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3 O FIM DA ALIANÇA ENTRE O GETULISTA DE PRIMEIRA HORA E O HOMEM DA GAITA

3.1 DE DISSIDENTES DE FANCARIA A COMPANHEIROS DAS PRIMEIRA HORA

Fugindo de teorias que antagonizam a atuação de lideranças individuais dentro de um partido, ora enfocando sua autonomia para tomar decisões, ora privilegiando os limites impostos aos atores individuais, Angelo Panebianco (2005) propõe uma leitura diferenciada sobre os processos decisórios nos partidos políticos. Segundo seu enfoque, a dualidade acima citada é uma falsa questão, haja vista que tais análises privilegiam a simples atuação individual de um político e se afastam da ideia de que “[...] na maior parte dos casos, trata-se [os partidos] de coalizões de indivíduos e/ou de grupos [...]” (p. 28). Ou seja, os proceso decisórios passam pelo crivo de negociações internas, em que os agentes organizativos são influenciadores recíprocos. Por isso, a chamada coalizão de decisão é produto da necessidade de se manter o equilíbrio organizativo, congregando-se interesses diversos, limitando- se, assim, uma pretensa liberdade de escolha. (PANEBIANCO, 2005, p. 28)

Por isso, “[...] cada decisão deve ser considerada como o resultado - negociado explícito ou implicitamente - de uma pluralidade de forças no interior da coalizão [...]” (PANEBIANCO, 2005, p. 28). Se há uma coalizão majoritária – ou dominante - que decide, há também uma, ou mais, coalizações alternativas que ambicionam chegar ao posto de comando e, por isso, anseiam para que um erro seja cometido na direção partidária. Isso posto, para o autor, limita-se a liberdade de escolha de cada

liderança partidária.

Se, por um lado, a liberdade de escolha é limitada pelas negociações internas entre as coalizões, Panebianco (2005) não descarta sua presença nos partidos políticos, uma vez que há uma miscelânea de objetivos específicos dentro de cada organização, sendo que cada partido é perseguido com estratégias e dinâmicas próprias.

O que se questiona em uma análise partidária, portanto, é em que medida uma agremiação, em determinado tempo histórico, é dominada por uma coalização majoritária com mais ou menos liberdade de escolha. Trata-se de um dos dilemas cruciais na vida de um partido, apresentado por Panebianco (2005). Para se manter dominante, uma coalizão dominante “[...] deve levar em consideração as exigências organizativas próprias da organização no seu funcionamento quotidiano e deve "antecipar" as reações dos seus adversários [...]” (PANEBIANCO, 2005, p. 28). Advém, também desse dilema, um limite para a liberdade de escolha. Em outras palavras, uma coalizão pode ser dominante, mas a organização correria o risco do desequilíbrio, e do consequente esfacelamento, se ela se comportasse como dominadora na acepção mais autoritária da palavra, em que pressupõe um outro passivo. O dilema latente está em

[...] mecanismos poderosos, que tendem a limitar a todo momento a liberdade de manobra dos líderes organizativos, e de esforços contínuos por parte deses últimos para evitar esses limites e ampliar ao máximo a própria liberdade de manobra (PANEBIANCO, 2005, p. 29).

Dito isso, a história do PTB no Espírito Santo, durante o governo de Getúlio Vargas na Presidência da República (1951 – 1954) e de Jones dos Santos Neves no Governo do Estado (1951 – 1955), foi marcada por uma consolidação na estrutura do partido, por uma definição de trabalhismo, pela atuação nas autarquias e secretarias federais e estaduais, e, também, por diversas disputas internas, que, se

não ameaçaram a sobreviência partidária, dificultaram ainda mais seu caminho institucional.

Se, na primeira dissidência analisada por este trabalho, a disputa foi vencida por uma coalizão dominante - formada pelo funcionário de carreira no Ministério do Trabalho, Edison Pitombo Cavalcanti, o getulista de primeira hora, e pelo empresário

José Alexandre Buaiz, o homem da gaita -, essa não foi capaz de eliminar a ala dissidente, organizada, outrora, “sob a batuta” do afastado Saturnino Rangel Mauro, conforme abordamos em capítulo anterior. A percepção do dilema por Angelo Panebianco (2005) nos faz constatar que, embora minoritária, a coalizão que perdeu o comando do PTB capixaba após as eleições de 1950 ainda restringia a liberdade de escolha da aliança Cavalcanti-Buaiz no comando do partido.

Dessa maneira, a carência de fontes impossibilita sabermos o destino imediato de Saturnino Rangel Mauro após a intervenção na sua presidência e sua consequente exclusão do Diretório Municipal de Vila Velha, no dia 16 de outubro de 1951. O que se averigua, entretanto, é que Mauro, em julho 1953, estava no PSD, atuando com a mesma estratégia de fundar sub-diretórios nos bairros populares e operários de Vila Velha-ES118 Entretanto, pelo menos um elemento ligado ao ex-petebista, também

excluído naquela ocasião, passou a ser líder de um grupo chamado pelos petebistas de coalizão majoritária de Ala Dissidente - que comportava outros adjetivos conforme a ocasião do discurso. Trata-se de Arnaldo Andrade, candidato a deputado estadual pelo PTB em 1950.

Os dissidentes, até 1951, eram organizados por Saturnino Rangel Mauro. Após sua saída, aparentemente sozinho, os dissidentes passaram a ser liderados por Arnaldo Andrade, e cresceram mesmo com a reestruturação partidária e colocaram à prova o poder da coalizão assentada nas lideranças de Edison Cavalcanti e José Buaiz. A coalizão do dissidentes tanto cresceu que, na primeira edição do jornal Folha do Povo - veículo de imprensa cujos aspectos explicitaremos em um próximo tópico -, em fevereiro de 1951, uma nota do Presidente da Comissão Executiva Nacional do

PTB, Danton Coelho, advertiu aos indisciplinados da seção estadual:

Este ano será para o nosso partido o ano da batalha pela sobrevivência. Os adversários estão fortes e estão unidos contra nós. Já penetraram mesmo nossas fileiras. Cabe a nós, sinceros trabalhistas, decobrí-los, combatê-los e batê-los. Só assim, escoimado de traidores, disciplinado e coêso em torno de um ideal, poderemos fazer do P.T.B. o Partido dos Trabalhadores do BRASIL.119

O discurso combativo e mais duro de Danton Coelho contra as dissidências influenciou no padrão de comportamento que a coalizão majoritária - que detinha os principais postos de comando da Comissão Executiva Estadual do PTB - destinou a chamada Ala Dissidente. A principal acusação era a de que o grupo alternativo, tendo seus interesses feridos, se voltava contra a agremiação. Embora sejam escassas as referências a nomes que compunham esse grupo que se rebelava, os discursos do comando do PTB os identificava como elementos presentes desde a fundação do partido, conferindo-lhes, por isso, o título de getulistas de primeira hora. Dessa forma, aventa-se que o grupo era o mesmo presente na organização do partido, liderado por Saturnino Rangel Mauro. Como já discutimos, ao se defender a intervenção da Executiva Nacional em sua presidência, Mauro se identificou como um legítimo getulista porque foi um dos fundadores do partido.120

Outra acusação remete-nos às justificativas para a intervenção na agremiação ainda em 1950. Uma nota no jornal Folha do Povo acusava a ala dissidente de defender a moralização do partido, mas “[...] ao tempo que mandavam, com poderes absolutamente ditatoriais, haviam distribuído entre si os cargos que lhes pareceram os melhores aquinhoados [...]”121. Além disso, continuava a denúncia, queriam “[...]

apenas querelas como as de Secretário de Educação, Prefeito da Capital, Delegados de Autarquias, Diretor dêsse [sic] ou daquele serviço federal, Chefe ou

119 PARA o início de nossa circulação...Folha do Povo, Vitória, p. 1, 5 fev. 1952. p. 01. 120 O PTB de hoje. Folha do Povo, Vitória, p. 03, 5 fev. 1952.

Sub-chefe de setores especializados da administração estadual [...]”122.

Porém, o mesmo texto elogiava a nova presidência de Edison Cavalcanti no PTB estadual, inclusive por obter cargos “[...] na direção de importantes serviços públicos locais [...]”123, sob indicação da Comissão Executiva. Dessa maneira, a crítica

relegada ao ex-presidente do PTB, Saturnino Rangel Mauro, se faz presente: a de que Mauro empenharia as indicações aos cargos das administrações estaduais e federais conforme seu melhor juízo, não dialogando com outros grupos internos. Nessa fase do PTB capixaba, percebemos pelo menos três tendências. As duas tendências que comandavam o partido e, portanto, formavam uma coalizão dominante: uma liderada por Edison Pitombo Cavalcanti, outra tendo José Alexandre Buaiz como porta-voz. E a terceira, alternativa , sob o comando do PTB, presente desde a intervenção da Executiva Nacional, em 1950. Optamos pelo uso de tendências, e não facções, baseados na definição do conceito proposta por Angelo Panebianco (2005).

Facções implicaria em grupos com forte organização, cruzando o partido verticalmente ou geograficamente concentrados, formando uma coalizão dominante pouco coesa, porque não possui o monopólio das zonas de incerteza que devem ser dominadas dentro de uma organização. Essas zonas de incerteza, importantes nos jogos de poderes internos, dizem respeito ao controle da competência técnica das relações entre a organização e o ambiente externo, da comunicação interna, das regras formais, do financiamento e do recrutamento.

Uma coalizão dominante é mais ou menos concentrada à medida que domina mais ou menos essas zonas de incerteza. Já um partido com facções, ou seja, grupos altamente organizados, tende a pulverizar essas zonas de incertezas nas mãos desses grupos, tornando a coalizão dominante menos coesa, “porque é o resultado de um acordo entre algumas facções – cada qual mantendo a própria individualidade – em relação a outras” (PANEBIANCO, 2005, p. 75).

122Ibid., p.03. 123 Ibid., p. 03.

No caso de tendências, ou seja, grupos fracamente organizados, as zonas de incerteza são dominadas por um seleto grupo e, por isso, a coalizão dominante é mais coesa, congregando poucos interesses divergentes. Veremos que a coalizão dominante que se instalara no PTB capixaba, com a presidência de Edison Cavalcanti e vice-presidência de José Buaiz, dominava as principais zonas de incerteza do PTB capixaba: a relação com o ambiente externo através das autarquias federais e estaduais, os veículos de comunicação do trabalhismo capixaba, e etc.

Se o grau de coesão entre os grupos da coalizão dominante envolve a maior ou menor pulverização da influência dos diversos líderes partidários sobre as trocas verticais - aquelas que envolvem as elites e os seguidores -, a estabilidade da organização depende, em grande medida, dos acordos criados entre as elites. Um partido que comporta desequílibrios entre essas trocas tenderá a ter uma instabilidade no vértice da organização. Disso decorre a conclusão de que “tendencialmente, uma coalizão dominante coesa é também uma coalizão estável” (PANEBIANCO, 2005, p. 76) E a estabilidade, veremos até o final do capítulo, não foi uma marca indelével do PTB capixaba.

A briga entre a coalizão majoritária ou dominante e a coalizão alternativa – essa liderada por Mauro até 1951 e, a partir de 1952, tendo Arnaldo Andrade como porta- voz -, leva-nos a outro dilema que uma organização deve enfrentar durante seu caminho à institucionalização: a tensão entre a distribuição de incentivos coletivos e seletivos.

Os incentivos coletivos são benefícios, e promessas de benefícios, que produzem identificação a um sem número de seguidores e adeptos do partido, de modo a suscitar lealdades organizativas. Esses incentivos são aqueles que visam a alcançar objetivos oficiais através da promoção de uma ideologia organizativa, no caso do PTB, o trabalhismo. Por outro lado, esses incentivos ocultam a distribuição de incentivos seletivos, cargos distribuídos a um pequeno número de clientes ou militantes, que visam a melhores colocações na carreira. A distribuição de incentivos,

portanto, define os objetivos oficiais que a organização deve perseguir, ao passo que seleciona o “território de caça” do partido. Dessa forma, as distribuições materiais (incentivos seletivos) não explicam por si só o comportamento das elites que “se digladiam” pelo comando partidário. Caso contrário, teríamos um déficit na compreensão de todos os elementos que defendem a organização, estes nem sempre interessados em ganhos materiais (PANEBIANCO, 2005, pp. 19, 20, 21). Nesse sentido, a ala dominante, tendo seus interesses feridos, acusava a ala dissidente, ou alternativa, de se voltar contra a agremiação. Pouco sabemos, documentalmente, sobre as alegações da ala que se opunha à direção partidária. As principais fontes são do jornal A Gazeta, ligada ao PSD e, até meados de 1953, aliada da Comissão Executiva Estadual do PTB, e o jornal Folha do Povo124, nas

mãos de elementos da direção do partido até setembro de 1952.

Por isso, quando Folha do Povo tece elogios à direção de Edison Pitombo Cavalcanti no PTB capixaba, apelida a ala dissidente de dissidentes de fancaria125.

O termo, usado em seu sentido figurado, refere-se a pessoas que agem unicamente por interesse materiais, visando a lucros. Apesar da necessidade de diminuir o tamanho do grupo oposicionista, a estratégia incentivada por Danton Coelho – detectar, combater e expulsar os dissidentes – não logrou sucesso no PTB capixaba. A tendência fora do comando do partido possuía relativo número, uma vez que chegava a se organizar para lançar manifestos contra a direção partidária. Em uma oportunidade, lançaram um manifesto, assinado por 31 membros, reivindicando a moralidade do partido. Por essa medida, o jornal oficial do PTB ironizava que os dissidentes não conseguiram audiência e naquele momento “[...] já não mais desejam moralizar o partido. O que apregoam é dar assistência jurídica e médica gratuita aos operários [...]”. Percebe-se, que, na falta de obter lugares na direção do

124 O jornal citado, - em outro subcapítulo detalharemos melhor - embora fosse de propriedade de

José Alexandre Buaiz e comportasse seus aliados, era um veículo oficial do PTB capixaba e, por isso, possuía Edison Pitombo Cavalcanti e seu grupo como dirigentes e partícipes. Dito isso, o jornal servirá de fonte para interpretarmos os discursos da elite dirigente do PTB capixaba.

PTB capixaba, a quem cabia cargos na administração estadual e federal – e isto iremos detalhar mais à frente -, a estratégia do grupo foi o contato direto com a base do partido: os trabalhadores urbanos. Havia, dessa forma, uma luta pelos incentivos. Se a direção do partido garantia os incentivos seletivos, os chamados dissidentes de fancaria optavam pelos incentivos coletivos. Ressalte-se que a assistência social era uma estratégia eficaz na construção de bases e apoio nos meios operários e populares, porque visava a um objetivo oficial do PTB, o bem-estar do trabalhador. Na mesma matéria, os articulistas de Folha do Povo identificam o líder do grupo com versos: “[n]a baiuca do [Arnaldo] Andrade/A coisa é de colher/Da receita ao remédio/Do exame ao elistér”.126

Percebe-se, nesse sentido, que o desequilíbrio na distribuição dos incentivos, referendando as ideias de Angelo Panebianco (2005), causava instabilidade na organização partidária. A cisão entre as duas tendências que comandavam o PTB capixaba com a tendência alternativa era de tal modo que o jornal veiculou dois telegramas de congratulações ao Governo do Estado pelo aniversário do mandato de Jones dos Santos Neves. Um era da Comissão Executiva Estadual do PTB, outro da chamada Ala Dissidente, em que assina outro elemento detectado nesse grupo, Adelpho Poli Monjardim, funcionário de carreira da Prefeitura Municipal de Vitória- ES, de família tradicional do mesmo município.

O PTB ainda era um partido a se consolidar. Embora a coalizão dominante de Cavalcanti e Buaiz dominassem as indicações no que tange aos incentivos seletivos, essa liberdade de escolha não era tranquila. Havia tensões permanentes. Dessa forma, a ala dissidente era uma ameaça às indicações dos dirigentes petebistas, uma vez que, na coluna Chuva de Pedras, do jornal Folha do Povo, assevera-se que a ala sedenta intentava uma aproximação com a direção do PTB através de um prefeito “sulino” – que poderia ser Nelo Vola Borelli, prefeito petebista de Cachoeiro de Itapemirim-ES, ou Rubens Rangel, petebista à frente da cidade de Mimoso do Sul-ES. O temor por parte da ala comandada por Buaiz, pela aproximação da ala

dissidente com a tendência de Cavalcanti, residia no provável atendimento das reivindicações dos dissidentes: a maioria na Executiva e no Diretório, além de empregos na máquina. Por fim, ironiza que o prefeito cachoeirano, Borelli, ficara abismado e desistira da missão pacificadora127

Apreende-se, dessa maneira, que, nos primeiros dias de 1952, a coalizão dominante do PTB não estava disposta a negociar com outra tendência as indicações para os cargos destinados ao partido. As reinvindicações da cializão alternativa eram tratadas com ironias, sem perspectivas de acordos com os chamados dissidentes de fancaria. Embora a ala dissidente contasse com relativa autonomia, a ponto de escrever manifestos para o governador do Estado, havia uma dominação por um seleto grupo e, por isso, a coalizão dominante era mais coesa, congregando poucos interesses divergentes.

Porém, no final de fevereiro de 1952, há uma reviravolta na relação do grupo majoritário com os dissidentes petebistas. José Alexandre Buaiz, após a V Convenção Nacional do PTB, pediu licença da Comissão Executiva Estadual. Ressalta-se que o presidente do PTB, à época, Edison Pitombo Cavalcanti, havia sido indicado por Vargas ao cargo de Diretor Geral do SAPS, ficando, portanto, no Rio de Janeiro. Cabia, assim, ao vice-presidente do PTB, a organização e a resolução de questões partidárias imediatas. Dessa maneira, Fernando Pinto Aleixo, que passou a ser o presidente em exercício do PTB capixaba, na ocasião da licença de Buaiz, falou de “certas incompreensões locaes [sic]”128 como motivações para o

afastamento.

Aventa-se que, diante da impotência de conseguirem detectar, combater e expulsar uma tendência, a resolução do comando nacional partidário determinava uma negociação com grupos dissidentes. Ou seja, para uma tendência da coalizão dominante, a intervenção nacional adviria de “certas incompreensões locaes”. Porém, as questões locais, em um partido centralizado como PTB, poderiam ser

127 CHUVA de Pedras. Folha do Povo, Vitória, p.01,13 fev. 1952. p. 01

relegadas a segundo plano em diversos contextos, como vimos no primeiro capítulo. Um partido fragmentado em cismas locais não serviria de base para o presidente da República, Getúlio Vargas. Em declaração a Folha do Povo, Pinto Aleixo, novo presidente em exercício do PTB, nos fornece essa dimensão. Segundo ele, em entendimentos com lideranças de proa do trabalhismo nacional, essas abordaram o desejo de Vargas na união dos petebistas,

por que ele precisa contar com uma força disciplinada e coêsa [sic] para poder enfrentar a onda de reação que cada vez mais se avoluma contra o seu governo, e que também é a mesma que se tem infiltrado no PTB, procurando minar-lhe a estrutura para melhor enfraquecê-lo e mesmo destruí-lo, o que está acontecendo presentemente aqui no Estado.129

Uma determinação nacional de coesão e disciplina ensejou também uma nova relação com a ala dissidente do PTB capixaba. Se antes eram encarados como os dissidentes de fancaria, nova alcunha coube aos companheiros em cisma. Ainda comentando sobre o que estava acontecendo dentro da organização, Aleixo defende que “campanheiros das primeiras horas [estão] se desavisando [...] procurando minar amizades antigas e sólidas, fazendo o jogo dos partidos e políticos que nos querem vêr [sic] destruídos”.130 Se antes o problema estava nos interesses materiais

e pessoais da tendência comandada por Arnaldo Andrade e Adelpho Poli Monjardim, agora a culpa recaía sobre os partidos que se opunham ao PTB.

Nesse sentido, o problema propriamente dito deixava de ser a tendência dissidente e tornava-se os grupos externos que contribuíam para a cisão. O inimigo não mais era interno, mas externo, os iguais, ainda que dissidentes, eram suscetíveis a negociações.

Entretanto, as negociações com os, doravante, companheiros das primeiras horas

129 SENSACIONAIS declarações do Sr. Fernando P. Aleixo. Folha do Povo, Vitória, p. 01, 23 fev.

1952. p.01.

desavisados ensejavam um pedido de licenciamento do comando do PTB capixaba por parte de José Alexandre Buaiz, e a tarefa exigia muita habilidade. Por isso, o novo presidente em exercício do PTB, Pinto Aleixo, da mesma forma que estende as mãos aos dissidentes, costura elogios aos líderes dos outros grupos, posto que “[...]. [o] Sr Edison é um grande amigo do Sr José Buaiz que, justiça seja feita, tem sido um dos grandes baluartes de nossa organização [...]”131, fazendo com que os

petebistas entendessem que “[...] o partido não pode viver sem Edison Cavalcanti e José Buaiz [...]”132. A preocupação central, a partir de então, seria o equilíbrio

organizativo, uma vez que, para o petebista, unidos seria a “[...] única forma de prestigiarmos o governo do nosso eminente chefe [Getúlio Vargas]”133.

É seguro que não só a direção estadual passava por uma desorganização. A V Convenção Nacional teve rebatimentos no Espírito Santo e resultou no licenciamento de José Buaiz. A reunião escapou ao controle de Vargas e decidiu