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3 O FIM DA ALIANÇA ENTRE O GETULISTA DE PRIMEIRA HORA E O HOMEM DA GAITA

3.2 AS AUTARQUIAS FEDERAIS E AS SECRETARIAS DA ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL

3.2.2 As ações das autarquias federais nas mãos dos petebistas

Apesar de haver diferentes tendências no interior do PTB capixaba, conforme assevera Delgado (2013, p.177), “havia um eixo, uma estrutura dorsal nacionalista, distributivista e desenvolvimentista” presente no trabalhismo de cada uma delas, que, unia esses matizes em um único projeto para o país. Quanto a essas diferenças, por escassez de fontes, elas não poderão ser explicitadas. Assim, as atuações das autarquias serão observadas à luz desse projeto unívoco. O que nos interessa mais, neste subtópico, diz respeito ao caráter distributivista do trabalhismo, haja vista que as principais autarquias e órgãos nas mãos dos trabalhistas capixabas diziam respeito a tal área.

No Espírito Santo, dois temas ganhavam lugar de destaque nas análises políticas das diversas matizes do jogo político: a carestia de habitações, principalmente na Grande Vitória-ES e nos centros urbanos do interior, e a alta dos preços dos gêneros alimentícios. Nesse sentido, os trabalhistas utilizaram a máquina da Previdência Social para interferir no ambiente externo.

Cabe ressaltar que, na Prefeitura Municipal de Vitória-ES, havia um elemento alinhado ao trabalhismo, indicado por ocasião do acordo PSD-PTB. Assim, já em novembro de 1951, através de doação de terreno da municipalidade, o IAPETC anunciou o lançamento da pedra fundamental das construções de habitações para a classe por ela representada no Horto Florestal, em Maruípe, bairro de Vitória-ES.159

Os esforços para construir habitações operárias por meio dos Institutos de Previdência eram notórios. Intentava-se aumentar a atuação dos institutos para os núcleos urbanos do interior do Espírito Santo, que sofriam igualmente da carestia de habitações populares. Assim, foi um membro do PTB, o deputado estadual Argilano Dario, que anunciou a chegada do presidente do IAPETC, Sebastião Nascimento, ao Estado para a instalação de delegacias e institutos nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim-ES e Colatina-Es160.

Já o IAPC, em 1951, inaugurava o seu Ambulatório Médico. Em discurso de inauguração de seu delegado regional, o petebista e ex-vereador Altamir Faria Gonçalves, salientou que considerava que estavam, naquele momento, fazendo a verdadeira assistência social. E elogiava Vargas como sendo um símbolo da assistência social”161. Ou seja, o programa e os objetivos oficiais do PTB se

confundiam com a figura do líder.

Percebe-se, então, que a estratégia revelava uma deliberação, inclusive, partidária. A obrigatoriedade da participação dos delegados regionais dos IAPs nas reuniões partidárias demonstram esse esforço. Muitos criticavam que, quando Vargas

159 NÚCLEO Residencial do I.A.P.E.T.C. A Gazeta, Vitória, p. 01, 29 nov. 1951. p. 01. 160 ONTEM, na Assembleia. A Gazeta, Vitória, p. 01, 12 jun. 1953. p. 01.

assumiu, o IAPTEC prometeu muito, mas que nada tinha feito pelos seus segurados, principalmente para os motoristas de Cachoeiro de Itapemirim-ES, cidade do interior capixaba, “que nem um empréstimo para aquisição de automóveis conseguiram obter”162. Nesse contexto, os deputados estaduais petebistas Floriano Rubim e

Argilano Dario subiam à tribuna da Assembléia para defender o Instituto. Havia um esforço sistemático dos trabalhistas com mandato pela defesa dos institutos nas mãos do PTB.

No que concerne o enfrentamento do aumento dos preços dos gêneros alimentícios, a estratégia era utilizar o SAPS, em sua delegacia regional, para baixá-los. Nesse sentido, postos de distribuição foram instalados nos bairros vizinhos à Vitória-ES, Jardim América, Cobi, Ilha das Flores e São Torquato163. Torna-se interessante

ressaltar que tratava-se de bairros populares, que comportavam grandes contingentes de operários. Esses mesmos bairros eram, outrora, locais onde o ex- presidente do PTB capixaba, Saturnino Rangel Mauro, buscava os eleitores do PTB, construindo uma base considerável de votantes no partido. Sugere-se, por isso, que a relação com o ambiente externo – os bairros operários - e os recursos para os jogos de poder interno – ganhar prestígio nesses bairros e transformá-los em pontos de eleitores - em que o novo presidente do PTB capixaba, Edison Pitombo Cavalcanti, protagonizava, passava pela atuação dessa autarquia da Previdência Social.

Em suma, conforme Angelo Panebianco (2005) expressou, a distribuição de incentivos seletivos e de incentivos coletivos estão em constantes tensões. Se o primeiro pode fortalecer a agremiação, o segundo é imprescindível na formação de uma identificação dos militantes que podem vir a defender a organização. Trata-se, portanto, de um dilema que o partido deve resolver, minando os desequilíbrios. Um partido que, em 1945, participou das eleições com uma organização mínima e

162 ONTEM, na Assembleia. A Gazeta, Vitória, p.01, 13 mai. 1953. p. 01.

163 O SAPS e a distribuição de gêneros alimentícios em diversos bairros. A Gazeta, Vitória, p. 01, 29

que, na incipiência de sua construção de bases sofreu uma intervenção da Executiva Nacional em 1950, revelou-se, se não dependente, acentuadamente preocupado com a distribuição dos incentivos seletivos. Com a coalizão dominante de Buaiz e Cavalcanti, vigente durante boa parte do período de fins de 1950 e meados de 1953, nas mãos de duas tendências que não estavam dispostas a negociar cargos com a tendência alternativa, o sistema de incentivos continuou dando o tom das cisões de disputas não só externas ao partido, mas também internas.

Se em dezembro de 1953, o senador pessedista pelo Espírito Santo, Carlos Lindenberg, criticou o SAPS afirmando que a crise econômica da autarquia se deve ao processo de escolha dos seus administradores, a maioria sendo ligados ao PTB sem competência para o cargo164, meses antes, em julho, o vereador petebista João

Felix da Silva criticava as gestões dos Institutos de Previdência em Vitória-ES. Para ele, “as autarquias deveriam fazer menos política e prestar maior assistência aos seus assegurados, cumprindo, desse modo as determinações e finalidades de sua criação”165.

Evidencia-se, aí, o dilema apresentado por Panebianco (2005) existente entre a distribuição dos incentivos seletivos e coletivos. Por isso, aventa-se que, apesar dos esforços para se dar um conteúdo ideológico para o preenchimento dos cargos nas autarquias e órgãos das administrações federal e estadual, a distribuição dos incentivos coletivos não teve a eficácia necessária para “ocultar a distribuição dos incentivos seletivos não só aos olhos daqueles que, dentro da organização, não se beneficiam deles, mas, frequentemente, também aos olhos dos próprios beneficiados” (PANEBIANCO, 2005, p. 20). O desequilíbrio na distribuição dos incentivos dava também seu tom para as cisões internas do PTB.

164 O SAPS tomou ontem todo o tempo do Senado. A Gazeta, Vitória, p. 01, 02 dez. 1953. 165 CÂMARA Municipal de Vitória. A Gazeta, Vitória, p. 01, 04 jul. 1953. p. 01.