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3.4. REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS ENTRE OS ENTES

3.4.4. UNIÃO, ESTADOS E DISTRITO FEDERAL

no âmbito federal, estadual e distrital é o artigo 24 da Carta Magna290. No tocante ao ambiente, estão autorizados a legislar sobre: florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição. Ainda, promover a proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagísticos e estipular parâmetros à responsabilidade por dano ao meio ambiente e bens e direitos de valor artísticos, estético, histórico, turístico e paisagísticos.

Urge elucidar que pelo artigo em comento a competência federal ater-se-á a prescrever normas gerais, sem, no entanto, suprimir a competência suplementar estadual. Se porventura lei federal não ditar preceitos gerais, os Estados-membros estarão aptos a operar a competência legislativa absoluta até que finalmente sobrevenha lei federal apresentando tais normas gerais, quando, então, suspender-se-á a lei estadual no que vier a contrariá-la291.

Apesar de tradicionalmente os Estados-membros não exercerem amiúde as competências concorrentes, uma expansão gradual na atuação legislativa estadual tem sido observada, despertando a acolhida do Supremo Tribunal Federal, que preconizou que

“(...) uma vez reconhecida a competência legislativa concorrente entre a União, os Estados-membros e o Distrito Federal (...), e enquanto não sobrevier a legislação de caráter nacional, é de admitir a existência de um espaço aberto à livre atuação normativa do Estado-membro, do que decorre a legitimidade do exercício, por essa unidade federada, da faculdade jurídica que lhe outorga o art. 24, §3º, da Carta Política.292”.

290 Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VI -

florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

291 BARBOSA RAMOS, Paulo Roberto. Federalismo e Descentralização Territorial em Perspectiva

Comparada – Os Sistemas do Brasil e da Espanha. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2012. P.

39. Neste sentido, vide LEME MACHADO, Paulo Affonso. Direito Ambiental Brasileiro. 18ª. Edição. São Paulo: Malheiros, 2010. P. 96.

292 O caso sugerido é respeitante à Lei 10.820/1992 do estado de Minas Gerais, conforme colacionamos para melhor compreensão: E M E N T A : AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI 10.820/92 DO ESTADO DE MINAS GERAIS - PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA - TRANSPORTE COLETIVO INTERMUNICIPAL - EXIGÊNCIA DE ADAPTAÇÃO DOS VEÍCULOS - MATÉRIA SUJEITA AO DOMÍNIO DA LEGISLAÇÃO CONCORRENTE - POSSIBILIDADE DE O ESTADO-MEMBRO EXERCER COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PLENA - MEDIDA CAUTELAR

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Incontáveis outros acórdãos foram exarados tendo por objetivo acentuar e consolidar a competência legislativa concorrente, seja com foco na residual293 ou mesmo situando a responsabilidade dentre o rol das competências concorrentes.

Em contrapartida, Afonso da Silva registra um abrangente quadro de leis já antevisto pela União, onde figuram políticas e diretrizes gerais com a tônica ambiental294, bem como expedientes que trazem expressa participação dos Estados na Política Nacional do Meio Ambiente295.

De fato, a concorrência entre os entes guarda uma organização concebida pela Carta Constitucional, expressa na separação entre os núcleos de atividade pertencentes a cada um deles: à União incumbe as normas gerais, abstratas e genéricas, enquanto que aos Estados-membros e ao Distrito Federal resta ditar as normas específicas, conforme quadros concretos e preservando as peculiaridades regionais.

Nada obstante, ainda podem sobrevir situações que configurem conflito de preceitos, havido na impossibilidade de se precisar a dimensão da norma, se geral ou

DEFERIDA POR DESPACHO - REFERENDO RECUSADO PELO PLENÁRIO. - O legislador constituinte, atento à necessidade de resguardar os direitos e os interesses das pessoas portadoras de deficiência, assegurando-lhes a melhoria de sua condição individual, social e econômica - na linha inaugurada, no regime anterior, pela E.C. n. 12/78 -, criou mecanismos compensatórios destinados a ensejar a superação das desvantagens decorrentes dessas limitações de ordem pessoal. - A Constituição Federal, ao instituir um sistema de condomínio legislativo nas matérias taxativamente indicadas no seu art. 24 - dentre as quais avulta, por sua importância, aquela concernente à proteção e à integração social das pessoas portadoras de deficiência (art. 24, XIV) -, deferiu ao Estado-membro, em "inexistindo lei federal sobre normas gerais", a possibilidade de exercer a competência legislativa plena, desde que "para atender a suas peculiaridades" (art. 24, § 3º). A questão da lacuna normativa preenchível. (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 903 MC/MG. Julgamento: 14-10-1993. Pleno. DJU 24-10-1997. Pp. 54/155).

293 Vide ADI nº. 2.334/DF.

294 “A União já expediu, (…) várias leis de política e diretrizes gerais sobre a matéria, tais como o Código Florestal (Lei 4.771, de 1965), a lei que dispõe sobre a proteção à fauna (Lei 5.197, de 1967), a lei que institui a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938 de 1981), a lei que dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental (Lei 6.902 de 1981), a lei que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (Lei 7.661 de 1988) entre outras que não excluem a competência suplementar dos Estados na matéria. Ao contrário, pressupõe o exercício dessa competência, às vezes até mencionando- a expressamente como é o caso do § 1º do artigo 6º da Lei 6.938 de 1981, onde se estatui que os Estados na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaboração de normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. No mesmo sentido é o disposto no artigo § 1º do artigo 5º da citada Lei 7.661 de 1988, ao estatuir que os Estados e Municípios, poderão instituir, através de lei, os respectivos Planos estaduais e municipais de gerenciamento costeiro, observados as normas e diretrizes do Plano Nacional e o disposto naquela lei”. (AFONSO DA SILVA, José. Direito Ambiental Constitucional. 5ª Edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. P. 78).

295 Lei 6.938/81 – PNMA. Art. 6º, §1º - Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA.

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específica, ocasião em que mais de um ente a normatizará. Aqui imperioso se faz a adoção do princípio in dubio pro natura296, prevalecendo a regra mais restritiva e que, por isso,

melhor resguarde o ambiente297.

3.4.5. União, Estados, Distrito Federal e Municípios: Competência