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O PTB formou sua primeira Comissão Executiva Nacional em 15 de maio de 1945. A agremiação surgiu por esforço de Marcondes Filho, quando Ministro do Trabalho do Estado Novo (1937-1945), e tinha como objetivo abrigar as lideranças sindicais e as ligadas ao Ministério do Trabalho, e suas autarquias, de modo que elas defendessem o nome e a legislação social varguista, além de canalizarem eleitoralmente o apoio das massas trabalhadoras urbanas.

Assim, o partido nasceu com a missão de sustentar uma narrativa em que a história dos trabalhadores brasileiros assentava-se nos seguintes termos: os operários, durante toda a história brasileira, eram considerados nas eleições, porém, logo

depois, “[...] ficava-nos [aos operários] mais uma decepção, mas a jornada diária continuava a ser de dez, onze ou doze horas, a exclusivo critério do empregador [...]”, porém, “[...] o Presidente Vargas foi o único político no Brasil que prometeu menos do que realizou”10. Essa narrativa, defendida por um dos fundadores do PTB

nacional, Calixto Ribeiro Duarte, então presidente da Federação dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro, com base territorial no Distrito Federal e nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, ainda sustenta que “[...] tudo nos foi dado espontaneamente pelo nosso Grande Presidente”11.

Dessa forma, o partido deveria comportar o movimento dúbio que existiu no Estado Novo. Por meio dos sindicatos corporativistas, deveria estreitar os laços entre Estado, partido e trabalhadores. Ao mesmo tempo, a conexão entre trabalhadores e sindicatos só seria efetivada por meio de uma representação legítima.. Afere-se, assim, que “[...] não se buscava apenas o mero controle, mas a adesão e a mobilização, o que só é possível através de procedimentos mais participativos e capazes de gerar certa dose de representatividade real” (GOMES, 2005, p.185). Tal dinâmica de antecipação das reivindicações e mobilização será ponto sinuoso em toda a história do PTB.

As fontes não são precisas quanto ao processo de formação do PTB em solo capixaba. As eleições de 1945, para Presidência da República, Senado e Câmara Federal, embora contasse com candidatos petebistas do Espírito Santo, parece preceder a qualquer mínima organização da agremiação. A formação inicial do PTB ainda é ponto obscuro, embora Marta Zorzal e Silva (1986) aponte o Queremismo como aquele que “[...] no movimento subsequente [à queda de Vargas], não deixaria de fornecer seu apoio e bases para o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB que estava sendo organizado” (p. 263). Entretanto, torna-se uma falsa questão discutir se o PTB nasceu no bojo do Queremismo ou se a agremiação impulsionou o movimento queremista. Conforme Gomes (2005), importa analisar que ambos os

10 EM 1930 o proletariado teve a sua “Lei do Ventre Livre” e em 37 a sua “Lei Aurea”. A Gazeta,

Vitória, p.01, 11 mar. 1945.

movimentos eram tributáveis ao trabalhismo, que foi criado e alimentado desde 1942 no Ministério do Trabalho.

Nesse sentido, “[...] sem o suporte ideológico do trabalhismo, o queremismo teria sido praticamente impossível” (GOMES, 2005, p. 284). Do mesmo modo, “[...] o trabalhismo não implicava necessariamente uma organização partidária” (GOMES, 2005, p. 284), apesar de a ideia de uma agremiação sob ditames do aparato burocrático do Ministério do Trabalho fosse ideia já corrente anteriormente. Assim, “[...] trabalhismo e queremismo bebiam da mesma fonte; eram, basicamente, a mesma “ideia” [...]” (GOMES, 2005, p. 284), muito embora PTB e queremismo fossem objetos diferentes.

Da mesma maneira, o PTB, criado como um elemento para atuar no campo eleitoral, deveria obedecer às regras e as dinâmicas de tal campo de atuação, visto que uma ligação direta entre o PTB e a figura de Vargas criaria desconfianças no Ministério do Trabalho, no partido e em todo o processo de transição. Ao contrário, o queremismo poderia atuar com menor preocupações no que tange à alianças políticas e à propaganda do continuísmo de Vargas, como o fez, aliando-se aos comunistas. Posto isto, “[...] foram cautelosos os contatos entre queremismo e PTB a partir de meados de 1945 [...]” (GOMES, 2005, p. 284). Corroborando as observações de Gomes (2005), não se vê, propositalmente, elementos de formação do PTB capixaba como agitadores principais do movimento queremista no Espírito Santo. Alencar Marinho, um dos articulares do movimento queremista, era sindicalista no Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Espírito Santo. Trabalhista, ao que parece, não ingressou no PTB em sua formação, mas sua nomeação a delegado regional do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários, IAPI, ocorrida em 1951, indica fortes ligações com quadros formadores do partido.

Entretanto, percebe-se que a fundação do PTB do Espírito Santo acompanha o desejo das elites partidárias nacionais de transformar dirigentes sindicais em lideranças capazes de promover a organização do partido e conquistar eleitores.

Entre os primeiros fundadores do partido no Espírito Santo pode-se destacar: Manoel Vianna Neto, então presidente do Sindicato dos Ferroviários da Vitória a Minas; Antônio Jacob Paixão, comerciário e membro do Diretório Central do PTB em sua fundação, na I Convenção Nacional, realizada entre 26 de Agosto e 5 de setembro de 1945; Alcyro de Souza Poubel; Adelpho Poli Monjardim (membro de família abastada no estado, escritor e funcionário público de Vitória-ES); Guilherme dos Santos Neves, vogal da Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho, representante dos empregadores; Luiz Batista; Mozart Medina de Mendonça; Nilo Guimarães, Saturnino Rangel Mauro12, Racine Leão Castelo, e

outros elementos. (SILVA, 1986, p. 264).

Dessa maneira, os fundadores da agremiação trabalhista, em sua maioria, se relacionam a elementos sindicais e de autarquias do Ministério do Trabalho, comportando elementos tanto de representação dos trabalhadores, como dos empregadores. A formação congregava, então, elementos ligados aos sindicatos e à burocracia do Estado Novo.

Já em 1946, na campanha eleitoral para o Governo do Estado, o PTB capixaba estava em vias de construir uma organização mais sólida. É sintomático que sua estrutura física e de comando ainda não estivessem plenamente constituídas, visto que cogitava-se, devido a conflitos internos no PSD, a filiação de Jones dos Santos Neves, ex-interventor e um dos fundadores do PSD capixaba, ao PTB. Corriam rumores de que Jones, uma vez que “[...] sua posição no PSD era precaríssima conforme os fatos [...]”13, teria enviado seu irmão, Guilherme dos Santos Neves, um

dos fundadores do PTB capixaba, para negociar sua ida para a agremiação trabalhista, sob a condição de ganhar a presidência da organização.14

Mostrava-se aí a primeira cisão do partido. Pela ocasião da filiação de Jones dos Santos Neves, a sigla ficara dividida em duas alas: uma que aceitava, outra que

13 POLITICA do Estado: O acordo Jones - PTB. A Gazeta, Vitória, p. 01, 17 mai. 1946. 14 Ibid., p. 01.

combatia. A primeira seria chefiada por Jefferson Aguiar, então advogado dos Empregados da Estrada de Ferro Vitória a Minas, a segunda, por Mozart Medina de Mendonça, que aceitava Jones apenas como companheiro de partido. Por orientação do seu irmão, Jones teria ido à inauguração da sede do partido, ocasião em que foi elogiado nos discursos de inauguração, lembrando sua proximadade com o presidente de honra nacional do PTB, Getúlio Vargas.15

Deixando à parte a veracidade dos fatos, o que se aufere da cogitação de Jones de pousar no ninho petebista é a imagem de um partido ainda com um comando não consolidado, a ponto de se cogitar um fundador do PSD inscrever-se no partido já como presidente da agremiação. Entretanto, Jones não era um elemento qualquer. Foi interventor de Vargas e seguia sua orientação quanto à política desenvolvimentista, embora possuísse perfil mais técnico. Isto evidencia um PTB em que ser amigo de primeira hora de Vargas era requisito primeiro - e talvez o único - para um elemento cerrar fileiras no partido, o que garantiu a miscelânea de interesses em sua formação.

Ainda decorrente dessa possibilidade, o jornal A Gazeta, por meio de seu colunista e diretor Rosendo S. Souza Filho, critica a pluralidade de posições de Vargas em todos os seus governos, de modo a comparar Jones ao ex-presidente, visto que o “[...] presidente emérito do PSD [Jones], consegue acomodar essa posição notória e honrosa com a de membro destacado do PTB”16. A crítica, como já dissemos,

demonstra um PTB capixaba muito ligado a Vargas e a suas alianças do Estado Novo em sua formação. Continuando, o jornal afirma que, com isso, surge no PTB duas correntes: uma “liberal e generosa”, outra “reacionária e egoísta”17.

Ou seja, não se trata de uma divisão estrictamente política, mas sim, baseada na posição pró Jones presidente do PTB x contra Jones presidente do PTB. O desfecho desse episódio pode ser visto na saída de Jefferson de Aguiar do PTB, por ser

15 Ibid., p.01.

16 FILHO, Rozeno S. Souza. Políticos bifrontes. A Gazeta. Vitória, p.01, 19 mai. 1946. p.01 17 Ibid., p.01

favorável a entrada de Jones no partido trabalhista, o que não logrou êxito. No pleito do ano seguinte ao episódio, Aguiar candidata-se a deputado estadual pelo partido de Jones, o PSD.

A vinculação direta entre PTB-Vargas é, também, vista em declarações partidárias, exemplificada pelo convite veiculado na imprensa em que o partido convida “[...] os petebistas, simpatizantes e amigos do seu ilustre Presidente de Honra, senador Getúlio Vargas”18, para a reunião em que traçarão as diretrizes partidárias para o

pleito.

Portanto, tanto na cogitação de uma nova liderança entrando no partido, quanto na nota convidativa do partido, percebe-se que, na formação da agremiação estudada, “[...] a força que o movia e que lhe dava sustentação emanava do carisma de Vargas, mas não foi suficiente para evitar que em torno do partido se formassem grandes zonas de incerteza” (D’ARAUJO, 1996, p. 21)

Passado os dois primeiros anos, conturbados e incertos, verificados nas fontes disponívels, já seguindo a campanha eleitoral para o pleito estadual de 1947, a direção do PTB capixaba sustentava que o partido se abstivesse das eleições presidenciais e conclamasse aos trabalhadores para que votassem nos candidatos petebistas para as casas legislativas estaduais. Nesse sentido, em nota oficial, o partido afirmava que não teria candidatos a Governadoria e nem a 3º Senador, deixando seu eleitorado livre de compromissos, interessando-se pela votação na chapa de deputados, “[...] para qual espera integral apoio de todos os trabalhistas do Espirito Santo, os verdadeiros amigos do Senador Getúlio Vargas”19. Essa decisão

reflete um dos principais problemas para os primeiros anos da agremiação nacionalmente, que se refletiu também no Espírito Santo: uma corrente optava por tendências isolacionistas e outras optavam por alianças e acordos com outros setores da política nacional.

Um partido criado para servir ao seu chefe, fizera a organização depender do peso

18 AO POVO: convite do PTB. A Gazeta. Vitória, p.06, 29 nov. 1946. Política do Estado. p.06. 19 PARTIDO Trabalhista Brasileiro: Ao povo. A Gazeta, Vitória, p. 06, 05 jan. 1947. p.05.

da fala de Vargas para se traçar planos e diretrizes (D’ARAUJO, 1996). Na ausência do peso da fala de Vargas, vozes plurais se arvoravam para falar pelo partido. Assim, se no dia 05 de janeiro de 1947 o partido lançou uma nota oficial de caráter “isolacionista”, dez dias depois foi noticiado que um membro petebista, Mozart Medina, falaria em nome do PTB no comício de encerramento da candidatura da Coligação Democrática20, contrário à candidatura de Carlos Lindenberg, PSD21.

Porém, um dia depois, em nota oficial, o partido desmente a nota de A GAZETA, reafirmando que “[...] Mozart Medina e nem ninguém [...]” está autorizado a falar pelo PTB no comício da candidatura para o Governo do Espírito Santo de Attilio Vivacqua, pela Coligação Democrática22.

Durante a campanha, o PTB apresentou vinte e seis candidatos a deputação estadual. Entre eles, destaca-se a presença de seis indivíduos provenientes dos sindicatos e das autarquias do Ministério do Trabalho durante o Estado Novo e que, posteriormente, ocuparam postos importantes na administração do PTB estadual. Antonio Jacob da Paixão era comerciário e membro do Diretório Central do PTB em sua fundação, na I Convenção Nacional, realizada entre 26 de agosto e 5 de setembro de 1945, representando o Espírito Santo; Alvaro Fraga era advogado de sindicatos; Altamir Faria Gonçalves, pertencia à direção do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de 1937 a 1952 (sendo presidente de 1941 a 1951); Guilherme dos Santos Neves, era vogal dos empregadores na Junta de Conciliação e Julgamento durante o Estado Novo; Manoel Vianna Netto, era presidente do Sindicato dos Ferroviários da Vitória a Minas em 1945) e Saturnino

20 Coligação Democrática era a denominação para o grupo que comportava os partidos contrários ao

PSD em determinadas eleições estaduais para o período 1945-1964. A primeira Coligação Democrática surgiu nas eleições de 1947, em que Attilio Vivacqua, pelo PR, disputou a eleição para governador contra Carlos Lindenberg, do PSD. Os partidos que compuseram a coligação variaram conforme as eleições, sendo que em duas ocasiões, o referdo grupo sagrou-se vitorioso no pleito à governadoria, em 1954 e 1962 com Francisco Lacerda de Aguiar, o Chiquinho.

21 ENCERRAR-SE-Á amanhã a campanha eleitoral da grande Coligação Democrática

Espiritossantense. A Gazeta, Vitória, p. 01, 15 jan. 1947. p.01..

22 NETTO, Manoel Vianna. Movimento Partidário: Partido Trabahista Brasileiro A Gazeta, Vitória, p.

Rangel Mauro, era presidente Sindicato dos Empregados no Comércio do ES. Um dos fundadores da Cooperativa de Consumo dos Empregados da Estrada de Ferro Vitória a Minas, Mauro, foi, em 1936, eleito vereador e presidente do Centro Político Distritral de Argolas – bairro operário do município de Vila Velha-ES -. No mesmo ano, Mauro foi eleito presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio do Espírito Santo, ficando em sua presidência até 1947. Ainda antes da redemocratização, em 1941, o trabalhista foi nomeado por Vargas como vogal da Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho no Espírito Santo. Findado o Estado Novo, em 1945, Saturnino Rangel Mauro foi preso no 3º Batalhão de Caçadores.

Durante sua gestão na presidência da entidade representativa dos comerciários, Mauro alinhou-se com os postulados do Estado Novo, colocando na organização “atividades de caráter público destinados a evidenciar o apoio dos trabalhadores à conduçao da política sindical praticada por Vargas tanto para organizer o ‘mundo do trabalho’ como para isolar as entidades sindicais” (RIBEIRO, 2006, p. 49) do comunismo e anarquismo.

Seus discursos contamplavam o nacionalismo e o equilíbrio entre capital e trabalho como promotores de bem-estar social para os trabalhadores (RIBEIRO, 2006) Com a instituição da unicidade sindical e do imposto sindical obrigatório, a gestão de Mauro ampliou o assitencialismo aos trabalhadores e seus familiares. Do mesmo modo, arquitetou a criação de uma cooperativa de consumo e aprimoramento de serviços médicos e educacionais. (RIBEIRO, 2006) Segundo o professor Luiz Cláudio M. Ribeiro (2006), durante a presidência de Saturnino Rangel Mauro, “o SEC destacava-se como uma das entidades sindicais mais engajadas no projeto trabalhista de Vargas” (p. 54)

No pleito de 1947, o prestígio de Saturnino Mauro no município de Vila Velha-ES e no interior foi decisivo, sendo que foi eleito deputado com 896 votos, a maior votação da bancada trabalhista. Além dele, foi eleito o professor José Monteiro Peixoto com 833 votos. A partir daí, o caminho estava pavimentado para o comando

de Saturnino na sigla trabalhista do Espírito Santo, não sem oposições, pelo menos até o pleito de 1950.

TABELA 1 - Eleições para Governador do Estado do Espírito Santo - 1947 Eleições de 19 de janeiro de 1947

Governador do Estado

Legendas/Coligações Candidatos Votações

Eleito

PSD/UDN/PTN/PPB Carlos Fernando Monteiro Lindenberg 59.008 Não eleito PR Attílio Vivácqua 31.968 Votos nominais 90.976 Votos brancos 2.213 Votos nulos 1.369 Votos apurados 94.558 Eleições de 30 de novembro de 1947 Vice-Governador do Estado

Legendas/Coligações Candidatos Votações

Eleito

PSD José Rodrigues Sette 55.093

Não eleito PR Eleosippo Cunha 27.675 Votos nominais 82.768 Votos brancos 15.864 Votos nulos 2.710 Votos apurados 101.342 Vitória – Capital

José Rodrigues Sette(Eleito) - 8.029 votos; Eleosippo Cunha - 6.832 votos; Votos nominais - 14.861; Votos brancos - 1.368; Votos nulos - 496; Votos apurados - 16.725; Eleitorado - 24.288.

TABELA 2 - Eleições para Deputados Estaduais do Estado do Espírito Santo por partido e do PTB – 1947 Eleições de 19 de janeiro de 1947 Deputados Estaduais Legendas/ coligações Votações Número de eleitos

Nominais Legendas Totais

PSD 27.880 21 27.901 9 + 5 = 14

UDN 18.262 43 18.305 6

PR 13.822 17 13.839 4

PDC 8.379 Vide notas abaixo 8.365 2

PTB 7.655 33 7.688 2

PRP 6.417 13 6.430 2

PRD 3.995 14 4.009 1

PCB 3.723 28 3.751 1

Votos nominais/de legendas 90.288

Votos brancos 2.143 Votos válidos 92.431 Votos nulos 2.228 Votos apurados 94.659 Representação 32 Quociente eleitoral 2.88

Nota: Estranhamente, nas fontes pesquisadas, aparecem os votos nominais do PDC (8.379), para Deputados Estaduais, em número superior ao que é atribuído, no total (Nominais + Legenda), ao referido partido (8.365), no cálculo do

quociente eleitoral (Votos válidos - 92.431: Representação - 32 = Quociente eleitoral - 2.888).

Fonte: ESPÍRITO SANTO. Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo.

Assim, logo após o pleito, em maio de 1947, o PTB estadual convoca os membros do Diretório Estadual para tratar de assuntos relevantes, “[...] inclusive a restruturação do PTB no Estado e o estudo do ante-projeto constitucional [...]”23. A

nota é assinada por Gualter Oliveira, como 1º secretário, não se sabendo, entretanto, o total da composição da Executiva Estadual.

Mas, ao que parece, Saturnino Mauro reunia as tropas para, então, trazer para si o butim conseguido com o pleito. Isso parece razoável de se supor diante de uma nota que, dois dias depois da data da reunião, dá ao conhecimento que a a mesma designou Saturnio Rangel Mauro, José Monteiro Peixoto e Gualter Oliveira para constituírem a Comissão Estadual de Coordenação, “[...] com poderes para

processar a reesttruturação do nosso Partido, neste Estado [...]”24. Possivelmente,

numa demonstração da força dos elementos sindicais nesses primeiros anos do PTB capixaba, assina a referida nota Alvaro Fraga, 2º secretário e advogado do sindicato dos comerciários, presidido por Saturnino.

A partir daí, Saturnino Rangel Mauro toma as rédeas visando à reestruturação do partido e às eleições municipais de 1947. Não é à toa que, logo após uma convocação dos membros do Diretório Estadual do PTB para reunião visando à tomada de decisões administrativas e político-partidárias, decidiu-se pela candidatura de Domício Mendes, um aliado rangelista em um dos principais municípios capixabas, Vila Velha.25

A consolidação de Saturnino Rangel Mauro no comando da sigla veio com as eleições municipais, em fins de 1947. Na Câmara Municipal de Vitória-ES, o PTB elegeu o sindicalista Altamir Faria Gonçalves e um aliado de Saturnino, Oscar Paulo da Silva, sendo esse o segundo mais votado na capital. Neste certame, a organização constituiu-se na segunda força na capital, ficando atrás da UDN, com três cadeiras, e empatando com o PSD, com duas. Em Vila Velha-ES, seu aliado mais próximo, Domício Mendes, foi eleito prefeito, vencendo o candidato do PSD com quase o dobro de votos (2077 votos contra 1154). Além disso, na cidade canela- verde26, o PTB ganhou nos votos da legenda, com 1279 votos, contra o PSD, com

1145, a UDN, com 540, e o PDC, com 203.27

24 FRAGA, Alvaro. Partido Trabalhista Brasileiro: comunicação. A Gazeta, Vitória, p. 04, 31 mai. 1947. 25 POLITICA do Estado: Lançada a candidatura pessedista à prefeitura de Vila Velha. A Gazeta,

Vitória, p. 01, 20 set. 1947.

26 Termo atribuído aos cidadãos nascidos e ou radicados no município capixaba de Vila Velha-ES. 27 O PLEITO de 30 de novembro: Espetacular derrota do PSD em Vila Velha – Vence a UDN em

TABELA 3 – Eleições para Deputados Estaduais do Estado do Espírito Santo pelo PTB - 1947 Deputados Estaduais

PTB - Partido Trabalhista Brasileiro

Candidatos Votações Candidatos Votações

Eleitos: 02

Saturnino Rangel Mauro 896 José Monteiro Peixoto 833

Suplentes

Luiz Batista 596 Joanito Campos 520

Racine Leão Castelo 517 Oscar Paulo da Silva 484

Altamir Faria Gonçalves 386 Adelpho Poli Monjardim 376

Altanito de Souza Bragança 341 Romildo Gonçalves 338

Mozart Medina de Mendonça 324 Salim Calil Salim 322

Alcyro de Souza Poubel 283 José Santana 211

José Rios Júnior 205 Nilo de Oliveira Guimarães 158

Guy Jacob 130 Gualter W. Oliveira 128

Antônio Costa Gama 98 Armando de Oliveira Filgueiras 94

Antônio Jacob da Paixão 87 Guilherme Santos Neves 81

Walter Macedo 76 Manoel Viana Neto 60

Reinaldo Evaristo da Silva 60 Álvaro Fraga 51

Votos nominais 7.655

Votos de legenda 33

Total de votos do PTB 7.688

Fonte: ESPÍRITO SANTO. Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo.

No que concerne à relação com o governo estadual de Carlos Lindeberg, do PSD, a estratégia de Saturnino Mauro no comando da sigla foi a de criar uma atuação independente, aliando-se, na Assembleia Legislativa, com as oposições coligadas de UDN, PR, PDC e PRP. Assim, se, no início da legislatura, Saturnino defende que o PTB não tem nenhum compromisso com o governo Lindenberg, embora julgasse