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3. ARQUITETURA DA CIDADE COLONIAL ROMANA DE EMERITA

3.11 CASAS E VILAS ROMANAS

3.11.3 Casa do Mitreo

Perto da ponte nova de Mérida encontramos a Casa do Mitreo, um espaço com um pavimento de mosaico com temas complexos e pinturas que atestam a suntuosidade que mantinha a casa (GUITIAN, 1977). O local denomina-se Casa do Mitreo devido à sua proximidade com as ruínas de um santuário consagrado a Mitra e os deuses orientais. Poderia se tratar se uma mansão do sacerdote do santuário ou mesmo parte do mesmo. Sua construção possui situação suburbana e data de finais do século I d.C. ou começos do século II d.C., e seu abandono provavelmente ocorreu ao longo do século IV d.C. ou no século anterior (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Sua entrada atual nada parece com a primitiva. O primeiro núcleo aparece estruturado entorno de um pátio portificado, com jardim central ou viridarium, e um tanque com êxedras. Ao redor discorrem corredores que um dia tiveram pavimentos de mosaicos, estes que conservam leves restos na ala ocidental, distribuindo-se em cômodos. Os mais considerados são três, dois pequenos, de semelhantes dimensões que ladeiam o cômodo principal que pode ter uma função de triclinium. Os pequenos conservam em suas paredes bases com decorações pictóricas com elementos vegetais e de aves. O cômodo situado à direita do principal possuía um pavimento de mosaico dividido em três partes que delimitavam um quadro central com combinação

de triângulos, rômbicos e quadrados de dois tamanhos. Uma obra do século II d.C. como os cômodos contíguos. O cômodo da esquerda apresenta várias faixas de ornamentações em tiras dobradas em ângulos retos e sinuosos, e um quadro central com um quadrado preenchido de sinuosos gamados. Pode-se observar uma espécie de tapete de estrelas de quatro pontas na entrada do cômodo (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Figura 17. Planta das ruínas romanas da Casa do Mitreo. Disponível em: <http://www.spanisharts.com/arquitectura/imagenes/roma/merida_casa_mitreo_plano.jpg>.

Acesso em: 05/12/2014.

O cômodo principal conta com outro mosaico que compreende uma margem de quadrados em ponta e dois tapetes, com sinuoso gamado e margem de sinuoso gamado respectivamente. Junto a eles também estavam outros cômodos bastantes destruídos. No corredor ocidental aparecem restos de um mosaico de esquema de quadrados e retângulos, onde estava uma grande cisterna com abóbada semicircular,

sobre a qual se dispôs outro cômodo que oferece fragmentos pictóricos conservados no Museu Nacional de Arte Romano. O corredor meridional conduz a outros cômodos, um deles com pavimento de mosaico com figuras de Eros com uma pomba nas mãos. Seguindo, encontramos uma área de onde parte uma escadaria com paredes decoradas com pinturas que imitam estruturas de mármore mosqueado, e que conduz a dois cômodos, talvez fossem utilizados para descanso na estação de verão, cubicula

diurna (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

No final da casa, junto a uma calçada que parece a prolongação do kardo

maximus da cidade, se localizam estâncias termais, que ainda conservam o forno, a

infraestrutura de sustentação de uma estância com estrutura de ladrilho ou

hypocaustum, e uns banhos de água quente com seu cômodo ou calidarium,

pavimentado com mosaico de esquema de quadrados e triângulos. Entorno de um peristilo com tanque e colunas, revestidas com estuque pintado, se desenvolvia outro setor da casa. Desde o peristilo podemos acessar a área de entrada original, na área setentrional da casa. Uma escadaria de blocos de granitos salva o desnível existente entre a entrada e um átrio tetrastilo, entorno do qual se distribuíam diversos cômodos. Um pequeno átrio ou atriolum, que apresentava colunas de granito e um pequeno tanque ou impluvium com revestimento de mármore moldado, fazia o acesso aos cômodos. Dependências com suas portas com batentes de granito compunham a frente oriental deste espaço (Idem, 1995).

Na frente oposta, centrada em relação ao espaço do átrio, encontra-se o cômodo onde foi descoberto o denominado “Mosaico Cósmico”, o mais importante do mundo romano. No interior do cômodo percebe-se suas particularidades construtivas, um piso de alvenaria, com elevação de adobe e reforço de pedras nos ângulos. As paredes conservam a decoração com pinturas em algumas zonas. O mosaico oferece uma representação alegórica do Cosmos, presidida pela figura do Tempo e seus filhos, o Céu e o Caos, junto aos titãs, filhos de Céu e Terra: o Polo e Trovão. Ao redor das figuras do Sol, a Lua, os Ventos e as Nuvens. Ao centro encontra-se a representação de Aion, a Eternidade, acompanhado da Natureza, das Estações, da Morte e da Neve. Ao centro da composição se destaca a figura de Aurora, Oriens, montada em sua carruagem e disposta a correr a abóbada celeste. Na área inferior, as personificações aquáticas, os rios (o Nilo e o Eufrates), um Porto, um Farol, o Mar, a Navegação. Na composição os elementos da natureza aparecem identificados com seus nomes latinos. O material empregado para sua realização constitui-se de

primeira qualidade, até vidro transparente foi usado, com folha de ouro para destacar os ornamentos das figuras. Toda a alegoria possui finalidade de explicar os fenômenos da natureza (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Observa-se que nas paredes do exterior do cômodo existem restos de decorações pictóricas. Através de uma escadaria de granito se acessava a área contígua, onde à direita pode-se verificar o restante da casa, o denominado “cômodo das pinturas”, nomeação devido à sua decoração pictórica conservada. Em sua base observam-se motivos vegetais e de aves, na parte central da parede, nota-se diversos quadros separados por candelabros (Idem, 1995).