidade, comunicação, negociação e trabalho em equipe são fundamentais para resolver as questões com os vários stakeholders: empregados, lojistas, empresas aéreas, contratados e demais membros da comunidade aeroportuária, que ocorrem quase cotidianamente.

Até porque você trabalhar com relacionamento interpessoal é gerenciar crise. Mesmo que seja dentro da área, com empresários e por aí vai. Porque você saber gerenciar a crise, seja uma coisa pessoal, seja uma coisa profissional é muito interessante (NILSON)

Apesar de se evidenciar nos relatos que a maioria dos entrevistados apresenta competência social, por outro lado, verifica-se a existência de problemas envolvendo os relacionamentos entre as áreas. Essa questão é tratada de forma muito sutil por Tavares:

[...] as áreas não se comunicam, quem se comunica são as pessoas. Sendo assim, são elas que precisam ser mais humildes e se comportar como servidores, [...] não existe a cultura da humildade. Servir é ser humilde, mas não quer dizer que atender bem é fazer tudo que a pessoa quer. (TAVARES)

Por outro lado, no que concerne à utilização pelos gestores da competência de relacionamento, foi interessante constatar que, apesar de todos reconhecerem a relevância do estabelecimento de redes de relacionamentos com gestores, superiores, empregados, demais

stakeholders e de afirmarem a importância de pô-las em prática no cotidiano para a execução

de suas atividades, mobilização de recursos e de pessoas e resolução de problemas, esse parece ser um dos aspectos a ser melhorado entre esses gestores.

Portanto, fica claro nos relatos que os gestores podem servir-se da competência social para estabelecer redes que os ajudam no desempenho de suas funções. Isso nos leva a crer que o potencial da competência social é imensurável e se for utilizado com coerência, habilidade e maestria, torna-se um meio poderoso de obtenção de informações e resolução de problemas. Ademais, acredita-se que essa competência também pode ser desenvolvida por meio do processo de aprendizagem, mediante cursos específicos para o corpo gerencial da empresa.