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2 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL, A UNIVERSIDADE

2.3 O curso de Pedagogia da UFPE

Com o objetivo de formar seus alunos para a atuação no magistério em educação infantil, nas séries iniciais do ensino fundamental, bem como em cursos de ensino médio, na modalidade Normal e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, o curso de Pedagogia da UFPE funciona nos três turnos e possui uma carga horária de 3.210 horas/aula, com uma duração mínima de cinco anos, e seu projeto político-pedagógico, reformulado em 2007, é o resultado de um grande debate sobre o papel do pedagogo e do curso de Pedagogia na sociedade.

De fato, desde que foi instituído em 1939 as discussões em torno do campo de atuação do pedagogo se constituiu em uma das principais razões para as inúmeras mudanças da grade curricular do curso de Pedagogia. No início, ele foi criado com o objetivo de formar bacharéis, que, na época, eram designados “técnicos em educação”. Somente nos 1960, por meio do Parecer nº 251/1962, do Conselho Federal de Educação (CEF), é que o curso passou a formar bacharéis e licenciados.

Assim, a formação que antes funcionava no esquema de 3+1 (nos três primeiros anos se obtinha um diploma de bacharel) passou a ser de quatro anos. A distinção entre bacharéis e licenciatura foi abolida e o curso de Pedagogia se voltou para formar profissionais que atuassem nas áreas da administração escolar, supervisão pedagógica e orientação educacional. A docência se tornou a base de formação do pedagogo e as habilitações, uma espécie de especialização em determinadas áreas educacionais. De acordo com Silva (ANO), a emissão desse parecer do CFE teria sido até o momento o mais explícito quanto à definição do mercado de trabalho para o pedagogo7.

Em vigor durante 27 anos, o parecer só foi modificado em 1996, com a reformulação da Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDB - Lei nº 9.394/1996), que foi fruto de inúmeros embates em torno da finalidade e do perfil do profissional formado, acabando por reafirmar a defesa da docência como base obrigatória de formação e identidade profissional.

Em função das novas exigências colocadas pela LDB de 1996, o curso de Pedagogia da UFPE realizou um reajuste na carga horária em 1997 e, em 2000, deu início a uma reforma parcial do curso. A elaboração dessa reforma parcial contou ainda com os princípios e definições sobre as condições de ensino e aprendizagem, estabelecidas pela Resolução nº 01/2006 (BRASIL, 2006), que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia (DCN's de Pedagogia). De acordo com esse documento, pedagogo continua a ser o profissional cuja formação é a Pedagogia, o que, no Brasil, é uma licenciatura.

Ainda de acordo com as DCN's, o curso de Pedagogia deve propiciar estudos teórico- práticos, planejamento, execução e avaliação de atividades educativas e aplicação de conhecimentos como o filosófico, histórico, antropológico, ambiental-ecológico, psicológico, linguístico, sociológico, político, econômico e cultural. As diretrizes definem, ainda, o que é central para a formação do licenciado em Pedagogia: “O conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania; a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigação de interesse da área

7 A homologação deste parecer ocorreu no contexto da Lei da Reforma Universitária de 1968, momento em que

a Faculdade de Filosofia foi desmembrada em vários setores, os departamentos, e, a educação, por não se inserir em nenhuma das áreas básicas do conhecimento “foi elevada ao status de faculdade devido à sua multifuncionalidade” (BRZEZINSKI, 1996).

educacional; a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino” (MACHADO, 2014, p. 60).

As DCN's reforçam, ainda, a ampliação do campo de atuação docente, na medida em que ressaltam a importância do exercício do pedagogo em áreas nas quais esteja presente todo tipo de conhecimento pedagógico (MANDÙ e AGUIAR, 2013). Assim, empresas, hospitais, ONGs, associações, eventos e emissoras de transmissão passam a fazer parte dos possíveis cenários de atuação do pedagogo, permitindo que esse profissional passe a disputar junto com outros profissionais serviços e locais outros que não apenas a sala de aula.

Embora a reforma parcial, instituída em 2007 pelo colegiado do curso de Pedagogia da UFPE, tenha tentado dar conta dessas novas exigências (o estágio, que acontecia apenas no final do curso, passou a ser realizado ao longo de toda a graduação)8, os embates em torno do campo de atuação do Pedagogo permanecem ainda vigentes, tanto no cenário nacional (LIBANEO, 2006; PIMENTA, 2002; SAVIANI, 2008), quanto local (MANDÚ, 2012).

Precisamente no nível local, chama-nos a atenção os dados observados por diferentes pesquisas junto aos discentes de Pedagogia nos últimos anos (NASCIMENTO, 2016; SILVA, 2016; ANDRADE E ARAUJO, 2013). Esses estudos mostram que, como a tônica da formação do pedagogo continua ser a docência, o quantitativo de disciplinas dedicadas à educação não escolar ainda ocupa um lugar menor na grade curricular do curso. Tal fato é, de acordo com os pesquisadores, o que impossibilita os estudantes trilharem caminhos formativos e profissionais que não sejam a docência ligada à sala de aula. Além disso, essas investigações constatam a fragilidade que os estudantes têm em articular os conteúdos teóricos apreendidos em sala de aula dentro dos campos de estágio, normalmente, em salas de aula das escolas públicas da Região Metropolitana do Recife.

Tais investigações, assim como as avaliações institucionais que têm sido elaboradas pelo próprio colegiado do curso, têm sido mobilizadas nas discussões sobre a nova reforma curricular no Centro de Educação da UFPE, reforma essa exigida pela Resolução nº2 do Conselho Nacional de Educação (CNE), em julho de 2015.

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Com uma carga horária maior, o estágio passou a ser chamado de Pesquisa e Prática Pedagógica (PPP) e foi redistribuído ao longo do curso (PPP1, PPP2, PPP3, PPP4 e PPP5 e ministradas entre o 3º e 7° período). Essa alteração visou dar centralidade à pesquisa e à prática pedagógica, articulando a teoria vista em sala de aula, a prática de ensino e a pesquisa educacional (PROJETO PEDAGÓGICO, UFPE, 2007).

Apesar de trazer novas diretrizes para a base curricular do curso de Pedagogia, como a inserção de disciplinas relacionadas à educação escolar indígena, educação do campo, educação escolar quilombola, por exemplo, a discussão sobre a identidade do pedagogo, o campo de atuação e o tipo de formação a ser ofertada está longe de ser solucionada.

É nesse cenário de imprecisões e ambiguidades que vivem e atuam os pedagogos formados na UFPE, o que fortaleceu o nosso interesse em considerá-los como “caso” para pensar os usos sociais dos diplomas de Pedagogia.

3 DESENHO TEÓRICO-METODOLÓGICO: CAMINHOS TRILHADOS PELA