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3. ARQUITETURA DA CIDADE COLONIAL ROMANA DE EMERITA

3.6 BARRAGENS E AÇUDES

A colônia romana de Emerita Augusta possuía diversos monumentos de primeira ordem (GUITIAN, 1977). Dentre os grandes monumentos emeritenses podemos verificar a grandeza da fundação da cidade através das obras de engenharia hidráulica. Embora a cidade se localizasse junto ao rio Anas e o arroio Albarregas, foi necessário construir reservatórios que coletassem água de arroios a longas distâncias da cidade, para assim abastecê-la com água salubre (ALMAGRO, 1961).

A cidade de Emerita Augusta contava com duas grandes e principais construções de barragens ao seu entorno para armazenar água para a cidade, denominadas de Proserpina e Cornalvo, foram constituídas por muros que anexavam taludes de terra que ajudavam a resistir à pressão da água. A colônia também possuía barragens menores e açudes que desviavam suas águas para canais artificiais; a água coletada era destinada para irrigação e uso industrial fora da cidade. Tal condução era realizada por canais a céu aberto, em trincheiras junto ao solo. As barragens continham água das chuvas para abastecer a cidade em dias de estiagem, evidentes no verão. A cidade também contava com as barragens de Araya, formada por muros com contrafortes, e a de Esparragalejo, com muro de múltiplas abóbadas e contrafortes (ALGABA, 2009).

3.6.1 Reservatório de Proserpina

O nome tradicional do reservatório de Proserpina foi Charca de la Albuera, famoso pela batalha deste nome entre reis católicos e portugueses. O reservatório se localiza de uns 6 a 5 quilômetros da ponte sobre o Albarregas e do aqueduto de Los Milagros de Emerita Augusta. A colossal obra de engenharia conhecida pelo nome de Proserpina deve-se ao fato de se encontrar uma inscrição em uma lápide dedicada à deusa no local, sobre roubos onde uma vítima invocava a mesma, assim no século XVIII, o reservatório tomou este nome. O reservatório se localiza em um ambiente luminoso, ao pé da Serra de Carija, talvez tal denominação derive de Publio Carisio, o legado romano encarregado de fundar Emerita Augusta (GUITIAN, 1977). A represa se aproxima pelo norte da cidade, e pode ser acessada por uma estrada pavimentada, que parte de um cruzamento da atual Mérida a Montijo (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995).

Com este reservatório os romanos abasteciam os bairros a noroeste de Emerita Augusta. A barragem de Proserpina tinha suas águas conduzidas pelo aqueduto de Los Milagros, o conjunto da condução da água do início do reservatório de Proserpina ao final do aqueduto de Los Milagros possui uns 12 quilômetros de comprimento, e ainda subsistem bastantes trechos, em boa parte cobertos por abóbadas de ladrilho. O reservatório possui uns 5 quilômetros de perímetro irregular (ALMAGRO, 1961) e pode armazenar até dez milhões de metros cúbicos de água; as águas recolhidas

procediam de chuvas e dos fluxos dos arroios próximos, como os de Adelfas e de Pardillas. Para aproveitar melhor as contribuições destas correntes de água se efetuaram consideráveis obras de canalização, hoje bem evidentes. A represa conduzia as águas a partir de seu ambiente através de calhas, que ainda se conservam em parte (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995; GUITIAN, 1977).

O muro de contenção do reservatório possui medidas consideráveis que tornam esta obra de engenharia romana como a maior desse gênero na Espanha; encontra- se hoje incompleto e mesmo assim mede quase meio quilômetro, com 427 metros de comprimento, se eleva a uma altura de 8 metros sobre o nível médio da água, e possui 6 metros de espessura. A obra de engenharia deste reservatório apresenta-se notável, assim como o caso de Cornalvo, compreende uma poderosa proteção de terra e um dique em paredão, com declive escalonado, núcleo construído em concreto romano e revestido de blocos graníticos, além de ser reforçado com nove contrafortes (ALMAGRO, 1961; Idem, 1977).

A integridade das paredes do reservatório e também de sua estrutura, se asseguram por meio dos contrafortes de seção retangular, estabelecidos em cada um dos lados em ângulos do muro. Os contrafortes ultrapassam em altura o dique, cuja fisionomia atual se deve em boa parte às obras de reconstrução empreendidas no século XVII, porém com características das obras romanas. Ligadas à parede do dique, as torres quadradas, também refeitas neste período, providas de escadas, permitiam descer até o fundo, onde se encontravam comportas de saída do duto. Estudos sobre o dique apontam que seus paredões eram do tipo arredondados, referentes ao período de Augusto (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995). Apesar de sua origem romana, a barragem de Proserpina sofreu, ao longo dos séculos, várias renovações, sendo inclusive campo de batalha no século XV, e modernamente, no século passado (GUITIAN, 1977).

3.6.2 Reservatório de Cornalvo

Outro grande complexo da engenharia hidráulica e romana da cidade era o reservatório de Cornalvo e sua condução de água ou speculum que juntos formavam 25 quilômetros de comprimento. A obra da represa de Cornalvo se localizava a uns

15 quilômetros a nordeste da colônia emeritense. O reservatório se conserva em excelente estado, depois das reformas efetuadas há alguns anos atrás. O reservatório de Cornalvo possuía uns 10 quilômetros de perímetro e forma alongada, e seu dique de contenção foi estabelecido entre duas colinas que fechavam o reservatório, com 222 metros de comprimento, não chegando a 4 quilômetros, e sua altura alcançava 18 metros e sua largura 3 metros (ALMAGRO, 1961; GUITIAN, 1977).

A forma do reservatório de Cornalvo desenha um declive para suportar melhor a pressão das águas, com configuração escalonada e ao centro um contraforte permitia o acesso da entrada da água, e unia um arco semicircular à condução de água. Suas características resultam semelhantes as outras construções, tanto deste aspecto como defensivas, do final da República e começo do Império, podendo desta forma ser datada no final do século I a.C. O reservatório sofreu uma reforma por volta do século XX, originalmente compreendia um poderoso aterro que reforçava a construção, com núcleo de concreto e terra e com paredes revestidas com blocos de granito (ÁLVAREZ MARTÍNEZ; ANTÓN; JIMÉNEZ, 1995). A água saia do reservatório de Cornalvo e era conduzida pelo aqueduto romano de Aqua Augusta, que abastecia os bairros orientais de Emerita Augusta (ALMAGRO, 1961).