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Da conclusão do curso até a inserção no mercado de trabalho: prolongamento dos

4 OS EGRESSOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPE: ALGUMAS

4.5 Da conclusão do curso até a inserção no mercado de trabalho: prolongamento dos

Embora a inserção dos egressos no mercado de trabalho se constitua, por vezes, um caminho longo e dinâmico, um fato é certo: sem o prolongamento dos estudos após a conclusão da formação inicial, dificilmente os egressos conseguem emprego.

Assim, independente da origem escolar de seus pais e do lugar em que estão exercendo suas atividades ocupacionais, praticamente, todos os egressos estão fazendo ou já fizeram uma especialização e/ou mestrado após o término do curso de graduação (nove dos 12 entrevistados). O prolongamento dos estudos tende a se converter não apenas em um recurso de desempate, utilizado num momento de disputa por uma vaga ou posto de trabalho, mas também em um recurso de proteção contra situações de emprego extremamente precarizado. Tudo se passa como se fosse preciso “continuar, sempre e sempre (...), para evitar o desemprego e obter melhores salários. Estudos cada vez mais prolongados a qualquer custo” (BAUDELOT, 2004, p.6).

Por outro lado, é possível verificar uma variação do momento em que os egressos prolongam seus estudos após a conclusão da graduação, bem como o tipo de prolongamento. Assim, dos nove que continuaram a estudar, quatro "optaram" por uma pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), enquanto que os demais (cinco) "optaram" pela pós-graduação lato sensu (especialização). Os que optaram em fazer (ou estão fazendo) um curso lato sensu são aqueles que estavam disputando uma vaga de emprego no setor privado. A especialização é vista por esses egressos como uma qualificação mínima para estar no mercado.

Já os quatro que optaram em fazer mestrado, isto é, um curso stricto sensu, o fizeram sem necessariamente vincular a aquisição do diploma à disputa no mercado de trabalho, nem tampouco para sua permanência em algum cargo. Isso ocorre porque, para esses últimos, a entrada no mundo no trabalho não era uma preocupação, uma vez que eles já estavam inseridos em um emprego público (antes mesmo de terminar a graduação) ou apenas estavam aguardando a convocação para assumir um cargo público.

Tal é o caso de Suzana, professora do ensino fundamental, em uma escola no bairro da Várzea. A egressa decidiu investir numa especialização a distância em Educação Infantil, após ser reprovada na seleção do mestrado em Educação Matemática, como maneira de se tornar mais apta para disputar uma vaga no mercado de trabalho. Embora tenha realizado concursos públicos, a entrevistada fala da dificuldade em garantir uma boa classificação em função do peso da nota atribuída aos títulos:

“Eu tentei o mestrado na área de Educação Matemática, só que eu não consegui entrar. Talvez eu possa fazer depois, mas agora a minha prioridade não é mais o mestrado. [...] Eu estou fazendo especialização na área de Educação Infantil. É um curso a distância, mas eu estou fazendo por causa do título mesmo para conseguir uma melhor pontuação na hora de fazer um concurso”. (Entrevista realizada com Suzana em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Estratégia semelhante foi adotada por Carla, atualmente exercendo a função de instrutora de treinamento em um Call Center no município de Jaboatão dos Guararapes/PE. De origem social um pouco mais elevada que Suzana, visto que seus pais concluíram o nível médio, Carla não esconde sua frustração quando questionada a respeito da função que exerce e os investimentos que decidiu fazer para “fugir” do tipo de trabalho que vem exercendo. Além do curso de especialização em Gestão da Educação que iniciou no início de 2017, Carla pretende realizar um mestrado em Gestão Escolar, área em que pensa atuar futuramente:

“Eu tive que optar pelo Call Center. Quando entrei no Call Center, eu fiquei um pouquinho atendendo, mas quando teve um processo seletivo pra ser Instrutora de Treinamento eu fiz porque era o jeito de eu minimizar minha frustração, que era o jeito de eu estar ensinando os operadores lá, os procedimentos. Então, ficava mais próximo da minha profissão.[...] Ano que vem, vou tentar o mestrado para Educação”. [...] Quanto à especialização, minha mãe e meu pai já vinham me cobrando muito [...]. E aí, no ano passado, eu já tinha pago a matrícula da faculdade e me inscrevi, fui aprovada no processo, paguei a matricula e aguardei fechar a turma. No último ano da especialização, eu vou focar no mestrado. (Entrevista realizada com Carla em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Já Márcia pontua, de maneira semelhante, a dificuldade encontrada na procura de um emprego, em particular, na área para a qual foi formada, por não obter uma titulação mais elevada que o diploma de ensino superior. Ainda finalizando o curso, a egressa tentou concurso público para professora na rede de Recife. Após enviar inúmeros currículos para diferentes escolas privadas sem sucesso, decide, com o apoio da mãe que trabalha como

auxiliar de serviços gerais, fazer uma especialização em Gestão e Coordenação Pedagógica na UFPE. De acordo com a egressa, sua decisão em fazer a especialização tem relação com o fato de tornar seu currículo mais competitivo:

“Primeiramente, eu fiquei tentando concursos, né? Mas não passei na área e ia colocando currículos em várias escolas. Sempre colocando currículo e nada, e nada. Aí, o primeiro concurso que apareceu, que foi Auxiliar de Desenvolvimento Infantil, ADI, na Prefeitura, eu fiz... Passei e estou na área e na esperança de ter um emprego na minha área, né? De licenciatura, como pedagoga, ensinar. [...] Eu fiz a especialização para ver se aumentava o currículo. [...] Só se eu tivesse algum conhecimento. Alguém que quisesse me colocar em escola [...]” (Entrevista realizada com Márcia em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Roberto, ao contrário das três, prestou concurso para o Banco do Brasil antes mesmo de concluir o curso de Pedagogia. Após quase três anos atuando como bancário, e alguns estresses vividos no trabalho, Roberto decidiu pedir afastamento para cursar mestrado e se qualificar para buscar um novo trabalho. O ex-estudante contou com o apoio de sua esposa para investir em sua qualificação, na tentativa de mudar de ocupação profissional:

“Eu estava no Banco e, em 2015, eu cheguei a pedir demissão, mas eles não deixaram, botaram mil dificuldades. Aí, a pedagoga do Banco disse, 'não

peça demissão agora, a lei de licença vai mudar. Fique aí um pouco'.

Graças a Deus, isso fez com que eu mantivesse o vínculo. Caso a situação financeira piore, pelo menos, dinheiro eu vou ter, mesmo morrendo existencialmente. Então em 2015, eu pedi afastamento, já pensando em fazer mestrado na UFPE. A ideia era tentar me qualificar. Em 2015, eu saí de licença do Banco, mas sem direito a ficar recebendo, era uma licença sem vencimento. E aí, minha esposa disse: 'eu te garanto aí, financeiramente. Vai

tentar estudar e, se passar com bolsa, ótimo, mas também, se não passar, a gente se vira'. No ano seguinte, deu para passar e deu para ter bolsa”.

(Entrevista realizada com Roberto em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.

Assim como Carla e Suzana, Paulo deu início ao seu curso de especialização em Gestão de Programas de Projetos Sociais assim que iniciou suas atividades profissionais na ONG Etapas. O egresso revela que a especialização proporcionou conhecimentos indispensáveis para a prática de suas atividades como, por exemplo, a apropriação das leis que regem os trabalhos das ONG's e dos movimentos sociais. Entretanto, afirma que se sente cobrado no trabalho para a obtenção do título de mestre. Apesar do desencanto pela vida

acadêmica, o egresso deixa entender que a garantia de seu futuro profissional está associado à aquisição de outra titulação:

“Eu fiz especialização em Gestão de Programas de Projetos Sociais na Unicap, porque é uma área que eu trabalho. [...] E o curso me ajudou muito, me deu mais elementos para o que eu faço. Para entender os marcos legais, as legislações que envolvem isso que eu estou fazendo. [...] Hoje eu sou muito pressionado a fazer mestrado porque no meu trabalho as pessoas valorizam isso. O mestrado vai fazer pouca diferença, se você for para a educação infantil, mas, aqui, para a ONG, conta muito. [...] Eu não quero fazer mestrado, porque eu não quero me submeter novamente àquelas regras, àquelas coisas da Universidade que me fizeram tão mal e que me trazem lembranças tão ruins. Só por isso que eu não quero”. (Entrevista realizada com Paulo em maio de 2017, conforme pesquisa de campo.)

Dos 12 egressos, apenas três não prolongaram os estudos, foram elas: Giovana, Kátia e Rosália. São justamente essas as egressas que não estão inseridas no mercado de trabalho. Kátia, diferentemente de Rosália, que nunca cogitou em fazer uma pós-graduação, pensou na possibilidade de realizar um mestrado logo após a conclusão do curso. No entanto, a ex-aluna precisaria abrir mão da única fonte de renda, fato que levou a egressa a adiar seu ingresso em um programa de pós-graduação:

“Eu tinha vontade de, após o curso, ingressar logo no mestrado. Mas, por causa do trabalho que eu já desenvolvia, eu não queria abrir mão”. (Entrevista realizada com Kátia em março de 2017, conforme pesquisa de campo.)

A egressa Giovana, por sua vez, nunca trabalhou após a conclusão do curso. A egressa, embora tenha distribuído currículos em escolas privadas, decidiu recentemente estudar para prestar concurso público. Já Kátia, antes mesmo de concluir o curso de Pedagogia, já trabalhava em uma ONG sustentada pela Igreja Batista que frequenta desde criança. Atualmente, a egressa se encontra desempregada e procura um emprego na educação formal. Rosália, após a conclusão do curso, optou por cuidar das filhas adolescentes e não prolongar seus estudos. Seu depoimento quanto à escolha do curso é revelador do que esperava fazer após o seu término:

[...] "Quando eu fiz o curso de Pedagogia, eu não pretendia ir para a sala de aula. Aliás, eu não queria seguir essa profissão. Eu fiz o curso para ocupar minha cabeça, porque minha mãe teve Alzheimer. Eu via minhas colegas na sala dizendo assim: 'Ah! É meu sonho, é tudo que

eu quero para minha vida. Eu quero ser professora'. E você via que os olhos delas brilhavam. Eu tinha várias colegas lá que pensavam assim, mas para mim não dava. Eu nunca tive (senti) isso, não! E aí, eu dizia assim para elas: eu não posso, eu não vou ter tempo, eu não vou fazer isso. Então, eu pensava: vou fazer o curso, vou terminar e acabou”. (Entrevista realizada com Rosália em maio de 2017, conforme pesquisa de campo).