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APRENDIZAGEM, SABERES DA DOCÊNCIA, PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ESCOLARES E MUITO MAIS ���

A formação profissional continuada de professores(as) pode se desenvolver, conforme vimos abordado no tópico antecedente, de múltiplas maneiras, seja de forma presencial, semipresencial/híbrida ou na modalidade de educação a distância (EaD) on-line.

Face ao exposto, é de capital relevância mencionar, de antemão, o que se argumenta no excerto abaixo:

A formação continuada, [...] é necessidade intrínseca para os profissionais da educação escolar e faz parte de um processo permanente de desenvolvimento profis-sional que deve ser assegurado a todos. A formação continuada deve propiciar atualizações, aprofunda-mento das temáticas educacionais e apoiar-se numa reflexão sobre a prática educativa, promovendo um processo constante de autoavaliação que oriente a construção contínua de competências profissionais. [...]

Isso supõe que a formação continuada estenda-se às capacidades e atitudes e problematize os valo-res e as concepções de cada professor e da equipe.

(BRASIL, 1999, p. 70; ressaltos nossos)

Dentre todos os modos possíveis de ocorrência dessa formação, consideramos ser o grupo de estudos e pesquisas científicas um exce-lente locus educativo para a formação permanente de docentes, haja vista que o mesmo propicia, quando desenvolvido presencialmente, ensino no plural, aprendizagens, compartilhamento de experiências (pessoais e profissionais), realização de leituras e análises crítico-reflexivas de diversos textos acadêmico-científicos (papers, fichamentos, resenhas, ensaios, artigos, monografias, dissertações, teses, etc.), socialização e entretenimento; bem como a democratização, a ressignificação e o redimensionamento de saberes da docência e de práticas pedagógicas escolares (não) bem sucedidas.

Os grupos de estudos e pesquisas científicas, como o próprio nome o diz, devem privilegiar o desenvolvimento de estudos e de pesquisas científicas sobre diferentes temas/assuntos do campo educacional e/

ou de áreas e subáreas específicas do conhecimento científico. Tais grupos podem ser organizados e liderados em escolas e colégios de Educação Básica por diretores(as), pedagogos(as), coordenadores(as) pedagógicos(as) ou professores(as), e também em faculdades privadas ou universidades (públicas ou particulares) junto a cursos de pós--graduação stricto sensu (mestrados e doutorados, em específico, sejam eles de cunho acadêmico ou profissional), devendo ter como líder um(a) professor(a) efetivo(a) da instituição de Ensino Superior que possua a titulação mínima de mestre(a), doutor(a), pós-doutor(a), livre-docente ou notório saber; sendo esta, no Brasil, uma exigência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior28 (CAPES).

A organização de um grupo de estudos e pesquisas científicas requer local apropriado, colaboração coletiva, liderança ativa, defini-ção de um tema-chave de investigadefini-ção científica que se enquadre em uma das áreas de concentração e/ou linhas de pesquisa do programa de pós-graduação stricto sensu em foco, projeto educativo específico, planejamento didático, plano de ensino, objetivos norteadores bas-tante precisos, roteiro de atividades didático-pedagógicas a serem

28 Fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC) que atua na expansão e consolida-ção da pós-graduaconsolida-ção stricto sensu em todos os Estados brasileiros. Foi fundada em 11 de

desenvolvidas (cronograma), adoção de técnica(s) e metodologia(s) de ensino, quadro de horário(s) e dia(s) da semana, delimitação de período de realização (semestral ou anual) e de encontros temáticos (semanal, quinzenal ou mensal), produção científica individual e coletiva (PE-REIRA; TEIXEIRA, 2020) e seleção de materiais nas versões impressa e/ou eletrônica a serem utilizados para estudos, leituras e pesquisas científicas (textos, ensaios, artigos, papers, resenhas, fichamentos, rela-tórios de estágios curriculares supervisionados, trabalhos de conclusão de cursos de graduação, monografias de especialização, dissertações de mestrado, teses de doutorado, relatórios de pesquisas científicas pós-doutorais, teses de livre-docência, dentre outros).

Afora isto, é fundamental que tanto o(a) professor(a)-líder quanto os(as) membros(as)/integrantes do grupo de estudos e pesquisas cien-tíficas tenham assiduidade, pontualidade, respeito, empatia, compro-misso, responsabilidade, interesse, dedicação, vontade e participação ativa e democrática para o bom andamento e resultado das atividades didático-pedagógicas e metodológicas propostas, a priori, em projeto educativo próprio.

Um grupo de estudos e pesquisas científicas deve ser, concomi-tantemente, heterogêneo e homogêneo. Heterogêneo no sentido de que o grupo precisa agregar participantes com idades diferentes, distintas formações e titulações acadêmicas – professorandos(as) e docentes egressos(as) –, experiências profissionais docentes variadas (estágios curriculares supervisionados, trabalho docente voluntariado, iniciação científica, monitoria docente e práticas pedagógicas de sala de aula) e plurais visões de mundo, sociedade, educação, pedagogia, escola, en-sino, aprendizagem, currículo escolar, avaliação educacional, Ciência e pesquisa acadêmico-científica. E homogêneo, em relação aos objetivos profissionais, interesses acadêmicos, compromissos firmados e de-sempenhos no que tange à realização de leituras temáticas propostas e estudos individuais e coletivos, e ao desenvolvimento de projetos educativos interdisciplinares, pesquisas científicas e produções aca-dêmicas (ensaios e artigos científicos, por exemplo) de autoria solo ou em parceria com outros(as) colegas do grupo para publicação, a posteriori, em livros, revistas científicas especializadas (impressas e/ou eletrônicas) ou coletâneas acadêmicas na área de investigação temática.

Sobre este assunto, Souza (2003, p. 27-28) comenta que os grupos de estudos e pesquisas científicas abarcam participantes que são:

[...] oriundos de diferentes comunidades discur-sivas, de formações distintas, iniciando-se uma

cultura da vivência em grupo para estudos e pes-quisas. Tímida, inicialmente, vai-se construindo pouco a pouco uma instância interlocutiva, em que se atravessam vozes, de dentro dos grupos, com suas percepções, suas tensões, algumas cristalizações;

de fora, resultado de leituras, de outras vozes das comunidades mais próximas ou mais distantes.

Nesse movimento, além dos objetos de investigação de cada um, busca-se construir um movimento teórico, que ofereça solo epistemológico para dar conta dos dados obtidos em fontes externas e até internas. Em determinados grupos, investigam-se temas comuns, o que permite algumas construções e desconstruções coletivas. A interlocução em cada grupo objetiva que o produto final tenha “autoria”.

[...] Em nível de mestrado, nem é esperado ou de-sejável que a pesquisa seja original, o que já é uma condição sine qua non no doutorado.

A questão da autoria intelectual é algo complexo de ser debatido, principalmente se optarmos por uma abordagem filosófica foucaul-tiana, que concebe a autoria como manifestação da individualização na história das ideias, do conhecimento, da literatura, da filosofia e das ciências (FOUCAULT, 1997), uma vez que, segundo Bittar (1994), os direitos autorais ou os direitos do(a) autor(a) constituem, nos dias atuais, nova modalidade dos direitos privados, de alçada exclusiva da área jurídica denominada Direito Privado29.

Seguindo esta linha de pensamento, pode-se dizer que:

O autor é entendido, então, como aquele que orga-niza, agrupa, torna coerente um texto [...]. Assim, o nome do autor é revelador de todo um referencial de obras, caracterizando uma certa maneira de ser do discurso. (CARMAGNANI, 1999, p. 160) Assim, o(a) autor(a) de um texto acadêmico-científico, resultante de um trabalho intelectual de estudos e pesquisas científicas, por exemplo,

29 Ramo do Direito, conhecido já na antiga Roma, que “regula as relações entre particulares.

Nas relações jurídicas de Direito Privado, o Estado pode participar como sujeito ativo ou passivo, em regime de coordenação com os particulares, isto é, dispensando sua

suprema-é proprietário(a) de direito autoral, demarcando autoridade no campo científico (SOUZA, 1999), conquistando prestígio, respeito, glamour, ele-vação profissional, notoriedade, projeção (inter)nacional e status social, e registrando sua identidade (pessoal, autoral, acadêmica e científica), a qual, na perspectiva de Coracini (1999, p.167), “[...] sugere unidade e estabilidade:

o sujeito, tomado como indivíduo, voltado para si mesmo, encontraria em si a explicação de seus atos, pensamentos que lhe seriam próprios”.

Por meio da produção intelectual e publicação de textos acadêmico--científicos e literários, cada autor(a) se eterniza, se imortaliza nas palavras grafadas, tornando-se referência e fonte de estudos e pesqui-sas científicas. Daí a importância de os(as) docentes participarem de grupos de pesquisa como efetiva instância para se construir autoria (SOUZA, 2003) e realizar formação profissional continuada, dado o fato de que, em linhas gerais, verifica-se o seguinte:

[...] o grupo de pesquisa, quando responsavelmente compartilhado, é celeiro para muitas desconstru-ções, mas também para construções. Como a vi-vência de pesquisa, na graduação, para a maioria inexiste, o grupo tenta romper medos, mitos, falsas promessas de pesquisa e auxilia, pelo diálogo, pela solidariedade, o encaminhamento do desenho da pesquisa, desde o pré-projeto. Faz um percurso de produção, divulgação e análise crítica de ideias.

[...] O problema é o day after. O que fazer depois?

Uma alternativa [...] é a socialização em congres-sos, seminários e a elaboração de artigos. (SOUZA, 2003, p. 28-36)

Trata-se, pois, de publicar e publicizar textos acadêmico-cientí-ficos, isto é, de desvelar a autoria intelectual (individual ou coletiva), entendendo-se esta, na visão de Clemente (2003, p. 14), como:

[...] um processo de produção de sentidos, complexo, que envolve circunstâncias de expressividade, de abstração, de relação com o conhecimento como objeto de estudo e com o “conhecer” diversas estru-turas de textualização. É um espaço de fazer-se ouvir por um outro, um meio de interagir com outros e uma oportunidade de agradar, provocar, trocar, ser criticado ou reconhecido e valorizado.