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Aprendizados: dos conteúdos das disciplinas aos embates políticos e recreativos

4 OS EGRESSOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPE: ALGUMAS

4.4 Aprendizados: dos conteúdos das disciplinas aos embates políticos e recreativos

Se os referenciais sociais e intencionais se consolidaram como decisivos para a formação e integração dos egressos, não há dúvida de que os conteúdos disciplinares ofertados nos dez semestres letivos do curso, revisitados nos estágios obrigatórios, venham sendo mobilizados pelos estudantes egressos em suas ocupações atuais. Os depoimentos referentes à questão de como “colocam em prática, no seu dia a dia de trabalho, os aprendizados obtidos durante o curso de Pedagogia” apontam a importância de determinadas disciplinas para o tipo de atividade que realizam hoje.

Rebeca, atualmente professora na renomada Escola Americana, mostra em seu depoimento o quanto foram importantes, por exemplo, os aprendizados proporcionados pelas disciplinas de Fundamentos da Língua Portuguesa. Além do livro didático utilizado em sala de aula, a egressa utiliza os diferentes jogos educativos que aprendeu a desenvolver nas disciplinas para trabalhar os conhecimentos prévios das crianças com quem trabalha:

"Na disciplina de português, Fundamentos da Língua Portuguesa, a gente criava jogos para ensinar aos alunos. E isso eu uso muito hoje. Eu estou

sempre criando e isso me influenciou muito porque estou sempre criando para sair do livro. E trabalho o conteúdo do livro fora dele. As crianças não acham aquela coisa chata [...] A gente como professor tem o papel de usar o que a criança tem para ajudá-la a crescer e aprender. (Entrevista realizada com Rebeca em fevereiro de 2017, conforme pesquisa de campo.)

De maneira semelhante à egressa Rebeca, Kátia também faz menção que aplicou parte do conhecimento adquirido na disciplina de Educação Literária nos projetos de leitura que desenvolvia com crianças na ONG:

"Eu gostei muito de uma disciplina eletiva que eu fiz com a professora Érica. Chamava-se Educação Literária. No começo eu fiz porque eu precisava de uma disciplina eletiva para fechar a carga horária. Mas depois foi muito boa, muito prática. Foi muito bom, eu gostei demais! Eu apliquei várias vezes tudo o que aprendi nos projetos, no meu trabalho. Foi realmente bom". (Entrevista realizada com Kátia em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

No entanto, se os conteúdos disciplinares socializados em sala de aula se mostraram significativos para a formação inicial dos egressos e as atividades que hoje desempenham, não menos importantes são os aprendizados e os saberes adquiridos fora da sala de aula. Dos corredores, passando pelos coletivos políticos até as calouradas, os egressos, das diferentes origens sociais investigadas nesta pesquisa, mostram como esses espaços foram decisivos para prepará-los para a vida no mundo do trabalho.

Entre os aprendizados que consideram de suma importância para sua prática profissional, estão aqueles incorporados por meio de suas participações dos embates políticos que participaram tanto dentro do D. A de Pedagogia, como também nos corredores do Centro de Educação. A fala da estudante Lúcia sintetiza bem os “saberes práticos” incorporados e aplicados hoje em seu cotidiano profissional, graças aos movimentos políticos que participou durante o curso:

"A pedagogia do corredor ensina muito e às vezes até mais que a própria sala de aula. [...] Eu penso que o Diretório tem um papel social e político na universidade. Então, eu levo isso, a forma como dá voz ao outro, como tratar o outro, de compreender mais o outro. Eu tento fazer isso no meu trabalho como, por exemplo, compartilhar as coisas, e eu acredito que isso faz uma diferença na forma de olhar o outro. Toda formação política e social que eu tive na Universidade, eu levo para o meu trabalho. Claro que lá tem uma característica específica, lá tem um caráter burocrático, mas a forma como

tratar o outro, a forma como educar as pessoas, eu tento conduzir da forma como eu aprendi nesses movimentos". (Conforme entrevista realizada com Lúcia em maio de 2017.)

Os encontros políticos proporcionados por meio da militância via Diretório Acadêmico, mas também nos “corredores”, no pátio e jardins da UFPE, eram também a possibilidade dos estudantes realizarem leituras outras que aquelas oferecidas nos cronogramas distribuídos pelos professores em sala de aula. Essas instâncias de socialização, como observa Pinheiro (2007), acabam por proporcionar um trabalho educativo que contribui tanto para a formação política quanto cultural dos estudantes. A fala da egressa Suzana, professora da educação infantil, mostra como a sua vivência nas atividades fora da sala de aula permitiu “ampliar” sua visão de mundo, em particular, de sua concepção do que é “aula”:

"Eu pensava que a minha aprendizagem na Universidade estava dentro da sala de aula, entende? Mas não estava só lá. Estava com meus amigos nos corredores, estava nos congressos, estava nos movimentos, nas aulas que não eram só na sala de aula. Era conversa no pátio, numa palestra que tinha lá no auditório, e que às vezes tinha professor que não ia e aí a gente tinha que ficar na sala de aula. Então, assim, eu fui conhecendo outras pessoas e essas outras pessoas foram abrindo meu horizonte, né? E aí eu ia interagindo, e fui percebendo que a sala de aula não era só o meu lugar de aprendizado ali na Universidade. [...] Nos encontros que a gente organizava, a gente sempre levava uma leitura, a gente discutia [...] (Entrevista realizada com Suzana em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Uma outra instância de socialização promotora de práticas educativas foram as calouradas promovidas pelos Diretórios Acadêmicos. De acordo com os entrevistados, as calouradas funcionavam tanto como lugar recreativo, espaço nos quais podiam reencontrar e festejar com os amigos, quanto lugar de discutir política e, portanto, trocar informações a respeito do funcionamento da Universidade, dos programas de assistência estudantil, do cenário econômico local e nacional, além de possibilitar a integração entre os estudantes de diferentes centros. Anny, que atualmente cursa o doutorado em Educação ao mesmo tempo em que espera ser chamada para atuar como professora do ensino infantil na Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes/PE, lembra das calouradas que frequentou com um sorriso saudoso. Para a egressa, a calourada era um momento de descontração e possibilidade de conversar e trocar muitas experiências:

“E por que não as calouradas? Nos primeiros períodos, tinham as calouradas. Eu curtia muito as calouradas no segundo e terceiro períodos… era um momento de você desopilar também. Esses momentos eram bem legais [...] Desde conversa até troca de experiências e tudo o mais”. (Entrevista realizada com Anny, em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

No que tange aos aprendizados constituídos nessa instância e mobilizados pelos egressos em seu cotidiano profissional, chama-nos a atenção o relato de Paulo, hoje, coordenador educacional na ONG Etapas. O egresso, que desenvolve junto à Organização um projeto voltado para a politização de crianças e adolescentes, afirma que, dentre os aprendizados que mais contribuíram para a sua prática profissional, estão as discussões políticas vivenciadas tanto nos corredores e no D. A, mas também nas calouradas que frequentava. O egresso credita a sua facilidade em enfrentar situações de conflitos em seu cotidiano profissional graças aos diferentes conflitos (brigas e discussões politicas) que precisou “resolver” durante as calouradas que frequentou:

"Eu consigo botar muita coisa em prática do que eu aprendi na UFPE no meu trabalho hoje. Mas não foi dentro daquelas salas na UFPE. Foi o que aprendi lá naqueles corredores, fazendo política, indo para discussões políticas, conversando com estudantes, conversando com as pessoas [...] Eu aprendi muito nas calouradas. E aprendi a discutir mesmo. Não é falando de uma forma bem abstrata! Porque fica bonito dizer que aprendi na festa, não é?! Eu digo isso porque nas calouradas a gente tinha discussões políticas. É o fato de estar no mesmo espaço com outros corpos habitando, conhecendo e se permitindo conhecer outros corpos e dialogando com pessoas. E resolvendo problemas. Porque na UFPE, a gente aprende, aprende, aprende... depois a gente reproduz, reproduz, reproduz. Mas quando o menino começa a chorar na sala, a gente não sabe o que fazer, porque a gente não aprendeu a resolver problema! Então, foi na calourada, quando as pessoas brigam, que a gente tem que aprender a resolver problema. Então, é como se a gente aprendesse na sala de aula uma fórmula ideal de resolver problema, mas que não é real! Porque a gente tá tratando com sujeitos, com gente diferente que reage a tudo de forma diferente. Então, eu aprendi muito mais fora, quer dizer dentro da Universidade, mas fora da sala de aula". (Entrevista realizada com Paulo em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

4.5 Da conclusão do curso até a inserção no mercado de trabalho: prolongamento