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1.4. FEDERAÇÕES MADURAS

1.4.4. ARGENTINA

O território onde hoje está situada a República Argentina, à época das grandes navegações integrava a zona conquistada pelos espanhóis no continente sul americano. Assim, a luta pela independência argentina decorreu a partir da Revolução de Maio de 1.810, quando a população de Buenos Aires se levantou contra o vice-rei Baltazar de Cisneros, expulsando-o e logrando a implantação de uma Junta Provisória. Assim, após inúmeras contendas contra os espanhóis, finalmente em 09 de julho de 1816, no Congresso de Tucumán, foi formalizada a independência argentina138.

137 Para um estudo pormenorizado da realidade política, territorial, administrativa e social belga, recomendamos a leitura da Sezione II, da obra I Cantieri del Federalismo in Europa, do Instituto di Studi

sui Sistemi Regionali Federali e sulle Autonomie – ISSiRFA e Università di Roma “Tor Vergata”, já citada,

precipuamente o ponto 3, de autoria de Michel Leroy, que destrinça as características maiores das instituições.

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Para definir a formação do novo Estado, dois grupos opostos, a saber, o partido federal e o partido unitário, competiam pela adoção de modelo de poder mais ou menos centralizado. De um lado, os unitários cobiçavam a continuidade do governo centralizador em Buenos Aires e, de outro, os federalistas ansiavam por compor uma liga de províncias argentinas federais, no período que restou intitulado das guerras civis argentinas.

Após sucessivas tentativas de se organizar politicamente o Estado, marcadas por traços fortemente centralizadores e por isso rechaçadas pela população, finalmente em 1.831, o modelo federalista foi instituído pelo Pacto Federal firmado entre as províncias de Buenos Aires, Santa Fé e Entre Rios. Posteriormente, as demais províncias adotaram- no, fortalecendo o acordo e vindo a influenciar substancialmente na formação da Federação argentina139.

Bautista Alberdi, estudioso que grandemente contribuiu na elaboração da Constituição argentina de 1.853, destrincha a história do país, constituída tanto por antecedentes unitários quanto por federais. Desta feita, o autor atesta a impossibilidade de se estabelecer uma forma tão-somente unitária, como apregoada pelo diploma constitucional de 1826, tampouco uma forma unicamente federal, a que relacionou à Confederação dos Estados Unidos da América de 1777, que não obteve êxito naquele país e também não persistiria na Argentina, pelo que preconiza a adoção de um modelo misto, combinando um Poder Legislativo federal bicameral à conservação das legislaturas estaduais140.

139 Juan Bautista Alberdi identifica no Pacto de 1831 diversas características que serviriam de base para a Constituição de 1853, afirmando que: “O tratado litoral, firmado em Santa Fé, a 4 de janeiro de 1831, por três províncias importantíssimas da República, ao qual mais tarde aderiram todas as demais e que acaba de ratificar-se pelo acordo de San Nicolás, de 31 de maio de 1852, assinala como assuntos cuja coordenação será de responsabilidade do Congresso geral: 1. A administração geral do país sob o sistema federal; 2. O comércio interno e externo; 3. A navegação; 4. A cobrança e a distribuição das rendas gerais; 5. O pagamento da dívida da República; 6. Tudo o que for conveniente para a segurança e o engrandecimento da República Geral; 7. Seus créditos interno e externo; 8. O cuidado de proteger e garantir a independência, a liberdade e a soberania de cada província. Essas bases são preciosas. Elas fizeram e formaram uma parte essencialíssima do trabalho do Congresso Constituinte. Por elas já sabemos quais assuntos que hão constituir-se nacionais ou federais e sabemos que esses assuntos dependerão, para sua coordenação e seu governo, do Congresso geral”. (BAUTISTA ALBERDI, Juan. Fundamentos da Organização Política da

Argentina de 1852. Tradução de Angela Maria Naoko Tijiva. Campinas: Editora da Unicamp, 1994. Pp.

134/5).

140 BAUTISTA ALBERDI, Juan. Fundamentos da Organização Política da Argentina de 1852. Op. Cit. Pp. 91 e ss.

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Assim, a Constituição da Nação Argentina de 1853 aclama a adoção da forma representativa republicana federal141 e o sistema bicameral para o desempenho do Poder Legislativo da nação142. Quanto à organização político-territorial, o país compreende 23 Províncias e a Cidade Autônoma de Buenos Aires, cada uma delas elegendo três senadores para o Senado Argentino, devendo um deles representar a minoria em um escrutínio direto, onde dois cargos serão concedidos ao partido que maior número de votos obteve e um cargo ao segundo partido mais votado143.

No que respeita à repartição de competências, a Carta Magna argentina adotou diretrizes extraídas do modelo dos Estados Unidos da América. O artigo 75 atribui competências ao Congresso, enquanto o artigo 99 o faz para o chefe do Poder Executivo, o presidente. Os poderes que não foram delegados ao governo federal são exercidos pelas Províncias, em observância ao artigo 121144.

Por fim, o federalismo observado na Argentina exibe contornos peculiares e deveras diferentes dos precedentemente estudados. Ora, as Províncias receberam a prerrogativa de operarem convênios internacionais, contanto que perfeitamente compatíveis com a política exterior do país, que não afetem as competências delegadas ao governo federal e o crédito público da nação145. Desta feita, a Constituição argentina moderniza o federalismo ao outorgar ao ente federado a possibilidade de atuar no âmbito internacional mediante a celebração de convênios146.

141 “Artículo 1º - La Nación Argentina adopta para su gobierno la forma representativa republicana federal, según la estabelece la presente Constitución.”

142 “Artículo 44 – Un Congresso compuesto de dos Câmaras, una de Diputados de la Nación y outra de Senadores de las províncias y de la Ciudad de Buenos Aires, será investido del Poder Legislativo de la Nación.”

143 “Artículo 54 - El Senado se compondrá de tres senadores por cada provincia y tres por la ciudad de Buenos Aires, elegidos en forma directa y conjunta, correspondiendo dos bancas al partido político que obtenga el mayor número de votos, y la restante al partido político que le siga en número de votos. Cada senador tendrá un voto.”

144 “Artículo 121 – Las províncias conservan todo el poder no delegado por esta Constitución al Gobierno Federal, y el que expressamente se hayan reservado por pactos especiales al tiempo de su incorporación.” (ARGENTINA. Constitution de La Nacion Argentina (1994). Sítio da Constitucion Society. Disponível em http://www.constitution.org/cons/argentin.htm. Acesso em 12 de abril de 2017).

145 “Artículo 124 - as provincias podrán crear regiones para el desarrollo económico y social y establecer órganos con facultades para el cumplimiento de sus fines y podrán también celebrar convenios internacionales en tanto no sean incompatibles con la política exterior de la Nación y no afecten las facultades delegadas al Gobierno federal o el crédito público de la Nación; con conocimiento del Congreso Nacional. La ciudad de Buenos Aires tendrá el régimen que se establezca a tal efecto. Corresponde a las provincias el dominio originario de los recursos naturales existentes en su territorio.” 146 MACHADO HORTA, Raul. Direito Constitucional. 5ª Edição. Belo Horizonte: Del Rey, 2010. P. 465.

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