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CAPÍTULO 1 – Assistência Social: política de responsabilidade do Estado e

1.4 As Conferências Municipais

A democratização da gestão da assistência social, conforme já assinalado, é o traço predominante do pós-Constituição Federal de 1988 e da LOAS/1993. Esse movimento significou , até por exigência de que os estados e municípios recebessem a transferência de verbas, a instalação de conselhos, fundos municipais e a presença do Plano de Assistência Social foram considerados pré-requisitos. Nesse capítulo já se tratou do fundo e do plano deixando a discussão do conselho para ser tratada em separado por ser objeto principal dessa dissertação. Todavia, compõem o histórico da assistência social em Bauru, a realização das conferências municipais.

As conferências - como espaço de avaliação das políticas públicas, definição de diretrizes para a implementação destas políticas, do estabelecimento de novas propostas e prioridades e da formulação de uma agenda de política para efetivar as deliberações - constituem-se, junto com os conselhos, em uma importante área de participação da sociedade civil.

Conforme se observa no Quadro 6 as conferências municipais não seguiram prioritariamente o estabelecimento em lei no que diz respeito ao prazo de 2 anos de intervalo para a realização de conferências. Nas três

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primeiras conferências, os prazos variaram de 3 anos e dois meses a um ano, somente a partir da terceira conferência é que os prazos foram cumpridos de acordo com a orientação legal.

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Quadro 6 - I ncidência das Conferências Municipais de Assist ência Social em Bauru

Nº Delegados Conferência Data Tema Local de realização Nº Participantes

SC GOV

I 22,23,24/09/95 A Assistência Social em Bauru: desafios e busca de alternativas

Instituição Toledo de Ensino – FSSB

N/C N/C N/C

II 27 e 28/11/1998 Avaliando ações e redimensionando

rumos Instituição Toledo de Ensino – FSSB N/C N/C N/C

III 11/11/99 Co-financiamento, avaliação e

monitoramento e qualidade de serviços prestado pela rede assistencial

Instituição Toledo de

Ensino – FSSB 150 N/C N/C

IV 23/07/2001 “A política da Assistência Social: Uma

trajetória de avanços e desafios” Instituição Toledo de Ensino – FSSB 90 26 51 V a 26/08/2003 LOAS + 10 - Avaliação dos 10 anos da

Lei Orgânica da Assistência Social – avanços e desafios

Instituição Toledo de

Ensino – FSSB 107 162=total N/C

Vb 30, 01/07/2005 SUAS Plano 10: estratégias e metas para Implementação da Política Nacional de Assistência Social

Instituição Toledo de

Ensino – FSSB 141 30 20

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Foram realizadas no município de Bauru seis conferências no período de 1995 até 2005. Foram consultados os Anais das Conferências acima especificadas, porém, nos anos de 2001, 2003 e 2005, representando a 4ª, 5ª A e 5ª B conferências, tal documento não fora publicado em Diário Oficial do

Município, dessa forma foram utilizados documentos da SEBES – Secretaria do

Bem Estar de Bauru, a fim de coletar os dados necessários.

Nota-se que a conferência realizada em de setembro de 2005, se fosse seguir a ordem das demais conferências, seria a 6ª, contudo, por definição dos organizadores do evento, a fim de corresponder à Conferência Nacional, foi adotado o critério em especificá-las como: 5ª Conferência - A e 5ª Conferência – B, para fins deste estudo.

Os temas propostos nas conferências municipais a partir da III Conferência seguem a orientação do Conselho Nacional de Assistência Social.

Quanto ao nível de participação e número de delegados, nos ANAIS das conferências não constam esses dados, foram utilizados documentos da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social para o acesso a esses dados. Entretanto, nas primeiras três conferências, não foi localizado o registro de delegados, somente na terceira localizou-se o volume de participantes. Na V Conferência (a) os dados quanto ao registro de delegados está confuso e não condiz com o número geral dos participantes.

Os documentos das conferências municipais deveriam retratar, fielmente, as condições pelas quais elas se realizaram, todavia, não foi possível constatar isso nos documentos acessados, em razão da precária organização na elaboração do relatório, faltam dados importantes nos ANAIS, assim como, na manutenção dos documentos.

O que deveria ser um momento de publicização desses acontecimentos na área da assistência social, pelos documentos utilizados, é mero documento para atender ao fim legal.

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Promoção da comunicação entre as várias organizações sociais e, conseqüentemente, possibilitando a troca de experiências entre elas, as articulações em redes criam condições para que projetos políticos, espaços e linguagens sejam compartilhados (SILVA, 2002, p.143).

Outro dado se refere ao período entre a II e III Conferências, que é de apenas um ano, sendo justificado nos ANAIS da III Conferência que se realizou por determinação da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social - SEADS, a fim de discutir os temas sugeridos: Co-financiamento, avaliação e monitoramento e qualidade de serviços prestados pela rede assistencial e, ainda, eleger dois representantes da sociedade civil e um representante governamental para participarem da Conferência Macro-regional de Assistência Social do Estado de São Paulo.

Somente a partir da III Conferência inicia-se a discussão por eixos temáticos, levantados sempre pela SEBES, órgão responsável pela organização do evento, em consonância com a Conferência Nacional de Assistência Social.

Na IV Conferência Municipal de Assistência Social estabeleceram-se as diretrizes de ação e prioridades das ações que compõem a política municipal, que foram definidas pelos delegados participantes, e que deveria constar no Plano Municipal de Assistência Social do Município, para a gestão da política em âmbito municipal.

Na V Conferência (A), realizada em 28 de agosto de 2003, com o tema “LOAS + 10 - Avaliação dos 10 anos da Lei Orgânica da Assistência Social –

Avanços e Desafios”, teve como eixos: gestão social, controle social e

financiamento, os quais foram discutidos e levantados as dificuldades, avanços e propostas para sua efetivação.

Na V Conferência (B), foram estabelecidas como eixos para discussão as “Estratégias e Metas para Implementação da Política Nacional de Assistência Social” e definiram-se as metas a curto, médio e longo prazo. Contou com a presença de 144 participantes, divididos da seguinte forma: representantes do governo: 34, representantes da sociedade civil: 73 e usuários: 34.

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Quadro 7 – Conteúdo das Conferências Municipais de Bauru

Eixo de discussão Prioridades de ações Dinâmica

I Refletir sobre a assistência social no município face à conjuntura nacional, frente ao papel desempenhado pelos município, Estado e nação, nos diferentes segmentos com os quais atua – família, idoso, criança, adolescente, maternidade, e pessoa deficiente e de sua inserção nas políticas de saúde, educação, habitação, cultura, esporte e lazer, de modo a subsidiar a formulação dessa política em Bauru; mobilizar governo e sociedade civil para refletir sobre a assistência social como mecanismo redistributivo e sobre as fontes de recursos para fazer frente às demandas; estimular o processo de capacitação local para assumir o conjunto, o papel executivo e articulador dos recursos e forças locais; levantar propostas preventivas e compensatórias visando ao enfrentamento da pobreza e à expansão dos mínimos sociais no município.

Definidas por segmentos sociais (criança, adolescente, idoso,

família, mulher e PPD) 07 Pré-Conferências – realizadas nas regionais administrativas

II Refletir sobre a realidade da assistência social no município, de modo a subsidiar a formulação dessa política pública em Bauru; mobilizar o governo, poderes constituídos, sociedade civil para refletir sobre a assistência social como mecanismo de expansão dos mínimos sociais, como instrumento redistributivo; estimular o processo de capacitação local para assumir o papel executivo e articulador dos recursos; levantar propostas de ações preventivas e compensatórias visando ao enfrentamento da pobreza e expansão dos mínimos sociais.

Definidas por segmentos sociais (criança, adolescente, idoso,

família, mulher e PPD) 06 – Reuniões preparatórias

08 – Pré-conferências

III Co-financiamento, Avaliação e Monitoramento e Qualidade de

serviços prestado pela rede assistencial. Definidas por segmentos sociais (criança, adolescente, idoso, família, mulher e PPD) 06 (seis) Pré-conferências IV Gestão Social, Controle Social e Financiamento. 1ª Prioridade - Manutenção e implementação de Serviços de

Apoio Sociofamiliar que atuem na perspectiva de inclusão em programas de capacitação e geração de renda, que comprovadamente garantam a autonomia e emancipação da família, propiciando-lhe o acesso a bens, serviços e direitos usufruídos pelos demais segmentos da população. 2ª Prioridade - Serviços Socioassistenciais destinados a crianças e adolescentes em situação de risco, que atuem na perspectiva de inclusão na sua família e da sua família, a saber: a) Serviços que atuem numa perspectiva de prevenção dessas situações, com prioridade para a garantia de freqüência na escola e desenvolvimento de ações educacionais, culturais e esportivas que ampliem o universo informacional e cultural das crianças e adolescentes; b) Serviços destinados à crianças e

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adolescentes em situação de rua ou na rua e/ou em conflito c/a lei; c) Serviços destinados a crianças e adolescentes dependentes químicos; d) Serviços destinados à crianças e adolescentes vítimas de violência. 3ª Prioridade - Serviços de assistência e apoio ao jovem de 16 a 24 anos, que atuem na perspectiva de capacitação profissional e inserção no processo produtivo. 4ª Prioridade - Serviço de assistência ao idoso, que atuem na perspectiva de inserção e reinserção familiar, resgate da identidade e autonomia do idoso. 5ª Prioridade - Serviços de assistência com prioridade à profissionalização da pessoa com deficiências, que atuem na perspectiva de inclusão na família, na sociedade e nas demais instituições. 6ª Prioridade - Serviços destinados à prevenção, recuperação e reinserção social do dependente químico adulto.

7ª Prioridade - Serviços destinados ao atendimento do migrante e morador de rua. 8ª Prioridade - Serviços destinados ao atendimento do portador do HIV, câncer e doenças crônicas degenerativas.

Organização, Gestão Social, Controle Social e

Financiamento. - Estruturação e divulgação do CMAS; divulgação dos programas sociais; criação de bancos de dados em rede; estipular cronograma para acompanhamento pelo CMAS e SEBES junto aos programas sociais; elaborar Cartilha LOAS; capacitação; definir 5% do orçamento municipal para a assistência social; publicizar as ações do CMAS, divulgação do balanço e prestação de contas; aumentar o per capita para acesso ao BPC; efetivar benefícios eventuais; criar ouvidoria, instituir fóruns, normatização de regras para fiscalização de programas sociais; cumprir NOB.

7 – Pré-conferências

Vb Estratégias e Metas para Implementação da Política

Nacional de Assistência Social Relatório de Conferência Municipal

-Divulgação permanente das legislações vigentes; acesso a bens e serviços; capacitação; integração entre as políticas sociais; implantação do CRAS e CREAS; participação do usuário no monitoramento, planejamento e avaliação; ampliação e qualificação da rede de serviços; emancipação das famílias em situação de pobreza; efetivar benefícios; divulgação das decisões do CMAS.

7 – Pré-conferências

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Na avaliação dos sujeitos da pesquisa os representantes de usuários conseguem uma maior expressividade de suas demandas e interesses nas conferências. Veja nos relatos:

“Isso não acontece dentro dos conselhos, mas acontece bem claramente nas conferências municipais. Para que seja elaborado o Plano Municipal [de assistência social] são realizados pré-conferências nas regionais e depois é levado para a conferência geral. E nessas conferencias ... é dali que sai as deliberações para o Plano Municipal [de assistência social]. Nesse nível eu acho que está funcionando o envolvimento do usuário, porque eles se sentem mais a vontade para falar” (representante da sociedade civil organizada nº. 07).

“As pré-conferências foram nas regiões onde está o público alvo, seriam os usuários da assistência, e eles levantaram propostas que me deixaram assim superentusiasmada porque muitas vezes a gente não chega até o local por problema de violência, segurança, então nem o técnico nem a entidade estão lá no local, então eles sabem do problema real deles então eles vêm aqui com mais certeza. Eu acho que se nós ouvíssemos mais o usuário nós melhoraríamos a qualidade do atendimento da política da assistência tanto em demanda quanto o objeto dos projetos, quais seriam as atividades da execução dos programas” (representante da sociedade civil organizada nº. 08).

Paoli defende que, nesses espaços de representação, de negociação e de interlocução pública, a sociedade se fez ver e reconhecer como sujeito que se pronuncia sobre o justo e o injusto ao formular reivindicações e demandas, e nesses termos reelabora suas condições de existência, tendo como efeito a desestabilização de hierarquias simbólicas que fixavam o lugar dos subalternizados (2004).

Entretanto, a paridade entre os participantes ainda não ocorreu, principalmente quanto ao protagonismo dos usuários, mesmo mostrando-se mais ativos e participantes nas conferências, como se observou nos relatos

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acima se pode perceber com base na última conferência a disparidade numérica: 24 % governo e igual número, ou seja, 24% são representantes de usuários, ao passo que os demais representantes da sociedade civil (entidades, conselhos de direitos, profissionais da área, entre outros) representam mais da metade dos participantes (52%).

Conforme se observa no Quadro 5, a respeito do conteúdo das conferências, verificou-se que os eixos de discussão são mais gerais nas primeiras conferências (I e II), isto porque definem como eixos norteadores para discussão questões de cunho nacional para discussão, que ultrapassam os limites municipais.

A partir da III Conferência há um direcionamento mais centralizado na gestão da política de assistência social, o que pôde imprimir mais claramente as prioridades de ação.

Em todas as conferências municipais foram realizadas amplas discussões em pré-conferências por regiões da cidade, num número entre 6 e 8 encontros, distribuídos por administração regional do município. Com exceção da III Conferência, a qual haveria sido solicitada pela SEADS, com prazo de urgência a ser cumprido, podendo ter impossibilitado a realização de pré-conferências, conforme foi dito anteriormente.

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