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NOVAS INTERPRETAÇÕES PARA O PTB E A POLÍTICA DE 1945 A 1964 DIVERSAS AO

Refutando, pelo menos parcialmente7, o entendimento de Alvarenga (2012),

veremos que novos estudos e referenciais teóricos nos encaminham a outras percepções acerca do PTB capixaba e da própria política capixaba como um todo no referido período.

Embasados em novas abordagens da relação entre Estado, sociedade e partidos políticos para o período de 1945 a 1964, partiremos de uma leitura da política capixaba diversa a essa que privilegia o populismo como categoria explicativa, uma vez que entendemos que tal leitura “põe, no mesmo saco, farinhas de procedências diferentes”, assim como deixa escapar experiências outras que não aquelas se encaixam no enquadramento ora recusado.

No presente trabalho, optamos por não discutir a construção e desconstrução da categoria populismo, até porque entendemos que alguns exímios historiadores já o fizeram com elevado grau de erudição.8 Apenas recorreremos a esses mesmos

historiadores quando, no bojo da desconstrução do populismo, fornecem

7 A discordância com Jefferson Alvarenga (2012) está mais no âmbito conceitual do que nos

conteúdos de sua análise. Concordamos com o diagnótico que o autor faz da política neste período e verificamos neste trabalho, com algumas diferenças triviais, os mesmos postulados. Entretanto, conforme se verá na análise deste subcapítulo, não contemplaremos o conceito populismo para qualificar tal fase da política capixaba.

8 Cf. FERREIRA, Jorge (Org.). O populismo e sua história: debate e crítica. 3. ed. Rio de Janeiro:

interpretações novas para entendermos a política e o PTB capixabas de 1945 a 1964.

Assim como Angela de Castro Gomes (2013, p. 46), quando investigamos a relação do PTB com a classe trabalhadora, consideramos, por principio, que esta se apresenta como sujeito capaz de operar escolhas diante de uma miscelânea de possiblidades. Isso inviabiliza leituras que percebem a classe trabalhadora como massa (portanto, sem características que pudesse lhe atribuir o status de classe) mais ou menos passiva diante de um estado – e de partidos políticos - que a manipula, mesmo que sem controle absoluto, exercendo certo controle sobre essas massas na mesma proporção com que atende às suas reivindicações.

Dessa maneira, perceberemos o período 1945 – 1964 como aquele período marcado por um diálogo entre atores, mesmo que houvesse recursos de poder diferenciados, “[...] mas igualmente capazes não só de se apropriarem de propostas político-ideológicas um do outro, como de relê-las [...]” (GOMES, 2013, p. 46). Posto nestes termos, não perceberemos o PTB como cooptador das classes populares em benefício das classes dominantes, visto que tal lógica exclui “[...] uma relação de troca, esvaziando o sujeito da cooptação de qualquer poder (inclusive o de ter suscitado a cooptação), e transformando-o em objeto que é, por definição, incapaz de negociação” (GOMES, 2013, p. 47).

Dessa maneira, o período é pensado como aquele do pacto trabalhista no que concerne a relação entre a classe trabalhadora e o Estado, em que

[...] os benefícios materiais “oferecidos” e implementados [...] serão “recebidos” e interpretados pela classe trabalhadora, que os apreenderá e os manejará segundo os termos de suas possibilidade e vivências (GOMES, 2013, p. 48)

Assim, se em determinado período, de 1945 a 1964, Estado, sindicalismo e partido possuíram uma sinergia de atuação pautada pelo corporativismo, não há que se vitimar a sociedade, mas sim, percebê-la como partícipe dessa relação. E, mesmo

que essa relação seja desigual em face ao poder do estado, percebemos a sociedade igualmente protagonista de seu reconstruir-se.

Da mesma forma, o enquadramento em populismo ou qualquer outro paradigma acarreta, geralmente, em se perder as especificidades e historicidade de cada projeto, além de ler o passado como uma disputa entre figuras e personalidades políticas, desfigurando, assim, projetos políticos em que estas mesmas pessoas figuraram (FERREIRA, 2013, p. 76).

Assim, optando por trabalhismo – e não populismo -, queremos trazer a luz “[...] um certo conjunto de ideias e práticas políticas, partidárias e sindicais”, “[...] ligada a alguns partidos e lideranças, especialmente e não casualmente, do pós-45” (GOMES, 2013, p. 55).

Se Jorge Ferreira (2013) enquadra a primeira geração que estudou o populismo como aquela que privilegiou as relações entre classe trabalhadora e Estado sob o prisma da satisfação, manipulação e persuasão, e a segunda geração como aquela que, influenciada pelos trabalhos de Antonio Gramsci, privilegiou a dicotomia repressão e persuasão (FERREIRA, 2013, p. 85), Alvarenga (2012) poderia ser enquadrado como um estudioso do populismo da terceira geração, posto que seu enfoque, para falar do populismo no Espírito Santo, admite repressão e persuasão, mas também não deixa de fora a variável satisfação, porém criticando a teoria da modernização e os enfoques que jogam fardo pesado nos camponeses recém chegados às cidades. Nesse sentido, as determinações sócio-estruturais permanecem quando Alvarenga (2012) incorpora a transição de uma sociedade agrária para uma sociedade urbano-industrial como um outro requisito para o populismo, mesmo que não a incorpore sob o prisma etapista.

Portanto, percebemos como uma falsa questão discutir se o período, integral ou sob um recorte específico, foi ou não populista. Tal como salienta Jorge Ferreira (2013), não compreendemos que o populismo seja o fenômeno que presidiu as relações entre Estado e sociedade no período de 1930 a 1964, posto que, como ele, “[...] sequer creio que o período tenha sido “populista”, mas, sim como uma categoria

que, ao longo do tempo, foi imaginada, e, portanto, construída, para explicar a mesma política” (FERREIRA, 2013, p. 63 e 64). Dessa maneira, fugimos de enfoques que observam os movimentos sociais como reflexos de variáveis socioeconômicos, em que determinantes estruturais explicam o comportamento das classes sociais, ou seja, a origem rural da classe trabalhadora tal como o processo de industrialização, explicariam a adesão das massas ao populismo, não se considerando, portanto, elementos de ordem política e ou cultural (FERREIRA, 2013).

Não se nega a intervenção estatal para construir uma forma de cidadania e identidade coletiva da classe trabalhadora. Entretanto, trataremos esta como relação não de mão única, em que o Estado é o todo poderoso e um partido, como o PTB, seria instrumento para ludibriar as classes trabalhadoras. Como Jorge Ferreira (2013) advoga,

[...] no trabalhismo, estavam presentes ideias, crenças e valores e códigos comportamentais que circulavam entre os próprios trabalhadores muito antes de 1930. Compreendido como um conjunto de experiências políticas, econômicas, sociais, ideológicas e culturais, o trabalhismo expressou uma consciência de classe, legítima porque histórica (p. 103).

Nesse sentido, o trabalhismo, em nível nacional, adquiriu crescente sucesso porque seu projeto dialogou e ressignificou elementos presentes na cultura política popular, não sendo algo imposto de cima para baixo, parcial ou totalmente, sob os instrumentos de coerção policial ou propaganda estatal (manipuladora ou não), embora não se negue a presença dos dois elementos no período de 1945 a 1964. Como pensa Maria Helena Rolim Capelato (2013, p.146), reportando Gareth Stedman Jones (1984), “[...] um movimento político não significa simplesmente manifestação de miséria e de dor [...]”, mas “[...] sua existência se caracteriza por uma convicção, comum a muitos, que articula solução política da miséria e diagnóstico político de suas causas [...]”. Dessa maneira, os discursos ligados ao

PTB em solo capixaba serão analisados em seu objetivo de despertar esperanças de soluções dos problemas da sociedade da época quando propõem ações concretas, articulando o visionário e o crível. Isto nos situa no que concerne ao projeto trabalhista.

Neste quesito, Lucília Neves (2013, p. 170) nos fornece alguns subsídios, pois, para a autora, “a busca do significado de um tempo [1945 a 1964] é também a busca dos valores e projetos que o conformaram”. Assim, a partir dos anos 1940, sobretudo no alvorecer dos 50, fez-se presente na sociedade uma crença partilhada de que seria a transformação do presente o instrumento para se forjar um futuro diferente, obviamente, do presente vivido. É nesta lógica de pensamento que projetos que visavam forjar uma nação foram construídos e defendidos (NEVES, 2013).

Ou seja,

[...] na década de 1950, surgiu na sociedade brasileira uma geração de homens e mulheres que, partilhando idéias, crenças e representações, acreditou que no nacionalismo, na defesa da soberania nacional, nas reformas das estruturas sócio-econômicas do país, na ampliação dos direitos sociais dos trabalhadores do campo e da cidade, entre outras demandas materiais e simbólicas, encontrariam os meios necessários para alcançar o real desenvolvimento do país e o efetivo bem-estar da sociedade (NEVES, 2013, p. 171).

Elementos como reformas estruturais, melhor distribuição de renda e nacionalismo figuraram na crença compartilhada chamada desenvolvimentismo. Porém, se houve um viés desenvolvimentista sob os auspícios do trabalhismo e do PTB, católicos progressistas, comunistas, estudantes e sindicatos também se engajaram nessa luta, aliando-se a variações dessa crença, defendido por diferentes agremiações partidárias e projetos (NEVES, 2013, p. 172).

Em nível nacional, portanto, o PTB foi um dos arautos do desenvolvimentismo através do projeto trabalhista, que, por sua vez, não se circunscreveu apenas a essa

agremiação estudada, sendo também defendido por setores da sociedade (sindicatos, movimentos sociais etc.), assim como por outras agremiações.

Avançando a leituras de apoio acerca do tema trabalhismo e do PTB e suas contribuições a esta proposta de pesquisa, recorda-se que o PTB representava um projeto de nação que deveria ser promovido e levado a cabo pelo Estado brasileiro, pautado pela configuração da classe trabalhadora como um ator político, como bem enfatizou Angela de Castro Gomes (2005). Apropriando-se dos símbolos, tradições e demandas históricas dos operários e de seus representantes, o trabalhismo conseguiu ressignificar e apresentar como algo novo o projeto de país pautado em ideias já correntes no seio da classe trabalhadora brasileira.

Dessa forma, havia a coexistência de ganhos materiais – adquiridos por meio dos benefícios da legislação social - e de ganhos simbólicos, sendo o principal o reconhecimento dos trabalhadores como um dos atores influentes na agenda e nas disputas políticas do país, uma vez que era tributada a essa classe o direito a expressar-se, defender suas ideias, reivindicar suas demandas, etc. Como discorre Capelato (2005), introduziu-se uma nova cultura política em que o Estado cumpriu o papel de intervir nas relações sociais ao mesmo tempo em que atendia a reivindicações sociais, políticas e subjetivas da sociedade.

Benevides (1989) contribui ao debate comco estudo das disputas entre o PTB, o adhemarismo e o janismo pelo apoio dos trabalhadores em São Paulo, sendo esse fato um dos motivos do enfraquecimento do PTB paulista, já que havia dificuldades em se consolidar os diretórios municipais por causa da oscilação e fragmentação das lealdades das lideranças, ora apoiando Jânio Quadros, ora apoiando Adhemar de Barros. No Espírito Santo, dentro do trabalhismo, competiam as figuras de diversos interesses. Assim como Benevides (1989), apresentamos, nos capítulos que seguem, as rivalidades, os diferentes debates, as disputas, as alianças, as coligações políticas e a experiências administrativas em que figuraram o PTB capixaba, com fito de compreender a trajetória e os rumos políticos do partido no Espírito Santo.

A literatura acerca do tema, sobretudo após a abordagem inaugural de Castro Gomes (2005), fazem, em geral, referência ao projeto trabalhista como aquele que lutava pela defesa de um Estado interventor e promotor da unidade e da justiça social, com ênfase nas questões da saúde pública, educação, arte popular, higiene mental e segurança social do operário, bem como aquele que lançou a classe trabalhadora como um importante ator político através da vinculação que perpassa todo período democrático: PTB-sindicato-Estado. Como fator legitimador desses pressupostos residia o nacionalismo, que, como observam Elina Pessanha e Regina Morel (2001), servia de neutralização dos conflitos sociais, visto que não era pautado pela defesa de uma classe em particular, mas, apesar disso, era lido, defendido e apropriado de formas diferentes por cada uma. Sob esse ponto de vista, é trabalho fecundo ressaltar a maneira como era entendida a ideologia nacionalista no discurso dos petebistas capixabas, tornando-se base para se entender as posições no que tange ao projeto trabalhista dentro do PTB e suas diferentes frações em torno deste projeto.

Acerca de diferentes frações, no seio do Partido Trabalhista, havia variações e discordâncias nos entendimentos tanto do que ‘deveria ser’ o trabalhismo, como em ‘de que forma’ proceder para torná-lo viável na realidade. Como ressalta Lucilia Delgado (1989), havia, por parte dos doutrinários reformistas, propostas de trabalhismo mais autônomo e autêntico, rivalizando com algumas mais ‘flexíveis’ e fisiológicas, defensoras do mito getulista, advogadas pelos getulistas-pragmáticos, assim como havia uma espécie de misto entre as outras duas, os pragmáticos reformistas. As classificações de Delgado (1989) nos ajudam enquanto modelo a ser verificado na experiência da atuação política dos petebistas em solo capixaba. Além disso, Jorge Ferreira (2005) faz considerações acerca da radicalização de figuras importantes do PTB entre os anos 1961-64, em que se pregou uma participação mais direta dos trabalhadores na vida institucional do país, propondo a modificação da atuação controlada e elitizada dos atores políticos falando pelos trabalhadores. À luz dessa constatação, importa analisar se o PTB capixaba foi

simpático a essa nova ideia de mobilização ou se partilhava da defesa de outra forma de participação dos trabalhadores.

Miguel Bodea (1992), por sua vez, ressalta que, com exceção do Rio Grande do Sul, o PTB, em seu início, não comportou intelectuais de esquerda, e não possuía propostas socialistas em suas bases. Dessa maneira, o PTB gaúcho surge por esforço de três vertentes, com origens e integração no partido distintas e em etapas e formas diversas.

A primeira vertente dizia respeito a denominada corrente sindicalista, que abarcava lideranças sindicais que se forjaram, sobretudo, no Estado Novo. Núcleo inicial do partido, era considerada a vertente fundadora da agremiação. Essa fração cindiu o PSD gaúcho logo nos primeiros anos da redemocratização, o que marcou a trajetória política de ambos, dificultando futuras composições ou alianças entre as duas siglas regionais.

A segunda vertente era a corrente doutrinária-pasqualinista, composta por intelectuais progressistas (bacharéis e profissionais liberais), eram seguidores da doutrina do advogado Alberto Pasqualini. Suas ideias comportavam temas social- reformistas, baseadas no trabalhismo britânico em maior grau e, em menor grau, na social-democracia europeia. Antes de integrar o PTB, estes elementos formaram a União Social Brasileira (USB), movimento por meio do qual Pasqualini e seu grupo defendiam suas bandeiras e pensamentos.

Dessa maneira, o PTB gaúcho teria uma característica distinta da agremiação trabalhista no contexto nacional, posto que fora a única seção, segundo Bodea (1992), que absorveu um movimento de esquerda - reformista, mas portador de um certo grau de elaboração doutrinária. A USB ocupava, de fato, pelo menos uma parcela do espaço político reservado à Esquerda Democrática nos outros estados. Ou seja, era uma esquerda democrática que optou por integrar-se ao PTB e não à UDN, como ocorria em nível nacional. No caso gaúcho, isso teria dupla consequência. Por um lado, o PTB adquiriu, desde sua fundação, uma conotação de "partido de esquerda" e não apenas de "partido popular" ou simplesmente de

"legenda popular", como tendia a ser nos estados com maior peso político e econômico do país. Por outro lado, sobrava pouco espaço para o Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Rio Grande do Sul.

Já a terceira vertente que formou o PTB gaúcho diz respeito à corrente pragmático- getulista, que adentrou o partido durante o ano de 1946, após o pleito presidencial. Essa corrente era composta, essencialmente, por políticos profissionais saídos do PSD por orientação de Vargas. O seu objetivo imediato era o de fortalecer o partido no pleito estadual de 1947. Jango, por exemplo, se filiara ao PSD em 1945, mas também esteve entre os que se transferiram por intermédio de Vargas.

Ao que parece, no Espírito Santo, como não se nota uma entrada de um grupo socialista conciso no PTB, a exemplo da USB no Rio Grande do Sul, sobrou espaço para atuação, inclusive sindical, de um partido como o PSB na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, localizada no sul do estado do Espírito Santo. Dessa forma, será importante pensar se, por conta dessa ausência de um grupo socialista em sua formação, não havia um grupo de pressão considerável tendendo o partido para esquerda no PTB capixaba.

No Rio Grande do Sul, o PTB nasceu primeiramente de esforço dos sindicalistas, que comandaram por um bom tempo o partido, tanto que, a princípio, eram contra a entrada de profissionais liberais e "políticos profissionais" na legenda. Cabe investigar em que medida a agremiação trabalhista capixaba recebera influência de correntes sindicalistas e vertentes socialistas ou mais progressistas em sua formação. Interessa, do mesmo modo, compreender a forma como ocorreu a negociação dos conflitos entre os interesses das mais diversas correntes formativas da seção capixaba.

Por fim, Bodea (1992) observa o ano de 1954 como um marco para o trabalhismo gaúcho, posto que demarca o encerramento de um ciclo em que predominou as lideranças de Vargas e Pasqualini no partido. Após a morte do primeiro e a derrota eleitoral do segundo, os herdeiros do trabalhismo gaúcho, Brizola e Jango, assumem a direção máxima do partido, em que as bandeiras anti-imperialista e

reformistas marcariam o novo período de 1954 a 1964. Brizola assumiria a liderança regional e Jango seria o expoente maior do trabalhismo brasileiro. Faz-se necessário e oportuno também o estudo de como esta transição foi percebida e influenciou os rumos do partido e do trabalhismo capixaba. Cabe, então, apreender como estava organizado e as formas de atuar do PTB no cenário político capixaba antes e depois deste ciclo de formação e consolidação rumando à fase de ressignificação da doutrina em que confluíram, no caso gaúcho, as três correntes formadoras da legenda trabalhista.

Avançando ainda as leituras, tratando do ínterim de 1952 e 1954, em que João Goulart adquiriu papel de destaque no cenário político brasileiro e trabalhista, Márcio Sukman (2014) opta por uma abordagem que destaca a consolidação de Jango como uma das maiores lideranças do país. Através da noção de trajetória social, o autor propõe desmistificar a imagem frágil de um ex-ministro, ex-vice-presidente e ex-presidente do PTB que o liderou por mais de dez anos, constituindo um período de grande crescimento para a agremiação. Assim, o surgimento de Jango no cenário político e no comando do PTB nacional seria o início de um movimento de renovação do trabalhismo, pautada por prática política de mobilização dos trabalhadores, articulada por meio da estrutura sindical oficial, em torno da melhoria das suas condições de vida e do bem-estar para a classe laboral.

Na hipótese de Sukman (2014), a relação de Jango com os trabalhadores perpassa três faces distintas: como ministro do Trabalho; como presidente de um partido político; e como amigo dos trabalhadores. Assim, o político se mostrou um aliado e tornou-se uma referência de liderança popular. O período de ascensão de Goulart no cenário político nacional é identificado com o processo concomitante de rotinização do carisma depositado em Vargas. Neste, Vargas tratou de transferir seu poder excepcional para uma agremiação política, no caso, o PTB, tendo, como herdeiro de seu legado, a pessoa de Goulart.

Tal processo, segundo Sukman (2014), seria dividido em dois momentos. O primeiro diz respeito à formação de uma organização ainda incipiente, através do

protagonismo de líderes secundários na sociedade e no movimento sindical. Em seguida, a rotinização se efetivaria através da dispersão do carisma, ou seja, tais lideranças secundárias ganhariam uma espécie de legitimidade, tendo independência e autonomia junto ao eleitorado, mas que, entretanto, se apresentaria como herdeiras políticas do então chefe.

Entretanto, o processo de herança do carisma de Vargas não fora algo tranquilo e fácil, posto que contou com oposições e resistências dentro do partido. Passou-se, no caso de Goulart, por uma derrota eleitoral para o Senado pelo Rio Grande do Sul, em 1954. Porém, contou-se, também, com os louros de sua eleição para a vice- presidência do país em 1955.

Assim, o trabalho de Sukman (2014) torna-se referência e, partindo dele, investigaremos como foi assimilada e recebida pela seção capixaba a entrada de Jango e dos novos atores, tal como Brizola, no leme do trabalhismo. Cumpre analisar se esse processo de rotinização do carisma do chefe adquiriu profundidades suficientes para afetar o partido num cenário político periférico, com atores comprometidos com as elites agrárias e mercantis. Além disso, torna-se