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2 FUNDAMENTOS

2.5 O ENSINO DE CIÊNCIAS E O MOVIMENTO CTSA

Torna-se importante discutir os diferentes significados e funções que se têm atribuído à educação científica com o intuito de levantar referenciais para estudos na área de currículo, filosofia e política educacional que visem analisar o papel da educação científica na formação do cidadão. Considerando a importância da alfabetização científica, é necessário que seja feita a avaliação da qualidade do ensino de ciências no Brasil e se proponham políticas que visem às revisões curriculares com vistas à melhoria da qualidade desse ensino (SANTOS, 2007).

SANTOS (2007) cita Laugksch (2000), que define letramento científico com função social como aquele que desenvolve a capacidade mínima funcional para agir como consumidor e cidadão. Segundo Aikenhed (1997), o movimento CTSA surgiu de contexto diferente do movimento de Letramento Científico e Tecnológico (LCT). Enquanto o primeiro movimento surgiu do contexto marcado pela crítica ao modelo de desenvolvimento científico e tecnológico, o segundo nasceu por pressões sociais pelas mais diferentes razões, desde as econômicas até as práticas. Apesar da diferença de contexto, tanto os estudiosos de CTS quanto os de LCT apresentam pontos em comum, quando destacam função social do ensino de ciências.

Aikenhed (1994), apud Santos e Mortimer, 2002, agrupou categorias de ensino de CTS considerando a prioridade no ensino de CTS. À medida que se avança nessas categorias, a avaliação dos conteúdos de CTS avança progressivamente em relação ao conteúdo puro de ciências. Nessa escala, a categoria 1 corresponderia a 0% de avaliação de conteúdos de CTS e a categoria 8 a 100%.

Quadro 6 – Categorias CTS segundo Aikenhed, apud Santos e Mortimer (2002)

CATEGORIAS DESCRIÇÃO

1. Conteúdo de CTS como elemento de motivação

Ensino tradicional de ciências acrescido da menção ao conteúdo de CTS com a função de tornar as aulas mais interessantes.

2. Incorporação eventual do conteúdo de CTS ao conteúdo programático

Ensino tradicional de ciências acrescido de pequenos estudos de conteúdo de CTS incorporados como apêndices aos tópicos de ciências.

3. Incorporação sistemática do conteúdo de CTS ao conteúdo programático

Ensino tradicional de ciências acrescido de uma série de pequenos estudos de conteúdo de CTS integrados aos tópicos de ciências, com a função de explorar sistematicamente o conteúdo de CTS. Esses conteúdos formam temas unificadores.

4. Disciplina científica (Química, Física e Biologia) por meio de conteúdo de CTS

Os temas de CTS são utilizados para organizar o conteúdo de ciências e a sua sequência, mas a seleção do conteúdo científico ainda é feita com base em uma disciplina. A lista dos tópicos científicos puros é muito semelhante àquela da categoria 3, embora a sequência seja bem diferente. 5. Ciências por meio do

conteúdo de CTS

Organiza o conteúdo e sua sequência. O conteúdo de ciências é multidisciplinar, sendo ditado pelo conteúdo de CTS. A lista de tópicos científicos puros assemelha-se à listagem de tópicos importantes mediante uma variedade de cursos de ensino tradicional de ciências.

6. Ciências com conteúdo de CTS

O conteúdo de CTS é o foco do ensino. O conteúdo relevante de ciências enriquece a aprendizagem.

7. Incorporação das Ciências ao conteúdo de CTS. O conteúdo de CTS é o foco do currículo

O conteúdo relevante de ciências é mencionado, mas não é ensinado sistematicamente. Pode ser dada ênfase aos princípios gerais da ciência.

8. Conteúdo de CTS Estudo de uma questão tecnológica ou social importante. O conteúdo de ciências é mencionado somente para indicar uma vinculação com as ciências.

Fonte: Santos; Mortimer (2002).

Nota: Adaptado pelo autor. O quadro original apresenta uma terceira coluna, a qual exemplifica o currículo conforme abordagem CTS. Consideramos que essa última coluna não está de acordo com na nossa realidade curricular.

Nesse sentido, queremos evidenciar que o Clube de Ciências não objetivou o conteúdo das ciências exclusivamente, mas todas as inter-relações existentes com conteúdos de CTSA em função da realidade dos alunos: as ciências com conteúdo sobre Ciência-Tecnologia- Sociedade-Ambiente.

[...] A educação científica na perspectiva do letramento como prática social implica um desenho curricular que incorpore práticas que superem o atual modelo de ensino de ciências predominante nas escolas. Entre as várias mudanças metodológicas que se fazem necessárias, três aspectos vêm sendo amplamente considerados nos estudos sobre as funções da alfabetização e letramento científico: natureza da ciência, linguagem científica e aspectos sociocientíficos [...] (SANTOS, 2007, p. 483).

Assim, destacar a importância da alfabetização científica é essencial também para o aprendizado, pois, uma vez inserida no currículo, poderá subsidiar os alunos em suas práticas

diárias, nas suas relações sociais, implicando, desse modo, sua maneira de agir e pensar diante da sociedade. Cachapuz et al. (2005) apresentam resultados de pesquisas sobre visões de ciência no ensino de ciências que evidenciam o que eles denominam visão deformada de ciências. Segundo eles, o ensino de ciências tem veiculado uma imagem reducionista e distorcida da ciência, visão que a apresenta como descontextualizada, individualista e elitista, empírico-indutivista e ateórica, rígida, algorítmica e infalível, aproblemática e anistórica e acumulativa. Isso está relacionado à forma como esse ensino vem sendo abordado na escola em um modelo por transmissão em que não há reflexão epistemológica.

Segundo Santos (2007) para que ocorra o letramento científico, torna-se fundamental uma mudança de abordagem no ensino de ciências, de forma que os estudantes desenvolvam estudos de História e Filosofia da Ciência, compreendendo a natureza da atividade científica, e, assim, trabalhar os aspectos de uma ciência em constante mudança, de produção coletiva, de acesso popular, cuja realidade se aproxima do educando, possibilitando assim sua inclusão na sociedade, bem como na compreensão dos processos sociais históricos. A ciência como uma produção sócio-histórico-cultural, em que não só o acesso à informação é importante, mas a análise dessa informação de forma crítica. Nesse sentido, faz-se necessária a mudança no ensino de ciências, buscando um ensino contextualizado e voltado para as questões sociais, igualitário e de qualidade.

Santos (2007) destaca que a orientação que tem sido proposta para o letramento científico é a inclusão de aspectos sociocientíficos (ASC) no currículo, os quais tanto se referem às questões ambientais, políticas, econômicas, éticas, sociais e culturais relativas à ciência e tecnologia quanto podem ser agrupados nas seguintes categorias:

Quadro 7 – Categorias CTS

Relevância Encorajar os alunos a relacionar suas experiências escolares em ciências com problemas de seu cotidiano e desenvolver responsabilidade social.

Motivação Despertar maior interesse dos alunos pelo estudo de ciências. Comunicação e argumentação Ajudar os alunos a verbalizar, ouvir e argumentar.

Análise Ajudar os alunos a desenvolver raciocínio com maior exigência cognitiva.

Compreensão Auxiliar na aprendizagem de conceitos científicos e de aspectos relativos à natureza da ciência.

Reduzir as distâncias entre o saber científico e o escolar é fundamental para compreensão da ciência. Para que isso aconteça, é necessária a motivação do educando, despertando nele o interesse cada vez maior pela ciência. É imprescindível tornar o aluno coparticipante, autônomo e consciente de suas atitudes, e não um mero recebedor de um conhecimento, mas um indivíduo capaz de refletir sobre suas ações, compreender o mundo que o cerca e questionar os diferentes aspectos que envolvem ciência, tecnologia, sociedade e CTSA.