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Conforme já apontado, a localização industrial associada a algum tipo de aglomerado de empresas tem grande importância no desenvolvimento sócio-econômico da região e na competitividade empresarial. Por essa razão, nas últimas décadas essa problemática vem sendo investigada por diversos autores a partir de alguns modelos teóricos.

Nesta perspectiva, uma das estratégias mais eficientes para otimização e concentração das atividades econômicas baseia-se no conceito de arranjos produtivos locais (APLs). Tais arranjos apresentam como principal característica a articulação entre empresas e instituições de apoio ao setor empresarial como: associações, sindicatos, instituições de ensino, agentes financeiros, agentes governamentais, agências de fomento, etc. com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável no território.

Neste aspecto, a abordagem de arranjos ou sistemas produtivos parte de um conceito amplo de aglomeração produtiva, que engloba todos os tipos referidos na literatura (clusters, distritos, redes etc.), focalizando, entretanto, um conjunto específico de atividades econômicas que possibilite e privilegie a análise de interações, particularmente aquelas que levem à introdução de novos produtos e processos (CASSIOLATO e LASTRES, 2009).

No entanto, apesar de haver convergência a respeito da estrutura em que os APLs se estabelecem, percebe-se que, de forma análoga à teoria que versa sobre os aglomerados empresariais e suas tipologias, quando se busca a temática sobre APL, observa-se também a existência de um embate teórico e diferentes conceituações a despeito deste tema, por isso, a definição de arranjo não é uma tarefa trivial nem isenta de controvérsias.

De uma forma geral, os diversos trabalhos realizados em países tais como Itália, Brasil, México, França e Estados Unidos entre outros, para quaisquer que sejam as diferentes denominações utilizadas – distritos industriais no sentido amplo, sistemas produtivos locais, pólos de industrialização, clusters de empresas – o grau de especialização ou a amplitude das cooperações interempresas, colocaram em foco a importância das estruturas sociais que condicionam às atividades econômicas, o peso da história e das tradições locais de cooperação, a influência de instituições baseadas em regras, formais ou informais, em valores

e em representações que organizam a comunidade humana de trabalho.

A fim de analisar tais definições e apresentar a que será utilizada nesta pesquisa, apresenta-se a seguir (quadro 2) algumas definições a despeito de APL.

Quadro 2 — Conceituação sobre APL

Autor (es) Definição

Casarotto Filho e Pires (2001)

Sistema Econômico Local (SEL) corresponde a uma região fortemente estruturada, contendo um ou mais clusters formado de pequenas e médias empresas, com um planejamento territorial com alta interação público-privada, com respeito à cultura e com o objetivo de assegurar a qualidade de vida dos habitantes.

Cassiolato e Lastres; REDESIST (2003)

Aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos, mesmo que incipientes. Geralmente, envolvem a participação e a interação de empresas – estas podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.

SEBRAE (2004)

Constitui um tipo particular de cluster, formado por pequenas e médias empresas, agrupadas em torno de uma profissão ou de um negócio, onde se enfatiza o papel desempenhado pelos relacionamentos – formais e informais – entre empresas e demais instituições envolvidas. As firmas compartilham uma cultura comum e interagem, como um grupo, com o ambiente sociocultural local.

BNDES (2004)

APL é a concentração geográfica de empresas e instituições que se relacionam em um setor particular, incluindo fornecedores especializados, universidades, associações de classe, instituições que provêm educação, informação, conhecimento e/ou apoio e entretenimento.

Caporali e Volker (2004)

Aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais tais como governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.

Zapata et al (2007)

Aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico de atividades econômicas que apresentam vínculos, mesmo que sejam incipientes. Os APLs são embriões dos denominados SPLs, no qual há um nível significativo de inter-relacionamentos entre os agentes do aglomerado.

Suzigan (2006)

APL consiste em um sistema localizado de agentes econômicos, políticos e sociais ligados a um mesmo setor ou atividade econômica, que possuem vínculos produtivos e institucionais entre si, de modo a proporcionar aos produtores um conjunto de benefícios relacionados com a aglomeração das empresas.

IPEA (2006)

Sistema localizado de agentes econômicos, políticos e sociais ligados a um mesmo setor ou atividade econômica, que possuem vínculos produtivos e institucionais entre si, de modo a proporcionar aos produtores um conjunto de benefícios relacionados com a aglomeração das empresas. Configura-se um sistema complexo em que operam diversos subsistemas de produção, logística e distribuição, comercialização, desenvolvimento tecnológico (P&D, laboratórios de pesquisa, centros de prestação de serviços tecnológicos) e onde os fatores econômicos, sociais e institucionais estão fortemente entrelaçados.

Em observância às definições apresentadas no quadro 2, percebe-se que todas as conceituações sobre APL apontam que este é um tipo de aglomeração de agentes econômicos, políticos e sociais, que compartilham de similaridade na atuação de uma atividade econômica, sendo a característica principal o relacionamento, a articulação e a interação entre os agentes envolvidos. No entanto, observa-se que alguns autores discordam quanto ao grau de interação entre os agentes que compõem o arranjo produtivo. Neste aspecto, enquanto Casarotto Filho e Pires (2001) e IPEA (2006) afirmam que um arranjo produtivo local, também denominado como sendo um Sistema Econômico Local (SEL), necessariamente possui um planejamento territorial com alta interação público-privada, outros autores, tais como Cassiolato e Lastres (2009) e Caporali e Volker (2004) afirmam que um arranjo produtivo local deve necessariamente possuir interação entre os agentes econômicos e sociais de determinada região, mesmo que tais vínculos sejam incipientes.

Além disso, ao definir APL, alguns autores também fazem menção à inovação. Neste contexto, Borin (2006) afirma que nos APLs deve haver ênfase nos processos de aprendizado, capacitação e inovação, sendo estes aspectos considerados fundamentais para a competitividade dos agentes, tanto do ponto de vista individual quanto do coletivo.

Na perspectiva de inovação, ressalta-se a conceituação e classificação definida por Zapata et al (2007). Tais autores estabeleceram três distintas classes na concepção dos arranjos produtivos locais, considerando como critério para tal classificação, o poder de inovação endógena e a capacidade competitiva de desenvolvimento local.

Neste aspecto, Zapata et al (2007) definem Sistemas Produtivos Locais (SPLs) como sendo estruturas em fase evolutiva superior em termos de divisão de tarefas entre as diversas empresas que as constituem, em que se percebe alto grau de sinergia resultante da complementaridade dos agentes envolvidos, no qual podem ser identificados as instituições financeiras, educacionais, poder público, a sociedade civil organizada, tais como associações, sindicatos, ONGs, e principalmente as firmas. Este fato específico possibilita a inovação e o alcance de benefícios para os produtores e mercados com o negócio.

No entanto, por reconhecer que tal realidade não corresponde à maioria das aglomerações produtivas especializadas, os referidos autores, definiram outra classe, a qual denominou de APL. Este tipo de aglomerado encontra-se em estágios preliminares de organização, especialização, formação de relações sócio-produtivas, de eficiência coletiva e competitividade sistêmica. Dessa forma, os APLs consistem em embriões dos SPLs, por não conseguir englobar interação de todos os agentes, tal qual, ocorre no SPL. Neste aspecto, os autores conceituam APLs como sendo aglomerações de empresas com uma estreita ligação e

relacionamento entre elas, constituindo organizações dinâmicas, capazes de inovar tecnologicamente, de serem fonte de competitividade e geradores de emprego, com certo grau de coesão e cooperação.

Assim como os APLs são aglomerações menos estruturadas que os SPLs, Zapata et al (2007) identificam outra classe de aglomerações, os Núcleos Produtivos Locais (NPLs), que correspondem às aglomerações produtivas de micro e pequenas empresas, todavia, com vínculos mais incipientes ainda, caracterizado apenas pela proximidade geográfica entre as empresas. A figura 1 representa tais tipos de aglomeração seguindo a tipologia apresentada.

Figura 1 — Configurações do NPL, APL e SPL

Fonte: Adaptado de Zapata et al (2007).

Dessa forma, pelas diversas conceituações discorridas, conclui-se que por apresentar uma grande amplitude de tipos de aglomerações, a fim de determinar uma definição de APL que consiga incorporar todos os tipos de arranjos analisados pelas diversas correntes, deve-se trabalhar com um conceito amplo de tecnologia, considerando esta não apenas como desenvolvimento de bens de capital, mas qualquer desenvolvimento de processo ou produto, conseguindo incorporar o conceito schumpeteriano de inovação e concorrência capitalista, não devendo deixar de ignorar a importância da proximidade geográfica e os benefícios

marshallianos que esta traz, reconhecendo o caráter tácito do conhecimento e, por último, condicionar a importância da proximidade às características produtivas de cada mercado.

Assim, a abordagem de arranjos ou sistemas produtivos parte de um conceito amplo de aglomeração produtiva, que engloba todos os tipos referidos na literatura (clusters, distritos, pólos industriais, redes etc.), focalizando, entretanto, um conjunto específico de atividades econômicas que possibilite e privilegie a análise de interações, particularmente aquelas que levem à introdução de novos produtos e processos inovativos (CASSIOLATO;

LASTRES, 2009).

Em sendo assim, nesta pesquisa será adotada a definição dos autores Cassiolato e Lastres (2009), integrantes da REDESIST, para os quais os Arranjos Produtivos Locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos, mesmo que incipientes, que envolvem a participação e a interação de empresas – estas podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação (CASSIOLATO; LASTRES, 2009).

Não obstante, será adotada também a classificação de NPL, APL e SPL definida por Zapata et al (2007) complementando a definição de Cassiolato e Lastres (2009).

Cassiolato e Lastres (2009) acrescentam ainda a definição de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPIL) que são arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculo consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local. Assim, considera-se que a dimensão institucional e regional constitui elemento crucial do processo de capacitação produtiva e inovativa. Diferentes contextos, sistemas cognitivos e regulatórios e formas de articulação e de aprendizado interativo entre agentes são reconhecidos como fundamentais na geração e difusão de conhecimentos, particularmente os tácitos. Tais sistemas e formas de articulação podem ser tanto formais como informais.

Tendo sido abordado os principais conceitos acerca do tema de APL, faz-se necessário conhecer o Projeto Promos/Sebrae, bem como, a metodologia criada para o desenvolvimento de arranjos produtivos. Esta metodologia será detalhada no próximo tópico.