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CAPÍTULO 2 Histórico e formação do Conselho Municipal de Assistência

2.2 Atas das reuniões: expressões das falas, forças políticas e

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Durante os anos de 1992 até meados de 1995, período em que ocorre a primeira gestão do Conselho Municipal de Assistência Social de Bauru pode ser considerado como de aprendizado para os conselheiros. Tal gestão reuniu- se em sete encontros, sendo quatro deles no final de 1992 com a posse dos seus membros. Em 1993, não realizou nenhuma reunião e as demais reuniões ocorreram em 1994. Nesse período, o conselho funciona de forma bastante precária, apesar da tentativa de regulamentação por meio de regimento interno para sua funcionalidade.

Segundo Muniz (1998, p.125):

O CMAS foi criado em 1992, um ano antes da promulgação da LOAS, em 1993, mas não teve uma atuação expressiva nos seus primeiros anos de vida, além do que o processo de adequação da sua regulamentação à LOAS tenha atrasado o efetivo início de seu funcionamento [...].

Outro dado interessante colocado pela autora sobre o conselho refere-se ao fato de que na primeira gestão o presidente do CMAS tenha sido o secretário da pasta, muito embora grande parte dos conselheiros tenham sido contrários, por acreditarem que poderia ser negativo para a autonomia do conselho. (Ibid., p.131)

A partir de 1995, ano em referência desse estudo, ocorre a posse da segunda gestão do CMAS de Bauru, em 25 de julho deste mesmo ano, permanecendo essa gestão até 22 de setembro de 1997. Nesse período, a preocupação volta-se para a organização da I Conferência Municipal de Assistência Social, para a alteração da lei de criação do conselho e aprovação do Plano Municipal de Assistência Social. Assim, essas importantes medidas para a política de assistência social municipal marcam o início da atuação do conselho. Apesar de este ainda ter caráter consultivo, nesse período a aprovação das pautas acima descritas têm significativa relevância para a alteração da assistência social como política de direitos. Há que se ressaltar, ainda, que os conselheiros puderam contar com a LOAS em 1993, o que viabilizou caminhos ao descrever as funções do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, nas quais os conselhos municipais e estaduais puderam se apoiar para exercer suas funções com mais clareza, já que esse era um processo novo, tanto para a sociedade civil como para os governos.

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Quanto à freqüência dos conselheiros nas reuniões, pode-se constatar que 60% dos membros freqüentavam as reuniões, porém essa participação é representada pela maciça presença do órgão gestor público em contrapartida da precária representação da sociedade civil.

Cabe ressaltar que nessa gestão ainda não havia sido garantida a participação dos representantes de usuários da política de assistência social, o que somente ocorrerá com a aprovação da primeira alteração legal da Lei de criação do CMAS (Lei nº. 4147, de 25/10/1996).

As atas das reuniões são bastante confusas em sua redação, assim como a grafia impede o entendimento de algumas frases.

Na gestão de 22 de setembro de 1997 a 03 de setembro de 1999, representando a 3ª gestão do CMAS, houve a realização de 24 reuniões, sendo 6 reuniões extraordinárias, perfazendo uma média de 1 reunião ao mês no período em referência. Pode-se dizer que o conselho, ora em tela, realiza de forma mais sistematizada as discussões em pauta, o que se dá pela alteração legal ocorrida em 1996, conforme citado acima, o que possibilitou uma definição mais clara das funções do quadro de representações influindo de forma direta no significativo crescimento do conselho e de seus conselheiros.

As ações do CMAS voltam-se para a capacitação dos conselheiros, criação do Fundo Municipal de Assistência Social – FMAS, participação na I Conferência Nacional de Assistência Social, análise de pedido de inscrição de entidades, preparação para a II Conferência Municipal de Assistência Social realizada em 1998 e aprovação da Previsão Orçamentária para 1998. Observa- se que há uma maior demanda de ações nesse período se comparado com o anterior.

Quanto à freqüência dos conselheiros, evidenciou-se que há uma continuidade da forte presença governamental, pode-se dizer que os membros governamentais, em especial os representantes da Secretaria gestora da política de assistência social, são aqueles que fazem com que o conselho caminhe. Nesse sentido, pela apropriação de conhecimento especializado sobre a política, direcionam e condicionam suas ações. Verificou-se claramente pelas Atas das Reuniões do CMAS tal condicionamento, que se fortalece pela precária participação da sociedade civil em termos numéricos, assim como em razão do precário conhecimento sobre a funcionalidade do conselho.

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Outro dado se refere ao pedido de inscrição das entidades que inicia nesse período. As análises dos pedidos são realizadas por técnicos da Secretaria do Bem-Estar Social - SEBES e de acordo com o parecer do técnico, vota-se pela aprovação ou negação do pedido.

Em destaque nesse período observou-se em Ata, datada de 23 de maio de 1998, a primeira discussão entre sociedade civil e governo em razão da deliberação de recursos que, segundo conselheiros representantes de entidades, não estavam respeitando as deliberações da I Conferência Municipal, mas seguindo as orientações estipuladas pela SEBES. Os conselheiros governamentais, com a justificativa de que para se realizar uma análise no orçamento demandaria tempo - de três meses aproximadamente - o que prejudicaria as entidades que ficariam sem os recursos. Diante de forte pressão, a proposta da Secretaria gestora da política é aprovada, inclusive com votos de representantes de entidades, que, acredita-se estavam sem alternativas, já que a verba pública, apesar de escassa e insuficiente, representava, e ainda representa, a continuidade dos serviços socioassistenciais.

A quarta gestão do CMAS estende-se de 03 de setembro de 1999 a 07 de dezembro de 2001, período em que houve 28 reuniões, sendo 8 extraordinárias. A análise quanto ao nível de participação nas reuniões nesse período ficou prejudicada em razão de não ter sido localizado o registro de presença dos conselheiros, somente consta em ata a assinatura dos mesmos, não oferecendo a possibilidade de identificá-los. A média de freqüência ficou em torno de 10 conselheiros por reunião, há que se considerar que nesse período o número de membros é de 28 conselheiros da sociedade civil e governo, dessa forma, representando 35% do total dos conselheiros.

As discussões realizadas no interior do conselho permaneceram em torno da elaboração do padrão de qualidade para subsidiar a fiscalização e o fornecimento de registro de inscrição das entidades, assim como para a elaboração de critérios para a distribuição de recursos financeiros. Na gestão anterior, como se observou, há um crescimento dessa demanda, ampliada nessa gestão, o que implicou a necessidade da preparação de instrumental para melhor análise e deliberação sobre os pedidos das entidades sociais. Portanto, essa ação de concessão de registro de funcionamento das entidades

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é considerada como ação executora o conselho tem ainda na expedição de atestado de inscrição das entidades uma ação de grande demanda. Cabe ressaltar que os serviços socioassistenciais privados representam, em Bauru, cerca de 75% da oferta de serviços sociais (MUNIZ, 2003, p. 205).

Dessa forma, a discussão e aprovação da deliberação de financiamento público para as ações privadas, conseqüentemente, estiveram presentes em 50% das reuniões realizadas pelo CMAS.

Nessa gestão ainda se aprovou o Plano Municipal de Assistência Social - PMAS, a prestação de contas do órgão gestor e ocorreram iniciativas no sentido de alteração da Lei nº. 4.147, de 1996, cuja alteração foi aprovada pelo legislativo em setembro de 2001.

Outra ação executada nesse período foi a realização da III Conferência Municipal de Assistência Social em 1999 e da IV Conferência realizada em 23/07/2001.8

A quinta gestão do Conselho Municipal de Assistência Social compreende o período de 07 de dezembro de 2001 a 06 de outubro de 2003, foram realizadas 32 reuniões, aumentando o número da gestão anterior.

A partir dessa gestão, as atas começam a ser digitalizadas o que favorece a apreensão da redação, entretanto há que se ressaltar que nesse período não houve a possibilidade de identificação sequer do número de participantes, em razão da não localização de registro de participação. As atas não foram assinadas pelos conselheiros, somente pela secretária que lavrou o documento.

O foco de atuação do CMAS direciona-se para a deliberação de verbas e o fornecimento de atestado de registro para entidades. Há ainda a aprovação da prestação de contas do órgão gestor, a participação em eventos como Encontro Regional de Conselheiros da Assistência Social e, ainda, do 7º Pleito Municipal para eleição de 2 membros para participação no pleito regional para eleição de membros do CONSEAS.

Outra característica do período é a formação de “comissões de

especialistas”, conforme definição da Lei nº. 4.715, de 2001 – art. 4º, parágrafo

1º, tendo como objetivo a discussão entre os membros conselheiros e “profissionais de reconhecida experiência e conhecimento”, sobre assuntos que

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dizem respeito às atribuições do CMAS. Todavia o número de participantes não é respeitado, sendo eleitas ou escolhidas em torno de quatro pessoas, a lei determina seis pessoas. De acordo com o parágrafo 2º. da Lei nº. 4.715/2001. As comissões foram formadas principalmente para a realização de visitas a entidades e análise de documentos de prestação de contas.

As comissões organizadas para a análise de solicitação de registro de inscrição de entidades são formadas por três conselheiros e mais um técnico da SEBES para a análise e avaliação dos pedidos.

A posse da última gestão em análise ocorreu em 06 de outubro de 2003 e permaneceu até dezembro de 2005. Foram realizadas 34 reuniões, dentre elas 13 ocorreram de forma extraordinária.

Quanto à participação nas reuniões, pode-se constatar que os representantes governamentais, reproduzindo as gestões anteriores, são em maior número nas reuniões do CMAS. Contudo, houve uma maior participação da sociedade civil nessa gestão, especialmente dos representantes de usuários. Há que se analisar a qualidade dessa participação, o que será objeto do próximo capítulo sobre as falas dos sujeitos desta pesquisa.

Ressalta-se que, nessa gestão, houve um maior controle da participação dos conselheiros nas reuniões, por meio de assinatura em “lista de presença”, o que, de acordo com as atas, trouxe a necessidade de substituição de alguns membros faltantes, atendendo à Lei nº. 4.715/2001, que regulamenta o CMAS.

Houve a realização de curso de capacitação em novembro de 2003 e a realização do I Fórum de Discussão sobre os Padrões Mínimos de Atendimento de Serviços Assistenciais em 2 encontros realizados entre março e abril de 2004. Durante esses cursos os conselheiros participaram respondendo ao questionário da pesquisa “LOAS + 10”, realizada em 2003, pela professora Dra. Ivanete Boschetti, preparativa à IV Conferência Nacional de Assistência Social.

As ações do CMAS restringiram-se à deliberação de verbas, à análise e concessão de atestado de registro de inscrição de entidades, à análise e aprovação da prestação de contas do órgão gestor.

Entretanto, uma ação de extrema importância realizada pelo CMAS foi a definição de critérios de inscrição e funcionamento de entidades, o que possibilitou a realização de visitas a um grande número de entidades, avaliando seu funcionamento. Com tais dados, foi possível ter clareza da

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qualidade dos serviços socioassistenciais do município, bem como orientar tais entidades a efetuarem sua adequação quando necessário.

Nesse período, foram realizadas a V(a) Conferência Municipal de Assistência Social de Bauru em 2003, e a V(b) Conferência Municipal de Assistência Social em 2005, tendo sido tais conferências organizadas em conjunto com o órgão gestor.

Até essa gestão, a análise de pedidos de inscrição de entidades sociais era realizada pela SEBES e, diante do seu parecer técnico, o CMAS votava sobre a concessão de registro. Isto muda a partir do momento em que o conselho elabora um instrumental para fiscalização o que possibilita uma melhor avaliação estabelecida com base em critérios amplamente discutidos pelos conselheiros.

Diante dos dados apresentados, pode-se dizer que o CMAS de Bauru vem construindo uma expressiva atuação no município, seja pela crescente participação dos conselheiros, seja pelas decisões ali deliberadas, assim como pela importante construção do instrumental de fiscalização dos serviços socioassistenciais.

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