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Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados — ABICALÇADOS — (2008), o processo de desenvolvimento econômico da indústria calçadista brasileira teve início no ano de 1824 no Rio Grande do Sul, com a chegada dos primeiros imigrantes alemães. Instalados na região do Vale do Rio dos Sinos, além de desenvolverem atividades na agricultura e na criação de animais, também desenvolviam atividades vinculadas à cultura do artesanato, entre elas, algumas que resultavam em produtos fabricados com couro de animais.

Inicialmente, a produção era caseira e basicamente se resumia na produção de arreios para montaria. Essa produção ganhou força no período compreendido entre 1864 e 1870, com a Guerra do Paraguai. Após esse período, decorrente da necessidade de ampliação do mercado consumidor, surgiram alguns curtumes, caracterizando a industrialização do processo de tratamento do couro. Nesse mesmo período, também deu-se início ao desenvolvimento de algumas máquinas, tornando a produção mais industrializada, permitindo ganhos através da economia de escala.

A primeira fábrica de calçados da região, ainda segundo dados da ABICALÇADOS (2008), surgiu em 1888. Foi fundada por Pedro Adams Filho, descendente de imigrantes, que também detinha um curtume e uma fábrica de arreios. A cada ano o estado do Rio Grande do Sul aumentava a demanda por calçados, o que fez com que a produção se expandisse cada vez mais. Hoje, o estado é reconhecido como detentor de um dos maiores clusters calçadistas do mundo.

A partir de 1960, diante da necessidade de ampliar a comercialização de calçados para fora do país, ocorreu a primeira exportação brasileira em larga escala, mais precisamente no ano de 1968. Na ocasião, foram embarcadas sandálias Franciscano, da empresa Strassburguer, para o mercado americano (Estados Unidos).

Naquela época, a produção nacional atingia o volume de oitenta milhões de pares anuais, novos mercados externos começaram a surgir e os negócios prosperaram. Hoje, a indústria de calçados tem uma participação significativa na balança comercial brasileira.

Nas últimas décadas, o Brasil tem assumido um papel importante no segmento de calçados tornando-se um dos mais reconhecidos fabricantes de manufaturados de couro do mundo. Segundo dados da ABICALÇADOS (2008), nos últimos anos o país assumiu a posição de terceiro lugar no ranking mundial dos países mais produtores de calçados, ficando atrás apenas da China e Índia. Destacam-se, neste segmento, os calçados femininos, que através dos altos padrões de qualidade aliados a preços competitivos, detém inclusive uma fatia importante de participação nas exportações brasileiras.

Apesar de inicialmente, as empresas de grande porte estarem localizadas no Rio Grande do Sul, a produção de calçados no Brasil vem sofrendo um processo de distribuição entre outros pólos do país, localizando-se muitas delas nas regiões Sudeste e Nordeste, com destaque para o interior de São Paulo (cidades como Jaú, Franca e Birigüi) e estados emergentes como Ceará, Bahia e Paraíba. Também houve crescimento na produção de calçados dos estados de Santa Catarina (pólo de São João Batista) e Minas Gerais (pólo de Nova Serrana).

Como já dito anteriormente, do ponto de vista econômico, a indústria de calçados desempenha um importante papel no desenvolvimento do país. Segundo dados da RAIS, em 2007, das sete milhões de pessoas ocupadas assalariadas na indústria de transformação no Brasil, o segmento de calçados respondia por mais de trezentos mil empregos diretos, o que representava cerca de 4,3% do total da indústria de transformação. Nesse contexto, a Paraíba ocupava o sexto lugar entre os estados brasileiros, gerando 12.710 empregos (correspondendo a 4,2% do total) em 111 empresas formais (1,4%).

No aspecto de estruturação do setor calçadista no Brasil, percebe-se a existência de uma grande variedade de fornecedores de matéria-prima, máquinas e componentes, que, aliada à tecnologia de produtos e inovações, o torna um dos mais importantes do mundo. Segundo dados da ABICALÇADOS (2008), são mais de 1.500 indústrias de componentes instaladas no Brasil e mais de 400 empresas especializadas no curtimento e tratamento do couro, responsáveis pelo processamento de mais de trinta milhões de peles por ano. Há ainda, cerca de uma centena de fábricas de máquinas e equipamentos. Toda esta estrutura possibilita que o calçado brasileiro chegue hoje a mais de 140 países.

A produção brasileira de calçados, segundo dados do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI) publicados na Resenha Estatística 2008 da ABICALÇADOS, atingiu 808 milhões de pares em 2007, o que torna o Brasil um dos maiores produtores mundiais. Em 2004, esse número chegou à casa dos 900 milhões de pares e vem diminuindo em função do aumento do número de importações e redução das exportações.

A figura 9 mostra o volume total de calçados produzidos em 2007, distribuídos pelas regiões brasileiras. Observa-se que o Nordeste é o maior produtor nacional respondendo por 44% do volume total, seguido das regiões Sul e Sudeste com 34% e 21%, respectivamente.

Figura 9 — Distribuição da produção de calçados no Brasil, por região, em 2007

Fonte: ABICALÇADOS (2008).

2.5.1 O Segmento de Calçados no Nordeste

Historicamente, observa-se que a indústria de calçados no Nordeste, até o início dos anos noventa, assim como foi na região Sul, era predominantemente artesanal, estruturada em pequenas unidades industriais que utilizavam como matéria-prima o couro produzido na própria região. De acordo com Rocha e Viana (2006), dentre todos os estados nordestinos o que apresenta um maior enraizamento histórico é a Paraíba, onde o alto grau de comercialização de couro no interior do estado, mais precisamente em Campina Grande, contribuiu para o desenvolvimento da indústria de processamento de couros e, por conseguinte, para o surgimento da indústria calçadista, havendo predominância de empresas de pequeno porte com fortes raízes locais.

Segundo Diniz e Basques (2004), até meados da década de oitenta a indústria de calçados nordestina se mostrava pouco competitiva. Há registros de que no ano de 1986, por exemplo, apenas 3% do volume produzido em todo o país era oriundo da região Nordeste. O maior volume de produção era proveniente dos pólos de Franca e Birigüi, no estado de São Paulo (região Sudeste), e da região do Vale dos Sinos no estado do Rio Grande do Sul (região Sul). Essas duas regiões, Sul e Sudeste, se consolidaram nas décadas de sessenta e setenta, devido à expansão do mercado nacional e ao aumento do número de exportações. O Brasil se

tornou o terceiro maior produtor mundial, ficando atrás apenas da China e da Índia, e também, se tornou um grande exportador para os Estados Unidos.

No final da década de oitenta devido ao grande número de exportações dos produtos chineses para os Estados Unidos, houve um decréscimo no volume de exportações brasileiras para este mesmo mercado. Atrelado a isso, o surgimento de matérias-primas sintéticas possibilitou a redução do preço dos calçados e generalizou o consumo.

Ainda segundo Diniz e Basques (2004), em função destas ocorrências e também devido ao grande potencial de expansão do mercado interno de calçados populares, produzidos com materiais sintéticos (plásticos), deu-se início a um processo de transferência das grandes indústrias, antes localizadas nas regiões Sul e Sudeste para a região Nordeste, estimuladas pela oferta de incentivos fiscais e baixo custo de mão-de-obra.

Dentre os estados nordestinos, Ceará, Bahia e Paraíba, apresentam-se como os de maior relevância quando considerada a quantidade de empregos gerados pelas indústrias de calçados.

Os principais pólos produtores de calçados do nordeste são: Itapetinga e Jequié, na Bahia; Região Metropolitana de Fortaleza, Sobral e Cariri, no Ceará; e a Grande João Pessoa, Campina Grande e Patos, na Paraíba.

Tabela 1 — Exportações brasileiras de calçados em 2010 2010

ESTADO VALOR (US$) % PARES % PM (US$) Rio Grande do Sul 712.273.310 47,9 30.006.571 21,0 23,74 Ceará 400.552.377 26,9 63.930.306 44,7 6,27 São Paulo 130.950.695 8,8 6.881.233 4,8 19,03 Bahia 91.199.029 6,1 7.478.350 5,2 12,20 Paraíba 78.180.702 5,3 25.539.329 17,9 3,06 Sergipe 18.165.698 1,2 1.839.905 1,3 9,87 Minas Gerais 17.561.269 1,2 1.488.118 1,0 11,80 Paraná 9.930.640 0,7 766.803 0,5 12,95 Santa Catarina 9.002.160 0,6 813.547 0,6 11,07 Pernambuco 5.920.773 0,4 2.938.489 2,1 2,01 Outros 13.251.617 0,9 1.269.602 0,9 10,44 TOTAIS 1.486.988.297 100,0 142.952.253 100,0 10,40 Fonte: ABICALÇADOS (2010).

Para ratificar a importância desses estados no cenário econômico nacional, torna-se interessante analisar a tabela 1 que apresenta o volume de exportações de calçados brasileiros, tanto em quantidade de pares quanto em valores monetários. Observa-se que juntos, os estados do Ceará, Bahia e Paraíba, responderam, em 2010, por 67,8% do volume total de

pares exportados, correspondendo a 38,3% do montante financeiro das exportações do setor.

2.5.2 A indústria de Calçados da Paraíba

O universo de empresas que compõe a indústria de calçados da Paraíba concentra-se basicamente em três regiões do estado. A Região litorânea, que abrange a grande João Pessoa, envolvendo os municípios já conurbados de Cabedelo, Bayeux e Santa Rita. A região do agreste paraibano com indústrias concentradas na cidade de Campina Grande. E por fim, a região do alto sertão, predominando a concentração de empresas na cidade de Patos. Há também algumas outras cidades onde existem pequenas unidades produtoras de calçados, como é o caso de Catolé do Rocha, localizada a 132 quilômetros de Patos. No entanto, se caracterizam como Arranjos Produtivos Locais apenas os municípios de João Pessoa, Campina Grande e Patos.

A grande João Pessoa (desconsiderando o município de Cabedelo pelo fato deste não apresentar registros da existência de empresas calçadistas) se caracteriza como um grande centro de produção formal do setor, dominado por filiais de grandes empresas como São Paulo Alpargatas e Cambuci (Penalty), cujas matrizes ainda encontram-se nas regiões Sul e Sudeste do país. Campina Grande e Patos também abrigam uma parcela importante do setor formal produtor de calçados no estado, entretanto com características distintas das de João Pessoa. Em Campina Grande, por exemplo, está instalada uma unidade da São Paulo Alpargatas, responsável pela fabricação das Sandálias Havaianas, é a única grande empresa existente na cidade. Patos, por sua vez, não possui nenhuma grande empresa deste setor.