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3. ARQUITETURA DA CIDADE COLONIAL ROMANA DE EMERITA

3.2 FÓRUNS: ARQUITETURA OFICIAL

No coração da cidade se encontrava o fórum ou praça principal, o centro vital da cidade onde se desenrolavam atos políticos e religiosos, e assuntos políticos e privados dos cidadãos. O fórum constituía-se como um amplo espaço honorífico e de prestígio, que reunia ao seu redor os mais importantes edifícios públicos para os cidadãos realizarem tarefas políticas, legais e de culto oficial. Tais edifícios cívicos eram encontrados em quase todas as cidades do império, principalmente nas capitais de província, como Emerita Augusta: a cúria (onde se reunia o senado local), o

tabularium ou arquivo municipal, os principais templos da cidade, a basílica (onde se

administrava a justiça), termas e mercado ou área comercial (ALGABA, 2009; SÁNCHEZ, 2009).

Segundo Algaba (2009), a cidade de Emerita Augusta contava com dois fóruns, um principal e outro uma área para culto imperial provincial que gerenciava assuntos da Lusitânia. Álvarez Martínez, Antón e Jiménez (1995) nos informam que das áreas públicas da cidade conhecemos um pouco sobre a existência dos dois fóruns, que Dupré Raventós (2004) vai denominar um de “praça central”, o fórum municipal, datado em época fundacional e outro posterior, chamado “dos mármores”, o fórum provincial, construído no período da dinastia Júlio-claudiana.

O fórum da Colônia estava localizado na parte central da cidade, no cruzamento das principais artérias: o decumanus maximus e kardo maximus. Este espaço aberto contava com duas áreas principais, uma grande praça rodeada de edifícios administrativos e um templo dedicado a Augusto e ao culto da casa imperial, e outra, um espaço com pórticos em homenagem e culto à dinastia Júlio-claudiana (ALGABA, 2009).

No traçado urbano original da cidade, na confluência do decumanus e do kardo

maximus se criou um espaço ocupado pelos edifícios que compunham o fórum da

Colônia. Provavelmente esta área seria, em tempos de fundação da cidade, o único espaço público para os edifícios do fórum, que seguiriam, pelos seus elementos arquitetônicos, uma organização espacial estabelecida pelos modelos de Augusto: um extremo ocupado pelo peribolos – área livre entre um edifício e o muro que o circunda –, delimitado por um pórtico monumental que fecharia um espaço elevado para um templo, e o lado oposto, estaria a basílica oficial, localizando-se ao centro uma grande praça (MATEOS CRUZ, 2004).

O forum coloniae, considerado fórum municipal, fazia parte da estrutura urbana (ALGABA, 2009), era destinado aos próprios habitantes da cidade de Emerita Augusta, contava com um templo, conhecido como “de Diana”, uma basílica – provavelmente localizada em frente ao edifício religioso –, uma praça pavimentada com lajes de calcário, umas possíveis termas que estariam situadas nas proximidades da rua Baños, uma cúria ou senado municipal de localização desconhecida, e um pórtico junto à intersecção das ruas Sagasta e San José. O restante da área do fórum permite estabelecer os limites desta singular área pública entre, por um lado, as atuais ruas de San José e a Los Maestros, e por outro, o Templo de Diana e a rua de Viñedos (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

A praça do templo era pavimentada com lajes similares a calcário e que se observam na fachada principal do templo imperial, rodeado por colunas de granito de 10,30 metros de altura e revestidas de vermelho. O tempo possuía 6 colunas e ficava ligado à frente da praça por uma escadaria (ALGABA, 2009). Do modelo de Augusto para fóruns conhecemos deste apenas o templo, o “de Diana”, construído sobre uma plataforma elevada em relação à praça, ambos os espaços possuem uma diferença de 1,20 metros salvo a construção de um pódio. A plataforma se delimitava por um pórtico em forma de “U” construído possivelmente em dois níveis acessados desde a

praça por duas escadarias laterais localizadas ao extremo do pódio, coincidentes com os limites laterais do templo. Pouco se sabe sobre o outro lado da praça, contudo escavações arqueológicas estão sendo realizadas no local e podem futuramente preencher tais lacunas (MATEOS CRUZ, 2004). O restante da praça se fazia ladeado por edifícios administrativos, exceto a oeste, onde o fórum se conectava com o

decumanus maximus e este, mais a oeste e abaixo do fórum, com uma área comercial

(ALGABA, 2009).

No período de Augusto o complexo era revestido de granito e decorado em bronze, na segunda metade do século I d.C. alguns edifícios principais e o espaço portificado foram cobertos de mármore. As esculturas e relevos de mármores do fórum e do teatro foram confeccionadas em época claudiana. O templo estava decorado com imagens de imperadores e da família imperial, estátuas de gênios da colônia e do senado, uma tribuna e dois tanques laterais para área de culto. O espaço portificado do fórum principal, se decorava com mármores, relevos e estátuas de muitos personagens de Roma e de Emerita Augusta (Idem, 2009).

O fórum de Colônia aparentava-se como um espaço portificado de forma quadrangular e de dimensões pouco conhecidas (MATEOS CRUZ, 2004). A praça configurava-se de forma retangular, com perímetro coberto, ambulacrum, e um altar ao centro. A parte superior do pórtico era decorado com relevos figurados, a parede anexa ao ambulacrum possuía nichos com estátuas de personagens da dinastia Júlio- claudiana, desde seus antepassados aos fundadores da cidade, e outros personagens ilustres da história de Roma e da colônia. Atualmente, constata-se a provável existência de prédios públicos de caráter provincial na área do fórum da Colônia (ALGABA, 2009).

3.2.2 Fórum provincial

Do fórum principal, em direção oeste, pelo kardo maximus, encontra-se o Conjunto Provincial do Culto Imperial ou fórum provincial de Emerita Augusta, este espaço era dedicado aos assuntos da Lusitânia, com dedicações ao culto imperial de caráter provincial (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995). Nota-se que posteriormente à fundação da colônia, a cidade de Emerita Augusta ergueu novos espaços e estruturas urbanas, não projetadas inicialmente. No caso da área do fórum

provavelmente apareceram estruturas como o pórtico do fórum, fórum dos mármores ou forum adiectum e o fórum provincial. Ambos espaços possuem diversas semelhanças: em caráter público, os espaços não foram projetos da fundação da cidade; em caráter cronológico, ambos são prováveis construções da época de Tibério, na primeira metade do século I d.C. (MATEOS CRUZ, 2004).

Desta forma a área pública do fórum provincial apresenta configuração mais problemática (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995), uma vez que para a sua construção foi necessário extinguir algumas casas que ocupavam o espaço, além de obliterar o kardo maximus e os decumani menores (MATEOS CRUZ, 2004). Assim, a praça do templo constituía-se por uma plataforma artificial que cobria parte de vias e casas originais da cidade, eliminados para estabelecer o espaço provincial do culto imperial, datado então na época de Tibério (14-37 d.C.) (ALGABA, 2009).

Neste conjunto pouco conhecido, o espaço se delimitava por um grande arco monumental, acessado pelos lados leste, oeste e sul – acesso conhecido como arco “de Trajano” (MATEOS CRUZ, 2004). O referido Arco de Trajano, revestido de mármore, se separava da rua por cinco degraus, também de mármores, e introduzia uma plataforma retangular, um pórtico sustentava um muro que fechava o perímetro exterior e uma colunata abria acesso a uma praça portificada, revestida também de mármore, que presidia um templo (ALGABA, 2009). Localizado ao final da rua Holguín, o templo, ao centro da praça, deveria destinar-se ao culto imperial, podendo ser dedicado a Aeternitas Augusti, uma virtude imperial característica deste culto (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Com escadaria de subida que partia desde o Arco de Trajano, o templo ficava sobre um alto podium ou base de 38 metros de comprimento, com colunas de 1,5 metros de diâmetro e 2,25 metros de espaço entre as colunas da fachada lateral e 3 metros na parte central – dados que podem fornecer uma ideia sobre sua monumentalidade (ALGABA, 2009). O edifício possuía estrutura concretada e superfície de blocos de granito com revestimento de lajes de mármores, sendo o mesmo material também empregado nos elementos de sua arquitetura (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

O templo possuía duas partes bem diferenciadas: a pronaos ou espaço portificado, com 6 colunas (templo hexastilo) e a cella ou espaço sagrado, fechado para o grande público e delimitado por uma parede. O templo seguia a estrutura de

Uma referência à adaptação do modelo clássico de templo romano, onde a cella possuía a mesma orientação do pódio para se adaptar a determinados espaços, porém em Emerita Augusta não existia esse condicionamento espacial, podendo apenas possivelmente seguir o modelo dos edifícios emblemáticos de Roma. Junto ao templo se encontrava o pedestal da Concórdia, com uma grande estátua e representações de outras virtudes imperiais. O templo provavelmente abrigaria estátuas de figuras de imperadores em mármore, também em bronze e até ouro (ALGABA, 2009).

3.3 TEMPLOS

Imediatamente após a fundação de Emerita Augusta – cidade que já fora fundada com grande esplendor e monumentalidade –, surgiram várias construções religiosas. Havia templos dedicados aos superiores deuses oficias romanos, à deusa Roma e ao divino Imperador, porém poucos vestígios de tais monumentos foram encontrados, assim como informações sobre suas estruturas e situação. Algumas ruínas arquitetônicas de templos nos evidenciam seus vestígios ainda em pé, como o conhecido de Diana e outro de Marte. Ambos nos revelam os belos monumentos emeritenses embora se encontrem desfigurados. O templo de Diana por se apresentar mais completo tonou-se uma estrutura muito importante, visto que o templo de Marte não se conserva mais em seu sítio e revela apenas algumas peças do edifício original (ALMAGRO, 1961).

Percorrendo as ruas da atual cidade de Mérida encontramos vestígios e indícios que apontam que muitos templos existiram na antiga cidade romana de Emerita Augusta, de alguns permanecem algumas ruínas espalhadas pela cidade, outros não deixaram testemunhos (GUITIAN, 1977). Acredita-se que a cidade, centro da província da Lusitânia, abrigasse um templo dedicado ao culto de Júpiter, devido à tradição religiosa romana, porém não existem dados sobre tal suposição. Os templos dedicados às diversas divindades e outros monumentos não nos deixaram seus vestígios visíveis in situ para indicarmos sua localização segura no conjunto urbano da cidade (ALMAGRO, 1961).

Alguns vestígios foram encontrados na Praça de Touros, de ruínas de antigas construções de cultos orientais chegados à cidade de Emerita Augusta através do