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2. HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO E ROMANIZAÇÃO NA HISPÂNIA

2.2 COLONIZAÇÃO ROMANA

2.2.1 As colônias gregas incidem em Roma

No transcurso do século VIII a.C. já era possível encontrar vestígios do desenvolvimento inicial das primeiras muralhas de Roma, neste período os povoados latinos não formavam grupos homogêneos, e se destacava a influência etrusca no território (TARELLA, 1978). A arte romana começou como um fenômeno local da arte etrusca e continuou até o século III a.C. mantendo a dinâmica das cidades da Etrúria (MARTÍN, 1992).

No período arcaico Roma configurava-se como uma grande cidade (CORNELL; MATTHEWS, 2008). Com a instauração da República, no século VI a.C., Roma até então um conjunto de agrupamentos arcaicos, se transformou, tornando-se uma grande metrópole dominadora (TARELLA, 1978). Durante o século IV a.C. Roma consolidou definitivamente sua hegemonia sobre outras cidades itálicas, através de um processo longo de guerras, onde conseguiu ampliar seus domínios e solidificar sua supremacia sobre as cidades do Lácio (BOVO, 2006b).

Por meio deste processo Roma se apresentava como uma cidade que abrangia uma mistura de povos: latinos, etruscos, troianos, sabinos, gregos e outros estrangeiros; que originaram as famílias romanas. Este encontro de povos em Roma permitiu vincular-se com todos os mesmos conhecidos; uma vez fazendo parte da religião de todos – um vínculo muito poderoso –, ganhava-se muitas cidades aliadas (FUSTEL DE COULANGES, 1864).

A população romana era, portanto, um cruzamento de várias raças, seu culto uma união de muitos cultos, seu lar nacional uma associação de diferentes lares. Roma era quase a única cidade cuja religião municipal não a isolava das demais. Estava ligada a toda Itália, a toda Grécia. Poucos povos havia que Roma não pudesse admitir em seu lar (Idem, 1864, p. 253).

Roma adotou um sistema de aumentar sua população através de guerras, ao contrário do mundo greco-itálico. Roma absorvia a população vencida para si e aos poucos as transformavas em romanos (FUSTEL DE COULANGES, 1864). Nota-se que paralelamente às guerras, a consolidação romana devia muito à sua sagacidade de estabelecer relações duradouras com os povos vencidos. Assim, o expansionismo romano avançou aos poucos, evitando impor aos povos submetidos suas próprias instituições, respeitando os direitos das cidades conquistadas. Deste modo, as populações se uniam a Roma, constituindo uma base estável para o poder romano (BOVO, 2006b). Neste período Roma estendia sua influência em muitos territórios, desenvolvendo relações comerciais com cidades mais distantes da Etrúria, da Magna Grécia e de Cartago (CORNELL; MATTHEWS, 2008).

A partir do século III a.C., Roma começou a reunir sob a sua liderança as populações vizinhas para criar uma potência unificada. Os primeiros a formarem o mundo romano foram as tribos itálicas e, em seguida, as colônias gregas do sul da Itália e as da Sicília (STIERLIN, 1997). Uma vez que as cidades gregas da Magna Grécia não conseguiam conviver pacificamente com as populações itálicas, tornaram- se uma ameaça potencial para Roma. A partir de então, Roma começa a desenvolver uma política de agressão e assimilação nos territórios da Magna Grécia, e consequentemente, anunciando o mesmo destino aos cartagineses (TARELLA, 1978). Em guerra, dominadas e conquistadas, as colônias gregas passaram para a órbita romana, determinando sua decadência, sem antes que a subordinação das cidades gregas marcasse profundamente Roma com sua cultura avançada. Esta expansão de Roma culminou conjuntamente com a perda de influência etrusca, estes que passaram então a se submeter ao sistema romano (BOVO, 2006b).

A configuração da situação, após a pacificação interior de Roma, no período da República, acompanha uma política de alianças que permite que a cidade submetesse os Etruscos ao norte, os Samnitas na Itália Central, e no início do século III a.C., os gregos na Itália meridional. Roma assim se tornava a maior potência da Península Itálica e seguia viando o propósito da hegemonia na região mediterrânea (HINTZEN- BOHLEN; SORGES, 2006).

A intervenção de Roma nos assuntos da Magna Grécia corroborou para que a mesma seguisse expandindo seu território pela Península Itálica, contendo revoltas e fundando colônias, que asseguravam o domínio romano e a unificação do território. A colonização da Itália por Roma permitiu que os inimigos vencidos fossem incorporados como cidadãos de Roma ou aliados. Muitos territórios dos aliados acabam anexados e colonizados pelos romanos (CORNELL; MATTHEWS, 2008).

Como se sabe, nem os gregos, nem os romanos, praticaram a colonização nos mesmos moldes do mundo moderno. Uma colônia não era dependência ou anexo do Estado colonizador: era um Estado completo e independente. Todavia existia entre a colônia e a metrópole um vínculo de natureza particular e isso provinha do pacto como a colônia fora fundada (FUSTEL DE COULANGES, 1864, p. 150).

Ao longo do tempo, as colônias e metrópoles mantiveram vínculos religiosos para em seguida desenvolverem vínculos políticos. Roma utilizava da colonização de terras conquistadas para se difundir, ao mesmo tempo que ao fundar uma nova colônia, que mesmo apresentando uma política diferente, esta nova cidade manteria laços religiosos com a metrópole, o suficiente para subordinar sua política à de Roma. Roma também adotava os cultos das cidades vencidas, permanecendo em comunhão religiosa com todos os povos. Deste modo, Roma fazia sua religião municipal fonte de seu patriotismo, dominando e atraindo a todos (Idem, 1864).

Enquanto Roma se expandia, uma série de transformações sociais e políticas aconteciam, modificando o modo de pensar dos homens perante as instituições, costumes, crenças e direito, dos quais transformaram o patriotismo da religião – do primórdio dessas cidades coloniais –, para apontar a valorização das leis, instituições, direitos e segurança (sendo estas últimas justamente as vantagens que a cidade oferecia), características que influenciaram o constante avanço e progresso de Roma. Sem o patriotismo municipal, os indivíduos começaram a emigrar mais livremente, sem o medo do exílio, difundindo a romanização pelos demais territórios (Ibidem, 1864).

Tanto para um grego quanto para um romano, a cidade se caracterizava por uma vida coletiva, com santuários, locais de reunião, edifícios públicos oficiais de qualquer natureza. Assim, as cidades romanas – principalmente as colônias fundadas

por cidadãos romanos – constituíram-se em representações de Roma. Tais cidades coloniais refletiam características essenciais da metrópole como instituições, monumentos e cultos. Antes de ser um local de refúgio ou de prazer, a cidade colonial romana foi um centro sagrado e um centro jurídico. A implantação de colônias nos territórios conquistados teve objetivo e efeito de criação de núcleos estáveis no interior dos territórios anexados. Depois de estabilizados, apareciam as considerações materiais, estratégicas e econômicas, e um governo autônomo (GRIMAL, 2003).

A partir do fenômeno da colonização podemos verificar o desenvolvimento da romanização. O impacto da expansão romana pela Península Itálica teve como consequência a assimilação entre os aliados, não apenas pela política, mas principalmente pelo serviço militar romano. Muitas das novas cidades coloniais foram fundadas em lugares estratégicos, geralmente em regiões de fronteiras ou como postos militares avançados em região inimiga. Assim, os legionários romanos se encarregavam de que a língua latina, o cotidiano e costume romanos se materializassem nos territórios ocupados. Também, as cidades coloniais expressavam e representavam a política latina ou romana, e se constituíam, portanto, em avançados ambientes de romanização. Deve-se acrescentar que uma rede de colônias se conectava por rotas militares, que proporcionavam o desenvolvimento dessas povoações e de comunicações para a realização do comércio entre as diferentes regiões e comunidades. Este fator determinou a difusão das ideias e dos costumes romanos (CORNELL; MATTHEWS, 2008).

Fatores como a expansão romana e a fundação de colônias latinas – de população sem direito à cidadania romana –, o aumento de riqueza e poder público e privado dos romanos, e o confisco de terras, permitiram o aumento populacional de Roma. Para atender as necessidades da numerosa população de cidadãos romanos foi necessário a construção de edificações públicas em grande escala, além de serviços de produtos de luxo e local; estes trabalhos eram financiados pelas guerras e butins direcionados então à cidade. E, mais tarde, tais construções de edifícios se constituiriam como elementos urbanos de referência para o êxito da romanização (Idem, 2008).

A prosperidade econômica e cultural de Roma permitiu-lhe explorar proveitos que disseminassem sua imagem para todos – outro agente da romanização. Através do emprego da cunhagem de moedas – uma invenção grega que se estende junto com a urbanização –, estas passam a carregar símbolos romanos, e quando utilizadas

no comércio podiam divulgar o expressivo crescimento da cidade e seu poder, configurando-se como um dos recursos mais característicos da romanização. Ainda neste aspecto, pode-se perceber a penetração e adoção da cultura grega pelos romanos. Não apenas na circulação monetária, mas também na cultura artística, onde romanos imitavam ou se aproximavam das técnicas e os estilos gregos; na adoção de cultos e nomes helênicos. O helenismo se tornou presente na classe aristocrata romana, e apresentou-se manifestada no urbanismo e arquitetura das cidades romanas e romanizadas (CORNELL; MATTHEWS, 2008).

O imperialismo de Roma acarretou em muitas vitórias em decorrência de sua eficiente máquina de guerra militar e reservas humanas incomparáveis. A grande consequência dessa conquista militar foi a significativa expansão do território romano, arrecadação de riquezas, do poder e da segurança. Para realizar esta atividade de conquista, os romanos divulgavam a vantajosa justificativa de difundirem a civilização, a estabilidade e a ordem, que beneficiaria assim todos os territórios conquistados; além de Roma poder atuar de diferentes maneiras conforme as circunstâncias de determinados locais (Idem, 2008).

O império romano foi conquistado pelas armas, mas também pela diplomacia. A maioria da população das províncias tolerava as imposições de Roma, sendo que a maior parte recebia a cidadania romana e alguns habitantes ganhavam honras:

Roma exigia tributo do império, mas dava muito em troca: a obediência à lei dentro dos limites do império, proteção contra invasões de bárbaros; pronto intercâmbio de gêneros e de produtos, tolerância de diferenças culturais inevitáveis dentro de um domínio tão vasto. Acima de tudo, Roma incutia em todos os romanos, das províncias ou metropolitanos, uma crença positiva no destino da própria Roma (HADAS, 1969, p. 11).

Através desse mecanismo de avanço expansionista e colonizador, Roma se transformou em uma grande potência da Antiguidade, onde suas influências puderam ser verificadas por seus produtos e mercadorias romanas encontrados desde os territórios da costa do Atlântico – Europa –, norte da África – Mediterrânea –, até os territórios da Ásia – Oriente Próximo (TARELLA, 1978). Assim como também pelas expressões artísticas produzidas sob esfera política e econômica da República e do Império Romano, entre os séculos IV a.C. até V d.C. (MARTÍN, 1992).