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3. ARQUITETURA DA CIDADE COLONIAL ROMANA DE EMERITA

3.7 ABASTECIMENTO DE ÁGUA

3.7.3 Aqueduto de Los Milagros

As águas do aqueduto de Los Milagros chegavam do reservatório denominado de Proserpina, e entrava na cidade passando pelo rio Albarregas (GUITIAN, 1977). A

partir do reservatório de Proserpina, a condução do aqueduto de Los Milagros se iniciava perfazendo um percurso total de 9 quilômetros até sua chegada à cidade emeritense, sempre buscando proporcionar o normal fluxo das águas (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Nas fazendas de Cuarto de la Charca, Carija e La Calera se conservam restos expressivos do aqueduto. Na primeira delas se descobriu em escavações uma passagem do canal sobre um sólido granito. Para salvar depressões se construíram arcos elevados, hoje desaparecidos, embora se conservem seus inícios que podem ser avistados nas tais fazendas. A condução era coberta por uma pequena abóbada de tijolos ou pedras, conforme a zona não se conserva completa e, em tempos recentes, o traçado da rodovia Madrid-Badajoz também tem contribuído para sua destruição (Idem, 1995).

Próximo ao cemitério municipal, nos bairros de Santa Eulalia, se conservam as ruínas de um depósito de decantação com câmara de comportas e saída superior em vertedouro, a piscina limaria, desde onde o duto começa a tomar altura para salvar, novamente, o obstáculo do vale do Albarregas (Ibidem, 1995). Segundo indícios o comprimento do aqueduto desde seu trecho de arcos do citado depósito de decantação até o terminal existente na colina do Calvario compreende 827 metros, enquanto que sua altura máxima desde o início do vale chega atualmente aos 25 metros (ALMAGRO, 1961; Ibidem, 1995; GUITIAN, 1977).

O aqueduto possui estrutura simples, elegante e original, que revela a perfeição e domínio que os engenheiros romanos chegaram a alcançar neste tipo de obra. Consiste basicamente na formação de uma série de altíssimos pilares de seção retangulares, reforçados por frentes opostas por um estribo, construídos em ligeiro trecho. O núcleo dos pilares constituía-se de concreto romano e se revestia por um ornamento, este que alterna cinco fileiras de pedra de granito com uma faixa de cinco fileiras de ladrilho. Esta combinação torna o monumento singular entre os aquedutos romanos (Idem, 1961; Ibidem, 1995).

Os pilares possuem 3 metros de lado e as vezes contavam com um contraforte inclinado, de 2 metros de largura e 2,50 metros de comprimento (Ibidem, 1995). As arcadas trabalhavam os apoios oferecendo solidez, muito necessária para sua grande altura, reforçando o equilíbrio dos contrafortes laterais usados uma vez nesta estrutura – hoje se encontram na mesquita de Córdoba. Observa-se que muitos materiais

romanos e visigodos da cidade foram usados em outras construções posteriores (GUITIAN, 1977).

Os pilares se entrelaçavam por meios de arcos de diversas alturas. O aqueduto possuía galerias de arcos triplas, formadas por arcos em forma de semicírculos, também com núcleo de concreto revestido de alvenaria e granito, alternados em cinco fileiras respectivamente. Os arcos superiores que ligam os pilares são de granito – onde correria a condução da água, atualmente interrompida –, e os arcos médios e inferiores são de ladrilhos – destes apenas restam seus inícios. Os arcos que flanqueavam a corrente do Albarregas foram construídos em pedra. Na parte superior dos arcos se localizava o canal, o specus (ALMAGRO, 1961; ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Figura 14. Alçado dos restos em ruínas da segunda seção do aqueduto de Los Milagros. Disponível em:

<http://www.spanisharts.com/arquitectura/imagenes/roma/merida_milagros_plano.jpg>. Acesso em: 12/12/2014.

O aqueduto encontra-se bastante deteriorado, entretanto permanecem em pé 73 pilares, em grande parte incompletos e mais ou menos arruinados. A parte central constitui-se a mais importante e melhor conservada, com 26 pilares e muitos arcos; perto da cidade ainda se conservam 7 pilares. Através das significativas ruínas do aqueduto podemos precisar o traçado da obra romana (Idem, 1961) e observar na construção suas partes fundamentais, com seu interior provido de degraus de decantação em mármore e com características construtivas semelhantes às referidas arcadas elevadas, uma vez que repetem as fileiras de pedras e tijolos (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

O nome do aqueduto refere-se a condição rara de estabilidade de seus pilares (ALMAGRO, 1961), onde 38 pilares quebrados, dos quais os mais espessos, são chamados de “Milagro Gordo”, o nome do aqueduto se alude ao milagre por ainda se

conservar em difícil equilíbrio (GUITIAN, 1977). O aqueduto de Los Milagros ficou conhecido desta forma devido aos emeritenses considerarem esta obra de engenharia como milagrosa por ter se mantido erguida durante tantos séculos, e também chegar aos nossos dias quase que em excelente estado de conservação (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Como obra de engenharia o aqueduto configura-se como esplêndido frente ao seu antigo equilíbrio perfeito e sua estética. Infelizmente não se conserva mais completo, entretanto ainda se pode verificar sua monumentalidade (GUITIAN, 1977). Por justamente apresentar esta grandiosidade, o aqueduto de Los Milagros, depois do teatro, é considerado o segundo monumento em importância do conjunto emeritense. Assim, há alguns anos, empreendeu-se trabalhos de consolidação e restauração de vários arcos e da cornija de coroamento do monumento (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

A obra foi concluída na elevação da cidade, na colina do Calvario, onde nos começos da década de 70 se descobriram as ruínas de seu depósito terminal; hoje este depósito pode ser contemplado junto a uma pequena capela da confraria do Calvario, na rua do mesmo nome (Idem, 1995).

A cidade de Emerita Augusta apresentou monumentos de enorme suntuosidade, e seus vestígios e ruínas nos indicam a capacidade técnica dos romanos e a eficiência com que atendiam seus cidadãos. Percebe-se que mesmo em construções de caráter utilitário não se desprezou o fator estético, convertendo-as em autênticos monumentos artísticos, em obra de arte (GUITIAN, 1977). Os aquedutos de Los Milagros e o de San Lázaro foram possivelmente estas construções imponentes, que provavelmente impressionavam a todos que passavam pela colônia emeritense, especialmente devido às principais estradas do território cruzarem a cidade, percorrendo de norte a sul a Hispânia (ALMAGRO, 1961).