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3. ARQUITETURA DA CIDADE COLONIAL ROMANA DE EMERITA

3.11 CASAS E VILAS ROMANAS

3.11.2 Casa do Anfiteatro

A casa do anfiteatro foi denominada assim devido à sua localização junto ao monumento, esta casa representa um conjunto de casas. A “casa da torre de água” localizada junto ao depósito do aqueduto de San Lázaro configura-se propriamente a dita “casa do Anfiteatro”. Da mansão se conservam dois cômodos situados em um

pátio portificado ou peristilo, muito destruído, onde também estão as demais dependências que formavam parte da casa. O primeiro dos cômodos, de planta quadrangular e pavimentado com um mosaico branco e preto, do final do século I d.C. e começo do II d.C., encontra-se muito destruído. De uma estância contígua, em um nível levemente superior, podemos perceber restos de pavimentação similar ao da câmara vizinha. As paredes destes dois cômodos conservam restos de estuque pintado, com motivos em lajes de mármore que desenham composições retangulares com figuras romboidais. Do pátio pouco permaneceu, apenas restos de colunas de ladrilho com revestimento de estuque e parte do pequeno canal estabelecido em seu perímetro. Ao sul do pátio observa-se outras estruturas da casa, entre elas um pátio e alguns cômodos. Mediante escavações nota-se que sua construção realizou-se no final do século I d.C. e não passou do III d.C., data em que foi substituída pela vizinha “Casa do Anfiteatro” (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

A “Casa do Anfiteatro”, devido às suas grandes proporções e cercania com o Anfiteatro, poderia se tratar de algum edifício dedicado à formação de jovens ou com caráter semioficial. De acordo com escavações a construção e estilo dos pavimentos e outros detalhes remontam ao século III d.C. e final do século V d.C., estabelecendo uma necrópole sobre ela. Sua localização era suburbana, pois encontrava-se fora do recinto murado junto à rua do Anfiteatro. O acesso atual à casa se realiza por uma ampla porta, nada parecida com a de origem, e junto a ela um cômodo de grandes proporções, planta quadrangular, pavimento de argamassa de cal e tijolo, e resto de gesso nas paredes. Deste cômodo se acessava o grande peristilo da casa ao redor da qual se distribuíam as mencionadas estâncias (Idem, 1995).

Figura 16. Planta das ruínas romanas da Casa do Anfiteatro. Disponível em: <http://www.spanisharts.com/arquitectura/imagenes/roma/merida_casa_anf_plano.jpgl>.

Acesso em: 05/12/2014.

O pátio com arcadas compreende ao centro um jardim, viridarium, e corredores sustentados por colunas de granito; estes em três áreas aparecem pavimentados com mosaicos de temas ornamentais e geométricos, sendo um deles composto com argamassa de cal e tijolo. Os corredores indicavam os principais cômodos. À direita, encontram-se dois cômodos quase geminados, com piso de argamassa hidráulico e restos de gesso pintado nas paredes. Do corredor ocidental se podia acessar uma parte mais elevada da mansão, onde se localizavam vários cômodos. Os melhores cômodos conservados também possuíam pavimentos de argamassa de cal e tijolo, e se abriam a um pequeno corredor. Os cômodos apresentam paredes decoradas com ilustrações mal conservadas, e com pisos imitando crustae ou cortes de mármore (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

No corredor ocidental um mosaico formava junto ao solo um motivo central de suásticas. Deste corredor se podia acessar outros cômodos com pavimentos de argamassa, cal e tijolo. A ala meridional do corredor, também do mesmo mosaico anterior, alinhava vários cômodos, os de maiores dimensões possuíam características notáveis, provavelmente as de um triclinium ou sala de jantar, esta contava com um

mosaico e decoração pictórica. O fundo do mosaico se fazia formado por triângulos e quadrados em vermelho, branco e preto, sendo o quadro central dividido em duas partes ou registros, onde se apreciam as figuras de Vênus e Cupido em um dos quadros, e em outro, uma cena de adega com três operários que pisoteiam a uva que está sendo recolhida em três recipientes. Entorno da cena se desenvolvem outras relacionadas com o recolhimento da fruta por pequenos Erotes, que sobem nos parreirais por escadarias, enquanto outros transportam os cachos para a adega. Observa-se restaurações realizadas no mosaico com ladrilhos mais claros que os originalmente empregados (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Por um corredor se acessava outra parte da casa e outros cômodos com pavimentos de argamassa. O mosaico deste corredor apresentava motivos quadrados em bicromia, com dois segmentos triangulares vermelhos e pretos cada um em alternância com quadrados brancos que configuravam ampulhetas. A ala seguinte, do mesmo corredor, possui outro pavimento de mosaico com interior rômbico em vermelho, preto e branco. O corredor desemboca em outro amplo corredor com pavimento de mosaico, com motivo de círculos em branco rodeados de duplos eixos unidos entorno de um quadrado curvilíneo. Tal corredor e mosaico se repetem no lado oposto (Idem, 1995).

O corredor conduz a uma antessala ou vestíbulo de um grande cômodo, de abundante decoração em mosaico, com margem sinuosa gamada e cinco setores definidos: nos extremos aparecem imagens de escudos, ao centro surgem medalhões em molduras quadradas, com um labirinto e duas rosáceas de triângulos e rômbicos ladeando o quadro central. Nas pontas dos quadrados que contêm as rosáceas se dispõem duas vasilhas grandes, e nas do labirinto apresentam-se estruturas com aspecto de torres. O vestíbulo se completa com outro corredor pavimentado e com outro mosaico com esquema de quadrados dispostos na extremidade e de tons vermelhos, preto, branco-vermelho e preto-branco (Ibidem, 1995).

O cômodo situado junto ao vestíbulo, por suas amplas dimensões torna-se o maior da casa. Aparenta caráter de sala de recepção, mas também, devido à estrutura do mosaico, poderia ter função de triclinium ou sala de jantar. Seu mosaico apresenta um fundo que simulava um pavimento de quadrados grandes vermelhos e pretos, com pequenas tonalidades pretas sobre o fundo branco. O quadro central desenvolvia um esquema de quadrados formados por cruzadas sequências, compondo estrelas de oito pontas e delimitando medalhões octogonais, deixando entre eles rômbicos e

pequenos octógonos. No interior dos espaços definidos pelos quadrados cruzados, em círculos e com quadros de ondas, estavam diversas espécies marinhas (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

O final da casa encontra-se ocupado por outros cômodos com pavimentos de mosaico alinhadas em um corredor que aparece pavimentado por outro mosaico com imagens de flores de quatro pétalas e círculos com cruzes de Malta. O conjunto se completa com umas câmeras de caráter termal que foram estabelecidas ao longo do muro do aqueduto de San Lázaro. Se conserva a infraestrutura: hypocaustum, de um cômodo destinado ao banho de água quente; calidarium, da que permanece uma piscina; o forno ou praefurnium, para esquentar a água e outras dependências. Junto às termas, entre outras estâncias, estava a cozinha com seu fogão e diversas peças de serviço (Idem, 1995).