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AS ELEIÇÕES DE 1950 E A INTERVENÇÃO DA EXECUTIVA NACIONAL NO PTB

As eleições para Presidente da República, Senadores, Governadores, Deputados Estaduais e Federais de 1950, configurou-se como um dos marcos importantes no processo de formação do PTB capixaba.

As conversas sobre as candidaturas intensificaram-se nos últimos meses de 1949. Já em dezembro, o jornal A Gazeta noticiava que Jones dos Santos Neves, candidato a governador pelo PSD, o Presidente e o Vice-Presidente do PTB estadual, respectivamente, Saturnino Rangel Mauro e José Alexandre Buaiz, conversavam visando a uma aliança PTB-PSD nas eleições68 Se naquele momento

o jornal coloca Saturnino Mauro e José Buaiz como as figuras que negociariam pelo PTB, em outras ocasiões somente a figura de Saturnino Mauro é identificada como negociador, que estaria, inclusive, conversando com Jones dos Santos Neves (PSD) sem a anuência dos seus correligionários e diretório estadual.69 Porém,

protagonizando as negociações ou não, Buaiz é isentado por A Gazeta quando a empresa cerra críticas à costura do acordo PTB-PSD. Se Saturnino posiciona-se sempre “petebistamente”, o jornal defende que não define José Buaiz tal como Saturnino, absolvendo o primeiro.70

Esse apoio de A Gazeta a um elemento petebista, Buaiz, e rechaço a outro, Mauro, parece encaixar-se em dois comportamentos que permearam o momento de fundação dos diretórios regionais na redemocratização de 1945: representantes de um mesmo conjunto de forças sociais abrigando-se em partidos distintintos (Carlos Lindenberg no PSD e Fernando Lindenberg na UDN) e lideranças divergentes entre si agregrando-se num mesmo partido, criando alas (Atílio Vivacqua e Jones dos Santos Neves no PSD) (SILVA, 1986).

68 Ibid., p. 01.

69 Id., 25 jan. 1950. p. 01,

Antes de ser anárquico, esse comportamento possui uma racionalidade, na medida em que essa fragmentação, em vários partidos, é fruto tanto de fatores de ordem legal-institucional como de ordem contingencial regional. Ou seja, a racionalidade refere-se ao fato de que os partidos precisavam se constituir enquanto organizações nacionais, necessitando-se fundar diretórios em todos os Estados da Federação, e refere-se também a existência, no Espírito Santo, de um grupo heterogêneo de lideranças políticas (as historicamente rivais no plano estadual; as do mesmo conjunto de forças sociais, divididas no plano politico para garantir a dominância do grupo no Aparelho Regional de Estado; as novas lideranças que surgiram devido a mudanças socioterritoriais). (SILVA, 1986)

Tal dinâmica de ocupação garantiria a permanência ou o acesso ao aparelho de Estado por elementos diferentes, porém, pertencentes as mesmas forças sociais dominantes. Não é demais ressaltar, novamente, as origens de José Buaiz, filho de imigrantes sírio-libaneses e abastado empresário do Espírito Santo, constante anunciante nos jornais, o que talvez explique as relações sempre cordiais e elogiosas com os grupos empresarias que geriam o jornal A Gazeta.

Dessa forma, não tardaria para o jornal veicular uma disputa pelo comando da sigla petebista. Ainda em janeiro de 1950, portanto, antes das eleições, já havia rumores de que José Buaiz iria ao Rio de Janeiro, a chamado do Diretório Central do PTB, para deixar o referido diretório “a par” das atividades de Saturnino Mauro e, por lá, noticia-se ainda, que Buaiz “preparou a cama” do então presidente estadual do PTB, Saturnino.71

Já em julho de 1950, aventa-se também a participação do PTB na formação da Coligação Democrática, com partidos contrários a candidatura de Jones, do PSD, e promessa de maiores disposições de candidaturas, inclusive dispondo da vice- governadoria, o PTB capixaba. Assim, de posse da proposta do PSD e da Coligação Democrática, Saturnino Mauro seguiu para o Rio e trouxe a decisão de marchar com o PSD e a candidatura de Jones dos Santos Neves para ser apreciada pelos

petebistas capixabas.72

No mesmo mês, o PTB realizou sua convenção estadual e, com a presença de representantes de todos os diretórios municipais e distritais, referendou a seguinte chapa: Getúlio Vargas para Presidente, pelo PTB; Jones dos Santos Neves, do PSD, para Governador; Francisco Alves de Athayde para Vice-Governador, também do PSD; Lindenberg para Senador, pelo PSD, e Edson Pitombo Cavalcanti, do PTB, para suplente de Senador.

A composição da chapa com o PSD é justificada, por Saturnino, em um comício em Argolas, bairro de Vila Velha-ES, em que o Presidente do PTB capixaba atribuiu a parceria com o PSD ao “[...] comportamento das correntes políticas frente ao Chefe do seu Partido e candidato do mesmo à Presidência da República, Senador Getúlio Vargas”.73 O PTB estadual, ao que parece, seguiu a indicação das hostes petebistas

nacionais de relegar as candidaturas estaduais a segundo plano, privilegiando o apoio a candidatura de Vargas a Presidência da República na costura de alianças. Dessa maneira, o partido, “[...] aparentemente caminhava coeso no apoio a Vargas, mas a pacificação interna estava longe de se concretizar” (D’ARAUJO, 1986, p. 57). Conforme D’araújo (1986), a imposição de Danton Coelho para a Presidência do PTB por Vargas, em julho de 1950, seria uma estratégia visando a sua própria eleição, e a secundária preocupação com a organização partidária. Assim, sem uma costura de acordos internos na agremiação, a composição de chapas de candidatos aos cargos proporcionais foi traumática para o partido em diversos estados, o que parece ocorrer com o PTB capixaba (p. 57).

Nesse sentido, um mês após a divulgação do acordo PSD-PTB no Espírito Santo, Saturnino vai à imprensa rechaçar as críticas de que o acordo foi feito ao seu bel- prazer, posto que “[...] a direção central do PTB dele tomou conhecimento, sobre ele opinou e chegou-se a conclusão [...]”74 de que aquele seria o único rumo a tomar.

72 DEFINIU-SE o PTB capixaba. A Gazeta, Vitória, p. 01, 07 jul. 1950.p. 01. 73 NOTAS Politicas. A Gazeta, Vitória, p. 01, 30 jul. 1950.p. 01.

Afirma que o acordo se manteria de pé, visto que “[...] foi ditado pelos altos interesses partidários de ambas as agremiações políticas”.75 E, dias depois, ainda

em agosto de 1950, Mauro “engrossou a voz” taxando que “[o] presidente do PTB aqui no Estado sou eu. Não temos tutor nem admitimos tutela de elementos alheios à situação política de nossa terra e de nosso Partido”.76 Assim, Mauro põe-se firme

na candidatura de Jones, “[...] que nunca hostilizou o nosso chefe Getúlio Vargas [...]”.77 A passagem, mais uma vez, demarca a base do acordo PSD-PTB em solo

capixaba, que seria pautada pelo apoio a Getúlio Vargas, ou seja, pelos ditames da Executiva Nacional do PTB.

Seguindo a campanha, falando aos eleitores e correligionários, Saturnino afirma, em nota, que o PTB recusou a proposta da Coligação Democrática porque examinou “[...] o comportamento dos seus integrantes todos ou quase todos inimigos reconhecidos e declarados do Senador Getúlio Vargas [...]”.78

Assim, quando as pessoas da época se referem ao PTB como “o partido de Vargas” não parece ser apenas um recurso adjetivo, mas, sim, configura-se como um substantivo da agremiação. A forma de atuar da agremiação estava intimamente ligada aos interesses e à figura de Vargas, tanto que a justificativa para ficar com o PSD no Espírito Santo é a posição da coligação em relação ao líder, e não necessariamente, está baseada em um programa.

Outro fator de crise para o comando de Saturnino Mauro na presidência do PTB capixaba diz respeito a visita de Getúlio Vargas a Vitória-ES, por ocasião de sua campanha eleitoral. O PSP enviou ao PTB um convite para compor o comitê local de recepção a Getulio Vargas em Vitória-ES. Respondendo à carta, Saturnino veicula um ofício endereçado ao PSP discorrendo que o PTB capixaba já organizou “O Programa de Recepção ao nosso Chefe” e que não convidou a agremiação porque “[...] o nome do nosso Chefe não pode ser invocado, nem explorado em favor dos

75 Ibid., p. 01.

76 Id., 11, ago., 1950, p. 01. 77 Ibid. p. 01.

seus inimigos, como se processa no Estado”79 Entretanto, torna-se salutar o

destaque de que o PSP estava coligado nacionalmente com o PTB, tendo João Café Filho como candidato a vice-presidência na chapa de Vargas.

Dessa maneira, dias antes da chegada de Vargas à capital capixaba, Baeta Neves, fundador e vice-presidente do PTB, se dirige a Vitória-ES para dar conta dos preparativos da recepção ao candidato à Presidência. Quanto à presença do PSP, Neves determina que o referido partido tome parte em todas as comissões, visto este ser “[...] o desejo a mim [Neves] expresso pelo deputado Saturnino Rangel Mauro”.80 A reboque, o Movimento Operário Adhemarista também foi convidado para

participar da recepção. Mais uma vez, uma decisão da Executiva Estadual, no que tange ao relacionamento com outras agremiações, passa pela relação da candidatura de Getúlio Vargas com essas mesmas agremiações, sendo relativizadas as idiossincrasias da política estadual.

A indicação de Baeta Neves foi confirmada pelo discurso de Vargas, em 02 de setembro de 1950, em sua campanha na capital do Espírito Santo. Destacando a importância do Estado na exportação de ferro pelo Porto de Vitória-ES, ao falar de política estadual, Vargas fez elogiosas referências a Jones que, quando interventor, deixou um legado nos assuntos de natureza social. Por isso, o candidato a Presidente disse apoiar e indicar Jones “[...] sem que isto, entretanto, implique em animosidade ou hostilidade aos demais candidatos, nos quais, dentro do legalismo espírito de democracia, reconheço méritos e virtudes que, se for da vontade popular, serão reconhecidos”.81 Dessa maneira, uma atuação mais autônoma e

independente, como parece ter sido a Presidência de Saturnino no PTB capixaba, não agradaria a amplos setores do PTB capixaba.

79 “O NOME DO nosso chefe não pode ser explorado em favor dos seus inimigos” – O presidente do

PTB responde ao PSP. A Gazeta, Vitória, p. 01, 22 ago. 1950. p. 01.

80DECLARA o deputado Baeta Neves: “Não há nenhuma alteração na conduta do PTB”. A Gazeta,

Vitória, p. 01, 23 ago. 1950. p. 01.

81“JONES dos Santos Neves como governador deixou uma administração marcante sob o aspecto

social. Este, portanto, é o candidato que recomendo ao eleitorado capixaba” – disse o sr. Getúlio Vargas. A Gazeta, Vitória, p. 01, 02 set. 1950. p. 01.

A mudança na estratégia do PTB nacional, agora, durante a campanha de 1950, disposta a “[...] incorporar elementos não vinculados aos interesses dos trabalhadores [...]”(D’ARAÚJO, 1986, p. 66), revelou-se dificultosa enquanto o sindicalista Saturnino Mauro esteve como Presidente da agremiação. Deste modo, se “[...] o crescimento eleitoral do partido dependeu do prestígio eleitoral de Getúlio em 1945 e em 1950, e também da capacidade dos dirigentes petebistas de diversificar alianças” (D’ARAÚJO, 1986, p. 66),era necessário remover os entraves a essa nova tendência aliancista.

É sintomático que, no auge da campanha, em 03 de setembro de 1950, em artigo avulso, Armenio Clovis Jouvin, organizandor do Movimento Operário Adhemarista no Espírito Santo, tenha feito uma série de denúncias e críticas ao PSP capixaba e ao jornal A Tribuna, segundo as quais o primeiro teria comprado a maior parte das ações do segundo. A principal crítica dá conta de que os líderes do PSP do estado se aliaram

[…] contra Adhemar de Barros e a candidatura de Getúlio Vargas, o que seria o mesmo que dizer, contra os nossos interesses programáticos comuns […] contra o PSP, contra os anseios populares e contra o proletariado, a serviço, paradoxalmente, das candidaturas rivais82

Por fim, esbraveja Jouvin que os membros do Movimento Operário Adhemarista estariam com Adhemar de Barros e Getúlio Vargas, motivo pelo qual ingressariam nas fileiras do PTB, disputando ao lado dos petebistas as próximas eleições. Relembrando a passagem em que Saturnino veta a participação do PSP capixaba no Espírito Santo, acusando-os de serem antigetulista, Jouvin, membro influente do PSP capixaba, rompe com o partido de Adhemar de Barros justamente devido ao caráter antigetulista da agremiação, inclusive, durante a campanha em que, nacionalmente, o PSP coligou-se com o PTB de Vargas. Segundo o autor do artigo,

82 JOUVIN, Armenio Clovis. Secção Livre: Razões de uma atitude. A Gazeta, Vitória, p. 06, 03 set.

o PSP capixaba era PSP “made in PR” porque fazia o jogo da UDN, do PR e do PRP.83 Dessa forma, percebe-se a dificuldade do PTB capixaba em sustentar

posições de maior autonomia frente ao comando nacional do partido. Se o PSP local tinha relativa autonomia para compor eleitoralmente com elementos da Coligação Democrática, formando uma oposição contra a chapa PSD-PTB no Espírito Santo, o PTB deveria aceitar o PSP, por exemplo, na formação da comitiva que iria receber Vargas durante a campanha, mesmo que na seção estadual do partido adhemarista houvesse um sentimento antigetulista. Isso revela uma adesão ao getulismo não de uma forma irracional, como correntemente se aventa, mas uma combinação entre getulismo e cálculo politico.

Assim, no contexto do esforço de Danton Coelho na Presidência Nacional do PTB para promover decisões de cunho mais pragmáticos, e se levado em conta a Presidência Estadual da agremiação trabalhista por Saturnino Mauro, de cunho mais independente, os rumores de um racha e de uma intervenção não tardariam, e se arvoravam durante o auge da campanha, em setembro de 1950, o que o PTB capixaba negava incessantemente. Ao negar a intervenção, acusa o “[...] órgão em que as marionetes do Senador Vivacqua agem de acordo com os barbantes [...]”84,

ou seja, o partido acusou seus inimigos de inventarem uma disputa pelo comando da sigla como estratégia de adversários da Coligação Democrática para tirar os votos da coligação estadual PSD-PTB e de Getúlio Vargas. Procurado por A Gazeta, José Buaiz negou ser escolhido interventor no PTB. Entretanto, mais à frente, veremos que esta negação de raxa e intervenção foi também uma estratégia eleitoral.

Torna-se curioso que o mesmo Armenio Clovis Jouvin, aquele articulador do Movimento Operário Adhemarista no Espírito Santo, tenha lançado um segundo artigo em que afirma não haver nada de anormal na vida interna do PTB, “[...] estando todos os seus dirigentes na melhor harmonia e no firme propósito de

83 JOUVIN, Armenio Clovis. O partido de Getúlio Vargas. A Gazeta, Vitória, p. 01, 26 set. 1950.p. 01. 84 “NÃO houve intervenção no PTB”. A Gazeta, Vitória, p. 01, 15 set. 1950.p. 01.

lutarem pela vitória de Getúlio Vargas [...]”85. Diga-se curioso devido ao fato de

Jouvin, menos de um mês antes e ainda na condição de elemento do PSP, ter sido organizador dos círculos operários adhemaristas, que, obviamente, não se tornariam getulistas somente por ocasião de uma aliança nacional PTB-PSP. Ao que parece, a crença em um PTB fracionado era tão intensa que, na impossibilidade de trazer à luz em plena campanha eleitoral uma intervenção nacional de modo a arbitrar o conflito em favor de uma ala, recorre-se a um elemento outsider como garantia de normalidade partidária na agremiação trabalhista.

No mesmo artigo, o autor relembra que o PTB foi criado para defender o legado trabalhista de Vargas, assim como para unificar a massa operária em torno dos seus postulados, mas que, nos últimos cinco anos, o partido estava em situação delicada, sobretudo, devido a ausência forçada de Vargas nas páginas políticas. Dessa maneira, tão logo o propósito de elevar Vargas às primeiras páginas políticas novamente se concluiu, publicamente, a propagada harmonia feceneu no seio do PTB capixaba.

Quinze dias após a eleição, em 03 de outubro de 1950, o novo porta-voz do PTB capixaba na ocasião da campanha eleitoral, já não escondia o que viria a ser o motivo de uma intervenção nacional no comando da sigla até então liderada por Saturnino e seus companheiros sindicalistas. Jouvin, através de artigo, evidencia que Danton Coelho estaria já reestruturando o PTB em todas as unidades da Federação, principalmente em seções como no Espírito Santo que, ao contrário do Rio Grande do Sul, do Distrito Federal e de São Paulo, que dispunham de quadros partidários e substancial eleitorado, o petebistas capixabas “[...] nunca tiveram organização nem base política [...]”. Sua leitura pauta que, no Espírito Santo, o PTB conseguiu

[...] apenas sobreviver aos cinco anos de estagnação política, por um milagre de fé e confiança em Getulio Vargas e pelo dever de gratidão de um

reduzido número de correligionários que, pelo prestígio inconteste de seu nome ou pelo seu favor pessoal, se haviam elegido ou permanecido nos cargos públicos com que haviam sido aquinhoados 86.

Entretanto, a crítica à direção de Saturnino se acirrou e, no mesmo artigo, Jouvin acusa o então Presidente do PTB capixaba de não ter fortalecido a organização partidária, de modo a aproveitar o momento em que Vargas era candidato à Presidência da República pelo mesmo partido. Se o PTB não obteve sucesso era porque havia uma “[...] política individualista e fascista de alguns próceres do diretório local [...]”87, existindo, segundo Jouvin, leilão de cargos e escolha de cabos

eleitorais e amigos sem expressão eleitoral.

Porém, se é perceptível a precária existência organizacional do partido nos seus cinco primeiros anos de formação, o argumento de Jouvin pode ser relativizado pelos resultados eleitorais alcançados pela sigla. Na capital Vitória-ES e nos municípios vizinhos de Vila Velha-ES e Cariacica-ES, o PTB contou com a maioria dos votos válidos para a Câmara Municipal, obtendo a maior bancada. Na capital, elegeu cinco vereadores88, contra quatro cadeiras do PSD e duas da UDN, PDC e

PSP. Ressalta-se, também, que os quatro vereadores mais votados na capital eram das fileiras petebistas. Ou seja, de dois vereadores, a agremiação passou a contar com cinco novos representantes na Câmara Municipal de Vitória-ES. Já em Vila Velha-ES, reduto trabalhista, o partido obteve quatro cadeiras, contra três da UDN e duas do PSD. Em Cariacica-ES, outra cidade vizinha à capital, elegeu três vereadores, mesmo número da UDN e do PSD. Em Cachoeiro de Itapemirim-ES, considerada a segunda maior cidade capixaba na época, também um município de efervescência política e operária, Nelo Vola Berelli elegeu-se Prefeito Municipal pelo PTB.

86 JOUVIN, Armenio Clovis. Trabalhismo, palavra de ordem. A Gazeta, Vitória, p. 06, 18 out. 1950. p.

06.

87 Ibid., p.06.

88 Foram eles Mario Gurgel; Theophilo A. da Silveira; Adir Sebastião Baracho; Isaac Los Rubim e

Já na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, o PTB conseguiu eleger os deputados Floriano Lopes Rubim, Ely Junqueira, Domício Mendes, Argilano Dario, Sebastião da Rosa Machado e Lauron Calmon Nogueira da Gama. Dessa maneira, se na primeira eleição contou com dois deputados (Saturnino Mauro e José Monteiro Peixoto), nas eleições de 1950 aumentou a bancada para seis deputados.

Para um partido ainda com uma organização incipiente, foi um crescimento considerável. Nas eleições de 1950, o PTB configurou-se como o partido com o maior crescimento de bancada na Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Dessa forma, se observadas, também, as notícias da intervenção antes mesmo das eleições de 1950, a relativização do desempenho eleitoral como razão da saída do grupo de Saturnino do comando do PTB ganha ainda mais musculatura.

Porém, se a nomeação de Salgado Filho para presidente do partido em 1948 demonstrou uma virada nos interesses partidários, agora voltados a abarcar setores dominantes da política capixaba, o PTB capixaba, dois anos depois, tratou de entrar nos eixos desejados pela Executiva Nacional. Se “[...] três anos de vida partidária haviam demonstrado que era impossível mantê-lo sob a administração de líderes classistas sem experiência política [...]” (D’ARAUJO, 1996, p. 52) contra os interesses de empresários e burocratas há muito ambientados com as disputas pelo poder, no caso capixaba, mesmo uma liderança sindical com experiência e relativo peso político, não lograria êxito na luta contra esses interesses.

Se já havia um motivo, uma ideia corrente nas hostes petebistas opositoras ao comando da sigla por Saturnino Mauro, também já havia um nome para substituí-lo. Menos de um mês depois das eleições, Jouvin anunciou o novo Presidente do PTB capixaba, Edson Pitombo Cavalcanti, apoiado pela Executiva Nacional e por Getúlio Vargas. Tratava-se, agora, de reformular o partido e alijar dos postos de comando os líderes do primeiro momento de formação.

Procedendo-se às eleições municipais de 1951, Saturnino Rangel Mauro perdeu a