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2. HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO E ROMANIZAÇÃO NA HISPÂNIA

2.8 ROMANIZAÇÃO

2.8.4 Formas urbanas

Em uma sociedade predominantemente urbana como a romana, as cidades constituiram-se como um marco onde se desenvolvia sua vida essencial. Graças à força militar romana e sua política urbana, a Península Ibérica entraria, depois de dois séculos de campanhas, na esfera romana. Esta política urbana consistia em manter um equilíbrio entre as terras e as necessidades conquistadoras. Roma pensava na integração urbana dos territórios dominados, adequando-se conforme o grau de desenvolvimento urbano de cada área cultural, para tanto, os romanos se apoiaram, muitas vezes, na tradição urbana peninsular existente. Os critérios de atuação romana seguiam, geralmente, em: primeiro, aproveitar quando possível a estrutura anterior dos núcleos preexistentes, flexibilizando o conceito de cidade para que se adaptasse à fórmula organizativa das próprias nos territórios conquistados; segundo, aumentar as cidades novas a partir do reagrupamento de centros menores já existentes mediante a aglutinação por sinecismo – fusão de pequenas comunidades numa maior que totalmente as substituísse – ou contributio, contribuição; terceiro, fundar cidades novas, como o caso de Emerita Augusta (Ibidem, 2000-1).

Estes três critérios se aplicavam segundo a necessidade e eram administrados a partir de um princípio de economia política conforme se avançava a conquista, das primeiras etapas com a República, passando por César e Augusto, até a instauração do segundo, com o Principado como sistema político mais adequado ao governo do Império. Nas primeiras fases da conquista, Roma conformou-se em aplicar sobretudo o primeiro critério e basear-se na organização já existente, ao longo do tempo fora crescendo a capacidade de intervir nela devido a conquista se estender a territórios organizativos menos próximos aos apropriados para o Império; o resultado pela acumulação de mudanças e o acompanhamento de padrões de atuação mais caracterizadamente romanos ocasionaram uma grande transformação no plano organizativo e morfológico. Os casos de continuidade urbana foram paulatinamente sofrendo mudanças com o impacto da romanização. Também foi crescente a incorporação das cidades aos padrões de arquitetura romana (BENDALA GALÁN, 2000-1).

As fundações de cidades novas por Roma podiam acontecer por ex nihilo, que só levavam nomes demonstrativos dessa desconexão com a estrutura do povoamento anterior, embora mantivessem um nexo com a rede da povoação preexistente. Mas muitas vezes se fundam cidades novas inteiramente, pois apoiavam sua organização no assentamento anterior, embora com transformações muito mais profundas, tanto que a ampliação ou duplicação destes assentamentos renovados podiam ser feitos mediante à fórmula de dípolis – criação de uma cidade ligada ou próxima a um núcleo preexistente; estas cidades duplas mais tarde se fundiam em uma entidade urbana, como o caso da grega Empórion absorvida pela romana Ampúrias. Este novo sistema em que cidades novas mostram sua vinculação com assentamentos pré-romanos e que mantêm seus nomes podem ser incluídos na fórmula do sinecismo ou contributio – unificação de vários centros menores e entidade em um só, ou vinculação jurídica e administrativa de centros modestos a outro principal, da qual dependem como entidades contributas; esta forma de aglutinação, equivalente ao sinecismo que ocorreu nas polis gregas, recebe o nome de contributo; este sistema implicava na criação de um novo centro urbano, nova planta ou reorganização dos principais núcleos integrantes (Idem, 2000-1).

Uma cidade sob este sistema supunha uma importante mudança em relação à sua organização urbana herdada, embora se apoiasse nela, e tinha o efeito de destacar a criação de um novo centro urbano a partir das aglomerações preexistentes,

muitas vezes em função de um principal, cujo nome se mantinha para a nova cidade, e com frequência aglutinava outros centros urbanos menores da zona física e jurídica, que podia se juntar ao adicionado continente de origem romano ou itálico. Mesmo em cidades de fundações novas, ex novo, como a própria Emerita Augusta, se percebem propósitos de integração entre os colonos e a nova colônia e a população indígena da área, que podiam ser convocados em quantidade, de modo conveniente, para incorporar a nova cidade (BENDALA GALÁN, 2000-1).

As aglomerações que se iniciavam podiam estar distantes de um nível organizacional urbano ou podiam ser centros urbanos já consolidados, promovidos a partir de então a uma nova situação por razões geoestratégicas, econômicas ou políticas. Também, estudos arqueológicos de muitas cidades na Hispânia, sobre sua formação urbana e arquitetônica, demonstram que algumas delas foram criações novas promovida por Roma e mantiveram nomes pré-romanos (Idem, 2000-1).

As formas de ação de Roma, de integrar ao Império os territórios progressivamente conquistados, proporcionaram sua estrutura organizativa, e apresentavam tendência em obedecer fórmulas e princípios operativos que em essência eram os mesmos aplicados em todas as partes, embora dependendo das situações iniciais e diferenças segundo os tempos de aplicação, as cidades podiam sofrer processos distintos, resultando num quadro diversificado de situações provinciais em Hispânia (Ibidem, 2000-1).

Em áreas menos desenvolvidas urbanamente pouco se aplicou a fórmula de aproveitamento direto, entretanto foram um grande meio de promoção de cidades mediante à aglutinação ou sinecismo de centros já existentes; sua combinação com uma maior flexibilização da ideia de civitas, e a direta fundação de novos centros seriam indispensáveis para a nova articulação dos muitos territórios. Deste modo, o exército desempenhava um papel importante por consolidar os centros urbanos a partir de acampamentos militares, como também pelo papel dos veteranos que formavam a base de deductio de muitos centros urbanos, entre os principais, Emerita Augusta, fundada como ponto estratégico e foco de interação social e territorial entre as terras mais e menos urbanizadas (Ibidem, 2000-1).

A fundação da colônia de Emerita Augusta, em 25 a.C., no reinado de Augusto, implementava planejamento urbano e arquitetura típicos de cidades romanas: templos, balneários públicos, teatro, etc. Emerita Augusta determinou por sua estratégica influência que a Hispânia fosse totalmente romanizada (STIERLIN, 1997),

representando a maturidade de Roma como potência imperialista e da própria planificação de Augusto, apoiada em novas instituições, em uma visão unitária do território hispano ao finalizar a conquista. A cidade se converteu em um dos principais pontos fundamentais da rede viária da etapa do imperialismo romano que se iniciava com o Principado (BENDALA GALÁN, 2000-1).