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CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS AMBIENTAIS NA CONSTITUIÇÃO

Consoante investigado no capítulo inicial, a organização político-administrativa brasileira abarca a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios249, todos autônomos e com atuação sobre mesma população e território, daí a imposição da repartição de competências com vistas a oportunizar o equilíbrio entre estas variadas entidades federativas.

Malgrado a contemplação ampla e progressista que a Carta Máxima conferiu ao meio ambiente, regulamentação exclusiva não foi ofertada à distribuição de competências em matéria ambiental, restando a esta, portanto, acompanhar os princípios gerais contidos na Constituição.

Assim sendo, da locução competências ambientais pode se depreender o agrupamento das atribuições juridicamente outorgadas a certo nível de governo, com vistas à expedição de decisões direcionadas a bem desempenhar o dever de tutelar o ambiente para presentes e vindouras gerações250.

248 Vasta bibliografia pode ser apontada a este respeito, guarnecida com nomes da estirpe de Gomes Canotilho e Vital Moreira (GOMES CANOTILHO, José Joaquim e MOREIRA, Vital. Constituição da

República Portuguesa Anotada. Op. Cit). Também merecem ser visitados: AFONSO DA SILVA, José. Curso de Direito Constitucional Positivo. 9ª Ed. São Paulo: Malheiros, 1994; NEURAY, Jean-François. Droit de l’Environnement. Bruxelles: Bruylant, 2001; FREYFOGLE, ERIC T. Should We Green the Bill?

University of Illinois Law Review, 1992; FAVOREAU, Louis et al. Droit Constitutionnel. Paris: Dalloz, 1998; LADEUR, Karl Heinz e PRELLE, Rebecca. Environmental Assessement and Judicial Approaches

to Procedural Errors: A European and Comparative Law Analysis. Journal of Environmental Law.

London: Oxford, v. 13. 2001.

249 Art. 18, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil.

250 Em busca de melhor balizamento de ideias, Afonso da Silva qualifica poder como uma “porção de matéria que a Constituição distribui entre as entidades autônomas e que passa a compor seu campo de atuação governamental, sua área de competência”, enquanto que a competência consubstanciar-se-ia nas variegadas espécies de poder utilizadas pelo ente federativo no encalço de desempenhar suas atribuições. (AFONSO DA SILVA, José. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1994. Op. Cit. P. 71.

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3.3.1. Quanto à Natureza: Executivas, Administrativas e Legislativas

Preliminarmente projetando um olhar sobre a natureza, as competências ambientais podem variar entre três classificações: executivas, administrativas e legislativas.

Serão estas consideradas executivas a partir do momento em que determinada face do poder retiver o direito de estipular e executar diretrizes, estratagemas e políticas alusivas ao ambiente.

Acaso a entidade federativa ostente o múnus de implementar e fiscalizar a atividade ambiental, para isso invocando o poder de polícia com o escopo de proteger e preservar tal bem, estará exercendo competência administrativa.

Por derradeiro, falar-se-á em competência legislativa ante à capacidade expressa pelo ente federado para legislar sobre a temática ambiental, concebendo o alicerce sobre o qual a matéria se sustentará.

3.3.2. Quanto à Extensão: Exclusivas, Privativas, Comuns, Concorrentes e Suplementares

Sob outra perspectiva, podem as competências ambientais ser averiguadas quanto à extensão ou alcance alvitrado, ocasião em que serão categorizadas em exclusivas, privativas, comuns, concorrentes e suplementares.

Assim, quando a competência ambiental impuser a determinado nível de governo atribuições específicas, das quais estarão excluídos os restantes, dir-se-á exclusiva. Acaso comporte delegação ou suplementariedade, será chamada privativa. Importa evocar o parágrafo único do artigo 22 da Constituição Federal251 como critério de distinção entre ambas, porquanto as competências privativas via de regra são enumeradas.

251 “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (…) Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo”. Este dispositivo versa sobre a competência legislativa privativa da União e esculpe poderes elencados, além de incluir a regra de delegação expressa no parágrafo único.

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Daí decorre que as competências exclusivas serão operadas absoluta e unicamente pelo ente da Federação delas incumbido, excluída qualquer eventualidade de transmissão, o que, dessarte, concerne aos Estados e Municípios em observância à norma constitucional, que os impede de delegá-las252.

Por sua vez, a competência comum está enunciada no artigo 23 do Diploma Constitucional e substancialmente restringe-se à esfera administrativa, uma vez que é resumida na promoção de ações preventivas e repressivas tencionando conservar a higidez dos bens ali arrolados.

Concorrente será a competência compartilhada entre União, Estados e Distrito Federal, regida pelo artigo 24 da Constituição253 e adstrita à esfera legislativa. Importa advertir que tal função concede a mais de um ente legislativo a possibilidade de versar sobre estipulada matéria, restringindo, porém, sua atividade à ordem imposta pela Carta Constitucional.

Diante disso, há correntes que argumentam haver entre as normas certa dependência hierárquica254, ao passo que, para outros, o que se observa é meramente a

superposição de prescrições jurídicas sobre mesmo território255. Seja positiva qualquer das hipóteses, interessa considerar que a União, os Estados e o Distrito Federal não poderão exercer seu poder legiferante de maneira equitativa, eis que caberá à União instaurar normas gerais256 e restará aos Estados a aptidão para suplementá-las257.

252 Interessa anunciar que há doutrinadores que proclamam não haver separação entre competência privativa e exclusiva, como SILVEIRA, Patrícia. Competência Ambiental. Curitiba: Juruá, 2003; MOREIRA MARCHESAN, Ana Maria, MONTEIRO STEIGLEDER, Annelise e CAPPELLI, Sílvia. Direito

Ambiental. Op. Cit; MUKAI, Toshio. Direito Ambiental Sistematizado. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2002; MENEZES DE ALMEIDA, Fernanda Dias. Competências na Constituição de 1988. São Paulo: Atlas, 1991.

253 Dentre as competências concorrentes entre União, Estados e Distrito Federal elencadas no dispositivo constitucional, figuram legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna, defesa do solo e dos recursos naturais, conservação da natureza, proteção do meio ambiente e controle da poluição: proteção do patrimônio histórico nacional, cultural, artístico, turístico e paisagístico; e responsabilidade por dano ao meio ambiente e bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Constituição Federal brasileira, art. 24, incisos VI, VII e VIII).

254 Aprofunda essa reflexão Toshio Mukai, na obra Direito Ambiental Sistematizado. Op. Cit. 255 Vide LEITE FARIAS, Paulo José. Competência Federativa e Proteção Ambiental. Op. Cit. 256 Redação expressa no parágrafo primeiro do artigo 24 da Constituição Federal.

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Importa, por fim, brevemente conceitualizar a competência suplementar, aceite como aquela composta pelas competências supletiva, verificada na ocasião em que os Estados suprem lacunas patentes na lei federal, e complementar, havida quando os Estados se reduzem a destrinchar e circunstanciar a lei federal258.