• Nenhum resultado encontrado

“WE FORGE THE CHAINS WE WEAR IN LIFE” 33

As transformações sociocientíficas influenciam o modo de agir de docentes e discentes, levando-os a se adaptarem às novidades apre-sentadas, às mudanças comportamentais e aos progressos tecnológicos que se desfolham diante de seus olhos, vindo lhes apresentar novos conceitos científicos e sociais. Seria relevante refletir, então, sobre o fato de esses mesmos sujeitos, enquanto portadores de um determinado conhecimento acadêmico, encontrarem-se resignados a determinados modelos obsoletos, sendo, inclusive, propagadores de conceitos ideo-lógicos que não contribuem para a ascensão do conhecimento.

Conforme é possível se verificar nos registros históricos, a hege-monia social sempre foi uma força de influência altamente poderosa e significantemente marcadora de práticas sociais. Por possuir fun-damentos baseados na força visível e material de sujeitos em posição

33 Citação de Charles Dickens (1812-1870). Tradução para o português: “Somos nós que forja-mos as correntes em nossas vidas”.

de destaque, tal modelo de domínio encontra-se sob a autoridade dos que dela se fazem detentores, o que acaba por favorecer a soberania de poucos sobre muitos, cuja influência torna-se, também, facilitada pelo limitado poder e conhecimento dos indivíduos a eles subordinados.

De acordo com os registros de Chauí (1981), o conceito de ideo-logia, surgido no final do século XVIII, foi veiculado aos estudos das ciências das ideias, pelo filósofo francês Destutt de Tracy, que trazia como pressuposto que as reflexões não poderiam ser compreendidas como se possuíssem vida própria. Ainda segundo os apontamentos da filósofa, Tracy defendia que a ideologia assemelha-se às ciências natu-rais, partindo-se da crença na razão – própria do espírito iluminista do século XVIII – e do poder da ciência em submeter as abstrações ao mesmo processo de análise e compreensão dos objetos naturais (CHAUÍ, 1981).

Para Marcondes (1997), não é possível desvincular o sujeito, en-quanto construto social, das influências conceituais que o cercam, afinal,

uma vez que ver os fatos de forma ideológica é ca-racterística nossa, o que se pode almejar é conhecer exatamente o que é essa ideologia, o que são as de-mais ideologias e saber discernir, dentre elas, qual é (...) a expressão mais aproximada. (MARCONDES F.1997, p. 5)

Os estudos desse pesquisador da linguagem (MARCONDES, 1997) apontam que o ser humano necessita conhecer as ideologias que em-basam sua forma de pensar, para que escolha àquela que mais se iden-tifica com seus anseios e, com isso, venham a jusiden-tificar suas práticas discursivas. Marcondes (1997) reitera, em concordância aos estudos de Chauí (1997), que ideologia é o conjunto de ideias, valores, intenções e aspirações alicerçado na cabeça dos indivíduos, vindo, por isso, a nor-tear suas manifestações linguísticas e comportamentais. Identificar a ideologia inserida no processo de ensino-aprendizagem torna-se um passo importante para o possível sucesso almejado por professores e alunos, pois os valores conceptivos difundidos são veiculados por meio dos livros didáticos e, muitas vezes, tão somente reproduzidos em sala de aula.

Tais apontamentos levam ao entendimento de que a desconstru-ção das relações de domínio, agregadas ao aprendizado de uma língua estrangeira, exigem do professor uma formação cultural crítica, a fim de que engendre em si e em suas práticas educacionais o ensino

legí-valores culturais e a autoestima do aprendiz, efetivando-se, então, em sua comunicação competente com um mundo globalizado por meio da língua inglesa. Tais ponderações devem ser sopesadas, dado que

a função da ideologia é a de apagar as diferenças, como as de classes, e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encon-trando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado.

(CHAUÍ, 1981, p.114)

Conforme os ponderamentos da filósofa, por ser uma represen-tação de conceitos e preceitos, bem como de regulamentos de conduta, a ideologia norteia os membros de um grupo social quanto à forma de pensar, agir e ao que deveriam valorizar, além de balizar atitudes e expressões comunicativas. Esses princípios, portanto, deveriam fundamentar a percepção de identidade coletiva, universal, vindo a justificar as “diferenças sociais, políticas e culturais” sem as avaliar como divisões promovidas pelas categorias de produção, já que isso ressaltaria a injustiça sociopolítica (CHAUÍ, 1981, 113).

As pesquisas de Bakthin (2004) deslindam que a palavra é um fenômeno ideológico por excelência, já que a linguagem proporciona aos indivíduos, por meio dos signos linguísticos, uma interação social pautada em concepções estabelecidas. A palavra pode estruturar e desestruturar ideias, o que a revela uma ferramenta comunicativa de mediação e persuasão (CIALDINI, 2012). Em concordância, Fairclough (2001) afirma que

as ideologias são significações/construções da realidade (o mundo físico, as relações sociais, as identidades sociais) que são constituídas em vá-rias dimensões das formas/sentidos das práticas discursivas e que contribuem para a produção, a reprodução ou a transformação das relações de dominação. (FAIRCLOUGH, 2001, p. 117)

De acordo com o sociólogo, as ideologias se garantem quando se naturalizam no seio social por meio das ininterruptas condutas interlocutivas, as quais se constituirão em firmações de senso comum, estabilizando-se. Todavia, o caráter transformador do discurso, em-basado na luta conceitual inerente às atividades comunicativas, tem

a capacidade de interferir nas disposições linguístico-conceptivas, a ponto de se firmar como “uma luta para remoldar as práticas discursivas e as ideologias nelas construídas no contexto da reestruturação ou da transformação das relações de dominação” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 117).

Os influxos ideológicos nos dias atuais, entretanto, têm-se distin-guido em relação aos movimentos conceptivos dos séculos anteriores, os quais estavam voltados, preponderantemente, às questões sociais de diferenças de classes e posicionamentos políticos – proletário ou burguesia, socialismo ou capitalismo, por exemplo (THOMPSON, 1984). Por possuir “uma grande capacidade de mobilizar as pessoas e as massas” (MARCONDES, 1997, p. 28), os instrumentos linguísticos de persuasão têm sido avaliados e averiguados em suas ações diversas, aclarando quanto às suas instrumentalizações de dissuasão, afinal, tais não constituem uma conjuntura unicamente de orientação polarizada.

Assim, para se entender melhor a questão da ideologia é preciso ir mais além, avançar em um espaço mais amplo no problema da re-lação do indivíduo com as formas de poder nas quais ele se encontra inserido e que, também, desempenha. Vieira e Silvestre (2015) apontam para as transformações tecnológicas e suas vertiginosas contribui-ções quanto às novas formas de comunicação, as quais apresentam, quotidianamente, novos conceitos e formas de letramento. Por isso, é necessário avaliar a ideologia não unicamente como um conjunto de ideias bipolarizadas politicamente, mas, antes, como um mecanismo de influência comunicativa, que sugestiona com laborações contumazes e interfere nos pensamentos e nas atividades dos indivíduos, por meio de suas inúmeras expressões linguísticas.

“EDUCATION IS THE MOST POWERFUL WEAPON