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PARTE III: CIRCULAÇÃO E APROPRIAÇÕES POR MEIO DOS IMPRESSOS

Capítulo 6: Os programas e as bibliotecas pedagógicas enquanto indicativos da circulação e

6.2 Constituição das bibliotecas pedagógicas: reflexo de um projeto de formação de

6.2.1 Aquisições da bilbioteca de professores do IERJ e da BCE

Uma série de reformas educacionais marcaram o Distrito Federal nas primeiras décadas do XX: primeiro com Carneiro Leão, depois Fernando de Azevedo, e ainda com Anísio Teixeira. Nesse cenário, a preocupação com a formação de professores não teve reflexos apenas na estruturação dos cursos e na reformulação dos programas de ensino. Outro elemento privilegiado foi a biblioteca, que nesse projeto se articulava profundamente com os próprios programas, principalmente na gestão de Anísio Teixeira.

No âmbito dos dispositivos para introdução de uma nova prática docente, ou por parte da administração azevediana ou anisiana, da forma diferenciada como se colocaram perante os desafios que tiveram de enfrentar, no anseio de renovação educacional do município carioca, a constituição de bibliotecas

e especificamente, de uma biblioteca para auxiliar na formação de professores, aglutinava discursos de excelência e aprimoramento profissional (VIDAL, 2001, p. 157).

A partir de 1928, as escolas tinham que manter duas bibliotecas, uma para os alunos e outra para os professores. Anísio Teixeira criou a Biblioteca Central de Educação (BCE) em 1932, a Biblioteca Infantil em 1934, e ampliou o acervo da antiga Escola Normal211. Centrarei especificamente na biblioteca do

Instituto e na BCE.

A BCE teve importante papel na difusão de novas ideias e hábitos, atuando na coordenação de atividades das bibliotecas e cinematecas escolares, promoção de cursos para docentes, e distribuição de livros e publicações nas escolas públicas, como o Boletim de Educação Pública e outras publicações do Departamento de Educação. O acervo da BCE contava com obras francesas, inglesas, italianas, espanholas e norte-americanas. Ainda, contava com a assinatura de 157 periódicos (68 nacionais e 89 estrangeiros). O intercâmbio bibliográfico era mantido com 46 instituições e centros de publicidade estrangeiros e 100 nacionais (VIDAL, 2001).

A pesquisa bibliográfica, prática adotada e incentivada na gestão anisiana, influía no aumento das consultas e número de obras do Instituto, e estavam presentes nas orientações dos programas da Escola de Educação.

As livrarias, para corresponder à lei da procura, expunham em suas vitrinas e balcões mais centrais as últimas novidades recebidas. Decroly, Ferrière, Claparède, Piaget, Pierón, Kerschensteiner, Kilpatrick, Dewey, Gates chegavam até os professores, no original ou em versão nacional ou espanhola. Introdução à Escola Nova, Testes ABC, de Lourenço Filho; Escola Progressiva, Em Marcha para a Democracia, de Anísio Teixeira; Para Novos Fins, Novos Meios, de Fernando de Azevedo, foram os ‘best-sellers’ do momento. Não havia professor que não os possuísse, não procurasse, em suas páginas, informações para as suas dúvidas, e sugestões e recursos técnicos para o seu trabalho (SILVEIRA apud VIDAL, 2001, p. 170).

As missões de estudo, realizadas por solicitação da Diretoria-Geral de Instrução Pública, para aperfeiçoamento docente e aprimoramento do sistema

211 A preocupação com a criação e manutenção de bibliotecas escolares também ganhou

espaço em São Paulo no mesmo período. Entre as iniciativas, conforme informa Vidal (2004), em 1933, Fernando de Azevedo criou a Biblioteca Central de Educação vinculada ao Departamento de Educação. Anteriormente, Lourenço Filho havia criado a Biblioteca Pedagógica Central.

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escolar, parecem ter contribuído na ampliação do acervo da biblioteca do Instituto. Lourenço Filho, em missão em 1935, efetua compra de livros novos e usados, o que, segundo Vidal (2001), explicaria a grande entrada de livros de autores norte-americanos no referido ano212. Além das aquisições feitas por

Lourenço Filho, Vidal (2001) também menciona compras feitas diretamente nos fornecedores, sendo que foram importados livros e feitas assinaturas de revistas ainda em 1935, e o material era enviado por navio.

Vidal (2001) chama a atenção para a constituição do acervo das bibliotecas como um campo de disputa, já que a própria percepção do que seriam publicações convenientes para a formação docente divergia entre os professores. Sugere que as doações eram uma forma de escapar ao controle bibliográfico exercido pela diretoria.

Entre os anos 1933 e 1935 as aquisições parecem apontar para uma intencionalidade, com uma maior entrada de livros relacionados à biologia e à psicologia e livros de mérito internacional. Em 1933 houve uma mudança no perfil do acervo, sendo que o “conjunto bibliográfico tornou-se mais ágil e adaptado às publicações do momento” (VIDAL, 2001, p. 182). Ainda no mesmo ano, a entrada de livros de psicologia correspondia a 8% do total de registros. “Se somado aos títulos sobre testes de inteligência, racionalização do trabalho e orientação profissional chegava a 10%, temas que apenas aparecem contemplados no rol das incorporações a partir de 1932” (VIDAL, 2001, p. 183). Também houve um crescimento do acervo relacionado à filosofia.

212 Entre os dados compilados por Vidal (2001), constam quais livros indicados nos programas

contavam com exemplares na biblioteca de professores que haviam sido adquiridos por Lourenço Filho em sua viagem aos EUA. Com base nessas informações, é possível inventariar parte dos títulos que foram adquiridos. São eles: Sandiford - Educational psychology; Anuários diversos da National Society for Study of Education; Arlitt, A. H. - Psychology of infancy and early childhood; Hollingworth, L. - The psychology of subnormal; Jordan, A. M. - Educational psychology; Levine and Marks - Testing intelligence and achievement; Ogden, R. M. - The pscyhology and education; Perrin and Klein - Psychology: its methods and principles; Poffenberger, A. T. - Applied psychology; Ragasdale, C. - Modern psychologies and education; Sandiford, P. - Educational psychology; Snedden, D. - Vocational education; Symonds, P. - Measurement in secondary education; Thorndike and Gates - Elementary principles of education; Wallin, J. - The education of handicapped children; Horne, H. H. - The philosophy of education; Kilpatrick, W. - Source book in the philosophy of education; Thorndike - The new methods in arithmetic; McCall - How to measure in education; Rugg, H. - Statistical methods applied to education.

Em 1935, o crescimento do acervo também foi considerável, superando dos anos anteriores. A principal característica dos livros incorporados à Biblioteca da Escola de Professores foi que 47% das obras tinham origem norte-americana, o que superava mesmo os livros em português, sendo que até 1934 eram poucos os títulos em inglês. Em 1935 a entrada de títulos em inglês superou em três vezes os títulos em francês. Alguns títulos de autores dos EUA chegavam em suas edições em espanhol, como no caso de Dewey. Também entraram no acervo vários livros da coleção Biblioteca de Educação, da Editora Melhoramentos (VIDAL, 2001).

Cabe lembrar que Lourenço Filho era o editor da Biblioteca de Educação e foi responsável pela tradução e publicação, por essa coleção, de vários autores considerados referências internacionais. Ainda, foi pela Biblioteca de Educação que saiu a primeira publicação brasileira de Dewey em 1930, sob o título Vida e educação, com tradução de Anísio Teixeira (MONARCHA, 1997).

No cenário carioca, cabe questionar quais os vestígios de aquisição de livros de Dewey e de Thorndike, os títulos adquiridos e se há algum voltado à matemática. No âmbito do IERJ, é possível vislumbrar um panorama a partir do levantamento realizado por Vidal (2001). Segundo inventário de autores com maiores entradas na Biblioteca da Escola de Professores, Dewey teria 14 entradas e Thorndike 7. A título de comparação, Claparède e Ferrière aparecem com 17 entradas cada, Anísio Teixeira 12, Lourenço Filho 10, Backheuser 7, Aguayo 4 e Margarita Comas 4.

O livro inventário da Biblioteca do Instituto de Educação213 indica o fluxo

e a origem dos livros de Dewey entre 1928 e 1934. Nesse mesmo período não constam registros de livros de Thorndike. Em 1930 tem entrada o livreto da União Pan-Americana intitulado A influência de John Dewey nas escolas. Uma série de livros são registrados em 1933, não havendo novas entradas em 1934. Os títulos de Dewey inventariados são: Vida e educação; Los fines, las

materias y los metodos de la educación; Ensaios de educación; Teorias sobre la educación; Pedagogia y filosofia. Quanto à origem, foram doados pela

Secretaria, por Afrânio Peixoto ou adquiridos pelo Instituto. No mesmo ano têm entrada livros de Montessori (doados por Afrânio Peixoto) e Margarita Comas

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(adquiridos pelo Instituto). A partir dos dados compilados por Vidal (2001) é possível saber quais dos livros presentes nos programas contavam com exemplares na biblioteca. Em relação ao programa de Cálculo, cabe destacar que The new methods in arithmetic, de Thorndike, contava com um exemplar,

A aritmética da escola nova, de Backheuser, dois exemplares, e Como pensamos, de Dewey, dois exemplares.

Quanto à BCE, foram localizadas duas listas de aquisição na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, referentes às aquisições dos anos 1945 e 1946, publicados no Arquivos do Serviço de Assistência a Menores. No primeiro (Arquivos, dez. 1945), aparece A nova metodologia da aritmética. No segundo (Arquivos, dez. 1946), também de Thorndike, Man and his works. Na segunda lista chamam a atenção outros títulos, como Metodologia de la

aritmética y la geometria, de Margarita Comas; The teaching of arithmetic, de

Lennes e Measurement, de McCall.