• Nenhum resultado encontrado

6 O PROJETO DE EXTENSÃO ESCOLAR CLUBE DE CIÊNCIAS

6.3 AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO CLUBE DE CIÊNCIAS

As atividades desenvolvidas no Clube de Ciências Serraciência tiveram como principal objetivo contribuir para a formação de indivíduos capazes de realizar tomada de decisão, preocupados com as questões ambientais, o consumo, preparados para discutir sobre alimentos transgênicos e outros temas importantes, propostos para discussão, considerando as questões socioambientais. Assim, foram propostas para os grupos as atividades experimentais abaixo descritas. Com base nos experimentos inicialmente propostos, outras atividades surgiram, as quais também possibilitaram debates entre os grupos.

Em sintonia com os PCNs (Brasil, 1998) e as Orientações Curriculares da Serra, foram elaborados diagramas conceituais para enfatizar a sintonia da metodologia de ensino com os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Orientações Curriculares da Serra, considerando os eixos propostos, a saber: Vida e Ambiente, Tecnologia e Sociedade, Terra e Universo, Ser Humano e Saúde. Buscou-se evidenciar o potencial pedagógico de cada atividade do Clube de Ciências, enfatizando as palavras-chave ―identificadas‖ que podem ser abordadas em cada atividade.

a) Luneta

A proposta inicial do trabalho foi que o grupo pesquisasse alguns aspectos históricos relacionados à óptica, com uma contextualização do período em que Galileu viveu, sempre possibilitando aos alunos uma visão crítica sobre a ciência. A luneta de Galileu era constituída por duas lentes – objetiva e ocular – que foram provavelmente inventadas antes de 1604 e apareceram na Europa, em 1608. Depois de ter ouvido falar de uma lente holandesa de Hans Lippershey, é que o professor de matemática na Universidade de Pádua decidiu construir a

sua. Apesar de se ter apropriado da ideia de Lippershey, Galileu melhorou-a, tornou-a 30 vezes mais potente e foi com ela que se conseguiu observar, pela primeira vez, os satélites de Júpiter. O instrumento chamado luneta era também conhecido como telescópio de refração, cujas propriedades principais se baseavam nas lentes côncavas e convexas. O grupo pesquisou na internet, utilizando o laboratório da escola. O desafio final foi a construção de uma luneta de materiais de baixo custo, com o uso de lentes de lupas, óculos, lentes de microscópios antigos, pedaços de canos de policloreto de vinila (PVC), fitas adesivas, tubos de papelão. Os alunos anotaram no diário de bordo as atividades realizadas. Nessa atividade, destacamos que o potencial pedagógico que pode ser desenvolvido com os alunos é bastante diverso. Por exemplo, no eixo Vida e Ambiente, as leis físicas da natureza, biosfera, luz, fotossíntese, micro-organismos; no eixo Tecnologia e Sociedade, ano-luz, corrida espacial, estação espacial internacional, unidades de medidas astronômicas, vidro, polimento de lentes; no eixo Terra e Universo, destacamos rotação, translação, planetas, dia, noite, estrelas, planetas, entre outros.

Figura 7 – Diagrama conceitual demonstrando o potencial pedagógico do subprojeto Luneta

Figura 8 – Luneta finalizada pelos alunos

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2014).

b) Terrário

Um terrário é um recipiente em que se reproduzem as condições ambientais necessárias para diferentes seres vivos total ou parcialmente terrestres. Podem ser construídos em diversos tamanhos e de diversos materiais, não apenas vidro; são comuns os terrários de madeira, rede metálica, acrílico, entre outros. Possui sempre pelo menos uma de suas paredes feita de algum material transparente, geralmente vidro ou acrílico, para facilitar a visão do interior, e normalmente contém pedras, carvão terra e plantas que permitem observar o comportamento dos seres vivos nesse habitat.

Inicialmente, foi proposta para o grupo a construção do terrário. Ele foi observado durante certo período, e os alunos puderam analisar o desenvolvimento das plantas, a circulação da água, o solo e as relações entre os seres que ali habitaram. Um dos objetivos foi observar a importância da água para os seres vivos presentes naquele ambiente. Destacamos a importância de os alunos analisarem o terrário construído e o nosso planeta. Foi utilizada como fonte de pesquisa a internet, disponibilizada no laboratório de informática da escola. O grupo anotou, no diário de bordo, as observações realizadas ao longo de um período de 15 dias. Sobre o potencial pedagógico da atividade, destacamos no eixo Vida e Ambiente, a biosfera, ecologia, chuvas, fauna e flora, germinação, solo, decomposição, entre outros; no

eixo Tecnologia e Sociedade, destacamos a agricultura, a fabricação de tijolos para construção, a extração e a transformação de minérios; no eixo Ser humano e Saúde, temas como contaminação do solo, ar, água, saneamento ambiental, doenças, entre outros; no eixo Terra e Universo, temas como fatores bióticos, rochas e minerais, silicatos, camadas da Terra, argila, água, entre outros.

Figura 9 – Diagrama conceitual demonstrando o potencial pedagógico do terrário

Figura 10 – Terrário após 15 dias

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2014).

c) Pilha de limão

O grupo pesquisou sobre a pilha de Volta, o contexto histórico em que ele viveu. Após isso, pesquisaram a construção de uma pilha utilizando limão. Ao final da atividade, o grupo construiu uma pilha utilizando limões no intuito de obter uma diferença para ligar uma calculadora de bolso. Inicialmente os alunos apresentaram muitas dificuldades para desenvolver o projeto, mas aos poucos foram vencendo os desafios. Foram utilizados diversos materiais para a execução da atividade, como fios, placa de cobre, placa de zinco, limões e calculadora de bolso. Essa atividade foi bastante interessante, pois o grupo pôde pesquisar certas questões históricas sobre a construção das primeiras pilhas, compreendendo o motivo do próprio nome. Ele causou uma enorme agitação no mundo científico quando empilhou discos alternados de zinco e cobre, separando-os por pedaços de tecidos embebidos em solução de ácido sulfúrico. Esse aparelho que produzia corrente elétrica, sempre que um fio condutor era ligado aos discos de zinco e de cobre das extremidades, passou a ser chamado de pilha de Volta. Daí em diante, todos os aparelhos que produziam eletricidade por meio de processos químicos passaram a ser denominados pelos seguintes nomes: celas voltaicas (em

homenagem a Volta), pilhas galvânicas (em homenagem a Luigi Galvani (1737–1827)) ou, simplesmente, pilhas. Para o desenvolvimento desta atividade, elaboramos um diagrama em que foram descritos alguns conceitos importantes que podem ser abordados nesta atividade. Estruturamos os conceitos de acordo com os eixos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, tais como: Vida de ambiente, no qual destacamos bioenergia, biocombustíveis, energia química, energia solar, extração mineral. Outro eixo dos PCNs, Tecnologia e Sociedade, para o qual temos os elétrons, eletrólise, corrente elétrica, eletricidade, resíduos sólidos, coleta seletiva, entre outros. No eixo Ser humano e Saúde, podem ser explorados temas como doenças, contaminação ambiental, Volta, Danniel, lixo tóxico; no eixo Terra e Universo, metais, Sol, matéria, cobre, energia, ferro, entre outros.

Figura 11 – Diagrama conceitual demonstrando o potencial pedagógico da pilha de limão

Figura 12 – Tentativa de ligar a calculadora

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2014).

d) Jogo de perguntas e respostas

O grupo elaborou um jogo de perguntas e respostas, o qual foi denominado ―Quem sabe, sabe Mix‖. O jogo constitui-se de 16 perguntas sobre assuntos diversos. A ideia do grupo foi escrever as perguntas de um lado do tabuleiro e, na frente, as respostas para cada pergunta. Cada pergunta estava conectada por meio de um fio à resposta correta. Quando o indivíduo apontasse a resposta, se ela estivesse correta, uma lâmpada alimentada por pilhas acenderia. Ocorre que o grupo teve dificuldades em finalizar a parte elétrica.

Figura 13 – Jogo em fase de finalização

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2014).

e) Germinação de sementes do feijão

A germinação é o processo inicial de crescimento e diferenciação embrionária dos organismos vegetais, a partir de uma semente ou esporo em condições propícias de desenvolvimento, ou seja, disponibilidade de água, oxigênio, temperatura adequada e, em alguns casos, até mesmo a necessidade natural de indução pirogênica (através do fogo), suficiente para desencadear a quebra da latência (dormência). A princípio, uma semente requer umidade para amolecer e provocar o rompimento da casca, permitindo a entrada de oxigênio direcionado às células embrionárias, iniciando o fenômeno de embebição. A água, uma vez que penetra na semente, proporciona reações metabólicas que mobilizam as reservas energéticas contidas nos cotilédones ou endosperma, disponibilizando moléculas energéticas (os carboidratos) às células. Conforme o embrião se desenvolve, consumindo o endosperma, sua estrutura radicular emerge da semente, assumindo, com o decorrer do tempo, o suprimento do vegetal e absorvendo, na região dos pelos absorventes, água e sais minerais. Em seguida, surge um caulículo que possui gêmulas apicais, precursoras dos primórdios foliares. À medida que as folhas se desenvolvem e passam a realizar fotossíntese, a reserva energética se esgota, com regressão dos cotilédones, no caso do feijão, por ser uma dicotiledônea, ou seja, sua semente apresenta dois cotilédones.

A proposta da atividade consistiu em plantar o feijão em diferentes condições e verificar se a germinação ocorreria ou não. Também foi observado o desenvolvimento. Foram utilizados três tipos de solo por dois grupos, sendo um molhado e outro não. Os alunos fizeram pesquisas sobre alimentos transgênicos, entre os quais o feijão. O experimento, além de evidenciar a importância da água na germinação, no caso do feijão, tinha o objetivo de discutir a questões sobre sementes transgênicas.

Figura 14 – Germinação do feijão

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2014).

Os alunos puderam verificar a germinação das sementes de feijão, das sementes que foram regadas e observar que, nesta fase inicial de desenvolvimento, a princípio o tipo de solo não influenciou na germinação das sementes. Além disso, foram lidos e discutidos alguns textos sobre a produção do feijão transgênico no Brasil.

Figura 15 – Diagrama conceitual demonstrando o potencial pedagógico da germinação do feijão

Fonte: Elaborado pelo autor (2014).

Sobre o potencial pedagógico da atividade, destacamos que, no eixo Vida e Ambiente, podem ser debatidos alguns assuntos, como plantas leguminosas, desmatamento, vegetais, bactérias, solos férteis, tipos de solos; no eixo Tecnologia e Sociedade, podem ser debatidos temas como agricultura familiar, técnicas agrícolas, produção de alimentos, transgênicos, consumo, engenharia genética; no eixo Ser humano e Saúde, destacamos temas como obesidade, alimentação saudável, doenças como bulimia e anorexia, desnutrição, a importância de atividades físicas, entre outros; no eixo Terra e Universo, aparecem temas como tipos de solo, chuvas, clima, água, minerais, ferro, matéria orgânica, luz.

As reuniões foram realizadas no Clube de Ciências Serraciência e ocorreram uma vez por semana, sempre nos horários das 14h às 16h, de julho a dezembro de 2013. Os experimentos e atividades foram registrados por meio de vídeos e fotos, bem como anotações dos alunos nos diários de bordo. Os diários de bordo são cadernos com páginas numeradas, identificados com o nome do aluno, nos quais se registram as atividades desenvolvidas. Tiveram como foco o desenvolvimento de pequenos projetos que visaram contribuir para a integração dos diversos

conhecimentos, além de propor desafios em que os alunos puderam propor soluções para as questões levantadas.

f) Escola em ação – por dentro das pilhas e baterias: o descarte correto e a reciclagem como contribuição para a sustentabilidade

Este projeto, que foi desenvolvido no Clube de Ciências, não fazia parte dos projetos iniciais, tendo sido incluído ao longo das atividades, quando um dos alunos do Clube de Ciências questionou, após o término de uma atividade, o que aconteceria se fossem colocadas pilhas dentro de um terrário. Assim, buscou-se compreender um pouco sobre o problema, e foram levantadas algumas hipóteses, tais como a pilha enferrujaria com o tempo; seu conteúdo iria para o solo. Após a discussão dessas hipóteses, o grupo buscou levantar algumas informações sobre o município da Serra, tais como a coleta desse tipo de resíduo, a poluição do solo, leis que versam sobre o tema, reciclagem, fabricação. As pesquisas sobre o município mostraram que a Serra apresenta um grande potencial hídrico, por possuir diversas lagoas.

De acordo com a pesquisa, a população do município de Serra–ES cresce a cada ano e, de acordo com censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população é de 409.267 habitantes. Os alunos também descobriram, por meio da pesquisa, que uma das formas de poluição das águas superficiais ou subterrâneas está relacionada ao lançamento de resíduos sólidos ao solo, como pode ocorrer com pilhas e baterias, e que isso pode afetar o ambiente, interferindo na sustentabilidade.

Ao descrever o projeto, foi estruturado um objetivo geral que era compreender a importância do descarte das pilhas e baterias em locais adequados. Foram estruturados alguns objetivos específicos, como discutir a atual questão relativa ao consumo; fazer leituras, pesquisas sobre o tema pilhas e baterias; compreender a importância do descarte de pilhas e baterias; criar novas possibilidades para o descarte de pilhas e baterias; inscrever o trabalho e expor os materiais produzidos em feiras de ciências. A justificativa foi em razão da necessidade de se estabelecer uma discussão e tomada de decisão sobre as questões relativas à política nacional de resíduos sólidos, em especial sobre o descarte de pilhas e baterias, pois esses produtos apresentam um potencial poluente muito grande, caso não tenham uma destinação adequada, podendo causar problemas ambientais, como a contaminação do solo, rios, lençóis freáticos, risco à saúde de crianças que, ao entrarem em contato com o material, podem desenvolver quadro de intoxicação. Além do descarte correto, foi importante compreender alguns

elementos que constituem as pilhas e baterias, e o impacto da extração desses elementos no ambiente.

O projeto foi dividido em etapas, a saber: etapa I — a construção de coletores seletivos de pilhas e baterias, com o uso de materiais alternativos, para serem colocados em pontos estratégicos (escola, pequenos comércios, lojas); etapa 2 — assistir vídeos pesquisados sobre o tema pilhas e baterias, possibilitando discussões, reflexões sobre as questões referentes ao descarte, além de relacionar os problemas ambientais que podem ser causados, se jogadas inadequadamente ao ambiente; etapa 3 — consistiu na apresentação e discussão dos grupos, realização de pesquisa de opinião sobre o tema; e a etapa 4 — finalização da construção dos coletores de pilhas e baterias, com a elaboração de uma logomarca e frases de efeito, a elaboração de uma apresentação e um vídeo que sensibilizassem as pessoas com o descarte das pilhas e baterias nos locais corretos. Ao final, os materiais produzidos foram apresentados na escola e na Mostra Artística Científica e Cultural do Município. A avaliação das atividades ocorreu durante todo o projeto, entre agosto e setembro de 2013.

O trabalho foi inscrito na Mostra Cultural e Científica do Município da Serra, Espírito Santo. Dos 14 projetos enviados pela escola, três foram aceitos para serem apresentados pela escola na Mostra Artística Científica e Cultural da Serra, que foi realizada em novembro de 2013.

Figura 16 – Apresentação do projeto na Mostra Artística Científica e Cultural do Município da Serra

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2014).

Figura 17 – Filme produzido para sensibilizar as pessoas ante o descarte de pilhas e baterias

Figura 18 – Coletores construídos pelos alunos a partir de embalagens descartáveis

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2014).

Figura 19 – Distribuição dos coletores no bairro Vila Nova de Colares

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2014).

[...] que essa nova Escola precisa ser cada vez menos disciplinar. Ao transgredir fronteiras estaremos assumindo posturas mais além de transdisciplinares e que a nossa responsabilidade maior no Ensinar Ciência é procurar que nossos alunos e

alunas se transformem, com o ensino que fazemos, em homens e mulheres mais críticos. Sonhamos que, com o nosso fazer educação, os estudantes possam tornar-se agentes de transformações – para melhor – do mundo em que vivemos [...] (CHASSOT, 2011).

Uma educação pautada na reflexão crítica, em que os educandos possam questionar e refletir sobre diferentes questões, conectando saberes e desenvolvendo sua inteligência em prol de si mesmos e do outro, é muito importante para que os educandos compartilhem e ampliem o conhecimento em torno das questões de relevância social. Não estamos isolados, mas numa imensa rede de complexidade – nosso planeta – em que valores, cultura, cultura da ciência, tecnologia, ambiente, mercado, sociedade estão intimamente ligados. Não há ciência nem tecnologia sem ser humano, pois se trata de uma produção humana, social, que deve ser compreendida por todos. É preciso compreender o mundo que nos cerca, com todas suas as nuances, intencionalidades encontradas nessa complexidade. Assim, é necessária uma alfabetização científica.